Conteúdo Geral da Bíblia – De Adão a Moisés
A Bíblia não é um livro de história como outro qualquer. O propósito de Deus na inspiração da sua escrita não foi o de contar a história de determinados homens, mas sim, o de revelar a Sua pessoa e vontade ao homem que Ele criou.
Nela temos o registro de fatos antes mesmo da criação do mundo; do passado, do presente e até do futuro. A história da redenção e da glorificação do homem e dos atos de Deus nessa história estão nela contidos.
Há fatos bíblicos portanto que ainda estão tendo cumprimento em nossos dias e que continuarão a serem cumpridos até a criação dos novos céu e terra prometidos.
É por isso que no meio da narrativa do livro de Gênesis, de fatos que já haviam acontecido, como a forma como o pecado entrou no mundo através de Adão, temos também no mesmo livro de Gênesis a citação de fatos que ainda viriam a ocorrer num futuro distante, como o esmagamento da cabeça da serpente pelo descendente da mulher, que é Cristo.
A promessa de Deus feita a Abraão de abençoar no seu descendente todas as nações da terra, é também uma referência a Jesus (Gl 3.16), que começou a ter cumprimento desde o primeiro homem, e mais especificamente há cerca de dois mil anos, ainda está tendo cumprimento, e terá até que se complete o número dos salvos que estão destinados à vida eterna, e cujos nomes estão escritos no livro da vida.
Assim, quando Moisés começou a escrever o livro de Gênesis no período provável de 1.440 a.C. a 1.400 a.C., sequer poderia imaginar a amplitude da promessa que foi feita a Abraão.
Qual é portanto o período a que se refere a narrativa de Gênesis ?
Assim, a rigor, não poderíamos afirmar que o conteúdo total de Gênesis se refere a um período já conhecido e acabado. Em vez de dizermos, portanto, que a narrativa de Gênesis se refere ou cobre o período que vai da criação dos céus e da terra até a fixação da família de Jacó no Egito, cerca de 1885 a.C., fechando-se a narrativa com a morte de José; é melhor dizer que o livro contém a revelação de Deus que fora feita no citado período, e cujos fatos considerados por Ele como relevantes para serem registrados, foram escritos por Moisés, cerca de 450 anos depois da entrada de Jacó com sua família no Egito, para que ali fosse formada a nação de Israel, da descendência dos seus filhos, a partir dos quais se formariam as doze tribos de Israel, conforme planejado por Deus.
A escrita do livro de Gênesis, em resumo, descreve que o homem foi criado com um corpo formado do pó da terra, que para lá retorna na morte, mas também com um espírito, no qual, pela obediência e comunhão com o Senhor, é marcada, progressivamente, a imagem e semelhança com Deus.
A entrada do pecado no mundo privou Adão e toda a sua descendência de experimentar o fruto da árvore da vida. Isto significa que todos quantos permanecessem no mesmo estado de desobediência de Adão, ficariam impedidos de ter vida eterna e ser semelhantes ao Criador, conforme era do Seu eterno propósito.
Mas, mesmo sendo pecadores, todos aqueles que se voltassem para o Senhor, pela fé, dispondo-se a amá-Lo e servi-Lo, seriam aceitos pela Sua graça, porque elegeu para a vida eterna a todos que Lhe entregassem suas vidas pela fé, como foi o caso de Abel, Enoque, Noé, Abraão, Ló, Isaque, Jacó, José, entre outros. Todos estes têm seus nomes registrados no livro de Gênesis, tendo recebido testemunho de terem agradado a Deus.
Mas, os que não forem justificados pela fé, permanecendo assim, na prática do pecado e vivendo contrariamente à vontade do Senhor, serão condenados, como o comprova os Seus juízos sobre Caim, sobre os que pereceram no dilúvio e em Sodoma e Gomorra.
