O Retorno da Arca da Aliança para Israel – I Samuel 6
No sexto capítulo de I Samuel nós temos o registro não apenas do que os filisteus fizeram para devolver a arca a Israel, como também o grande juízo do Senhor sobre os israelitas de Bete-Semes, que ocasionou a morte de cinquenta mil e setenta homens, em razão de terem olhado o interior da arca (v. 19).
Todos estes juízos estavam produzindo temor em Israel, e preparando o povo para o arrependimento, que nós veremos no sétimo capitulo.
A arca se encontrava há sete meses no território dos filisteus (v. 1) quando eles começaram a tomar providências para devolvê-la a Israel, e serem livrados da grande praga que Deus havia trazido sobre eles.
Pelas medidas tomadas pelos filisteus, para a remoção da sua culpa, conforme proposto pelos seus sacerdotes e adivinhos, nós vemos que as principais pragas eram os tumores e a infestação de ratos, pois decidiram oferecer como oferta pela culpa juntamente com a arca, quando esta fosse devolvida a Israel, gravuras de ouro com a forma de ratos e tumores, cinco de cada, sendo um para cada um dos cinco príncipes dos filisteus.
Eles não fizeram isto intuitivamente, ou seguindo simplesmente a sua forma ritual própria, quanto às oferendas que dedicavam aos seus deuses.
Note-se que levaram em conta a necessidade de remoção de culpa diante do Deus de Israel, que sabiam ser exigente em relação à apresentação de sacrifícios e ofertas, para tratar das transgressões do Seu próprio povo de Israel.
Não seria entretanto, nenhuma oferta de ouro que faria expiação da culpa deles, porque isto é feito com sangue e não com ouro ou com prata.
É com vida que se faz expiação em virtude da continuidade da vida, e foi por isso que Cristo se ofereceu como sacrifício em nosso lugar.
Eles decidiram devolver a arca, pois reconheciam que o seu endurecimento, em tentarem mantê-la em seu território, acabaria por lhes trazer uma destruição ainda maior, tal como haviam se lembrado do que havia ocorrido aos egípcios, em razão do endurecimento de faraó (v. 6).
Entretanto, além da necessidade de que se desse glória ao Deus de Israel (v. 5), reconhecendo a sua superioridade sobre o seu próprio deus, resolveram acrescentar esta oferenda adicional, como forma de pagamento pelo erro de terem se apropriado de um utensílio sagrado, pertencente ao Deus de Israel.
Eles decidiram ainda fazer uma prova, enquanto devolviam a arca, para ter a convicção de que fora realmente um castigo de Deus o que lhes sobreviera ou se fora obra do acaso (v. 9), pois fizeram com que a arca fosse transportada por vacas que ainda estavam amamentando os seus bezerros, e caso não fosse obra do sobrenatural, o que havia ocorrido, as vacas em vez de seguirem adiante na estrada rumo a Israel, seriam conduzidas pelo instinto natural a retornarem a seus bezerros, que haviam sido separados delas e deixados em seu próprio lugar, na terra dos filisteus.
Este não era o modo correto de se conduzir a arca, mas como estava em terra alheia, e não havia lá nenhum levita de Israel para conduzi-la pelos varais, Deus permitiu que agissem daquele modo, até mesmo porque daria ocasião de lhes manifestar que não fora obra do acaso o que lhes sucedera, mas sim um juízo procedente da Sua poderosa mão, porque as vacas seguiram adiante, contra o instinto natural, até chegarem a Bete-Semes, cidade de Israel mais próxima de Ecrom, de onde elas haviam partido (v. 12).
Bete-Semes e Quiriate-Jearim pertenciam à tribo de Judá, sendo que Bete-Semes era uma das quarenta e oito cidades distribuídas aos levitas, e Quiriate-Jearim, para onde a arca foi conduzida posteriormente, depois de ter estado em Bete-Semes, era uma das cidades fortificadas.
Os bete-semitas olharam para o interior da arca e o Senhor os castigou matando cinquenta mil e setenta deles (v. 19).
Eles devem ter tentado remover a tampa do propiciatório para olhar as tábuas do testemunho, o pote com maná, e a vara de Arão, que havia florescido e dado amêndoas, que se encontravam no interior da arca.
Mas nem mesmo ao sumo-sacerdote isto era permitido, senão contemplar os querubins com as asas estendidas sobre o propiciatório do meio de uma nuvem de incenso.
Tal era a reverência que o Senhor determinou para com aquele utensílio sagrado que simbolizava a Sua presença entre o Seu povo.
Ele está presente entre aqueles que são Seus mas exige santidade verdadeira de todos os que desejam se aproximar dEle.
Deus se faz íntimo mas com reverência plena e sem qualquer promiscuidade.
E até que Cristo viesse e fizesse expiação pelos nossos pecados, o modo de culto ordenado naquela dispensação exigia dos israelitas, por não terem em sua grande maioria, um conhecimento verdadeiro do Senhor e uma real união com Ele, por meio da fé e da presença abençoadora do Espírito, que houvesse uma total reverência para com todos os utensílios sagrados do tabernáculo, de modo que a Lei prescrevia duras penas para todos os sacrílegos, até ao castigo extremo da morte física.
