Você é Feliz?
Por J. C. Ryle
“Feliz é o povo que tem por Deus o SENHOR” (SALMOS 144:15)
LEITOR
Você tem visto a pergunta que dá título para esse sermão, agora escute essa história.
Um infiel, certa vez, estava se dirigindo a uma multidão a céu aberto. Ele estava tentando persuadi-lhes de que não havia Deus, nem diabo, nem céu, nem inferno, nem ressurreição, nem juízo final, nem vida após a morte. Ele as aconselhou a jogar fora suas
Bíblias, e a não se importarem com o que as outras pessoas dissessem. Ele lhes recomendou a pensarem como ele, e serem como ele. Ele falou corajosamente. A multidão ouviu atentamente. Era “o cego guiando o outro cego”. Ambos estavam caindo no barranco (Mateus 15:14).
No meio do discurso, uma pobre idosa repentinamente passou pelo meio da multidão indo até o lugar onde o homem estava em pé. Ela ficou diante dele. Ela olhou para a face dele. “Senhor,” ela
disse, em voz alta, “Você está feliz?”. O infiel olhou para ela desdenhosamente, e não lhe deu resposta.
“Senhor,” ela disse novamente, “Eu lhe peço que responda à minha pergunta. Você está feliz? Você quer que joguemos fora nossas Bíblias. Você nos ordena a não acreditar no que as pessoas dizem sobre religião. Você nos aconselha a pensar como você, e ser como você. Agora, antes que aceitemos o seu
conselho, nós temos o direito de saber o que de bom teremos com ele. As suas excelentes noções de religião te dão tanto conforto? Você mesmo se sente feliz?”
O infiel parou, e tentou responder à questão da mulher idosa. Ele gaguejou, se embaralhou, se inquietou e se esforçou para explicar o que ele queria dizer. Ele tentou muito mudar de assunto. Ele disse que ele “não veio para pregar sobre felicidade”. Mas não adiantou nada. A mulher idosa se agarrou ao ponto dela. Ela insistiu em conseguir uma resposta para sua questão, e a multidão ficou do lado dela. Ela pressionou-o bastante com seu inquérito, e não aceitava nenhuma desculpa. E, no fim, o infiel foi
obrigado a deixar sua posição e se esgueirar despercebidamente para a confusão da multidão. Ele não pôde responder à pergunta. Sua consciência não o deixava: ele não se atreveu a dizer que ele estava feliz.
A mulher idosa demonstrou grande sabedoria ao fazer aquela pergunta. O argumento que ela usou pode parecer bem simples, mas na realidade é um dos mais poderosos que pode ser empregado. É uma arma que tem mais efeito em algumas mentes do que o mais elaborado raciocínio de Butler, Paley ou
Chalmers. Sempre que um homem começa a ter novas visões de religião, e pretende recusar o antigo Cristianismo bíblico, ele também levará para casa a questão da mulher idosa em sua consciência.
Pergunte a este se suas novas visões fazem ele se sentir confortável interiormente. Pergunte-lhe se ele pode dizer, com honestidade e sinceridade, que está feliz. O grande teste da fé de um homem e de sua religião é “Ela o faz feliz?”
Deixe-me agora, afetuosamente, convidar todo leitor a considerar a matéria deste texto. Deixe-me avisar-te a se lembrar de que a salvação de sua alma, e nada menos, está estreitamente ligado ao assunto.
O coração não pode estar reto perante Deus e não saber nada de felicidade. O homem ou a mulher pode não estar num estado seguro de alma e nada sentir de paz dentro de si.
Há três coisas que eu me proponho a fazer, em ordem, para esclarecer o assunto da felicidade.
Eu peço uma atenção especial a cada uma delas. E eu oro para que o Espírito de Deus aplique tudo isso às almas de todos que lerem este texto.
I. Permita-me apontar algumas coisas que são absolutamente essenciais a toda felicidade.
II. Permita-me expor alguns erros comuns
sobre o caminho para ser feliz.
III. Permita-me apresentar o caminho para ser
verdadeiramente feliz.
