Primeiros que Serão Últimos e Vice-Versa
“Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.” (Mateus 19.30)
Estas palavras foram proferidas por nosso Senhor Jesus Cristo no seguinte contexto: ele acabara de abençoar algumas criancinhas que lhe haviam sido trazidas, e logo depois teve o encontro com o jovem rico que se recusou a segui-lo, tendo dito aos apóstolos quão difícil é para os ricos entrarem no reino dos céus. E a isto se seguiu o seguinte registro: “Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível. Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós? Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna. Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.” (Mateus 19.25-30)
O grande ensino aqui registrado é então que haverá ricos que serão pobres, e pobres que serão ricos, e isto, em ambos os casos, para sempre, e que as crianças pequeninas estarão no reino dos céus , e muitos adultos estarão fora, que muitos que a tudo renunciaram neste mundo, para seguirem a Cristo, haverão de governar juntamente com ele; e isto porque no regime da dispensação graça muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros; ou seja, aquilo que este mundo considera como estando em primeiro lugar poderá estar em último diante de Deus, e a recíproca é também verdadeira.
E para ilustrá-lo, nosso Senhor proferiu logo em seguida a Parábola dos Trabalhadores na Vinha, onde os últimos a serem chamados receberam o mesmo que haviam recebido aqueles que haviam sido chamados primeiro, e que haviam trabalhado mais do que eles. Quem trabalhou apenas uma hora, ou três, ou seis, ou nove horas, receberam o mesmo pagamento.
Havia uma aparente injustiça nisto, mas somente aparente, porque o dono da vinha havia ajustado que pagaria aquele preço a todos eles, e em comum acordo o aceitaram.
Todos estes tiveram o grande privilégio de terem sido chamados pelo Grande Rei, e a graça dele recebida para poderem atender ao seu chamado. E quanto àqueles que nem sequer são chamados, ou que recebendo o chamado geral do convite do evangelho, não o atendem?
Do que têm que reclamar então aqueles que mais trabalharam para Deus neste mundo, quanto a terem sido salvos da mesma maneira e pela mesma graça de Cristo como qualquer outro que tenha trabalhado muito menos do que eles?
Além disso deve ser considerado que aquele que estiver em maior evidência e com maior reputação na Igreja aqui na Terra, poderá ser o último no céu, porque somente Deus pode julgar adequadamente as nossas obras, e somente ele sabe qual é o lugar que tem reservado para cada um de nós no céu. Já foi definido por ele, em seu conselho eterno, quem se assentará à sua direita ou à sua esquerda.
Muitos que pensam serem os primeiros (principais) em relação aos favores recebidos de Deus, em razão das muitas posses que têm aqui neste mundo, podem ser muito pobres diante do julgamento do Senhor, conforme ele disse aos cristãos da Igreja de Laodiceia.
Em suma, o grande ensino geral aqui é o de que não há qualquer mérito em nós que nos recomende às bênçãos e privilégios que temos recebido de Deus, uma vez que tudo o que temos ou somos, sempre é por causa da sua exclusiva graça, que ele reparte a cada um de nós, segundo a sua própria vontade.