Uma Conversa Franca: Refutações às desculpas do pecador em não ir a Cristo – Parte 1
por Charles Haddon Spurgeon
“Eu não posso ir” (Lucas 14:20)
Há diferentes maneiras de responder o convite do Evangelho quando você tem intenção de recusá-lo. Elas são todas, na melhor das hipóteses, ruins, e todas elas podem ser classificadas sob uma máxima “eles, um por um, começaram a dar desculpas”. Mas, ainda assim algumas são mais decentemente ditas do que outras e aparentam ter mais razão do que as demais. Os dois primeiros grupos de pessoas que foram convidados para a ceia disseram ao servo, desculpando-se, com alguma aparência de cortesia, “rogo-te que me tenhas por escusado”. Mas o terceiro homem não ficou argumentado, ou pedindo para ser perdoado — ele disse de forma direta, sem rodeios, nitidamente —“não posso ir”. Esta foi uma resposta definitiva. Ele não tinha intenção, nem o desejo de ir para a ceia. “Eu não posso ir”, foi uma resposta dura, mas como ele tinha se casado, ele achava que a idéia de sua ida era completamente despropositada e ele não precisava de nenhum tipo de desculpa.
Agora, o que isso significa? Bem, isso significava que ele pensou muito pouco no anfitrião da festa. Ele não tinha respeito por esse “certo homem”, que fez uma grande ceia. Ele teve a oportunidade de desprezá-lo, recusando o convite e o fez abertamente, dizendo: “Eu não posso ir”. Também mostrou que ele subestimava a própria ceia. Poderia ser uma refeição respeitável, mas ele não precisava dela — ele poderia ter uma ceia tão boa quanto aquela em casa. Ele era melhor do que aquelas pessoas nas ruas. Aquele amontoado de pássaros talvez pudessem ficar felizes comendo uma ceia de graça, mas ele não dependia de ninguém e poderia fazer muito bem para si mesmo.
Você não conhece muitos neste mundo que não têm opinião alguma sobre Cristo, nenhum amor por Deus? Religião para eles é mero devaneio – impraticável, uma questão fantasiosa sobre a qual eles não têm tempo para se preocupar. É uma coisa deplorável que eles nem sequer pensem no Deus que os anjos adoram! E o Cristo que é o mais amável dos amáveis – Nele não verem beleza! E as provisões de valor inestimável da misericórdia, do perdão do pecado, da salvação da alma, do Céu de Deus – eles negligenciam essas coisas como se não precisassem delas – ou como se pudessem tê-las sempre que quisessem. Milhares de pessoas estão orgulhosamente independentes da livre graça de Deus – elas são suficientemente boas e virtuosas – elas não precisam chorar por misericórdia, como os ímpios e profanos.
Em seus próprios julgamentos, são bastante capazes de abrir seu próprio caminho para o Céu. Eles não precisam da caridade do Evangelho. O desprezo ao grande Organizador da festa e o desprezo à festa em si, estas duas peças de desdém e orgulho induzem um homem a dizer: “Eu não posso ir”. Mas havia mais do que o orgulho comum no discurso breve, ríspido, pois este homem tinha, em primeiro plano, feito uma promessa de ir. Ele tinha sido convidado para ir e o que está implícito na parábola é que ele tinha, na época, aceito o convite. Ele aceitou as cartas que o convidavam para a ceia e, embora tivesse feito isso, contraria a si mesmo dizendo: “Eu não posso ir”.
Eu acho que estou abordando alguns aqui que se comprometeram várias vezes em virem para Cristo. Se bem me lembro, você pediu as orações dos amigos e prometeu que estava realmente levando a sério. Você olhou a sua esposa no rosto e disse: “Espero que não demore muito para que eu esteja com você na Igreja de Deus e não tenha mais que ir embora a deixando sozinha na mesa do Senhor”. Você pediu a alguns de seus amigos cristãos para fazerem um círculo de oração por você – mas você nunca concretizou a sua intenção de se tornar um verdadeiro cristão. Suas resoluções talvez até possam ser lidas no livro de registro eterno de Deus – mas elas estarão lá, como testemunhas da sua falsidade e mutabilidade. Os talões estão lá, mas não há o cumprimento de qualquer uma das resoluções.
Deus se lembra delas, embora você tenha se esquecido de realizá-las. Você aceitou o convite no calor do momento, mas quando o mundanismo estava mais vantajoso, você voltou para a sua velha obstinação e disse: “Eu não posso ir”. Talvez você não tenha dito isso de uma forma tão nítida como citei agora, mas chegou ao mesmo desfecho, pois você não foi para a Ceia do Evangelho. Pouco importa se você diz irritada ou calmamente, se você não vier, o resultado prático é o mesmo. Eu acho que ouço alguns de vocês, mesmo agora, dizendo, “Não me pergunte tantas vezes. Eu não posso ir! Não adianta me incomodar com isso. Não quero ser grosseiro ou indelicado. Embora eu dissesse que iria, eu retiro as minhas palavras! Eu não posso ir”.