I. Em primeiro lugar eu tenho de apontar algumas coisas que são absolutamente essenciais a toda felicidade.
Felicidade é o que toda a humanidade quer obter: o desejo dela está profundamente plantado no coração humano. Todos os homens naturalmente desgostam da dor, da angústia e do desconforto. Todos os homens naturalmente têm fome e sede de
felicidade. Assim como o homem doente deseja a saúde e o prisioneiro de guerra a liberdade, assim como o viajante desidratado em países quentes deseja a fonte refrescante, ou o explorador polar coberto de gelo o sol se levantando no horizonte, do mesmo modo o pobre homem mortal deseja ser feliz. Mas,
infelizmente, quão poucos têm considerado o que eles realmente dizem quando falam de felicidade! Quão vagas e indistintas e indefinidas são as ideias da maioria dos homens sobre este tema! Eles pensam que alguns são felizes, quando, na realidade, são
miseráveis; eles pensam que alguns são tenebrosos e tristes, quando, na realidade, são verdadeiramente felizes; eles sonham com uma felicidade que, na realidade, nunca satisfaria o que
suas naturezas desejam.
Permita-me tentar hoje iluminar um pouco o assunto.
Verdadeira felicidade não é perfeita liberdade de angústia e desconforto. Nunca se esqueça disso. Se fosse assim, não haveria qualquer felicidade no mundo. Tal felicidade seria para os anjos que nunca caíram, e não para homens. A felicidade que eu estou
investigando é tal que uma criatura pobre, moribunda e pecaminosa pode esperar obtê-la.
Toda nossa natureza está contaminada pelo pecado. O mal abunda no mundo. Doença, e morte, e mudança estão diariamente fazendo seu triste trabalho por todos os lados. Em um estado tal como este, a maior felicidade que o homem pode atingir na terra tem de ser necessariamente algo misturado. Se nós esperamos encontrar qualquer felicidade literalmente perfeita
deste lado da tumba, nós esperamos algo que não iremos encontrar.
Verdadeira felicidade não consiste em risadas e sorrisos. A face é, muitas vezes, um pobre indicador do homem interior. Há milhares que riem alto e são, quando acompanhados, tão alegres quanto um gafanhoto, mas no privado são desgraçados e
miseráveis, e quase sempre com medo de ficarem sozinhos. Há centenas que são graves e sérios no seu comportamento, cujos corações estão cheios de uma sólida paz. Um poeta dentre nós contou verdadeiramente como os sorrisos valem pouco:
“Um homem pode sorrir e sorrir e
ainda ser um vilão”
E a eterna Palavra de Deus nos ensina que “até no riso tem dor o coração” (Provérbios 14:13).
Não me fale de faces meramente sorridentes e risonhas: eu quero ouvir de algo maior do que isto quando eu pergunto se um homem está alegre. Um homem verdadeiramente feliz indubitavelmente vai muitas vezes mostrar sua felicidade em seu
semblante; mas um homem pode ter uma face bem alegre e, mesmo assim, não estar tão feliz.
De todas as coisas decepcionantes da terra nada é mais decepcionante do que mera alegria jovial e diversão. É um espetáculo vazio e oco, completamente desprovido de substância e realidade. Ouça ao palestrante brilhante na Sociedade, e marque os aplausos que ele recebeu de acompanhantes admirados: siga-o até seu quarto privado, e você provavelmente o achará mergulhado numa melancolia desanimada.
O coronel Gardiner confessou que até quando ele pensava estar mais feliz, na verdade, ele, na maioria das vezes, desejava ser um cão.
Olhe aquela bela mulher sorridente no baile, e você pode supor que ela nunca soube o que é ser infeliz; veja-a no dia seguinte na casa dela, e você pode, provavelmente, achá-la de mau humor
consigo mesma e com todos os outros.
Oh não: diversão mundana não é uma felicidade real! Há certo prazer nela, eu não nego. Há uma excitação animal nela, eu não questiono. Há uma temporária elevação do espírito nela, eu livremente concordo. Mas não a chame pelo nome sagrado da felicidade.
A mais bela das folhas cortadas presa no solo não faz um jardim. Quando o vidro é chamado de diamante, e o latão de ouro, então aí, e não antes daí, o povo pode rir e sorrir e serão merecedores de serem chamados de homens felizes.
