Cristo e o Tabernáculo
“Heb 9:6 Ora, depois de tudo isto assim preparado, continuamente entram no primeiro tabernáculo os sacerdotes, para realizar os serviços sagrados;
Heb 9:7 mas, no segundo, o sumo sacerdote, ele sozinho, uma vez por ano, não sem sangue, que oferece por si e pelos pecados de ignorância do povo,
Heb 9:8 querendo com isto dar a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do Santo Lugar não se manifestou, enquanto o primeiro tabernáculo continua erguido.
Heb 9:9 É isto uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto,
Heb 9:10 os quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma.
Heb 9:11 Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação,
Heb 9:12 não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção.
Heb 9:13 Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne,
Heb 9:14 muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!”
Nota Explicativa Introdutória: O primeiro tabernáculo citado no texto é o que chamamos de Lugar Santo, onde se encontravam o candelabro, a mesa dos pães e o altar do incenso, no qual todos os sacerdotes poderiam ministrar. Veja que o segundo tabernáculo ou Lugar Santo citado no texto, é o que chamamos de Santo dos Santos, onde se encontrava a arca da aliança, e no qual somente o sumo sacerdote poderia entrar uma única vez por ano, para fazer expiação do pecado de toda a nação de Israel.
Jesus, como sumo sacerdote de uma nova dispensação, abriu caminho para Santo dos Santos a todos os crentes, porque o véu de separação foi rasgado de cima abaixo, na ocasião da sua morte na cruz.
Apesar dos serviços no templo de Jerusalém terem continuado algum tempo depois da morte de Jesus, o rasgar do véu do santuário revelava que aquela forma de culto havia sido trocada por uma nova, a do novo pacto instituído no Seu sangue, como de fato ocorreu, com a destruição do templo em 70 d.C. pelos romanos, e desde então nunca mais existiu sacerdócio levítico com apresentação de sacrifícios, mesmo com o retorno dos judeus à Palestina.
O rasgar do véu do templo tipificava o rasgar do véu do novo e vivo tabernáculo, que foi a carne de Jesus sendo rasgada na cruz. O seu próprio corpo é o tabernáculo perfeito no qual se cumpriu tudo o que era exigido para a expiação do nosso pecado, porque no seu corpo habitava toda a plenitude da perfeição das naturezas tanto humana, quanto divina. Corpo este que foi formado pelo Espírito Santo.
Assim, em relação ao tabernáculo terreno, não somente o primeiro tabernáculo (Lugar Santo) foi extinto, como também o segundo tabernáculo (Santo dos Santos), porque Cristo não exerce seu oficio sumo sacerdotal para a purificação do pecado de todos os crentes, num tabernáculo erigido por mãos humanas, mas no tabernáculo celestial, não feito por mãos, do qual aquele antigo era apenas uma figura.
Estamos apresentando a seguir, uma breve exposição do nosso texto de Hebreus 9.6-14, por meio da tradução e adaptação que fizemos do comentário de Mathew Henry alusivo ao mesmo.
Nestes versos o apóstolo se compromete a nos dar a mente e o significado do Espírito Santo em todas as ordenanças do tabernáculo e da dispensação da Lei, compreendendo tanto lugar e adoração.
As escrituras do Antigo Testamento foram dadas por inspiração de Deus, homens santos escreveram inspirados pelo Espírito Santo. E esses registros do Velho Testamento são de grande utilidade e significância, e não apenas para aqueles que primeiro os receberam, mas até mesmo para os cristãos, que não devem se contentar com a leitura da Lei, mas aprender o que o Espírito Santo ensina através deles. Então, temos nesta porção das Escrituras algumas coisas mencionadas como sendo referentes ao ensino do Espírito Santo para o povo de Deus:
I. Que o caminho do santuário não havia ainda de todo se manifestado, enquanto o primeiro tabernáculo estava em pé, verso 8. Essa foi uma lição que o Espírito Santo nos ensinaria por estes tipos, o caminho para o céu não era tão claro e simples, nem muito frequentado, sob o Antigo Testamento como sob o Novo. É a honra de Cristo e do evangelho e a felicidade daqueles que vivem sob ele, que agora a vida e imortalidade são trazidas à luz. Não havia este livre acesso a Deus, então, como o temos agora; Deus tem aberto agora uma porta mais ampla, e há espaço para mais, sim, para todos quantos estejam verdadeiramente dispostos a retornarem a ele por meio de Cristo.
II . Que o primeiro tabernáculo era apenas uma alegoria para o tempo presente, verso 9. O Velho Testamento foi uma dispensação sombria, mas de curta duração, tendo sido concebido apenas por algum tempo para tipificar as grandes coisas relativas a Cristo e ao Evangelho que deveriam no devido tempo brilhar em seu próprio brilho, e, assim, fazer com que todas as sombras fossem dissipadas e desaparecessem, como as estrelas ao nascer do sol.
