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João Wesley, o Evangelista – Parte 3
Capítulo III
O desenvolvimento da experiência da redenção O poder evangelizador de Wesley nasceu não somente de sua redescoberta da experiência bíblica da redenção, mas do fato posterior de estender as implicações da experiência em todas as direções. Ele a desenvolveu completamente — universalizou-a, eternizou -a, em três aspectos. 1 - Estendeu-a à vida toda. Wesley teria concordado com D. L. Moody em que ser cristão não exige muito da pessoa; exige tudo, absolutamente tudo. A salvação é mais do que uma mera resposta a um chamado. É mais do que o perdão dos pecados. E mais que a "justificação", para usar a linguagem da teologia. Ela deve levar à santificação. Às vezes a conversão é chamada de "novo nascimento". Mas, para que serve o novo nascimento, se depois de nascer a pessoa não vive? Como é trágico nascer e nunca crescer, permanecendo a vida toda um anão religioso, um idiota espiritual. Em nosso desenvolvimento religioso começamos a conhecer a Cristo através do nosso contato com as Escrituras e com a comunidade cristã. Depois, o aceitamos pela fé, que ocorre na conversão. Finalmente, o incorporamos; reproduzimos — tanto quanto nossa natureza o permite —a Encarnação que estava nele. Os dois primeiros estágios ficam incompletos sem o terceiro. Wesley nunca se cansava de dizer às suas sociedades vacilantes que elas nunca prosperariam enquanto não pregassem e avançassem da conversão à santificação. Wesley identificava a santidade com a plenitude. Nos primórdios de sua obra ele falava da "ausência de pecado" como sinônimo de "santidade". Mas ele nunca afirmou ser "isento de pecado" e teve tantos problemas em suas sociedades com os "nãopecadores" professos, que sua ênfase tendia a tornar-se silenciosa. Quando, finalmente, suas ideias se cristalizaram, a santidade passou a significar completa dedicação da vida (a mente, o coração, a alma e as forças) ao serviço do Senhor. É o oferecimento de todos os pensamentos, palavras e ações como um sacrifício espiritual. Em duas de suas bem conhecidas cartas, Wesley definiu a perfeição cristã de cinco maneiras diferentes: 1. "Amar a Deus de todo o coração." 2. "Ter um coração e vida completamente devotados a Deus." 3. "Recuperar a imagem integral de Deus." 4. "Ter toda a mente de Cristo." 5. "Andar uniformemente como Cristo andou." Note que as definições têm termos que sugerem universalidade ou totalidade - "todo", "completamente", "integral", "uniformemente". A ideia de Wesley acerca da salvação se opõe a toda noção de libertação fragmentada do mal. Para ele, a alma verdadeiramente salva é aquela completamente redimida. A) Esta integridade encerra, naturalmente, a vida religiosa completa em suas três formas: fé, obras e a Igreja. A salvação pela fé é, naturalmente, uma doutrina fundamental de João Wesley, como era para reformadores. Ninguém pode vir a Deus a não ser que creia na sua existência. O edifício da redenção descansa na fé, que Wesley definiu de muitas maneiras, mas sempre em harmonia com o pensamento de que a "fé é uma verdadeira confiança em Deus, que pelos méritos de Cristo nossos pecados são perdoados e somos reconciliados com Deus". A fé é um dom de Deus, uma capacidade forjada no ser humano para que ele perceba e responda ao reino espiritual, análoga ao anseio pelas coisas materiais. Entramos na vida de fé pelo arrependimento. Wesley às vezes o chamava de alpendre (varanda de uma casa) da religião, sendo a fé a porta (de entrada na casa) e a santidade a casa (a parte interna da casa). O arrependimento é uma convicção do pecado e a tristeza dele decorrente leva o pecador a dar as costas ao passado, repudiar seus erros e viver segundo a fé na misericórdia de Deus. Para empregar uma frase de Wesley, as pessoas devem ser feridas, antes de irem à procura do único Médico que as pode curar. A fé produz o segundo componente da vida religiosa integral: as boas obras. Ninguém estará definitivamente salvo de acordo com Wesley, se não praticar todas as boas obras que puder, segundo as oportunidades. Se uma pessoa que foi justificada não fizer o bem, perderá a graça que recebeu; e se não se arrepender e praticar as boas obras, estará em condenação eterna. Uma das razões pelas quais Wesley tinha constantes atritos com