Para ser verdadeiramente feliz, os maiores desejos do coração humano precisam ser encontrados e satisfeitos. Os requerimentos de sua curiosamente forjada constituição precisam ser contentados. Não deve haver nada nele que grite “Dê-me, dê-me,” e não obtenha resposta e grite em vão. O cavalo e o boi são felizes enquanto estiverem quentes e cheios. E por quê? É porque eles estão satisfeitos. Uma pequenina criança parece alegre quando está vestida, alimentada e bem nos braços de sua mãe. E por que? É porque ela está satisfeita.
E é do mesmo jeito com o homem. Seus maiores desejos precisam ser encontrados e satisfeitos antes que ele possa ser verdadeiramente feliz. Todos eles precisam ser preenchidos. Não pode haver um vão, nem lugares vazios, nem ânsias não supridas. Até então ele nunca será verdadeiramente feliz.
E quais são os principais desejos do homem?
Tem ele um corpo somente? Não: ele tem algo mais!
Ele tem uma alma.
Tem ele faculdades sensuais somente? Não pode ele fazer nada mais do que ouvir, ver, cheirar, provar e sentir? Não: ele tem uma mente pensante e uma consciência! Não tem ele alguma consciência de qualquer outro mundo além daquele no qual ele
vive e move? Ele tem sim. Há uma voz, ainda que pequena, dentro dele que constantemente se faz ouvida: “Esta vida não é tudo! Há um mundo invisível: há uma vida além do túmulo.” Sim! É verdade. Nós fomos assombrosamente e maravilhosamente feitos. Todo homem o sabe: todo o homem o sente, se eles só falassem a verdade. É completamente sem sentido pretender que a comida e o vestuário e somente as coisas terrenas podem
fazer o homem feliz. Há desejos da alma. Há desejos da consciência. Não pode haver verdadeira felicidade até que esses desejos sejam satisfeitos.
Para ser verdadeiramente feliz um homem precisa ter fontes de júbilo que não sejam dependentes de nada deste mundo. Não há nada sobre a terra que não esteja selado com a marca da instabilidade e da incerteza. Todas as coisas boas que o dinheiro pode comprar são para nada mais do que um instante: ou elas nos deixam ou nós somos obrigados a deixá-las. Todas as mais doces relações na vida são passíveis de ter um fim: a morte pode vir a qualquer dia e cortá-las fora. O homem cuja felicidade depende inteiramente das coisas daqui de baixo é como aquele que constrói sua casa na areia, ou que apoia seu peso numa cana fina.
Não me conte da sua felicidade se ela se sustenta diariamente nas incertezas da terra. Sua casa pode ser rica em confortos; sua esposa e suas crianças podem ser tudo o que você queria; seus
ganhos podem ser abundantemente suficientes para satisfazer todos os seus desejos. Mas, oh, lembre-se de que, se você não tiver nada mais do que isso para considerar, você está perante a beirada de um precipício! Seus rios de prazer podem em um dia
qualquer secarem. Seu gozo pode ser profundo e sincero, mas ele é terrivelmente temporário. Ele não tem raiz. Ele não é verdadeira felicidade.
Para ser realmente feliz, um homem precisa ser apto para olhar para todos os lados sem sentimento desconfortáveis. Ele precisa ser apto a olhar atrás para o passado sem medos culposos; ele
precisa ser apto para olhar ao redor de si sem descontentamento; ele precisa ser apto a olhar para a frente sem um pavor ansioso. Ele precisa ser apto a se sentar e pensar calmamente sobre coisas passadas, presentes e vindouras, e se sentir preparado. O homem que tem um lado fraco em sua condição, um lado que ele não gosta de olhar ou considerar, esse homem não é realmente feliz.
Não me conte da sua felicidade, se você não é apto a olhar firmemente ou para trás ou para frente de você. Sua posição presente pode ser confortável e prazerosa. Você pode encontrar muitas fontes de gozo e júbilo na sua profissão, no lugar onde você habita, na sua família e nos seus amigos. Sua saúde pode ser boa, seu espírito pode ser bem alegre. Mas pare e pense silenciosamente sobre sua vida passada. Você pode refletir calmamente em todas as omissões e comissões dos anos que se foram? Como você aguentará a inspeção de Deus? Como você vai responder acerca delas no último dia? E depois olhar para frente, e pensar nos anos que ainda virão.
