SOBRE O SERMÃO DO MONTE - Parte 13
Por John Wesley
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de
meu Pai que está nos céus.
Naquele dia muitos hão de dizer-me: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, e em teu nome não
expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?
Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.
Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as observa, será comparado a um homem prudente,
que edificou a sua casa sobre a rocha.
Desceu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela
não caiu; pois estava edificada sobre a rocha.
Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as observa, será comparado a um homem néscio,
que edificou a sua casa sobre a areia.
Desceu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e bateram com ímpeto contra aquela casa, e
ela caiu; e foi grande a sua ruína.” (Mt 7.21-27)
1. TENDO declarado todo o conselho de Deus em relação ao caminho da salvação e tendo notado os
principais tropeços que encontram os que por ele desejam andar, nosso divino Mestre encerra o discurso
com aquelas profundas palavras, apondo, por Assim dizer, por meio delas o selo à profecia, e imprimindo
toda sua autoridade ao que havia ensinado, de modo que sua lição permanecesse firme através de todas as
gerações.
2. Diz, por isso, o Senhor, que ninguém pode nem mesmo conceber exista outro caminho além desse.
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de
meu Pai que está nos céus. Naquele dia muitos hão de dizer-me: Senhor, Senhor, não profetizamos em
teu nome e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então
lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade. Todo
aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e não as observa, será comparado a um homem néscio, que
edificou a sua casa sobre a areia, Desceu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e bateram com
ímpeto contra aquela casa, e ela caiu; e foi grande a sua ruína”.
3. Tenciono considerar, neste discurso, primeiro, o caso do que constrói sua casa sobre a areia; em
segundo lugar, a sabedoria daquele que constrói sobre a rocha; e, por fim, concluirei com uma aplicação
prática.
I
1. Considerarei, primeiramente, o caso daquele que edifica sua casa sobre a areia. Foi em referência ao
tal que nosso Senhor disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus”, Este é
um decreto que não pode caducar, que permanece em vigor para todo o sempre. Importa-nos, pois, no
mais alto grau, compreender inteiramente o alcance destas palavras. Que devemos entender pela
expressão: “que me diz: Senhor, Senhor”? Estas palavras indubitavelmente significam: que pensam ir ao
céu por qualquer outro caminho que não seja o que venho a descrever. Isto implica, portanto (para
começar do ponto mais baixo), em todas as boas palavras, em toda a religião verbal. Inclui quaisquer
profissões de fé que façamos, o número não importa qual seja de orações que havemos repetido, as ações
de graças quaisquer que sejam que tivermos lido ou dito a Deus. Podemos falar bem de seu nome e
declarar sua bondade aos filhos dos homens. Podemos falar diariamente de todas as suas obras poderosas
e de sua salvação. Comparando coisas espirituais, podemos decifrar os Oráculos eternos. Podemos
explanar os mistérios de seu reino, ocultos desde o começo do mundo. Podemos falar a língua dos anjos
em lugar a os homens, no tocante às coisas profundas de Deus. Podemos proclamar aos pecadores: “Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” Mais ainda: podemos fazer isto com tal intensidade de
poder divino e tal demonstração do Espírito, que muitas almas se salvem da morte e seja coberta uma
multidão de pecados. E, depois de tudo, é muito possível que tudo isso não valha mais do que dizer:
“Senhor, Senhor!” Depois de ter eu próprio assim pregado vitoriosamente aos outros, ainda seja eu
mesmo rejeitado. Posso, nas mãos de Deus, arrebatar muitas almas ao inferno, e ainda cair nele, depois
de o haver feito. Posso levar muitos outros ao reino dos céus, e eu próprio jamais entrar nele. Leitor, se
Deus tem abençoado minha palavra em benefício de tua alma, ora para que Ele seja misericordioso para
comigo, pecador!
2. A expressão – “Senhor, Senhor”, pode implicar, em segundo lugar, em não fazer mal. Podemos abster-nos de todo pecado pretensioso, de toda espécie de pecado ostensivo. Podemos refrear-nos de todos os
modos de agir ou de falar que se proíbem nos sagrados Escritos. Podemos ser capazes de dizer a todos
com quem convivemos: “Qual de vós me convence de pecado?” Podemos ter a consciência livre de toda
ofensa exterior, para com Deus e para com o homem. Podemos estar limpos de toda impureza,
impiedade, injustiça, que se traduza em ato exterior; ou (como o apóstolo testifica acerca de si mesmo),
no “tocante à justiça da lei”, isto é, a justiça exterior, sermos “inculpáveis”, mas ainda do que dizer:
“Senhor, Senhor”; e, se não formos além disso, nunca “estaremos no reino dos céus”.