os moravianos é que eles estavam satisfeitos em identificar a crença em Cristo com a piedade, sem sentir a urgência de guardar Seus preceitos. Wesley combateu também a "pregação evangélica" de seu tempo, caracterizando-a de "inútil, senão prejudicial", porque consistia de discursos detalhados sobre os ferimentos de Cristo ou sobre a salvação pela fé, sem inculcar o cumprimento do dever cristão. Ele criticava energicamente a Lutero, porque este depreciava a lei de Cristo em deferência à fé. De acordo com o pensamento de Wesley, as boas obras são inseparáveis da vida religiosa. Wesley conhecia, naturalmente, o engano de considerá-las o meio para se alcançar a salvação. Ele sabia como as boas obras podem provocar o desespero na alma conscienciosa, que havendo feito o melhor possível, percebe que ainda é um servo inútil. Como pastor, Wesley sabia como o apelo às boas obras pode despertar falso orgulho em alguns e também o espírito hipercrítico , enquanto em outros, levaria ao nível trivial do escoteiro (“uma boa ação a cada dia”). Mas, apesar de todos os perigos, Wesley nunca esmoreceu na pregação da necessidade de se praticar boas obras. Ele nunca perdeu uma oportunidade para desmascarar os "antinomistas" que pensavam que a dispensação da graça os havia desobrigado das exigências da lei moral (ou seja, que a fé não precisava apresentar frutos, que o salvo por Jesus estava dispensado de fazer o bem e praticar boas obras). Wesley nos deixou em seu Diário um quadro clássico e inconscientemente humorístico sobre este grupo, com sua refutação: “Conversei com um que, segundo conselho do seu pastor, havia calma e deliberadamente batido em sua esposa com uma vara até que ela ficou roxa da cabeça aos pés. Era seu dever fazer isto, porquanto ela era insolente, de natureza ruim; e ele estivera cheio de fé durante todo o tempo em que o fazia, e tem continuado assim desde então.” Não é uma questão de fé ou de obras, é claro, e, sim, de se obter uma relação adequada entre ambas. A realização de boas obras com a intenção de ser salvo é armadilha do legalismo. Por outro lado, pensar que a pessoa pode parar na fé é uma heresia paralela à dos "antinomistas". O que Wesley se esforçou ao máximo para demonstrar é que devemos começar pela fé - o único meio de salvação. Mas, se esta fé for verdadeira, produzirá boas obras como prova de sua genuinidade. Para usar uma figura de linguagem usada por Wesley, a santidade é uma árvore da qual a fé são as raízes, e as boas obras, os frutos. Ou, para substituir esta figura pela de João Byron, a cujos versos Wesley se refere: “O aço ou a pedra, sozinhos, não produzem fogo, Nem voa a centelha enquanto ambos não concorrem. Nem a fé sozinha, ou as obras, são de valor. A salvação surge quando se unem.” Finalmente, para tornar as obras e a fé inseparáveis da salvação, exige-se o terceiro elemento do triunvirato: a Igreja. Wesley insistia em que a vida religiosa exige a comunhão tradicional dos crentes. Ele escreveu em 1788: "Eu sou um homem da Igreja da Inglaterra, e como disse há cinquenta anos atrás, digo agora ainda: na Igreja viverei e morrerei, a menos que eu seja lançado fora dela." Ele insistia em que seu movimento metodista ficasse na Igreja Anglicana. "Quem se separar da Igreja," decretou ele, "separar-se-á dos metodistas". Quando a Sociedade Metodista de Deptford resolveu deixar a Igreja da Inglaterra, ele lhes disse rudemente que jamais veriam sua face novamente. Ele não permitia que suas sociedades se reunissem em horários que coincidissem com os cultos da igreja. Aplicava a disciplina em seus próprios pregadores se eles injuriassem os anglicanos. Exigia dos membros de suas sociedades que frequentassem a igreja e, às vezes, ele próprio os levava para o culto na paróquia. Frequentemente, neste país, temos assistido a tristes espetáculos, em que evangelistas invadem comunidades locais para ridicularizar e minar os trabalhos dos pastores e da igreja. Estes agitadores não pertencem à companhia de João Wesley, o maior de todos os evangelistas. B) A salvação e a santidade incluem não somente a disposição religiosa, mas as atitudes sociais também. Dizia Wesley que o "Cristianismo é essencialmente uma religião social, e tornálo uma religião solitária é destruí-lo... O evangelho de Cristo não conhece outra religião senão a religião