Em Busca da Fé – Parte 1
Por C. H. Spurgeon
“Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Quando, porém vier o Filho do Homem, porventura, encontrará fé na terra?” (Lucas 18:8)
Não há sombra de dúvida de que Deus ouvirá as orações do Seu povo.
Dia e noite clamam as almas aos pés do altar reivindicando a causa de Cristo, a causa da verdade e da justiça, pedindo que o inimigo seja derrubado – esses serão atendidos rapidamente.
Aqui na terra, por mais que as súplicas não sejam suficientes, existe um remanescente tocado pela Graça que não cessa de importunar o Todo Poderoso para que Ele arregace as mangas e demonstre toda a majestade da Sua Palavra.
Apesar de que, por questões de sabedoria e graça a resposta `a essas preces seja adiada por algum tempo, elas certamente serão atendidas. Não deverá Deus vingar Seus escolhidos que clamam por Ele dia e noite, apesar de que Ele pareça demorar em atendê-los?
Certamente Ele atenderá a esses pedidos e clamores pois os mesmos são inspirados pelo próprio Espírito Santo que conhece a mente de Deus!
Ele os atenderá para a Sua Glória e do Seu Cristo pois esses pedidos são entregues pelo nosso Sumo Sacerdote!
O julgamento tem sido postergado pois o Senhor não deseja que nenhuma só alma padeça, mas que todos venham a se arrepender. O Senhor não postergará o tão aguardado fim para sempre!
O Senhor Jesus nos dá esta garantia pessoal;
“Digo-vos que, depressa lhes fará justiça.”
Não há dúvidas quando o Senhor Jesus declara “Digo-vos”. O Senhor virá, e, de acordo com Seu próprio juízo, virá depressa.
O julgamento de Deus está em concordância com a cronologia do Céu e Seus herdeiros devem aceitar com alegria que essa cronologia esteja sendo mantida.
Irmãos e irmãs, que seus corações mantenham-se firmes diante do presente conflito. “O Senhor reinará para sempre. Aleluia!” Ele abolirá completamente todos os ídolos. O Anticristo será derrotado –como uma mó atirada ao mar que afunda e desaparece. Os pagãos serão a herança do Senhor e as partes mais remotas Lhe pertencerão. Ele deve reinar até que todos os Seus inimigos sejam colocados debaixo dos Seus pés.
Não enfraqueçam se esta batalha tiver que continuar século após século! Para a nossa impaciência pode parecer um tempo gigantesco, mas para Deus é um tempo muito breve. A história do livro que contém a redenção tem que ser longa; é necessário um longo tempo para que ela se desenrole – e, com leitores tão medíocres como nós, compreender o seu significado, palavra por palavra, pode parecer uma tarefa interminável! Mas, chegaremos ao final desta história e veremos que, como no livro de Salmos, ela acabará em aleluias.
A pergunta a ser feita não é o que Deus irá fazer, mas sim o que o homem fará. A fidelidade é estabelecida nos céus – mas e quanto `a nossa fidelidade aqui na terra?
A parte que Deus nos atribui é que creiamos na Sua Palavra, é isso que nos cabe cumprir. Assim como o filho precisa confiar no pai, o discípulo precisa aceitar o ensinamento do Mestre. E como isso tem sido raro até o presente momento!
Conhecendo a fragilidade da fé daqueles que O cercavam e prevendo que as futuras gerações compartilhariam da mesma loucura, o Senhor deu voz à essa pergunta memorável: “Quando vier o Filho do Homem, porventura encontrará fé na terra?”
Esse é o ponto chave, e é sobre isso que falarei esta manhã, com a ajuda do Espírito Santo.
Percebam no início do nosso texto quem é a pessoa que virá em busca da fé – “Quando vier o Filho do Homem, porventura encontrará fé na terra?”
Quando Jesus voltar Ele irá em busca de uma fé preciosa. Para Ele, a fé é mais importante do que qualquer outra coisa que o mundo possa Lhe oferecer!
Nosso Senhor não está interessado nos tesouros dos ricos ou na honra dos poderosos, Ele não estará interessado nas habilidades que desenvolvemos nem no poder ou influência que possamos ter conquistado – Ele virá em busca da nossa fé! É para Sua glória que temos fé Nele neste mundo, e é isso que Ele irá querer encontrar. Essa é a jóia pela qual Ele estará buscando.
Para este mercador celestial, a fé representa a pérola de maior valor – a fé é tão preciosa para Jesus, quanto para nós mesmos.
O último dia será ocupado por muitas especulações e essas questões cairão sobre um ponto essencial – onde há e onde não há fé?
Aquele que crê está salvo. Aquele que não crê está condenado. Nossas moradias e nossos corações serão revistados e a pergunta que ouviremos será: onde está a sua fé?
Você honrou a Cristo confiando na Sua palavra e no Seu sangue? Ou não?
Você glorificou a Deus crendo na Sua revelação e na Sua promessa? Ou não?