Ao dizer “não posso ir”, o homem está destinado, por assim dizer, a acabar com o assunto. Ele queria que entendessem que já estava decidido e não estava mais aberto à discussão. Ele não negociou. Ele não conversou. Ele apenas disse, de forma direta, “eu não preciso de mais argumentos! Eu não posso ir e isso resolve a questão”. Alguns dos nossos ouvintes, têm vindo a tal condição de coração que de bom grado silenciam os protestos do Evangelho – com um tom simpático, mas determinado, eles diriam, “Eu não posso ir. Não me incomode mais”.
Suponho que este homem, depois de ter feito essa declaração positiva, sentia que havia verdade no que ele havia declarado. Ele disse: “Portanto, eu não posso ir”. Ele tinha uma razão para apoiá-lo no que havia dito, então voltou para casa, sentou-se e se divertiu. Achava que era um homem justo, tão bom quanto aqueles que tinham ido para a ceia e talvez até um pouco melhor. Ele não podia culpar a si mesmo, e quando um homem não faz isso, é porque, naturalmente, ele não pode fazê-lo! E por que ele deveria ser condenado por uma impossibilidade? “Eu não posso ir”, como eu posso ajudar nisso? Então ele sentou-se com uma fria indiferença para comer sua própria ceia. Não era problema dele se o grande anfitrião da festa ficou triste ou não, se os seus bois e carneiros cevados foram desperdiçados ou não. Ele havia dito isso com tanta frequência para sua própria consciência que ele meio que acreditava – “não posso ir, e isso é indiscutível”.
Eu não tenho nenhuma dúvida de que muitos que nunca vieram a Cristo se contentaram em não tê-lo por acreditarem que não poderiam ir. Apesar da impossibilidade, se ela realmente existisse, envolveria a maior de todas as calamidades, mas falam dela com muito pouco interesse. Praticamente, eles dizem: “Eu não posso ser salvo. Devo continuar a ser um incrédulo”. Que coisa terrível para qualquer mortal dizer! No entanto, você já disse isso até quase acreditar e deseja que nós, agora, por causa deste motivo terrível, o deixemos completamente sozinho. Você não quer ser incomodado esta noite. O texto já começa a assustá-lo um pouco e você não gosta dele. Está quase lamentando que esteja aqui.
Se o Senhor me ajudar, eu vou incomodá-lo muito mais antes de você sair deste lugar! Eu tenho notícias pesadas do Senhor para você! Vou procurar, se eu puder, arrancar o travesseiro macio da sua cabeça sonolenta e acordar-lhe com uma ansiedade imediata para que não pereça em seus pecados! Com gentil importunação eu imploro a você, e tento mostrar-lhe que este seu pequeno discurso de “Eu não posso ir”, é um discurso miserável! Você deve jogá-lo aos ventos e provar que pode ir indo de uma só vez, recebendo a grande festa de amor e honrado Àquele que a espalha para as almas famintas.
Eu gostaria de dizer duas ou três coisas sobre este caso, pois são muito graves. Já era ruim o suficiente para este homem dizer: “Eu não posso ir”, mas é muito pior para você dizer: “Eu não posso ir a Cristo”. Lembre-se, se os convidados não foram, e não foram de uma só vez, eles nunca mais poderão ir, lá era apenas um jantar e não uma série de banquetes. O grande homem que fez a festa não tinha a intenção de preparar um outro. Uma ofensa muito grave seria cometida por sua ausência naquela única ceia.
Meus caros ouvintes, há apenas um período de Graça Divina para vocês e se esse for encerrado, vocês não terão uma segunda oportunidade! Existe apenas um Jesus Cristo – não há mais sacrifício pelo pecado. Existe apenas uma forma de amor eterno e misericórdia, não os abandonem. Peço-vos, não se afastem da porta da vida, o único caminho da salvação! Se a desprezar agora e a festa acabar – como acontecerá quando você morrer – então você terá perdido o grande privilégio e terá cometido uma negligência grave, da qual as conseqüências você nunca será capaz de escapar! Observe isso e tome cuidado!
