A Sempre Presente Necessidade de Reforma
Conhecendo o Presente pelo que Sucedeu no Passado
Reformar, seguindo a etimologia da própria palavra (re – formar), significa trazer novamente à forma original.
Não se trata portanto de criar algo novo, ou de se acrescentar ou retirar algo do que se tornou envelhecido, como muitos assim o entendem, mas manter o estado original de algo que foi mudado.
A chamada Reforma Protestante tinha este caráter. Ela não foi basicamente uma luta contra a Igreja Romana, mas um esforço em fazer com que o genuíno evangelho de Jesus Cristo fosse pregado e ensinado à igreja, tal e qual se encontra registrado nas páginas da Bíblia, para ser por ela praticado.
O evangelho não necessita de reforma, porque está revelado de uma vez para sempre nas páginas das Escrituras, especialmente nas do Novo Testamento.
Quem necessita então sempre de reforma é a igreja, porque esta sim, é dada a se desviar da prática dos mandamentos ordenados pelo Senhor em Sua Palavra.
As repreensões dirigidas por nosso Senhor a igrejas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse bem demonstram esta necessidade de reforma pela via do arrependimento e retorno à estrita obediência aos Seus mandamentos.
Mesmo no caso das duas igrejas que não receberam repreensões (Esmirna e Filadélfia), todavia foram alertadas sobre a necessidade de permanecerem na fidelidade em que se encontravam na ocasião.
O conteúdo destas repreensões e advertências do Senhor muito nos ajudam a entender o estado presente da igreja em todo o mundo. Podemos ter uma visão correta da necessidade específica de reforma de cada uma delas, a partir do que lhes é recomendado por nosso Senhor Jesus Cristo, a cabeça da Igreja.
Veja o caso da igreja em Éfeso:
“Apo 2:1 A o anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro:
Apo 2:2 Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos;
Apo 2:3 e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer.
Apo 2:4 Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.
Apo 2:5 Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.
Apo 2:6 Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.
Apo 2:7 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus.”
Por que Éfeso foi repreendida a ponto de ser ameaçada a deixar de ser igreja (remoção do candeeiro), caso não se arrependesse de ter abandonado o primeiro amor e suas primeiras obras, uma vez que fora elogiada por sua correta ortodoxia, por seu labor, rejeitando os falsos apóstolos e o seu ensino, e rejeitando toda forma de hierarquismo eclesiástico (nicolaítas), perseverando e suportando provas por causa do nome de Jesus sem se deixar esmorecer?
Éfeso nos ajuda a entender porque apesar de pregarmos e defendermos o verdadeiro evangelho, ainda corremos o risco de não praticá-lo em nossas vidas, ou seja, não guardarmos os mandamentos do Senhor relativos à nossa santificação. É possível ser ouvinte da Palavra verdadeira e não praticá-la na vida. Este era o problema com Éfeso e com um grande número de igrejas em nossos dias.
Santificação não decorre de apenas se conhece, pregar e ensinar o evangelho verdadeiro, mas em colocá-lo em prática em nossos pensamentos, ações e palavras.
O primeiro amor aqui referido pelo Senhor, certamente reporta aos dias em que sob a direção do apóstolo Paulo e Timóteo aquela igreja andou em verdadeira santidade de vida, amando e praticando os mandamentos do Senhor registrados na Bíblia.
Mas como Éfeso era uma cidade cosmopolita, e na qual se encontrava o colossal templo e culto à deusa Diana ou Astarte, e tendo a maioria dos convertidos sido alcançados de uma vida pagã e idolátrica, eles deviam ser muito tentados em voltar ao antigo modo de vida de adoração pagã, na qual o adorador serve a quem quiser e vive como quiser.
O cristianismo todavia não é inclusivista, mas exclusivista pois admite somente a adoração do único Deus vivo e verdadeiro e que se pratique somente a Sua Palavra.
Não admira que encontremos no final da primeira epístola de João, uma advertência quanto à necessidade de se guardarem os seus destinatários incontaminados da idolatria.
E certamente Éfeso contava entre os destinatários originais daquela primeira epístola do apóstolo, uma vez que por anos ele havia se fixado em Éfeso e havia supervisionado todas as igrejas da Ásia Menor, especialmente as mencionadas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse.
Nada justifica a falta de reforma da igreja, mesmo quando se encontra debaixo de forte perseguição, como foi o caso de todas aquelas sete igrejas do Apocalipse, uma vez que o imperador romano Domiciano estava assolando a igreja no período do seu reinado (81-96 d.c.) exigindo que fosse adorado como Senhor e Deus. O próprio João foi deportado para Patmos por sua ordem, e muitos crentes estavam sendo martirizados.
Todavia, Éfeso permaneceu firme e perseverou conforme testemunho do próprio Senhor Jesus.
O que poderia se esperar a mais de uma igreja perseverante como aquela?
Santificação.
Sempre será procurado pelo Senhor o fruto da santificação nos Seus servos, independentemente das circunstâncias em que estejam vivendo.
O argumento de que a pressão da mídia é muito forte em nossos dias, que as fontes de tentação são múltiplas e variadas, que a iniquidade tem corroído terrivelmente toda a sociedade, enfim, tudo o que for contra a possibilidade de se manter uma vida santa sem pressões, não será justificado pelo Senhor por não praticarmos os Seus mandamentos.
Isto deve ser visto na vida, partindo do coração, sendo um amor não apenas de palavras, mas por obras e de fato.
Veja que Éfeso tinha muitas obras, mas não eram as obras da fé. E por isso lhe foi requerido o retorno à prática das primeiras obras que faziam em santificação.
Não existe portanto uma reforma de igreja dissociada do testemunho da nossa própria vida.
Muitos ouvirão o verdadeiro evangelho por anos seguidos, e no entanto, não permitirão que o Espírito Santo reforme os seus corações, trazendo-lhes à condição em que sempre deveriam se encontrar, a saber, crescendo na graça e no conhecimento de Jesus pela prática amorosa de todos os Seus mandamentos.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 14/05/2014