Apesar da eleição e justificação serem pela graça, como comprovado na vida daqueles que o Senhor escolheu para Si, haveria necessidade de uma base para tal eleição e justificação, para que Deus pudesse permanecer Justo ao justificar o pecador: a morte e ressurreição de Jesus.
Para tanto, antes que Ele se manifestasse em carne, haveria necessidade de se formar um povo (Israel) através do qual o Senhor pudesse revelar o conhecimento da Sua vontade, e qual era a real condição do homem perante Ele desde que o pecado entrou no mundo.
Gênesis relata a maneira como Deus formou a nação de Israel a partir de Abraão, e para qual principal propósito: o de abençoar todas as nações da terra.
A recusa de Deus das vestimentas de folhas de figueira feitas por Adão e Eva para cobrir a sua nudez, depois do pecado, tendo feito Ele próprio vestimenta de peles para eles, que demandou o sacrifício de animais, revelava em figura, que uma vítima inocente teria que morrer para que a nudez produzida pelo pecado pudesse ser coberta. O pecado não pode ser coberto pelos meios do próprio homem, mas pelo único meio provido por Deus: o sacrifício de Jesus.
Aquela vestimenta, como dissemos, foi apenas uma forma tipológica de se ensinar que o pecado para ser coberto, demandaria o derramamento de sangue alheio.
Os altares que Abraão e os demais patriarcas levantavam para oferecer sacrifícios ao Senhor, também falavam em figura que os ofertantes eram aceitos por Ele, não em razão de sua própria justiça, mas com base na dAquele que morreria em favor deles.
Para revelar que a descendência abençoada de Abraão seria a nascida segundo a promessa e não segundo a carne, o Senhor confirmou a decisão de Sara de expulsar o filho da escrava Hagar (Ismael) com Abraão, para não ser herdeiro juntamente com Isaque, que era filho natural de Sara, livre e nascido segundo promessa de Deus a ela e a Abraão (Gl 4.21-31).
O crente é recebido portanto como filho de Deus simplesmente em razão do cumprimento da promessa que Ele fez a Abraão, e não por qualquer mérito pessoal. Não podemos confundir entretanto, a questão do mérito com o conceito de valor. Porque os escolhidos, apesar de não terem realmente nenhum mérito diante de Deus, têm no entanto, grande valor para Ele.
Isaque nasceu a Abraão porque lhe fora prometido pelo Senhor. Nem Abraão, nem Sara tinham mais condições, biologicamente falando, para gerá-lo. Deus operou um milagre naquele nascimento. Assim se dá com todos os que nascem do Espírito pela fé. São gerados por meio de um milagre do Espírito Santo, e em razão da promessa que foi feita a Abraão. Por isso os crentes são também chamados na Bíblia por filhos da promessa ou filhos de Abraão.
Noé era homem justo porque andava com Deus. É isto o que a Palavra nos ensina a tal respeito. Ninguém pode ter o fruto do Espírito sem andar com o Senhor. É na nossa comunhão com Ele que nos é infundida pelo Espírito a justiça e todas as demais virtudes de Cristo.
A eleição de Jacó, filho de Isaque, neto de Abraão, cujo nome o Senhor mudaria para Israel, que significa Príncipe de Deus, já comprovava que a própria nação de Israel também seria formada por meio da mesma eleição segundo a graça, e não por qualquer mérito de Abraão, de seus filhos ou daqueles que chegariam à existência depois dele. O Senhor mesmo viria a declarar através de Moisés que havia escolhido Israel, quando já era uma nação formada no Egito, para ser Seu povo, entre todas as demais nações que existiam na terra, não pelo fato de ser o povo mais numeroso, pois era o menor, mas porque os amava e para cumprir o juramento que fizera aos patriarcas (Dt 7.6-8).
Aí está declarada a eleição pela graça da própria nação israelita.
De igual forma, pela mesma eleição, está sendo formado o Israel espiritual, por meio da chamada daqueles que têm sido justificados, regenerados e santificados pelo Espírito.