social; nenhuma santidade senão a santidade social". O amor é a marca do homem salvo, o ideal aspirado por todo cristão. Um hino de Wesley diz assim: “Oh! Permite que nada em minha alma Habite senão teu puro amor. Oh! Possa teu amor possuir -me todo, Minha alegria, meu tesouro, minha coroa. Paixões estranhas de meu coração remove. Sejam de amor meus atos, palavras e pensamentos. ” O teste de Wesley para uma sociedade religiosamente próspera era o amor. "A chama do amor corre de coração em coração", escreveu ele sobre uma reunião, "e poucos corações permaneceram intocáveis". Era uma realidade da presença de Deus. Aos olhos de Wesley, nada substitui o amor. A correção da doutrina não permanece firme. Wesley escreveu a respeito de um certo dr. John Edwards, cujo orgulho e falta de caridade para com os inimigos era deprimente: "Seja sua opinião certa ou errada, se o temperamento do dr. Edwards fosse um temperamento cristão, eu abjuraria o Cristianismo para sempre". A retidão não atenua o temperamento não-amoroso. Wesley ousou censurar até mesmo o poderoso profeta João Knox por causa do "espírito violento, amargo e picante" do seu livro História da Igreja da Escócia. Como administrador, Wesley louvava a harmonia em sua organização. No entanto, a única unanimidade que ele exigia era a do coração. Wesley traduzia o amor em serviço pessoal às necessidades humanas. Ele antecipou o evangelho social; a noção da obrigação cristã de converter não somente os jogadores (as pessoas), mas, também, as regras do jogo (o meio social, a cultura, política, leis, tradições, etc...) foi uma visão que viria mais tarde. Seu "evangelho social" foi o terno ministério de pessoa para pessoa. Ele incitava os ricos a que não somente enviassem ajuda aos pobres mas que a levassem pessoalmente, tanto por amor do receptor como do doador; do doador, "por estar muito mais apto a amolecer nosso coração, e fazer-nos cuidar naturalmente uns dos outros"; do receptor, "por ser mais confortável para ele e por podermos ajudá-lo no campo espiritual bem como no temporal". Wesley praticou o amor que pregava através do seu recolhimento de roupas para os pobres, sua doação de remédios, e seu cuidado pessoal para com os desamparados. C) A santidade significa desejos e sentimentos santos. Significa amar as coisas que devemos amar – todas elas. A verdadeira santidade infiltra-se pelas molas da ação e reveste-as com uma nova qualidade. Ela inunda até mesmo os reinos sombrios do subconsciente. "São santos os vossos sonhos?", perguntava Wesley em suas conferências. A perfeição cristã significa ardor de sentimentos. Wesley teria concordado com o general William Booth, fundador do Exército da Salvação, que uma reunião religiosa é como uma xícara de café: não é boa senão quente. Wesley sempre se sentia deprimido se, como os comentários do seu Diário mostram, não conseguisse causar emoção: "Mortos como pedras, perfeitamente quietos e perfeitamente desinteressados". "Preguei na capela de Rotherhithe, um lugar frio, sem conforto, a um punhado de pessoas que pareciam tão afetadas pelo sermão quanto os bancos em que se sentavam." Por outro lado, uma reunião de sucesso era "viva", ou havia uma "vibração agitada nos ossos frios". Wesley poderia afirmar que em uma reunião de testemunhos ele sempre sabia se estava ouvindo a um metodista se ele começasse seu testemunho com as palavras: "Eu sinto..." Depois do amor, os sentimentos específicos mais mencionados são o gozo e a paz. "Todos os crentes deveriam encontrar prazer na vida", escreveu Wesley. Ele jungiu (uniu, atou, ligou) a santidade à felicidade, acreditando que um indivíduo verdadeiramente devoto não pode ser infeliz, porque os propósitos de Deus não são de que sejamos miseráveis; já os maus não podem ser permanentemente felizes. O Espírito de Deus não traz somente alegria, mas, também, calma. Como escreveu Wesley, depois que o vento se acalmou na viagem de regresso da Geórgia: "Não posso conceber qualquer diferença comparável à que existe entre um mar calmo e um furioso, mas há diferença entre a mente acalmada pelo amor de Deus e a mente agitada pelas tempestades das paixões terrenas". Os sentimentos puros são como as boas obras: um subproduto, um sintoma de saúde da alma. Se vivemos corretamente em nossas relações verticais (com Deus) e horizontais (com