Além disso, não é simplesmente um jantar que você vai perder quando diz: “Eu não posso ir”. Perder uma ceia é pouco e em breve as coisas poderiam se assentar quando o café da manhã chegasse. Mas você perde a vida eterna e esta, perdida em tempo, nunca poderá ser encontrada na eternidade! Você perde o perdão dos pecados, a reconciliação com Deus, a adoção na família de amor – essas são pesadas perdas! Você perde a alegria da fé para a vida e perde o conforto na morte – quem pode estimar esses danos? Não perca a sua alma imortal! Oh, não perca isso! Pois mesmo se ganhar o mundo inteiro não será recompensado por essa perda! Perca o que quiser, mas não perca sua alma, peço-vos! Busque a salvação, sem ela teria sido melhor que você nunca tivesse nascido.
Além disso, uma vez mais, se você não vir a Cristo implicará no maior insulto que pode ser feito ao seu Criador. Você já O afligiu pela quebra de Suas Leis – mas qual será a sua indignação quando você recusa a Sua misericórdia? Quando você vira as costas para o Seu Filho? Quando você recusa não só o seu Deus, mas o seu Salvador crucificado pendurado lá com os braços estendidos, sangrando Sua vida fora, para que Ele possa te salvar? Não vire as costas para sua própria redenção! Nenhum sangue foi aspergido no limiar da casa de um israelita, pois não podiam pisar nele – isso seria desastroso, certamente. O sangue foi sobre a verga e sobre as duas ombreiras, mas nunca sob os pés. Não passe por cima do sangue de Cristo! E você vai fazer isso se recusar Sua grande salvação. Se não vir a Ele para ser salvo, você será condenado, mesmo sendo tão bom quanto diz ser, em vez de ser amado por Deus – vai ser condenado, em vez de ser salvo por Jesus Cristo, Seu Filho. Isso irá demonstrar um insulto caro da sua parte, assim como uma dolorosa afronta a seu Senhor.
Dito tanto, por meio do prefácio, agora tomarei essas palavras, “não posso ir”, e trabalharei com elas um pouco, com a esperança de que possa crescer em você a vergonha delas.
I. Em primeiro lugar, o homem declarou: “Eu não posso ir porque”, ele disse “ME CASEI COM UMA MULHER”. Ele havia prometido ir ao jantar e tinha a obrigação de cumprir sua promessa. Por que ele não deixou para se casar depois? Certamente ele não havia sido obrigado a casar-se com tamanha pressa que não pudesse manter os compromissos já assumidos! Ele era obrigado a cumprir a sua promessa para o criador da festa, e essa promessa foi reivindicada pelo mensageiro.
Ele não poderia dizer que sua esposa não o deixava ir. Essa declaração pode ser verdade na Inglaterra, mas no Oriente, os homens são sempre donos da situação e as mulheres raramente têm seus direitos na família! Nenhum Oriental diria que sua esposa não o deixava ir! Ainda nessas regiões ocidentais, onde a mulher tem mais direitos, algum homem pode dizer, de verdade, que sua esposa não lhe permitirá ser um Cristão? Eu não acredito que qualquer um de vocês será capaz de dizer, quando vierem a morrer, que sua esposa foi a responsável por não serem Cristãos.
A maioria dos homens ficaria irritada se lhes disséssemos que eles têm medo e são controlados pela esposa e que não poderiam dizer que suas almas eram realmente deles. Alguém deve ser um tolo, de fato, se deixa uma mulher levá-lo até o inferno contra a sua vontade! O fato é que quando um homem tenta jogar a culpa de seus pecados em cima de sua esposa ele se torna uma criatura mesquinha. Eu sei que o Pai Adão, nos deixou um mau exemplo a este respeito, mas o fato desse ser uma parte do pecado que causou a ruína de nossa raça deveria torná-lo como um farol para nós. Você, certamente, como um homem, não deve rebaixar-se tanto a ponto de dizer: “Eu não posso ir, porque minha mulher não deixa”.
Se um de vocês, no entanto, continua a lamentar-se: “Minha esposa é minha ruína. Sou incapaz de ser um cristão por causa da minha esposa”, Devo lhe fazer uma pergunta ou duas antes de eu acreditar na sua história deplorável. Você a deixa controlá-lo em todo o resto? Ela o mantêm em casa todas as noites? Ela escolhe os companheiros para você? Porque, meu caro, se não me engano, você é um teimoso, intratável animal, cabeça-dura sobre todo o resto! E então, quando se trata de matéria de religião, você vira e se queixa de ser governado por sua mulher? Não tenho paciência com você!
É mais que provável que a melhor coisa que poderia lhe acontecer seria a de ter a sua mulher sobre o trono da Inglaterra nos próximos anos. Diante de um assunto tão sério como este não fale bobagem. Você sabe que a culpa é somente sua – se você quiser procurar as melhores coisas – a pequena mulher em casa não será empecilho para você. Este homem disse: “Eu não posso ir”. Por quê? Porque ele tinha uma esposa! Fundamento estranho! Pois, de fato, essa era uma razão pela qual ele deveria ir e levá-la junto!