O fato de que o Senhor na Sua volta virá em busca da fé deveria nos fazer pensar com muita seriedade sobre como anda a nossa fé. Ter fé não é uma mera ação do intelecto – é uma graça do Espírito Santo que traz glória a Deus e produz obediência em nosso coração.
Jesus vem em busca disso, porque Ele é o objeto da fé e é por meio dela que o Seu grande final e o Primeiro Advento irão acontecer.
Caros ouvintes, considerem por um minuto que o Salvador esteja em busca da fé, neste mesmo instante. “Os Seus olhos estão atentos, e as suas pálpebras provam os filhos dos homens.” Esse é o ouro que Jesus buscará em meio ao quartzo da humanidade.
Esse é o objetivo da busca de Sua realeza –“Você crê no Senhor Jesus Cristo?”
Quando nosso Senhor chegar, buscando pela fé, Ele o fará com Seu caráter mais compassivo.
Nosso texto não pergunta “Quando vier o Filho de Deus,” mas sim “Quando vier o Filho do Homem, porventura encontrará fé na terra?”
É particularmente na posição de Filho do Homem, que Jesus fará o papel de questionador, a fim de descobrir se nossa fé é verdadeira ou não. Ele também, como Filho do Homem, provou Sua fé em Deus.
A Epístola aos Hebreus 2:13 menciona como Ele se colocava como seus irmãos, pois declarou: “Porei Nele a minha confiança.”
A vida de Jesus era uma vida de fé – uma fé que gritava, “Meu Deus, Meu Deus,” até mesmo quando foi abandonado!
Ele sim, travava uma grande batalha entre a fé no Pai e as inúmeras influências e tentações do mundo; Sua batalha foi muito maior do que a nossa. Ele conhece as ferozes tentações a que somos submetidos, pois passou pelas mesma experiências. Ele sabe quanto o desejo tenta o fiel e o quanto de fé é necessário para ser capaz de dizer;
“Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus.”
Ele sabe como o poder testa a alma, pois esteve no topo do Templo e ouviu o sussurro infernal, “lança-te daqui abaixo, porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem.”
Ele sabe o significado da fé, em contraposição à uma falsa confiança que faz uma leitura errônea da promessa e esquece completamente o preceito. Ele jamais errará o julgamento e aceitará latão em lugar de ouro!
Ele sabe o que é ser tentado com promessas de poder e honra –“Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória,” disse o diabo, “se tu me adorares, tudo será teu.”
Ele sabe como a fé afasta toda a glória do mundo com um brado forte, “Vai-te, Satanás, porque está escrito: Adorarás ao Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás.”
Amados, quando Jesus chegar como o Filho do homem, Ele reconhecerá nossas fraquezas, Ele se lembrará das nossas provações! Ele saberá das lutas que travamos em nosso coração e a tristeza que sentimos tentando manter uma fé totalmente honesta. Ele é totalmente capaz de avaliar corretamente o valor da fé testada, da fé abnegada e da fé persistente e duradoura. Ele poderá discernir entre o homem que supõe, e o homem que crê; entre o homem que se deixa enredar por ilusões e o homem que segue o caminho da Palavra de Deus.
Mais adiante demonstrarei que o Filho do Homem é a melhor Pessoa para descobrir onde há fé. Nem um grão de fé existe no mundo, que Ele mesmo não tenha criado!
Se você, meu irmão, minha irmã, tem fé, o Senhor já lidou com você – essa é a marca da Sua mão sobre você!
Pela fé Ele te salvou da morte, através do pecado e da escuridão natural da sua mente. “Sua fé te salvou,”este é o candelabro onde está acesa a vela que ilumina a escuridão do seu coração. O seu Deus e Salvador colocou essa fé em você!
Se a fé em primeira instância é presente do nosso Senhor, Ele sabe a quem essa fé foi dada, quem a recebeu. Se essa fé é trabalho de Deus, Ele sabe onde a produziu, pois nunca abandona o trabalho de Suas próprias mãos. Se essa fé for do tamanho de um grão de mostarda e estiver escondida no mais remoto canto da terra, ainda assim, nosso querido Jesus pode enxergá-la, pois Ele tem o maior interesse naquilo do qual é o Autor e Executor!
Nosso Senhor é também o sustentáculo da fé, pois a fé não existe independentemente do Senhor. O maior crente não acreditaria por muito tempo, a menos que fosse derramada Graça constante sobre ele, a fim de manter a chama da fé sempre acesa.
Caro amigo, se você já experimentou o que é viver realmente, você sabe que Aquele que o criou precisa mantê-lo vivo, do contrário você acabará voltando ao seu estado de morte natural!
A fé é alimentada à mesa de Jesus, por isso Ele sabe exatamente onde encontrá-la sempre! Demos graças por termos Jesus, procurando pela fé, pois sendo Ele mesmo Seu criador e sustentador, saberá sempre onde encontrá-la.
Além do mais, a fé está sempre em Jesus. A única fé que vale a pena é a fé que mira em Jesus, e através Dele em Deus, para todas as coisas. Por outro lado, Cristo sempre olha para a fé, pois mesmo quando a fé ainda não era conhecida, ela já estava no olhar de Cristo. Ele se regozija na fé. Ele se alegra quando confiamos Nele.