Pense no fim certo para o qual você se apressa; pense na morte; pense no juízo. Pense na hora em que você vai se encontrar com Deus face a face; Você está pronto? Você está preparado? Você pode olhar para essas coisas vindouras sem se alarmar?
Oh, esteja bem certo de que se você não pode olhar confortavelmente para qualquer época menos o passado, a sua felicidade é uma pobre coisa irreal!
Ele é nada mais do que um sepulcro caiado, justo e belo por fora, mas com ossos e corrupção por dentro. É meramente uma coisa do dia, como a aboboreira de Jonas. Não é a real felicidade.
Eu pergunto aos meus leitores para fixar nas mentes deles um relato das coisas essenciais à felicidade, o qual eu tentei dar. Tirem dos seus pensamentos as muitas noções erradas correntes desse assunto como moeda falsificada. Para serem verdadeiramente felizes, os desejos da alma e da consciência precisam ser satisfeitos; para ser verdadeiramente feliz, o seu gozo precisa estar fundamentado em algo mais do que este mundo pode te dar; para ser verdadeiramente feliz, você precisa ser apto a olhar para todo lado, — acima, abaixo, atrás, adiante — e sentir que tudo está certo.
Essa é a real, autêntica e genuína felicidade: essa é a felicidade que eu tenho em mente quando eu te incentivo a notar o assunto deste texto.
Pare agora e considere bem se você conhece quais são os primeiros princípios da verdadeira felicidade. Até que você os conheça, você não é capaz de examinar a solene pergunta: "Você é feliz?"
II. Em segundo lugar, permita-me expor alguns erros comuns sobre o caminho para ser feliz.
Muitos pensam que há muitas estradas que levam à felicidade. Em cada uma dessas estradas milhares e dezenas de milhares de homens e mulheres estão continuamente viajando. Cada uma é a fantasia de que, se ele conseguisse alcançar tudo o que quer, ele seria feliz. Cada fantasia de que, se ele não tiver sucesso, o problema não está na estrada, mas sim em sua própria falta de sorte e de uma fortuna favorável. E todos semelhantemente parecem ignorantes de que eles estão caçando sombras. Eles começaram na direção errada: eles estão buscando aquilo que nunca pode ser achado no lugar em que procuram.
Eu vou mencionar por nome algumas das principais ilusões sobre felicidade. Eu o farei em amor, caridade e compaixão às almas dos homens.
Acredito que é uma obrigação pública advertir acerca de trapaças, charlatões e impostores. Oh, quanto de problema e angústia eu salvaria os meus leitores, se eles apenas acreditassem no que eu vou dizer!
É um erro extremo supor que status e grandeza sozinhos podem dar felicidade. Os reis e governantes deste mundo não são necessariamente homens felizes. Eles têm problemas e cruzes, das quais ninguém sabe senão eles próprios; eles veem milhares de maldades, as quais não podem ser remediadas por eles; eles são escravos trabalhando em correntes de outro, e possuem menos liberdade do que qualquer um do mundo; eles têm fardos e responsabilidades postas sobre eles, as quais são um peso diário em seus corações. O imperador Romano Antonino frequentemente dizia que “o poder imperial era um oceano de misérias.” A Rainha Elizabeth, quando ouviu uma ama de leite cantando, desejou ser nascida como muitos parecidos com a ama. Nunca o nosso grande Poeta escreveu uma palavra mais verdadeira do que quando ele disse,
“Inquieta está a cabeça que usa uma coroa.”
É um erro total supor que as riquezas sozinhas podem dar felicidade. Elas podem habilitar um homem a comandar e possuir tudo, menos a paz interior. Elas não podem comprar um espírito jubiloso e um coração leve. Há cuidado em consegui-las, e cuidado em mantê-las, cuidado em usá-las, e cuidado em gastá-las, cuidado em juntá-las, e cuidado em espalhá-las. Era um homem sábio o que dizia que “dinheiro” era apenas outro nome para “problema” e que as mesmas palavras em Inglês que compõem “acres” também compõem “preocupação”.