3. A expressão - “Senhor, Senhor”, pode implicar, em terceiro lugar, em muito do que é vulgarmente
intitulado boas obras. Um homem pode tomar parte na Ceia do Senhor, pode ouvir grande quantidade de
excelentes sermões e não perder ocasião de participar de todas as ordenanças de Deus. Posso fazer o bem
a meu próximo, repartir meu pão com o faminto o vestir o nu. Posso ser tão zeloso de boas obras a ponto
de “dar todos os meus bens para sustento dos pobres”. Ademais, passo fazer tudo isso com desejo de
agradar a Deus e crendo realmente que desse modo lhe agrado (que é o caso daqueles que nosso Senhor
representa a lhe dizerem: “Senhor, Senhor”), e ainda não ter parte na glória que será revelada.
4. Se alguém se maravilha disto, reconheça esse alguém que é estranho a toda a religião de Jesus Cristo,
e, em particular, daquela perfeita fotografia sua que, neste discurso, Ele nos coloca diante dos olhos.
Como tudo isto está aquém da justiça e da verdadeira santidade que Ele descreveu ali! Quão largamente
distante daquele íntimo reino do céu que agora se abre na alma crente - que primeiro é semeado no
coração como um grão de mostarda, mas depois lança grandes ramos, dos quais pendem todos os frutos
de justiça, todo bom caráter, palavra e obra!
5. Mesmo declarando essas verdades tão claramente como o fez, repetindo tão frequentemente que
pessoa alguma, que não tenha esse reino de Deus consigo, não entrará no reino dos céus, nosso Senhor
bem sabia que muitos não receberiam esta afirmação; por isso a confirma ainda uma vez: “Muitos” (diz
Ele: não um, não apenas poucos, não um caso raro ou invulgar), “hão de dizer-me naquele dia” não
somente: Nós fizemos muitas orações; repetimos teu louvor; refreamo-nos do mal; exercito-nos em fazer
o bem; mas o que é muito mais do que isso: “Profetizamos em teu nome: em teu nome expelimos
demônios; em teu nome operamos maravilhas”. “Nós profetizamos: declaramos tua vontade à
humanidade”; mostramos aos pecadores o caminho da paz e da glória. E isso temos feito “em teu nome,
segundo a verdade de teu Evangelho; sim, e pela tua autoridade, que confirma a palavra com o Espírito
Santo, enviado dos céus. Porque, pelo teu nome, ou em teu nome, pelo poder de tua que lavra e de teu
Espírito, “expelimos demônios” das almas que estes desde muito tempo dominavam como coisa sua, e
das quais eles tinham tomado posse plena e pacífica. “E em teu nome”, pelo teu poder e não pelo nosso,
“fizemos muitos milagres”, de tal modo que “os mesmo os mortos ouviram a voz do Filho de Deus”
falando pelos nossos lábios, e viveram. “Então lhes direi” ainda “claramente: Nunca vos conheci! “, não,
nesse tempo, quando estáveis “expelindo demônios em meu nome”; ainda então não vos conheci como
possessão minha, porque vosso coração não era reto diante de Deus. Não éreis mansos e humildes; não
éreis amigos de Deus e de toda a humanidade; não vos renováreis à imagem de Deus; não éreis santos
como eu sou Santo. “Apartai-vos de mim, vós” que, apesar de tudo isso, praticais a iniquidade” – anomia
vós sais transgressores de minha lei, de minha lei de santo e perfeito amor!
6. Para colocar esta verdade fora de toda possibilidade de contradição, nosso Senhor a confirmou por
meio desta comparação apropriada: “Todo aquele, pois, – diz Ele – que ouve estas minhas palavras e não
as observa, será comparado a um homem néscio, que edificou a sua casa sobre a areia. Desceu a chuva,
vieram as torrentes, sopraram os ventos e bateram com ímpeto contra aquela casa”, como baterão,
certamente, mais cedo ou mais tarde, sobre toda alma, sejam as torrentes de aflições exteriores, ou da
tentação interior, ou as tempestades do orgulho, da ira, do temor ou do desejo; “e ela caiu; e foi grande a
sua ruína”, isto é, pereceu para todo o sempre. Tal será o destino de todo aquele que confia em alguma
coisa que fique aquém da religião acima descrita. E maior será sua ruína, porque eles “ouvem aquelas
palavras” e todavia “não as observam”.