Nós lembramos ainda como os filhos de Arão, Nadabe e Abiú foram consumidos pelo fogo, que saiu do Senhor, por terem oferecido fogo estranho no santuário.
Os filhos de Eli, Hofni e Fineias foram destruídos pela falta de reverência no exercício do ofício sacerdotal, o rei Uzias foi castigado com lepra, por ter exercido uma função exclusiva dos sacerdotes, a saber, queimar incenso no templo (II Cr 26.18), e todos aqueles que não tiveram a devida reverência para com as prescrições divinas relativas ao serviço do santuário tiveram que arcar com as consequências da sua transgressão.
“1 A arca do Senhor ficou na terra dos filisteus sete meses.
2 Então os filisteus chamaram os sacerdotes e os adivinhadores para dizer-lhes: Que faremos nós da arca do Senhor? Fazei-nos saber como havemos de enviá-la para o seu lugar.
3 Responderam eles: Se enviardes a arca do Deus de Israel, não a envieis vazia, porém sem falta enviareis a ele uma oferta pela culpa; então sereis curados, e se vos fará saber por que a sua mão não se retira de vós.
4 Então perguntaram: Qual é a oferta pela culpa que lhe havemos de enviar? Eles responderam: Segundo o número dos chefes dos filisteus, cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, porque a praga é uma e a mesma sobre todos os vossos príncipes.
5 Fazei, pois, imagens, dos vossos tumores, e dos ratos que andam destruindo a terra, e dai glória ao Deus de Israel; porventura aliviará o peso da sua mão de sobre vós, e de sobre vosso deus, e de sobre vossa terra:
6 Por que, pois, endureceríeis os vossos corações, como os egípcios e Faraó endureceram os seus corações? Porventura depois de os haver Deus castigado, não deixaram ir o povo, e este não se foi?
7 Agora, pois, fazei um carro novo, tomai duas vacas que estejam criando, sobre as quais não tenha vindo o jugo, atai-as ao carro e levai os seus bezerros de após elas para casa.
8 Tomai a arca do Senhor, e ponde-a sobre o carro; também metei num cofre, ao seu lado, as jóias de ouro que haveis de oferecer ao Senhor como ofertas pela culpa; e assim a enviareis, para que se vá.
9 Reparai então: se ela subir pelo caminho do seu termo a Bete-Semes, foi ele quem nos fez este grande mal; mas, se não, saberemos que não foi a sua mão que nos feriu, e que isto nos sucedeu por acaso.
10 Assim, pois, fizeram aqueles homens: tomaram duas vacas que criavam, ataram-nas ao carro, e encerraram os bezerros em casa;
11 também puseram a arca do Senhor sobre o carro, bem como e cofre com os ratos de ouro e com as imagens dos seus tumores.
12 Então as vacas foram caminhando diretamente pelo caminho de Bete-Semes, seguindo a estrada, andando e berrando, sem se desviarem nem para a direita nem para a esquerda; e os chefes dos filisteus foram seguindo-as até o termo de Bete-Semes.
13 Ora, andavam os de Bete-Semes fazendo a sega do trigo no vale; e, levantando os olhos, viram a arca e, vendo-a, se alegraram.
14 Tendo chegado o carro ao campo de Josué, o bete-semita, parou ali, onde havia uma grande pedra. Fenderam a madeira do carro, e ofereceram as vacas ao Senhor em holocausto.
15 Nisso os levitas desceram a arca do Senhor, como também o cofre que estava junto a ela, em que se achavam as jóias de ouro, e puseram-nos sobre aquela grande pedra; e no mesmo dia os homens de Bete-Semes ofereceram holocaustos e sacrifícios ao Senhor.
16 E os cinco chefes dos filisteus, tendo visto aquilo, voltaram para Ecrom no mesmo dia.
17 Estes, pois, são os tumores de ouro que os filisteus enviaram ao Senhor como oferta pela culpa: por Asdode um, por Gaza outro, por Asquelom outro, por Gate outro, por Ecrom outro.
18 Como também os ratos de ouro, segundo o número de todas as cidades dos filisteus, pertencentes aos cinco chefes, desde as cidades fortificadas até as aldeias campestres. Disso é testemunha a grande pedra sobre a qual puseram a arca do Senhor, pedra que ainda está até o dia de hoje no campo de Josué, o bete-semita.
19 Ora, o Senhor feriu os homens de Bete-Semes, porquanto olharam para dentro da arca do Senhor; feriu do povo cinquenta mil e setenta homens; então o povo se entristeceu, porque o Senhor o ferira com tão grande morticínio.
20 Disseram os homens de Bete-Semes: Quem poderia subsistir perante o Senhor, este Deus santo? e para quem subirá de nós?
21 Enviaram, pois, mensageiros aos habitantes de Quiriate-Jearim, para lhes dizerem: Os filisteus remeteram a arca do Senhor; descei, e fazei-a subir para vós.” (I Sm 6.1-21)