É um erro total supor que o aprendizado e a ciência sozinhos podem dar felicidade. Eles podem ocupar o tempo e a atenção de um homem, mas não podem realmente fazê-lo feliz. Aqueles que aumentam conhecimento muitas vezes “aumentam tristeza” quanto mais eles aprendem, tanto mais eles descobrem sua própria ignorância. (Eclesiastes 1:18).
Não está no poder das coisas na terra ou embaixo da terra “ministrar para uma mente envenenada”. O coração quer algo assim como a cabeça: a consciência necessita de comida tanto quanto o intelecto. Todo o conhecimento secular do mundo não dá ao homem gozo e prazer, quando ele pensa na enfermidade, e na morte, e na tumba. Aqueles que escalaram o mais alto, têm frequentemente se achado solitários, insatisfeitos e vazios de paz. O sábio Selden, no fim da sua vida, confessou que tudo que aprendeu não lhe deu tanto conforto quanto quatro versos de Paulo (Tito 2:11-14).
É um erro total supor que a ociosidade sozinha pode dar felicidade. O trabalhador que levanta às cinco da manhã e vai trabalhar fora o dia todo numa fria vala de barro geralmente pensa ao passar pela porta de um homem rico “Que coisa boa deve ser estar sem trabalho algum para fazer”. Pobre camarada! Ele pouco conhece o que pensa. A mais miserável criatura na terra é o homem que não tem nada para fazer. Trabalho para as mãos e trabalho para a cabeça é absolutamente essencial para a felicidade humana. Sem isso a mente se alimenta de si mesma, e todo o homem interior se torna enfermo.
O maquinário interno vai funcionar, e, sem nada como objeto de trabalho, vai muitas vezes se desintegrar em pedaços. Não havia ócio no Éden. Adão e Eva tinham de “cultivá-lo e guardá-lo”. Não haverá ócio no céu: “os seus servos o servirão”. Oh, esteja bem certo de que o homem mais preguiçoso do mundo é o mais verdadeiramente infeliz! (Gênesis 2:15; Apocalipse 22:3).
É um erro total supor que busca a de prazeres e divertimento sozinhos podem dar felicidade. De todas as estradas que um homem pode tomar com o fim de ser feliz, está aqui é a mais completamente errada. De todos os cansativos, chatos, sem graça e inúteis caminhos de gastar a vida, este excede todos.
Pensar em uma criatura moribunda, com uma alma imortal, esperando felicidade em festejar e deleitar-se em dançar e cantar, em vestir e visitar, em bailar e jogar cartas, em corridas e feiras, em caçar e atirar, em multidões, em gargalhadas, em barulho, em música, em vinho! Com certeza esta é uma visão que faz o diabo rir e os anjos chorarem. Até uma criança não brinca com seus brinquedos o dia todo. Ela precisa de comida. Mas quando homens e mulheres maduros pensam em encontrar felicidade em um rodízio constante de divertimento eles afundam bem mais do que uma criança.
Eu coloco diante de todo leitor deste texto esses erros comuns sobre o caminho de ser feliz. Eu lhe peço para marcá-los muito bem. Eu lhe aviso claramente contra esses pretensos atalhos para a felicidade, embora tão cheios quanto possam estar.
Eu lhe digo que se você fantasia que qualquer um deles pode lhe conduzir à verdadeira paz, você está completamente enganado. Sua consciência nunca se sentirá satisfeita; sua alma imortal nunca se sentirá leve; todo o seu homem interior vai se sentir desconfortável e sem saúde. Pegue qualquer uma dessas estradas, ou pegue-as todas, e se você não tiver nada mais para olhar, você nunca achará a felicidade. Você pode viajar de novo e de novo e de novo, e o objeto desejado vai parecer tão distante em cada estágio da vida quanto quando você começou.
Você é como alguém derramando água numa peneira ou pondo dinheiro numa bolsa furada. Você também pode tentar fazer um elefante feliz alimentando-o com um grão de areia por dia assim como tenta satisfazer seu coração com status, riquezas, aprendizado, ócio ou prazer.