II
1. Mostrarei, em segundo lugar, a Sabedoria do que as observa, que edifica sua casa sobre a rocha. Na
verdade é sábio o “que faz a vontade de meu Pai que está nos céus”. É verdadeiramente sábio aquele cuja
justiça “excede à “justiça dos escribas e fariseus”. Pobre de espírito, ele conhece-se a si mesmo como
também é conhecido. Vê e sente todo seu pecado e toda sua culpa, até que seja lavado pelo sangue
propiciador. Mostra-se cônscio de seu estado de perdição, da ira de Deus pendendo sobre si e de sua
completa incapacidade para socorrer-se a si mesmo, até que seja revestido de paz e alegria no Espírito
Santo. É manso e humilde, paciente para com todos os homens, nunca “retribuindo o mal com o mal, ou
injúria por injúria; mas, ao contrário, abençoando”, até que vença o mal com o bem. Sua alma não
suspira por coisa alguma da terra, mas somente por Deus, o Deus vivo. Tem entranhado amor a toda a
humanidade e está pronto a dar a sua vida pelos próprios inimigos. Ama ao Senhor seu Deus de todo seu
coração, de toda sua mente, e alma e força. Só entrará no reino dos céus aquele que, neste espírito, faz o
bem a todos os homens, e que, sendo por esta cansa desprezado e rejeitado, sendo odiado, censurado e
perseguido, regozija-se e “alegra-se sobremodo”, sabendo em quem tem crido, e, iluminado por essa luz,
as aflições momentâneas “operarão em seu benefício um eterno peso de glória”.
2. Quão verdadeiramente sábio é esse homem! Ele se conhece a si mesmo – um espírito imortal, saído de
Deus e enviado a uma habitação de barro, não para fazer a própria vontade, mas a vontade daquele que O
enviou. Conhece o mundo – o lugar em que deve passar alguns dias ou uns poucos anos, não como
habitante, mas como estrangeiro e peregrino, em trânsito para as moradas eternas; e consequentemente
usa do mundo, como se dele não usasse e sabendo que sua aparência passa. Conhece a Deus – seu Pai e
seu Amigo, o originador de todo o bem, o alvo dos espíritos de toda carne, a felicidade única de todos os
seres inteligentes. Vê mais claro do que a luz solar do meio-dia, que o fim do homem é glorificar àquele
que o criou para si mesmo, amá-lo e gozá-la para sempre. Com igual clareza vê os meios que levam
àquele fim, ao gozo de Deus em glória: desde agora conhecer, amar, imitar a Deus e crer em Jesus Cristo,
a quem Ele enviou.
3. É um homem sábio mesmo à vista de Deus, “porque edifica a sua casa sobre a rocha”, sobre a Rocha
dos Séculos, a Rocha Eterna, que é o Senhor Jesus Cristo. Mui adequadamente Ele é assim chamado,
porque não muda: é “o mesmo ontem, ontem, hoje e para sempre”. Dele tanto o homem de Deus dos
tempos antigos como o apóstolo que lhe cita as palavras dão testemunho: “Tu, Senhor, no princípio
fundaste a terra, e os céus são obra tuas mãos; eles perecerão, mas tu permaneces; todos eles de
envelhecerão como um vestido, tu os enrolarás como um manto, como um vestido, e eles serão mudados;
mas tu és o mesmo e os teus anos não minguarão”. (Hb 1.10-12.) Sábio, é, pois, o homem que constrói a
sua casa sobre Ele; que o elege por seu fundamento único; que edifica exclusivamente sobre seu sangue e
sua justiça, sobre o que Ele fez e sofreu por nós. Nesta pedra angular ele fixa sua fé e sobre ela descansa
todo o peso de tua alma. Deus ensina-lhe a dizer: “Senhor, pequei! Mereço o mais profundo inferno; mas
sou justificado livremente pela tua graça, mediante a redenção que há em Jesus Cristo; e a vida que
a.gora vivo, vivo-a pela fé naquele que me amou e se entregou a si mesmo por mim; a vida que agora
vivo, isto é, a vida divina, celestial, a vida que está escondida com Cristo em Deus. Estando ainda na
carne, vivo a vida de amor, de puro amor a Deus e ao homem, uma vida de santidade e felicidade,
louvando a Deus e tudo fazendo para sua glória.”