III. Que nenhum dos dons e sacrifícios lá oferecidos poderiam fazer os ofertantes perfeitos no que se refere à consciência (verso 9), ou seja, eles não poderiam remover a corrupção ou o domínio do pecado, nem livrar a consciência do medo da ira de Deus, pois eles não poderiam saldar os débitos, nem remover as dúvidas, daquele que prestava culto, a saber, o ofertante de tais sacrifícios. Um homem poderia apresentá-los do modo correto exigido pela lei, e ainda não encontrar a sua consciência pacificada ou purificada por eles, ele poderia, assim, ser livrado de punições corporais e temporais que a Lei prescrevia contra os não observadores, mas ele não poderia ser salvo por eles do pecado ou do inferno, como todos os que são crentes em Cristo.
IV. O Espírito Santo nos ensina que a forma de culto do Velho Testamento relativas às prescrições para o tabernáculo “não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma.”, verso 10. Sua imperfeição se baseava em três coisas:
1. Sua natureza. Eles eram senão externos e carnais, com ofertas de carnes e bebidas, e várias lavagens cerimoniais. Todos estes eram exercícios corporais, de pouco benefício, pois somente poderiam satisfazer a carne, ou na melhor das hipóteses purificar a carne.
2. Eles não eram de tal ordem que fossem indiferentes ao seu uso ou desuso, mas foram impostos aos israelitas com previsão de graves punições corporais, e isso foi ordenado com o propósito de lhes fazer olhar mais para a Semente prometida, Cristo, e aspirarem por ele.
3. Estes nunca foram projetados para serem perpétuos, mas apenas para continuarem até ao tempo da reforma, quando coisas melhores lhes seriam concedidas. O tempo do Evangelho é o tempo da reforma - de luz mais clara para todas as coisas que são necessárias para serem conhecidas, - de um amor maior, induzindo-nos a não ter má vontade com ninguém, mas boa vontade para com todos, e ter misericórdia para com todos, - de uma maior liberdade e independência, - e de uma vida mais santa de acordo com a regra do evangelho. Nós temos muito mais vantagens sob o evangelho do que eles tinham sob a dispensação da Lei.
V. O Espírito Santo nos ensina por este meio que nós nunca fazemos o uso correto de tipos, senão quando os aplicamos ao antitipo, e, quando o fizermos, será muito evidente que o antitipo em muito excede o tipo, que é o principal desígnio de tudo o que é dito. E, como o autor de Hebreus escreve, inspirado pelo Espírito, para aqueles que acreditavam que Cristo tinha vindo e que Jesus era o Cristo, por isto ele muito justamente infere que Ele está infinitamente acima de todos os sumos sacerdotes da Lei (versos 11 e 12), e ele o ilustra muito plenamente. Pois,
a) Cristo é um sumo sacerdote de bens vindouros, pelo que pode ser entendido:
1. Todas as coisas boas que estavam por vir durante o Antigo Testamento, e agora estão sob o Novo. Todas as bênçãos espirituais e eternas que os santos do Antigo Testamento tinham em seus dias e sob a sua dispensação eram pertencentes ao Messias, no qual eles criam.
2. Todas as coisas boas ainda por vir e para serem desfrutadas sob o evangelho, quando as promessas e profecias feitas à igreja pelo evangelho serão cumpridas nos últimos dias, em razão do sacerdócio de Cristo.
3. De todas as coisas boas por vir no estado celestial, que irá aperfeiçoar ambos os Testamentos , assim como o estado de glória irá aperfeiçoar o presente estado de graça. Observe-se, que todas as coisas passadas, presentes e por vir, eram, e são, fundadas sobre, e fluem do ofício sacerdotal de Cristo.
Os bens já realizados citados no texto do verso 11 se referem ao cumprimento de todas as bênçãos e promessas relativas à salvação e aperfeiçoamento espiritual dos crentes, que o Velho Testamento apresentava em sombra, sob a forma de tipo ou figura.
b) Cristo é o sumo sacerdote de um tabernáculo maior e mais perfeito (verso 11), um tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, mas seu próprio corpo, além da natureza humana, concebido pelo Espírito Santo. Este era uma nova construção, infinitamente superior a todas as estruturas terrenas, não excetuando o tabernáculo do próprio templo. Jesus havia se referido ao seu corpo como sendo o templo que ele reergueria em três dias depois de ser destruído, numa referência à sua ressurreição.
c) Cristo, nosso sumo sacerdote, entrou no céu, e não como o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos terreno, com o sangue de touros e de bodes, mas pelo seu próprio sangue, caracterizado pelo que eles ofereciam, e infinitamente mais precioso.
d) E não por apenas uma vez por ano, que mostrava a imperfeição daquele sacerdócio terreno, senão para obter perdão por mais um ano. Mas o nosso sumo sacerdote entrou no céu uma vez por todas, e obteve uma expiação não anual, mas uma redenção eterna.
e) O Espírito Santo ainda mais mostrou o que era a eficácia do sangue de sacrifícios do Antigo Testamento, e daí é inferida uma muito maior eficácia do sangue de Cristo.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 03/01/2014