Se algum homem, infelizmente, tivesse uma esposa que se opusesse às coisas de Deus, em vez de dizer “eu não posso ser um cristão, porque tenho uma esposa não convertida”, ele deveria procurar dupla Graça para que pudesse ganhar a sua esposa para Cristo. Se uma mulher lamenta que tenha um marido não convertido, deixe-a viver mais perto de Deus que assim ela poderá salvar seu marido. Se um funcionário tem um mestre não convertido, que trabalhe com diligência duas vezes para glorificar a Deus para que assim possa ganhar o seu mestre. Assim você vê, existem duas razões pelas quais você deve ir para o banquete do Evangelho, não só para seu próprio bem, mas por causa de seus parentes não convertidos.
Se a vela do meu vizinho está apagada – é razão para que eu não deixe a minha brilhar? Não, mas é razão para que eu tenha ainda mais cuidadoso em mantê-la queimando, e assim possa ascender a vela do meu vizinho também. É uma pena que minha esposa esteja perdida, mas não posso ajudá-la estando eu da mesma forma perdido. Não, mas eu posso ajudá-la se eu permanecer na minha posição e seguir a Cristo mais firmemente, porque a minha mulher se opõe a mim. Bom homem, não permita que a sua esposa o deixe de lado! Boa Mulher, não deixe seu marido impedi-la! Não diga: “Eu não posso freqüentar a casa de Deus, nem ser um cristão enquanto tiver o marido que eu tenho”. Não, essa é a razão pela qual você deveria tomar sua posição mais bravamente no nome de Deus porque, pelo seu exemplo, aqueles a quem você ama poderão ser resgatado da destruição.
Como você sabe, Oh esposa, que você pode salvar o seu marido incrédulo? Como você sabe, Oh servo, que você pode salvar o seu senhor que não crê? Eu me lembro de ouvir o Sr. Jay contar uma sobre uma garota, serva, inconformada que foi viver com uma família de pessoas mundanas que participavam na igreja da Inglaterra. Apesar de não serem crentes realmente — eles eram propagadores da igreja por for a mas eles pouco tinham a ver com o interior dela — e os hipócritas são geralmente os mais fanáticos.
Eles ficaram muito irritados com a sua serva por ela ir à pequena Casa de Reunião e ameaçaram demiti-la caso fosse novamente. Mas ela continuou tudo do mesmo jeito e de forma muito gentil, mas firme, assegurou-lhes que ela continuaria a fazê-lo. Enfim, ela recebeu uma notificação para ir embora – eles não poderiam como boas pessoas da Igreja – ter uma dissidente vivendo com eles! Ela recebeu o tratamento áspero deles com muita paciência e aconteceu que no dia anterior à sua despedida uma conversa mais ou menos assim teve lugar. O mestre disse: “É uma pena, afinal, que Jane deva ir. Nós nunca tivemos uma menina tão boa. Ela é muito trabalhadora, sincera e atenciosa”.
A mulher disse, “Bem, eu tenho pensado que é muito duro mandá-la embora por ir à sua Capela. Você sempre fala de liberdade religiosa e não se parece muito com liberdade religiosa o fato de mudar a nossa menina para longe por adorar a Deus de acordo com sua consciência. Tenho certeza de que ela é bem mais cuidadosa com a sua religião do que nós somos com a nossa”. Então eles falaram sobre isso e decidiram: “Ela nunca nos respondeu de forma impertinente, nem apontou falhas em nós por irmos à Igreja. Sua religião proporciona um maior conforto para ela do que a nossa proporciona para nós. É melhor deixá-la ficar conosco, e ir para onde preferir”.
“Sim”, disse o marido, “e eu acho que é melhor irmos e ouvirmos o ministro que ela vai ouvir. Evidentemente, ela tem algo que nós não temos. Em vez de mandá-la embora por ir à Capela, vamos acompanhá-la no próximo domingo e julgar a questão por nós mesmos”. E eles o fizeram, e não demorou muito para que o patrão e a patroa se tornassem membros daquela mesma Igreja!
Não diga, portanto, “não posso ir porque o meu patrão e a minha patroa são contra”. Não dê desculpas inúteis a partir de fatos dolorosos, estes são motivos pelos quais você deveria estar mais determinado do que nunca, ainda que tenha de ir para o Céu sozinho, em se tornar um seguidor de Cristo. Mantenha a sua resolução e você poderá nutrir a esperança e a crença de que você vai, por Sua graça, levar outros aos pés do Salvador.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 12/12/2013