4. Ainda assim, não pense esse homem que jamais entrará em guerra, ou que esteja agora longe do
alcance da tentação. Ainda pertence a Deus provar a graça que lhe concedeu: ele será provado como o
ouro, por meio do fogo. Será tentado em escala não menor do que o são os que não conhecem a Deus;
talvez muitíssimo mais, porque Satanás não deixará de atormentar no máximo os que ele não pode
destruir. Consequentemente, “a chuva” descera impetuosamente, nas ocasiões e da maneira que pareça
oportuna, não ao príncipe das potestades do ar, mas àquele cujo reino se estende sobre tudo”. “As
torrentes” ou catadupas virão; elas erguerão suas vagas, rugindo horrivelmente. Com relação a elas,
ta,bem o Senhor, que se assenta acima das torrentes das águas, permanecendo para sempre rei, dirá: “Até
aqui vireis, e não mais longe; aqui quebrareis vossas ondas e vos detereis”. “Sopraram os ventos e deram
com ímpeto contra aquela casa”, como querendo arrancá-la dos alicerces; todavia, não puderam
prevalecer: ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Ele construiu sobre Cristo, pela fé e pelo
amor; assim, não será confundido. “Não temerá, ainda que a terra se mova e as colinas sejam
transplantadas para o meio do mar. “Embora as águas esbravejem e cresçam e as montanhas se abalem à
tempestade”, ainda assim ele “repousará debaixo da proteção do Altíssimo e salvar-se-á à sombra do
Onipotente.”
III
1. Quão de perto interessa, pois, a todo homem, a aplicação prática dessas coisas a si mesmo,
examinando diligentemente sobre que fundamento edifica, se sobre a rocha ou sobre a areia! Quão
profundamente deve interessar-te a pergunta: “Qual é o fundamento de minha esperança? Sobre que
edifico minha expectativa de entrar no reino dos céus? Não estaria ela sendo edificada sobre a areia,
sobre minha ortodoxia, ou opiniões corretas, que, por um abuso grosseiro de expressão, chamo fé? Sobre
meu cabe dai de noções, supostas mais razoáveis ou bíblicas do que as que outros tenham?!” Que
loucura, esta! Seguramente isto é construir sobre a areia, ou, melhor, sobre a espuma do mar! Repetes,
estou convencido: “Não estou outra vez edificando minha esperança sobre aquilo que é igualmente
incapaz de a sustentar? Talvez esteja eu edificando sobre minha filiação a tal Igreja excelente, reformada
segundo o verdadeiro modelo da Escritura, abençoada pela mais pura doutrina, a mais primitiva liturgia,
a mais apostólica forma de governo! Essas são, sem dúvida, outras tantas razões para agradeceres a Deus,
desde que se convertam em outros tantos auxílios à santidade: não são, todavia, a própria santidade; e,
separadas desta, elas de nada me aproveitam e além disto me colocam em posição de ter menor
quantidade de desculpas, expondo-me, destarte, a maior condenação. Logo, se eu construo sobre um tal
fundamento o edifício de minha esperança, ainda estou construindo sobre a areia.”
2. Não podes, não deves, ficar nisso. Sobre que outra coisa edificarás tua esperança de salvação? – sobre
tua inocência? sobre o não causares dano a ninguém? sobre o não defraudares ou ofenderes a quem quer
que seja? Bem; admito que esta desculpa seja verdadeira. És justo em todas as tuas alegações; és um
verdadeiro homem bom; dás a cada homem o que lhe pertence; não enganas nem cometes extorsão;
procedes lealmente com toda a humanidade; tens consciência para com Deus; não vives em nenhum
pecado ostensivo. Até aqui está bem; mas não basta. Podes chegar até aí e nunca chegar ao céu. Quando
toda essa inocência decorre de um princípio reto, vem a ser a menor parte da religião de Cristo. Em teu
caso essa conduta não deflui de um princípio reto, e, assim, não participa, de modo nenhum, da religião.
Fundando nestas coisas tua esperança de salvação, estás ainda edificando sobre a areia.
