Em Busca da Fé – Parte 2
Por C. H. Spurgeon
II- Vamos por um instante mudar o curso de nosso pensamento. A questão foi introduzida como sendo um ponto muito importante; notaremos agora, como ela É EXTREMAMENTE INSTRUTIVA QUANDO EM CONEXÃO COM A PARÁBOLA DA QUAL FAZ PARTE.
A Bíblia não pode ser usada como se fosse uma caixa de cheia de elos separados, e não uma corrente feita das Verdades de Deus. Algumas pessoas escolhem certas sentenças como os corvos catam minhocas num campo arado!
Se você separar as palavras da sua conexão, elas poderão não expressar a mente do Espírito. Nenhum livro, escrito por Deus ou pelo homem, pode ser esquartejado, parte a parte, sem ficar horrivelmente mutilado. Palestrantes conhecem a injustiça que isso representa a si mesmos, e as Escrituras Sagradas sofrem com isso ainda mais.
A conexão centraliza a direção e nos conduz ao verdadeiro significado – um significado que pode ser inteiramente diferente do que aparenta, quando separado do seu contexto. Notemos cuidadosamente que, essa passagem ocorre em conexão com a parábola da viúva, que importuna o juiz injusto e, por conseguinte, deve ser interpretada de acordo com ela.
Portanto, a pergunta significa, em primeiro lugar – “Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura encontrará féna terra; fé do tipo que ora tenazmente como fez a viúva?”
O significado está nascendo diante de nós! Há numerosas pessoas na terra que oram, mas onde estão aqueles cujas orações constantes prevalecerão?
Agradeço a Deus pelo Ministério de Oração desta Igreja, que é bem sustentado por homens e mulheres dedicados; mas onde estão os lutadores como Jacó?
Receio que o mesmo não possa ser dito sobre muitas igrejas, cujos Ministérios de Oração não são nem sombra do que deveriam ser, pois para muitos, reunir-se para orar é algo a ser desprezado e os homens dizem: “É só uma reunião de oração!” Como se isso não fosse o coração de todas as assembléias da Igreja, com a única exceção, de não ser feita a Comunhão!
Irmãos, não julgarei com severidade, mas onde estão aqueles que oferecem orações fervorosas, efetivas e significativas?
Eu sei que há muitos aqui, que não negligenciam a devoção de forma individual e familiar, e oram constantemente para a prosperidade da Igreja de Jesus Cristo e para a salvação de todas as almas. Mas, mesmo para vocês, eu coloco a questão – Se o Filho do Homem retornasse hoje, quantos entre nós Ele encontraria, que realmente oram com uma fé distinta, veemente, irresistivelmente importunadora?
No passado havia John Knox, suas orações eram mais poderosas contra o adversário, do que exércitos inteiros, pois ele suplicava em fé; mas onde encontraremos um John Knox agora?
Cada era de reavivamento contou com seus homens poderosos na fé – onde estão os nossos?
Onde está o Elias, no topo do monte Carmelo que fará chover sobre os campos ressecados?
Onde está a igreja que irá orar por um Pentecostes?
Eu não estou depreciando meus irmãos de Ministério, muito menos os diáconos, anciãos e outros distintos servidores do meu Senhor – mas ainda assim, meus Irmãos e Irmãs - incluindo a todos nós, quantos de nós sabemos como e o quanto precisamos orar, para clamar aos Céus por este momento de crise pelo qual estamos passando?
Quantos de nós nos dirigimos a Deus , uma vez, e outra e mais outra, em lágrimas e de coração partido – suplicando como se fosse por nossas próprias vidas, pelo fortalecimento de Sion e a salvação dos ímpios!
Se o Filho do Homem vier agora, Ele encontrará esse tipo de fé em nossas próprias igrejas?
Ah, como sofro em ter que ser eu a fazer essa pergunta – mas eu a faço – curvando minha cabeça, envergonhado.
A viúva persistente esperou com determinação e não se deixou perturbar pela sombra da dúvida. Ela havia decidido, que o juiz escutaria seu pedido de qualquer maneira!
Uma fé que sabe esperar é algo muito raro. O homem consegue acreditar por um período, mas esperar na fé durante uma longa escuridão é algo completamente diferente. Alguns soldados são bons em corrida, mas não conseguem fazer uma formação e ficar firmes hora após hora. Quando vier o Filho do Homem, será que Ele encontrará muitos que acreditam num Deus que se demora, e que pleiteiam uma promessa antiga – aguardando sem nunca se cansarem?