o próximo), sentimo-nos bem. Mas estes sentimentos não devem jamais ser procurados como um fim em si mesmos (eles são uma consequência e não um alvo). Eles não existem para que os busquemos, tão somente. Phillips Brook escreveu certa vez: "Não dê valor ao sentimento que não seja filho da verdade e pai do dever". Wesley concordaria com isto. Os sentimentos genuínos surgem espontaneamente de nossa percepção, pela fé, da bondade divina e tornam-se, em troca, um gerador de boas obras. D) A santidade inclui a salvação da mente, a libertação da grosseria e da falta de conhecimento da cultura. O evangelismo que agradece a Deus por sua ignorância e ridiculariza a aprendizagem não tem o apoio de João Wesley. Ele reunia seus pregadores incultos das minas e carpintarias e ensinava-lhes teologia sistemática, lógica e retórica, como fazia com seus alunos em Oxford. Ouça as suas instruções sobre a leitura: “Falamos ou lemos sobre história, ou qualquer outra coisa que esteja à mão. Devemos, absolutamente devemos curar este mal, ou trair a causa de Deus. Mas como? Leia os livros mais úteis, regular e constantemente. Gaste toda a manhã, ou pelo menos cinco horas em cada 24 neste empreendimento, com constância. "Mas eu leio somente a Bíblia." Então você só deve ensinar aos outros a ler a Bíblia, e por amor à congruência, ouvir a Bíblia tão-somente. Mas, neste caso, você não precisa pregar mais. Assim fazia George Bell. E qual foi o fruto? Ele não lê mais a Bíblia nem coisa alguma. Isto é entusiasmo grosseiro. Se você não precisa de qualquer outro livro além da Bíblia você é superior a São Paulo. Ele desejava outros livros também. "Traga os livros", diz ele, "mas, especialmente os pergaminhos", aqueles escritos em pergaminho. "Mas eu não tenho gosto pela leitura". Adquira o gosto pelo desenvolvimento do hábito, ou volte para seu ofício. "Mas eu não tenho livros". Eu lhes darei livros, a cada um vocês, tantos quantos forem capazes de ler, livros no valor de 5 libras... ” Ele estava interessado nas boas maneiras metodistas. Disse a um amigo, certa vez, que sua mãe costumava trazer um professor de dança à reitoria para que ensinasse boas normas sociais à família. Wesley confessou que se se pudesse arranjar um, ele ficaria "contente em poder ensinar a todos os seus pregadores, mesmo por um professor de dança, a fazer uma saudação e a entrar e sair de um aposento". O cronista da sociedade inglesa deve ainda fazer justiça pelo soerguimento cultural que o evangelista Wesley trouxe às multidões de seus patrícios. E) Finalmente, a salvação inclui, para Wesley, a salvação do corpo. "Visto que o pensamento", escreveu ele, "é o ato de um espírito encarnado, que toca num jogo de chaves materiais, não é estranho que a alma produza música grotesca quando seu instrumento está desafinado". Wesley percebeu, muito antes da ênfase psicossomática da medicina moderna, a conexão íntima entre a saúde espiritual e a cura física. (Há um caso notável em seu Diário, em 12 de maio de 1759, sobre uma mulher cuja tristeza causava dores estomacais). Assim, Wesley pregava um evangelho de boa saúde. Ele dava conselhos sobre dietas e higiene. Incluía a medicina em seus sermões. Fato interessante é que ele recomendava a seus ouvintes que fossem "eletrificados " como terapia para as desordens nervosas, uma antecipação dos tratamentos posteriores da medicina por meio de "eletro-choques". O ideal de Wesley era o antigo, mas ainda válido lema: "mente sã em corpo são". Para concluir, a salvação, para o pai do Metodismo, significava uma dedicação harmoniosa de toda a personalidade (todo apetite do corpo, toda paixão, desejo e sentimento espiritual, sozinhos ou combinados, a dedicação da pessoa por inteiro) para a glória de Deus e bem-estar do ser humano. 