São contados como filhos de Deus apenas os que creem em Cristo (Jo 1.12), isto é, aqueles que são da fé.
Gênesis é portanto o início do relato da história da criação de um povo (eleitos), que estaria ligado pela fé, para sempre, ao descendente de Abraão (Jesus). Deus fez um Pacto (aliança) eterno com eles através do sangue de Jesus (Lc 19.20). É somente pelo fato de estarem nEle é que são abençoados com a salvação e a vida eterna.
Vemos assim que quando a Bíblia fala que os salvos são somente os que creem em Cristo, não está se referindo a uma simples afirmação de crença na existência de Deus. A este respeito, Tiago diz que até os demônios creem e tremem, mas nem por isso são ou poderão ser salvos do estado de perdição em que se encontram. Jesus mesmo ensinou que muitos dizem Senhor, Senhor, mas não serão salvos. Outros até profetizam e expulsam demônios em seu nome, e no entanto, Ele não os conhece. A verdadeira fé é aquela que une o crente a Cristo. Há uma união que não poderá ser desfeita (Rom 8.35-39).
Jesus afirmou que a forma de reconhecimento daqueles que pertencem à família celestial é pela sua obediência à Palavra de Deus. Os que são de Cristo apresentam as evidências da sua salvação, pelos frutos dignos de um verdadeiro arrependimento, isto é, pela santificação operada pelo Espírito Santo em suas vidas.
Se alguém diz que pertence a Jesus porque crê nEle, mas não cumpre os Seus mandamentos, então é bem provável que não seja um verdadeiro filho de Deus.
A Nova Aliança em Cristo foi feita antes dos tempos eternos, mas foi revelada inicialmente a Abraão, porque Ele foi designado pelo Senhor como o pai dos que creem em Cristo (Rom 4.16,17).
Abraão provou de muitas maneiras que não vivia para fazer a sua própria vontade, mas a do Senhor. Algumas já comentamos. Mas também é digno de nota o fato de ter deixado a sua parentela e ter peregrinado pela terra que o Senhor lhe mostrou, e que daria à sua descendência.
O Senhor deu ao próprio Adão uns poucos mandamentos, revelando assim que a vontade do homem não é soberana. A vontade de Deus deve imperar sobre a do homem.
Adão não tinha cometido ainda qualquer pecado. Era inocente. E recebeu mandamentos para cumprir. Os mandamentos não foram dados portanto em razão do pecado, mas para revelar que o nosso Deus é amado quando fazemos a Sua vontade.
Importa portanto que em todo o modo e circunstância seja Deus obedecido.
O homem foi criado para amar ao Senhor, e amá-Lo é cumprir Seus mandamentos (Jo 14.21). Mas para cumprir seus mandamentos é preciso que o homem nasça de novo do Espírito Santo, e isto só é possível por meio da fé em Jesus.
Deus revelou a Abraão que o povo que formaria a partir dele para habitar em Canaã seria peregrino numa terra alheia, e reduzido à escravidão por quatrocentos anos, mas seriam depois libertados e sairiam com grandes riquezas. Esta terra alheia seria o Egito, para onde Jacó foi com seus familiares (setenta pessoas - Gên 46.27), para fixar residência juntamente com José, um dos seus filhos que se tornou governante sobre toda a terra do Egito.
José não sabia o preço que deveria pagar para que o propósito de Deus pudesse ser cumprido, através dele. Enciumados, seus irmãos tentaram tirar-lhe a vida, tendo sido salvo por um deles, Rúben, e por proposta de um outro, Judá, foi vendido como escravo aos ismaelitas por vinte siclos de prata, que o levaram para o Egito, e que por sua vez o venderam ao comandante da guarda de Faraó, chamado Potifar.
José foi aperfeiçoado na perseverança através da disciplina que lhe estava sendo imposta pela tribulação, e no momento apropriado sairia da posição de encarcerado e escravo, para a de livre e governador.