Quando temos um reavivamento e todos estão gritando “Hosana!”, certas pessoas ficam ansiosamente postadas bem na frente. Mas quando a voz do povo rosna “Crucifiquem-No!”; onde estão essas pessoas? Onde estão Pedro, João e o restante dos discípulos?
Aprendam a pleitear quando nenhuma resposta chega, e a manter a pressão quando houver repulsa - esse é o teste da fé.
É muito fácil ser crente, quando todo mundo acredita! Todavia ser crente quando ninguém crê; acreditar firmemente, quando ninguém mais crê como você – essa é a marca do homem valente, que crê na Verdade de Deus e é leal a Jesus.
Irmãos e Irmãs, será que afinal, teremos que contar nos dedos das mãos?
Vocês não se atreverão a estarem certos, só com mais duas ou três pessoas?
Vocês não conseguem ser como rochas, que desafiam as ondas furiosas?
Será que vocês não conseguem deixar, que as ondas se quebrem e os atinjam – que elas se quebrem e os atinjam em vão?
Se essas coisas os assustam, onde está a sua fé?
Quando vier o Filho do Homem, quantos Ele encontrará sobre a terra, cuja fé não está no homem, mas na testemunha de Deus?
A viúva apostou tudo na resposta do juiz. Ela não possuía duas cordas no seu arco – ela só tinha uma chance de resolver o seu problema – o juiz tinha que ouvi-la. Se ele não a ouvisse, ela perderia sua pequena propriedade e seus filhos morreriam de fome. Ele tinha que ouvi-la! Ela não tinha outra escolha.
O que precisamos neste momento é de homens que creiam em Deus, que creiam no Evangelho, que creiam em Cristo e não se incomodem com nada mais que isso! Precisamos daqueles que apostem suas reputações, sua esperança, eles mesmos na veracidade de Deus e na certeza do Evangelho eterno. Para esses, a Revelação de Deus não está no meio de outras verdades – ela é a única Verdade de Deus que salva!
Nos dias de hoje, infelizmente, temos que lidar com raposas que possuem esconderijos para os quais elas correm, quando o caçador se aproxima delas! Ah, caminhar nas dificuldades e não receber a Glória do sacrifício final!
De minha parte, se o Evangelho for uma loucura estarei feliz em ser chamado de tolo. Mais ainda, ficarei feliz em me perder, se a fé no Sacrifício de expiação não trouxer a salvação! Tenho tanta certeza sobre tudo isso, que se fosse deixado só no mundo, como o último Crente nas Doutrinas da Graça, não pensaria em abandoná-las, nem muito menos as suavizaria a fim de converter alguém. Tenho apostado tudo na veracidade de que Deus existe! “Que Deus seja a verdadeiro e todo homem um mentiroso.”
“Quando, pois, vier o Filho do Homem, encontrará, porventura, paz na terra?” Em nossas mãos, da maneira que Ele merece? Cremos em Jesus de forma prática, de verdade? Nossa fé é fato e não ficção? Se possuímos a verdade da fé, nós a temos em grau necessário?
Pense nisto – “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar.”
O que isso quer dizer? Irmãos, será que não saímos dos trilhos?
Será que sabemos mesmo o significado de fé?
Às vezes, me pego pensando se realmente cremos. Quais são os sinais da nossa crença?
Quando pensamos nas maravilhas que poderiam ter sido realizadas através da fé. Quando consideramos as maravilhas que nosso Senhor poderia ter feito entre nós, se não fosse por nossa descrença – não nos sentimos humilhados?
Será que já nos livramos do obstáculo, que é acreditarmos que podemos fazer tudo sozinhos? Será que já mergulhamos profundamente na confiança no Deus eterno?
Paramos de acreditar somente naquilo que podemos ver?
Será que nos entregamos às promessas de Deus, e descansamos nos braços de Sua Onipotência a qual é mais do que suficiente para o cumprimento de cada promessa?
Oh, Senhor, onde estamos? Onde encontraremos um oásis de fé em meio a este deserto de dúvidas?
Onde encontraremos um Abraão? Nossa questão não se torna educativa, quando colocada em conexão com a parábola que ensina o poder da oração incessante?
Traduzido por: Maria Cristina Urdiales Moreira
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 17/02/2014