Você duvida da verdade de tudo que eu estou dizendo? Eu lhe desafio a fazê-lo. Então vamos nos virar ao grandioso Livro da experiência humana e ler algumas linhas destas solenes páginas. Você terá o testemunho de algumas testemunhas competentes do grande assunto que eu peço a sua atenção.
Um rei será a sua primeira testemunha: eu estou falando de Salomão, o Rei de Israel. Nós sabemos que ele tinha poder, sabedoria, riqueza, excedendo qualquer governador de seus tempos. Nós sabemos que, por sua própria confissão, ele tentou o grande experimento de quanto as coisas deste mundo podiam fazê-lo feliz. Nós sabemos, do registro de sua própria mão, o resultado desse curioso experimento.
Ele o escreve pela inspiração do Espírito Santo para o benefício do mundo inteiro no livro de Eclesiastes.
Nunca, é claro, esse experimento foi feito sob circunstâncias tão favoráveis: nunca ninguém tinha tanta chance de sucesso quanto o rei judeu. Mas qual é o testemunho de Salomão? Você tem suas palavras melancólicas: “tudo era vaidade e correr atrás do vento”. (Eclesiastes 1:14).
Uma famosa dama francesa será a nossa próxima testemunha: eu falo da Madame de Pompadour. Ela foi amiga e favorita de Luís XV. Ela tinha influência ilimitada na Corte da França. Ela podia ter tudo que o dinheiro pode comprar. Mas o que ela mesma diz? “Que situação é a dos grandes! Eles só vivem no futuro e só são felizes na esperança. Não há paz na ambição. Eu estou sempre abatida, e muitas vezes tão injustificadamente. A gentileza do rei, o respeito dos cortesãos, a assessoria das minhas domésticas e a fidelidade do meu grande número de amigos, motivos como esse, que me deveriam fazer feliz, não me afetam mais. Eu não tenho mais inclinações para tudo que já me agradou. Eu fiz minha casa em Paris ser magnificamente mobiliada: bem, me agradou por dois dias! Minha residência em Bellevue é charmosa: eu sozinha não pude suportá-la. Pessoas benevolentes me relatam todas as notícias e aventuras de Paris: eles acham que eu escutei, mas quando eles terminam eu lhes pergunto o que disseram. Em poucas palavras, eu não vivo: eu morri antes da hora. Eu não tenho interesse neste mundo. Tudo conspira para amargar a minha vida. Minha vida é uma morte contínua;”.
A este testemunho eu não preciso adicionar nenhuma palavra. (Sinclair’s Anecdotes and Aphorisms, p. 33.)
Um famoso escritor germânico será nossa próxima testemunha: eu falo de Goethe. É bem sabido que ele foi quase idolatrado por muitos durante sua vida. Suas obras foram lidas e admiradas por milhares. Seu nome foi conhecido e honrado, em qualquer lugar que o alemão fosse falado por todo o mundo. E, apesar do louvor do homem, o qual ele ceifou tão abundante colheita, era totalmente incapaz de fazer Goethe feliz. “Ele confessou, quando tinha cerca de oitenta anos de idade, que ele não podia se lembrar de estar realmente feliz como estado de mente nem por algumas semanas seguidas; e que, quando ele desejou se sentir feliz, ele teve de perscrutar sua autoconsciência.” (Ver Sinclair’s Anecdotes and Aphorisms, p. 280.)
Um nobre e poeta inglês será nossa próxima testemunha: eu falo de Lorde Byron. Se já houve um homem que deveria ser feliz de acordo com o padrão do mundo, este homem era Lorde Byron. Ele começou a vida com todas as vantagens da classe e posição inglesas. Ele tinha esplêndidas habilidades e poderes da mente, as quais ele cedo descobriu e estava pronto para honrar. Ele tinha uma suficiência de meios para gratificar qualquer desejo lícito, e nunca conheceu nada parecido à real pobreza. Humanamente falando, nada parecia impedi-lo de gozar a vida e ser feliz. Mas é um fato notório que Byron era um homem miserável. Miséria se destaca em seus poemas: miséria pula das letras. O cansaço, a saciedade, o desgosto e o descontentamento aparecem de todos os jeitos. Ele é um terrível aviso de que classe, título e fama literária, sozinhos, não são suficientes para fazer um homem feliz.
