Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Ensinando Doutrina a uma Criança de Seis Anos de Idade
Por John Piper

Acabei de escrever um pequeno livro sobre a Justificação. Querendo Deus, será publicado ainda este ano pela Crossway com o título Justificados em Cristo. Numa determinada secção dele eu pergunto: "Porque será que um pastor sob pressão, com uma família para cuidar... dedica tanto tempo e energia na controvérsia sobre a imputação da justiça de Cristo? Bom, é precisamente porque tenho uma família para cuidar da mesma maneira que centenas de pessoas do meu povo. "Eis parte da resposta que escrevi no primeiro capítulo do novo livro:
Sim, tenho uma família para cuidar. Quatro filhos já são crescidos e já não moram em casa. Todavia, eles não estão fora das nossas vidas. Pessoalmente e por telefone toda semana existem grandes questões pessoais, relacionais, profissionais e teológicas para lidar. Em todos os casos a raiz do problema resulta em: Quais são as grandes verdades reveladas nas Escrituras que podem, neste caso, dar estabilidade e orientação? A escuta e o afeto são fundamentais. Mas se lhes falta substância bíblica, então o meu conselho é oco. Uma afirmação melosa não o vai alterar. Muito está em jogo. Estes jovens querem rocha sob os seus pés.
A minha filha Talitha tem seis anos de idade. Recentemente, ela, a minha mulher e eu lemos o livro de Romanos. Foi a escolha dela após termos terminado o livro de Atos. Ela aprendeu agora a ler e eu punha o meu dedo em cada palavra. Ela parou-me no meio de uma frase no princípio do capítulo cinco e perguntou "o que significa justificado?" O que dirias a uma criança de seis anos de idade? Dir-lhe-ias que há coisas mais importantes para pensar, então confia em Jesus e sê uma boa menina? Ou que é um assunto tão complexo que mesmo os adultos não o compreendem totalmente e que podia esperar até ser adulta? Ou que apenas significa que Jesus morreu em nosso lugar a fim que todos os nossos pecados fossem perdoados?
Ou contamos uma história (o que eu fiz), improvisada, acerca de dois criminosos acusados, um culpado e o outro não culpado (um fez uma coisa má e o outro não)? O que não fez a coisa má é indicado, por todos aqueles que viram o crime, como inocente. Assim, o juiz "justifica-o", isto é, diz que ele é uma pessoa cumpridora da lei, que não cometeu o crime e pode ir em liberdade. Mas o outro criminoso acusado, o que realmente fez a coisa má, é exposto como culpado, pois todas as pessoas que viram o crime o viram a fazê-lo. Mas, então, imaginem! O juiz "justifica-o" também e diz, "considero-o como um cidadão cumpridor da lei, com plenos direitos no nosso país (e não apenas um criminoso perdoado que pode não ser confiável ou totalmente livre no país)." Neste momento Talitha fita-me intrigada.
Ela não sabe como colocar o dedo na ferida, mas sente que alguma coisa está errada. Então digo, É um problema, não é? Como é que uma pessoa que infringiu a lei e fez uma coisa má, pode ser notificado pelo juiz de que é uma pessoa cumpridora, justa, com pleno direito sobre as liberdades do país e não tem que ir para a prisão ou ser punida? Ela abana a cabeça. Então regresso a Romanos 4:5 e mostro-lhe que Deus "justifica o ímpio". Ela franze a testa. Mostro-lhe que ela pecou, que eu pequei e todos nós somos como este segundo criminoso. E quando Deus nos "justifica", Ele sabe que somos pecadores, "ímpios" e "infratores". Então pergunto-lhe. "O que é que Deus fez de modo a que seja certo para Ele dizer a nós, pecadores: não és culpado, és cumpridor da Lei diante de mim, és justo e estás livre para desfrutar tudo o que este país tem para oferecer?"
Ela sabe que tem a ver com Jesus, sua vinda e ter morrido em nosso lugar. Até aqui ela aprendeu. O que mais lhe posso dizer? A resposta a esta questão vai depender se a mãe e o pai a ensinaram fielmente sobre a imputação da justiça de Cristo. Será que vão dizer-lhe que Jesus era o perfeito cumpridor da Lei, que nunca pecou, mas fez tudo o que o juiz e seu país esperam dele? Vão dizer-lhe que quando ele viveu e morreu, ele não só tomou o seu lugar carregando a punição dela, mas também a substituiu como uma cumpridora da Lei? Será que lhe vão dizer que ele foi punido por ela e que por ela cumpriu a Lei? E que se ela confiar nele, o Juiz, Deus, deixará que a punição e a justiça Jesus contem como se dela fossem. Assim, quando Deus a "justifica" - diz que ela é perdoada e justa (mesmo que ela não tenha sido punida por não ter cumprido a Lei) - o faz por causa de Jesus. Jesus é a sua justiça e seu castigo. Confiar em Jesus faz Jesus ser tanto o seu Senhor e Salvador quanto sua perfeita bondade e sua perfeita punição.
No mundo há milhares de famílias cristãs que nunca tiveram conversas como esta. Nem com crianças de 6 anos, nem com jovens de 16. Não acho que tenhamos de remexer muito para compreender a fraqueza da igreja, a superficialidade da vocação festiva de muitos ministérios de juventude e a impressionante taxa de queda na frequência após o ensino secundário. Mas como poderão os pais ensinar os seus filhos se a mensagem que recebem do púlpito, semana após semana, é a que a doutrina não é importante? Sim, eu tenho uma família para cuidar. Logo, tenho de compreender as doutrinas centrais da minha fé – e compreendê-las de tal maneira que as possa traduzir para qualquer idade que os meus filhos tenham.
John Piper
Enviado por Silvio Dutra Alves em 21/11/2013
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