3. Queres ir ainda mais longe? Queres adicionar à inatacabilidade quanto à prática do mal a observância
de todas as ordenanças de Deus? Participas, em todas as oportunidades, da Ceia do Senhor? Fazes oração
pública e privada? Jejuas com frequência? Ouves e examinas as Escrituras, meditando-as? São práticas
que do mesmo modo devias observar desde quando primeiro voltaste a face para o céu. Essas obras ainda
são nada, consideradas isoladamente. Elas são nada, sem “as coisas mais importantes da Lei”. E estas tu
as esqueceste; pela menos não as experimentas – a fé, a misericórdia e o amor de Deus; santidade de
coração; o céu aberto na alma. Ainda, pois, tu edificas sobre a areia.
4. Acima de tudo isso, és zeloso de boas obras? Fazes, quando podes, o bem a todos os homens?
Alimentas os famintos, vestes os nus, visitas os órfãos e as viúvas em suas aflições? Visitas os enfermos?
Assistes aos que estão presos? Tomas cuidado do estrangeiro? Amigo sobe ainda mais! Profetizas em
“nome” de Cristo? Pregas a verdade que há em Jesus? E a influência do Espírito acompanha tua obra,
transformando-a em poder de Deus para a salvação? Estás habilitado por Deus a chamar pecadores das
trevas para a luz, do poder de Satanás para o poder de Deus para a salvação? Então vai e aprende tudo
aquilo que tantas vezes tens ensinado: “Pela graça sois salvos mediante fé”; “Não pelas obras de justice
que temos feito, mas somos salvos pela sua própria misericórdia.” Aprende a pendurar-te nu à cruz de
Cristo, reputando tudo quanto tens feito como esterco e cisco! Dirigi-te a Ele no espírito do ladrão
moribundo, da meretriz com seus sete demônios! De outro modo estarás ainda sobre a areia; e, depois de
teres salvo aos outros, acabarás perdendo tua própria alma!
5. Senhor, aumenta a minha fé, se eu agora creio! De outra maneira, dá-me fé, ainda como um grão de
mostarda! Mas, “que aproveita, se o homem diz que tem fé, e não tem obras? Pode aquela fé salvá-lo?”
Oh! não! A fé que não tem obras, que não produz santidade interior e exterior, que não imprime no
coração toda a imagem de Deus e purifica-nos como Ele é puro; a fé que não produz toda a religião
descrita nos capítulos precedentes, não é a fé segundo os Evangelhos, nem a fé de Cristo, nem a fé que
conduz à glória. Oh! Guarda-te sobretudo deste laço do diabo – o permaneceres numa fé oposta à
santidade e à salvação! Se dás importância a essa espécie de fé – estás perdido para sempre: tu ainda
edificas tua casa sobre a areia. Quando “vier a chuva, e vierem as torrentes, ela certamente cairá, e
grande será sua ruína”.
6. Agora, pois, edifica sobre a rocha. Pela graça de Deus, conhece-te a ti mesmo. Reconhece e sente que
foste concebido em pecado e que em pecado tua mãe te concebeu, amontoando tu mesmo pecado sobre
pecado, até não poderes discernir o bem do mal. Reconhece-te réu de morte eterna; e renuncia a toda
esperança de vires a ser capaz de salvar-te a ti mesmo, Sobre “aquele que em si mesmo levou “todos “os
teus pecados em seu próprio corpo para o madeiro”, coloca toda tua esperança de ser lavado em seu
sangue e purificado pelo seu Espírito. E se reconheces que Ele tirou teus pecados, humilha-te cada vez
mais diante dele, num sentimento contínuo de tua total dependência dele em todo bom pensamento,
palavra e obra, e de tua inteira incapacidade para todo o bem, a não ser que Ele te regue a cada
momento”.
7. Agora pranteia por causa de teus pecados e chora de Deus, até que Ele converta tua tristeza em alegria.
E depois chora com aqueles que choram, e por aqueles que não sabem chorar por si próprios. Lamenta os
pecados e misérias da humanidade; e vê, bem perto de teus olhos, o oceano imenso da eternidade, sem
fundo e sem praias, que tragou no passado milhares de milhões de homens e se prepara ainda para
devorar os que ainda vivem! Vê, aqui a casa de Deus, eterna nos céus; ali o inferno e a destruição
descobertos! e daí aprende a importância da cada momento, que mal aparece e logo se vai para sempre!
