Sua Única Alegria
Por Richard Baxter
Saiba que o céu é seu único tesouro, e trabalhe para também saber que tesouro é esse. Convença-se, de uma vez por todas, de que não existe outra felicidade e, depois, convença-se da felicidade que existe ali. Se você não acredita que esse é o bem principal de sua vida, você jamais dedicará seu coração a ele; e essa convicção deve ficar imersa em seus sentimentos; pois se for apenas uma noção, ela não será muito útil. Enquanto seu julgamento a menosprezar, seus sentimentos não serão calorosos em relação a esse tesouro. Se seu julgamento algum dia preferir os deleites da carne, em vez dos deleites da presença de Deus, é impossível que seu coração chegue até o céu. Como a ignorância quanto ao vazio das coisas aqui embaixo é o que leva os homens a valorizá-las em demasia, também é a ignorância dos sublimes deleites das alturas que leva os homens a se importar tão pouco com eles. Se você vir uma bolsa cheia de ouro, e acreditar que esse ouro não passa de contas ou pedras, então essa bolsa não instigará seus sentimentos por ela. O que provoca o desejo não é a maravilha em si de algo, mas a maravilha conhecida. Se um homem ignorante vir um livro contendo os segredos das artes, ou das ciências, ele, entretanto, não o valoriza mais que uma peça comum, pois não conhece seu conteúdo; mas aquele que o conhece, o valoriza muito; e sua mente se volta para ele.
Trabalhe para conhecer o céu como a única felicidade, e também para que seja a sua felicidade. Embora o conhecimento da maravilha e da adequação possa incitar aquele amor que trabalha por meio do desejo, ainda assim precisa haver o conhecimento de nosso interesse ou propriedade para estabelecer um trabalho contínuo de nosso amor de complacência. Podemos confessar que o céu é a melhor condição, embora possamos nos sentir desesperados ao desfrutá-lo, e podemos desejá-lo e buscá-lo, se percebermos que a obtenção dele é proveitosa e possível; mas jamais nos regozijaremos de forma deleitosa nele até que sejamos persuadidos de que nossa posição ali está garantida. Ó, cristão, não descanse, portanto, até que possa dizer que esse descanso é seu; não se sente sem ter certeza; fique sozinho e questione-se; traga seu coração para a corte de julgamento; force-o a responder os interrogatórios que você lhe faz; estabeleça, de um lado, as condições do evangelho e as qualificações dos santos, e, de outro lado, seu desempenho em relação a essas condições e qualificações de sua alma, para depois julgar o quanto elas estão próximas. Você tem diante de você a mesma Palavra, aquela por meio da qual deverá ser julgado no grande dia, para julgar por si mesmo agora; faça essas questões agora para si mesmo. Ali você poderá ler os artigos segundo os quais será julgado. Portanto, estabeleça o fundamento do julgamento de forma sábia e ponderada; prossiga nesse trabalho de forma deliberada e metódica; continue com ele até chegar a um resultado firme e diligente; não permita que seu coração escape e saia antes do julgamento, mas faça-o ficar até ouvir sua sentença. Se uma, duas ou três tentativas não forem suficientes, nem alguns dias de interrogatório não o levarem a um resultado, prossiga nessa responsabilidade de forma diligente e incansável e não desista até que o trabalho esteja completo, até que possa dizer se você é, ou não, um membro de Cristo; se esse descanso lhe está, ou não, garantido. Assegure-se de não descansar em incertezas obstinadas. Se você mesmo não pode realizar bem essa responsabilidade, peça ajuda de pessoas preparadas e habilidosas. Procure seu ministro, se ele for um homem de experiência; ou peça a um amigo capaz e experiente; fale abertamente de seu caso e peça para que eles lidem com o assunto com sinceridade; continue a agir desse modo até que tenha certeza. Observe que podem restar algumas dúvidas; mas, ainda assim, você deve ter tanta certeza a ponto de conhecê-las a fundo para que elas não interfiram em sua paz.
Trabalhe para perceber o quanto ele está perto; pense seriamente na rapidez com que ele se aproxima. O que pensamos está ao alcance da mão, e somos mais sensíveis a isso que ao que olhamos à distância. Quando escutamos notícias de guerra ou de fome em outro país, isso não nos perturba tanto quanto as notícias de casa; quando a praga chegou a uma cidade cerca de trinta quilômetros de distância, nós não a tememos; não tanto quanto se ela tivesse chegado à rua ao lado da minha. Mas se ela chegasse à porta ao lado ou se acometesse alguém de minha família, então começaríamos a pensar sobre o assunto de forma mais emocional. O mesmo que acontece com as misericórdias acontece com os julgamentos. Quando estamos distantes, referimo-nos a eles como maravilhas; mas quando nos aproximamos deles, regozijamo-nos com eles como verdades. Isso faz com que os homens pensem sobre o céu de forma bastante insensível, pois eles presumem que ele está muito distante. Eles olham para o céu como se estivesse distante cerca de vinte, trinta ou quarenta anos; e é isso que embota os sentidos deles. Certamente, leitor, você está à porta. Não foram os trinta ou quarenta anos de sua vida que passaram rapidamente? Quando olha para trás, não parece que tudo não passou de um breve período de tempo? E todo o tempo que resta também não será breve? Olhe-se no espelho e veja como o tempo voa; olhe para seu relógio e veja como ele anda rápido. É muito breve o tempo que nos separa de nosso descanso; estamos a um passo da eternidade! Enquanto penso e escrevo sobre isso, ele se aproxima rapidamente, e entro nele antes que tome consciência disso. Enquanto você lê isso, ele se apressa, e sua vida desaparecerá como uma história que nos foi contada.
Richard Baxter
Enviado por Silvio Dutra Alves em 01/03/2014