Uma grande parte da recompensa pela Sua morte é que os filhos dos homens possam abrigar-se sob Jesus. Se a fé busca a Jesus, e Jesus busca a fé, com certeza Ele a encontrará quando voltar – e é isso que torna o texto tão contundente – “Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, encontrará fé na terra?”
O Filho do Homem julgará essa questão de maneira sábia e generosa. Alguns irmãos julgam com tanta severidade, que não conseguiriam trilhar as centelhas da fé, mas o nosso Senhor é cheio de graça e não julga dessa forma. Ele jamais extingue o pavio fumegante, nem despreza a fé mais fraca.
A questão se torna ainda mais enfática, pois, sendo Ele tão gentil e compassivo, e nunca julgando com excessiva severidade, mesmo assim; encontrará Ele fé na terra, quando da Sua vinda?
Que pergunta mais triste e humilhante! Ele que não é um crítico implacável, mas sim um gentil intérprete do nosso caráter; Ele, que faz enormes concessões às nossas fraquezas; Ele, que carrega os cordeiros da fé em Seu peito e gentilmente guia os fracos – quando Ele vier buscando, encontrará fé na terra?
Na verdade a incredulidade é inconstante, Ele que é onisciente, raramente consegue encontrar um grão de fé em meio à massa de dúvida e negação!
Ah, por que eu tenho que explicar essa questão tão difícil, “Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, encontrará fé na terra?”
Uma vez mais quero colocar essa pergunta sob os holofotes, e chamar a atenção para a questão relativa ao tempo em que ela é levantada. “Quando vier, porém, o Filho do Homem, porventura, encontrará fé na terra?”
Vejam, Irmãos e Irmãs, as eras têm acumulado provas da veracidade do Cristianismo – e a busca se dará quando esse processo tiver alcançado seu clímax. Apesar de a atual torrente de descrença no mundo ser extremamente forte, ainda assim, as questões de dúvida tornam-se mais fracas ano após ano. Cada monte no Leste da terra contribui para demonstrar a exatidão da Palavra de Deus. As rochas gritam contra a incredulidade dos céticos!
Além do mais, as experiências dos santos, todos os anos, têm alargado a corrente de testemunhos da fidelidade de Deus! Você que O tem servido há algum tempo tem visto como cada ano confirma sua confiança nas verdades eternas do seu Deus e Salvador.
Não tenho idéia de quanto tempo essa dispensação de sofrimento vai durar, mas, certamente, quanto mais tempo durar, mais desenfreada se tornará a descrença. Quanto mais Deus se revela através da Providência Divina, mais difícil se torna para o homem se negar a ser Sua testemunha solene.
Ainda assim, caros irmãos e irmãs, no final de todas as coisas, quando o Apocalipse trouxer sua revelação máxima – ainda assim, a fé será tão rara na terra que torna-se pertinente a pergunta, se o Senhor conseguirá encontrá-la!
Talvez você tenha a percepção de que a fé irá aumentar no mundo todo – que a Igreja irá crescer mais pura e radiante – e que haverá um maravilhoso nível de fé entre os homens no dia do aparecimento do Senhor. Nosso Salvador, porém, não nos diz isso – mesmo quando se refere ao surgimento da era de ouro, Ele nos pergunta, “Quando, porém, vier o Filho do Homem, encontrará, por ventura, fé na terra?”
Quero que você note a amplitude da região dessa busca. Jesus não pergunta se encontrará fé entre os filósofos. Quando é que eles tiveram alguma fé? Ele não reduz seu escrutínio a um ministério específico ou igreja – Ele faz uma varredura muito maior –“Porventura, encontrará fé na terra?” Como se Ele fosse buscar em todos os lugares, do trono ao chalé, entre os letrados e os ignorantes, entre os homens públicos e indivíduos obscuros, enfim, a pergunta seria se entre todos eles – do Pólo Norte ao Equador e, novamente, do Pólo Sul ao Equador – Ele encontraria fé em algum lugar. Pobre Terra, infelizmente tão carente de fé!
Haverá fé em seus vastos continentes, ou nas pequenas ilhas isoladas nos mares?
Não se pode encontrá-la em alguns dos incontáveis navios que cruzam os oceanos?
O que? Não se pode encontrá-la sobre a terra? Nem com Jesus, Ele mesmo, em busca dessa fé?
Tenho tentado colocar essa questão da maneira mais clara possível, para que suas mentes possam absorver o conceito do que estou me referindo. Tenho a sensação de que pode parecer para muitos, a morte, uma grande esperança ou um sonho agradável.
Senhor, do que é feito o homem que, mesmo com séculos de misericórdia não consegue produzir o fruto da fé num mundo habitado pelos filhos de Adão?
Quando milhares de verões e outonos já vieram e se foram, não haverá colheita de fé sobre a terra, à exceção de algumas poucas espigas de milho, pequenas e murchas, castigadas pelos ventos do leste?
Traduzido por: Maria Cristina Urdiales Moreira
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 17/02/2014