Faraó investiu José de autoridade sobre toda a terra do Egito, e tendo este perdoado seus irmãos, que o haviam vendido como escravo, apresentou-os a faraó, bem como toda sua família que viera de Canaã para o Egito, tendo sido instalados na terra de Gósen com grande honra, por causa de José.
A grande honra que tinham no início no Egito viria a transformar-se em dura escravidão, conforme está relatado no livro de Êxodo. Mas isto também estava fixado nos conselhos de Deus, pois como o próprio José havia predito ainda em vida, Ele visitaria o povo e o faria subir do Egito para a terra que havia jurado dar a Abraão, Isaque e Jacó.
Enquanto o povo de Israel ia se multiplicando no Egito, os povos de Canaã iam também crescendo em número e principalmente na prática da iniquidade. O Senhor revelou a Abraão que Israel só sairia do cativeiro para a terra prometida quando estivesse cheia a medida da iniquidade dos amorreus, que era um dos povos que habitavam em Canaã (Gên 15.16).
Israel estava sendo formado também para ser a espada do Senhor contra a impiedade dos cananeus, cujo culto idolátrico, conforme tem sido resgatado pela arqueologia, era dos mais bárbaros e horrendos, ao ponto de sacrificarem seus filhos na fogueira a divindades demoníacas.
A terra prometida seria então tomada por esforço mediante muitas batalhas; tal como ocorre com os crentes, na igreja de Cristo, que estão a caminho da Canaã celestial. Devem se empenhar em permanecer em santidade vencendo a guerra de muitas batalhas contra o pecado e os poderes das trevas, que será travada até o último dia da sua vida de peregrinação neste mundo de trevas.
As chamadas doze tribos que compunham a nação de Israel eram formadas pelos descendentes dos filhos de Jacó, sendo que José, estava representado por seus dois filhos Efraim e Manassés. É por isso que a Bíblia não fala na tribo de José, pois tanto as tribos de Efraim quanto a de Manassés eram compostas pelos descendentes destes dois filhos de José.
Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulom, Benjamin, Dã, Naftali, Gade e Aser, demais filhos de Jacó, cujo nome Deus mudou para Israel, eram os nomes que passaram a ter as demais tribos, porque estes eram os patriarcas do povo que se formou a partir deles, e que saiu do Egito e passou a habitar em Canaã, quando a terra começou a ser conquistada quatrocentos anos depois, nos dias de Moisés e Josué.
Israel não foi formado para ser servo de Faraó, mas do Senhor. Era povo de propriedade exclusiva de Deus, a partir do qual Ele se revelaria ao mundo.
O tempo estava completado. O bebê que havia sido livrado da matança do faraó que intentava exterminar os israelitas contava agora com oitenta anos de idade. E foi preparado no deserto por quarenta anos, para aprender que a obra do Senhor é feita por Ele mesmo através de nós, e não pela nossa própria força e sabedoria. A humilhação imposta a Moisés nos quarenta anos que passou no deserto de Midiã, permitiu a Deus transformá-lo num varão mui manso e obediente. Agora ele é chamado depois de ter visto o poder sobrenatural do Senhor na sarça que ardia em fogo mas não se consumia, a ir aos filhos de Israel no Egito para libertá-los da escravidão. Os falsos deuses do Egito seriam humilhados pelas manifestações de poder do único e verdadeiro Deus. Os israelitas aprenderiam a quem pertencem o domínio e o poder. Aprenderiam também como o Senhor distingue aqueles que são Seus daqueles que não Lhe pertencem, pois nenhuma das pragas que sobrevieram aos egípcios atingiram a qualquer israelita ou mesmo suas posses.
Assim também o Senhor fará nos dias do tempo do fim, quando despejar Seus juízos sobre a terra. Ele guardará do mal aqueles que O amam e que são Seus, pois sabe livrar da provação os piedosos, e reservar, sob castigo, os injustos para o dia de juízo (II Pe 2.9).
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 18/12/2013