8. Acrescenta, agora, a mansidão e a sabedoria à tua gravidade. Guarda-te de todas as tuas paixões, em
particular da ira, da tristeza e do temor. Calmamente aceita a vontade de Deus, qualquer que ela seja. Em
qualquer que seja teu estado, aprende a estar contente. Sê indulgente para com os bons; sê gentil para
com todos os homens, mas especialmente para com os maus e ingratos. Guarda-te, não apenas de
expressões exteriores da ira, como chamar a teu irmão Raca ou Louco, mas de todo sentimento íntimo
contrário ao amor, ainda que tal sentimento não passe do coração. Aborrece ó pecado, como afronta feita
à Majestade que está nos céus; ama, porém, a despeito de tudo, o pecador. Faze como nosso Senhor, que
“olhou os fariseus com indignação, contristado com a dureza de seus corações”. Ele estava decepcionado
com os pecadores, mas irado contra o pecado. Assim, “ira-te, mas não peques”.
9. Sê tu faminto e sedento, não da “comida que perece, mas da que permanece para a vida eterna”. Calca
sob os pés o mundo e as coisas do mundo; todas as suas riquezas, honras e prazeres. Que é o mundo para
ti? Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas segue tu segundo a imagem de Deus. E guarda-te
de estancar aquela sede bendita se porventura ela se excitou em tua alma, mediante aquilo que é
vulgarmente chamado religião – uma farsa pobre, sombria; uma religião de forma, de aparência exterior,
que deixa o coração rastejando no pó, tão terreno e sensual como era dantes. Não permitas que coisa
alguma te satisfaça, senão o poder da piedade, uma religião que seja espírito e vida; a permanência em
Deuse Deus permanecendo nesta contigo; ser um habitante da eternidade; a entrada nesta pelo sangue da
aspersão, “no interior do véu”, e o assentar-te “nos lugares celestiais com Cristo Jesus”.
10. Agora, vendo que podes fazer todas as coisas através de Cristo, que te fortalece, sê misericordioso
como teu Pai celestial é misericordioso! Ama a teu próximo como a ti mesmo! Ama a teus amigos e
inimigos como a tua própria alma: e seja teu amor longânime e paciente para com todos os homens. Seja
esse amor bondoso, suave, benigno, inspirando-te a mais amável doçura e a afeição mais terna e fervente.
Regozija-te na verdade, onde quer que ela se encontre; na verdade que seja segundo a piedade. Esforça-te
por que todos dêem glória a Deus e promove a paz e a boa vontade entre Os homens. Cobre, pelo amor,
todas as coisas – dos mortos e ausentes nada dizendo, senão bem; crendo em todas as coisas que de
algum modo tendam a limpar o caráter de teu próximo; espera todas as coisas em seu favor, e tudo
suporta, triunfando de toda oposição, porque o verdadeiro amor jamais falhará, seja no tempo ou na
eternidade.
11. Sê puro de coração; purificado pela fé de toda afeição profana; purificando-te de toda impureza da
carne e do espírito e “aperfeiçoando a santidade no temor de Deus”, sendo, mediante o poder de sua
graça, purificado do orgulho, pela profunda humildade de espírito; da ira, de toda paixão perversa ou
tumultuosa, pela mansidão e longanimidade; de todo desejo que não seja o de agradar a Deus e gozá-la,
pela fome e sede de justiça; e depois, ama ao Senhor teu Deus de todo teu coração e de toda tua força!
12. Numa palavra: seja tua religião a religião do coração. Que ela resida no mais íntimo de tua alma. Sê
pequeno, humilde, apagado e vil (mais do que estas palavras possam expressar), a teus próprios olhos;
confunde-te e humilha-te até o pó pelo amor de Deus que é em Cristo Jesus. Sê grave. Que toda a torrente
de teus pensamentos, palavras e atos deflua da mais profunda convicção de que permaneces à borda do
grande abismo, tu e todos os filhos dos homens, na iminência de deslizar, quer para a glória eterna, quer
para o fogo eterno! Encha-se tua alma de doçura, cordialidade, paciência, longanimidade para com todo
os homens; ao mesmo tempo em que, tudo que há em ti tenha sede de Deus, do Deus vivo, aspirando
adquirir sua semelhança e ficar então satisfeito. Sê amigo de Deus e de toda a humanidade. Neste espírito
faze e sofre todas as coisas. Mostra, assim, tua fé pelas tuas obras; “faze a vontade de teu Pai que está
nos céus! “ E, tão certo como andas agora, na terra, com Deus, também reinarás com Ele em glória!
John Wesley
Enviado por Silvio Dutra Alves em 12/05/2014