2 - Estendeu-a a toda a humanidade Wesley não apenas estendeu o ideal cristão para abraçar a vida integral do indivíduo, mas o aplicou à humanidade toda. O amor que pregava incluía todos os seres humanos. Wesley escreveu a seu amigo dr. Middleton, de Bristol: “Um cristão é cheio de amor pelo seu vizinho, de amor universal, não confinado a um partido sectário, não restrito àqueles que concordam com ele nas opiniões, nas formas externas de adoração, ou àqueles que estão ligados a ele por sangue ou recomendados por proximidade de lugar. Nem ama ele somente àqueles que o amam ou que lhe são caros pela amizade íntima. Mas seu amor se parece com o de Jesus, cuja misericórdia está acima de suas obras. Eleva-se por sobre os limites estreitos, atingindo vizinhos e estranhos, amigos e inimigos”. Para empregar a frase mais famosa de Wesley, o mundo foi a sua paróquia, não a raça branca, não os ingleses, não os metodistas – o mundo, a humanidade como um todo. A salvação que pregava era para todos. Sua doutrina era selada com a graça universal: todo ser humano pode ser salvo. Sua teologia contrasta agudamente com a do Calvinismo, vigente em seu tempo. O Calvinismo é essencialmente uma teoria do privilégio: algumas pessoas estão predestinadas à bênção eterna, e grande parte, à condenação eterna. Wesley, ao contrário, ensinou que Cristo morreu por todas as pessoas e que todos são livres para aceitar esta salvação. A fé é um dom de Deus, mas é um dom estendido imparcialmente a todas as pessoas. Todo ser humano, desde "o miserável que rasteja na terra", é um filho em potencial de Deus. Note que Wesley pregava um evangelho de graça universal e não de bondade humana universal. Ele não olhava ingenuamente para a humanidade. Não havia pregado às massas em vão. Assim como o Senhor Jesus, ele sabia quão delgada (sutil, fina) é a linha que separa o humano do animal irracional. Percebeu que nossa cultura vaidosa não é senão uma clareira na floresta de nossa natureza animal. Mas, embora os filhos de Adão sejam pecadores, Wesley sabia que tinham um Salvador. Ninguém precisa recolherse à sua miserabilidade, porque há Alguém que cuida de nós muito mais abundantemente do que podemos avaliar. Nada é impossível para Deus. Para Ele tudo é possível. Assim como o pastor encontrou a ovelha perdida, o pródigo foi induzido a voltar quando pensou na casa paterna, o coletor de impostos persuadido a restituir quadruplicadamente e a adúltera enviada a não pecar mais, assim Deus, com seus infinitos recursos redentores é capaz de salvar a mais desgraçada alma. Ele pode aquecer corações frios como gelo e fazer rios caudalosos banhar regiões secas e estéreis. Esta fé no poder de Deus para salvar o homem manteve Wesley firme em sua vocação. Uma das lições da longa vida de Wesley foi: nunca se desesperar por qualquer filho de Deus. Ele havia visto fracassados serem, mais tarde, restaurados. Muitas vezes havia observado sociedades declaradas "sem esperança" erguerem-se novamente. Havia testemunhado seus convertidos crescerem em graça de visita em visita. Havia pregado em comunidades que nunca antes tinham ouvido o evangelho e viu pessoas levantarem -se ante os chamados da graça. Homens e mulheres idosos, supostamente imunes à redenção, derreteram suas velhas e duras naturezas e forjaram-nas outra vez. Muitas vezes ele ficou surpreso com o resultado feliz de pregadores inicialmente pouco promissores. Na verdade, ele mesmo se surpreendia em certas ocasiões com seu próprio crescimento na graça. Depois de um culto em Glasgow ele escreveu em seu Diário: "Certamente para Deus nada é impossível. Quem teria crido há vinte e cinco anos atrás que o ministro (pastor) teria desejado ou que eu tivesse consentido em pregar numa igreja escocesa?" "Nunca tenha medo de esperar demais de Deus", foi a conclusão que tirou de seus esforços evangelístico s. O otimismo de Wesley é tão psicologicamente sadio quanto teologicamente válido. Tornamo-nos aquilo que imaginamos ser. Se insistimos que somos depravados, há muitos elementos em nossa estrutura humana que confirmarão a baixa apreciação. Mas se assegurarmos diante da humanidade uma visão altaneira de seu destino no caminho de Deus, ela terá uma capacidade igualmente verificável de entregar-se a Ele. Certo de que não podemos obter perfeição nesta vida, João Stuart Mill criou um provérbio valioso: "Aquele de quem nada se espera, jamais fará tudo o que pode". O ser humano cresce à medida que procura atingir o impossível. Numa época em que o neocalvinismo está, mais uma vez, no centro da teologia, os metodistas devem relembrar o bom êxito de João Wesley antes de fazerem estimativas sombrias a respeito da natureza humana. É possível que tudo quanto Calvino ensinou a respeito do estado atual do homem não seja pessimista demais, mas, da mesma forma, nada do que João Wesley ensinou a respeito do poder de Deus para redenção do homem é otimista demais. O evangelista metodista ganhou o direito à última palavra. 3 - Estendeu-a à totalidade do tempo Wesley expandiu ainda a experiência de redenção relacionando-a não somente à natureza e à raça humanas em sua integridade, mas à totalidade do tempo. A salvação significa, antes de tudo, constância na vida. O verdadeiro discipulado cristão nunca foi coisa de veneta, com começos e interrupções. O ideal é ser sempre o que somos apenas ocasionalmente (ou seja, agir como verdadeiros cristãos não apenas ocasionalment e, mas o tempo todo!). Wesley recomenda: “Não permita que o amor o visite como um visitante em trânsito, mas que ele seja o tempero constante de sua alma. Veja que seu coração esteja cheio em todas as épocas e em todas as ocasiões com benevolência real e jamais fingida, não somente àqueles que o amam, mas para com todos. Deixe o amor palpitar em seu coração, faiscar em seus olhos, brilhar em todas as suas ações. Quando quer que você abra seus lábios, faça-o com amor, e coloque na língua a lei da bondade.” A salvação significa crescimento constante na graça. Em seus primeiros anos de ministério, Wesley falou muito sobre a santificação instantânea. Mas, à medida que desenvolvia este assunto, ficou claro que ele jamais pretendeu descartar o crescimento gradual. Ele teve que admitir que havia um trabalho gradual precedendo a operação instantânea da graça, e um crescimento consequente. A perfeição veio a coincidir mais e mais com a "perfectibilidade" (suscetível de perfeição ou aperfeiçoamento). Quando perguntaram a Wesley, cerca de dois anos antes de sua morte, se era verdadeiro o rumor segundo o qual ele "afirmava estar limpo de todos os pecados", replicou, muito significativamente: "Não posso dizer se todos os pecados me foram tirados do coração, nem a possibilidade de ofender o Espírito de Deus; nem penso que amo a Deus ou ao próximo como deveria. Sou fraco, mas Deus é minha força. Vivo pela fé". Wesley estava ainda no processo de crescimento na graça. Este desenvolvimento alcança finalmente a eternidade numa cadeia áurea de três elos, para usar uma expressão de Wesley – o perdão, a santidade e o céu. O crescimento espiritual do ser humano aponta para a imortalidade. "Como pode entrar na mente de um homem", pergunta ele em seu tratado sobre o assunto, "que a alma capaz de tão grande perfeição ou de receber novos melhoramentos para toda a eternidade, fique reduzida a nada, tão logo seja criada? São estas habilidades feitas para um propósito tão mesquinho?" Não, os rudimentos desta vida serão traduzidos em um clima bastante propício onde florescerão para todo o sempre. Salvação para todo ser humano e a todos em todo o tempo – este é o ideal de Wesley. Se a experiência da redenção (Capítulo I) é a razão para o apelo de Wesley à Inglaterra do século XVIII, o grande alcance de suas implicações, exposto neste capítulo, explica a permanência (continuidade, constância ) do seu movimento. Ele colocou a perfeição em tal altura que ninguém jamais poderia dizer que a tinha alcançado, superando o ideal de Wesley para mais um desafio. Seu ideal é como a injunção do Mestre para que sejamos perfeitos como o Pai é perfeito. Se Cristo houvesse meramente dito "faça o melhor possível de acordo com as circunstâncias ", seu preceito dificilmente teria sobrevivido à sua geração. Mas, a perfeição como a de Deus — isto tem prendido a lealdade das pessoas pela sua grande magnificência. O ideal de Wesley nos impressiona também pela sua abrangência. É muito difícil focalizar a atenção de alguém durante muito tempo em um único ponto. Isto é bem mais fácil se o objetivo for um panorama e, mais cativante ainda, se estiver em movimento. Assim, o ideal de Wesley de uma salvação total marchando para a eternidade é suficientemen te largo e dinâmico para prender o interesse das pessoas. A experiência de redenção como o princípio de intensidade, e seu desenvolvimento ao infinito, como o princípio de abrangência —tudo isto junto explica o êxito de Wesley. Ele colocou a devoção de um fanático por trás de um ideal compreensivo e, assim, ambos efetuaram uma revolução religiosa, e a perpetuaram. Bispo Nelson Luiz Campos Leite
Bispo Nelson Luiz Campos Leite
Enviado por Silvio Dutra Alves em 11/05/2014
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