Um homem da ciência será a nossa próxima testemunha: eu falo de Sir Humphry Davy. Ele foi um homem eminentemente bem sucedido no tipo de vida que escolheu, e merecidamente. Um filósofo distinto, o inventor da famosa lâmpada de segurança que leva seu nome, e que tem preservado tantos pobres mineiros da morte por grisu, um Baronete do Reino Unido e Presidente da Sociedade Real; sua vida inteira parece uma contínua carreira de prosperidade. Se conhecimento somente fosse o caminho para a felicidade, esse homem pelo menos deveria ter sido feliz. Mas o que foi o real registro dos sentidos de Davy? Nós o temos no seu próprio diário melancólico na parte mais adiantada de sua vida. Ele se descreve em duas doloridas palavras: “Muito miserável!”.
Um homem de humor sagaz e do prazer será nossa próxima testemunha: eu falo de Lord Chesterfield. Ele falará de si mesmo: suas próprias palavras em uma carta serão seu testemunho: “Eu tenho visto a boba rodada de negócio e prazer, e estou farto de tudo isso. Eu tenho gozado todos os prazeres do mundo, e consequentemente conheço sua futilidade, e não me arrependo de perdê-los. Eu os avalio com seu real valor, que na verdade é muito baixo; enquanto que aqueles que nunca os experimentaram sempre os superestimam. Eles só veem seu gozo por fora, e ficam deslumbrados com seu brilho; mas eu tenho estado nos bastidores. Eu vi todas as grossas folias e as sujas cordas que exibem e movem a espalhafatosa máquina e eu tenho visto e cheirado as velas de sebo que iluminam toda a decoração para a surpresa e admiração da ignorante audiência. Quando eu reflito no que eu vi, no que eu ouvi e no que eu fiz, eu não consigo me persuadir de que toda a pressa frívola no alvoroço e o prazer do mundo tenham qualquer realidade. Eu olho tudo o que passou como um daqueles sonhos românticos que o ópio ocasiona e eu de jeito nenhum desejo repetir a nauseante dose por amor a esse sonho fugitivo.”
Essas frases falam por si mesmas. Eu não preciso adicionar uma palavra sequer.
Os homens de Estado e políticos que influenciam os destinos do mundo devem merecidamente ser nossas últimas testemunhas. Mas eu evito, em caridade cristã, trazê-los para a frente. Faz o meu coração doer quando eu passo os meus olhos sobre a lista de nomes famosos na história inglesa e penso quantos deles despedaçaram suas vidas numa luta sem fôlego por lugar e distinção. Quantos dos nossos grandiosos homens morreram de corações partidos, desapontados, desgostosos, e provados com falha constante! Quantos deixaram registrada alguma confissão humilhante de que na plenitude de seu poder eles estavam ansiosos por descanso, como uma águia enjaulada por liberdade! Quantos dos quais o mundo está aplaudindo como “donos da situação” que são, na realidade, pouco melhores do que os escravos nas galés, acorrentados ao remo e inaptos a se tornarem livres! Aliás, há várias tristes provas, tanto entre os vivos quanto entre os mortos, de que ser grande e poderoso não é ser necessariamente feliz.
Eu penso que é muito provável que os homens não acreditem no que estou falando. Eu sei algumas coisas sobre o engano do coração no assunto da felicidade. Há poucas coisas que o homem é tão resistente a acreditar quanto nas verdades que eu agora trago adiante sobre o caminho de se ser feliz.
Acompanhe-me enquanto eu digo algo mais.
Venha e fique comigo durante alguma tarde no coração da cidade de Londres. Vamos observar as faces dos mais ricos homens deixando suas casas de negócio no final do dia. Alguns deles valem centenas de milhares: alguns deles são dignos de milhões de libras. Mas o que está escrito no semblante desses sérios homens que vemos sair da Lombard Street e da Cornhill, do Banco da Inglaterra e da Bolsa de Valores? O que significa essas delineações nos sulcos de tantas bochechas e tantas sobrancelhas? O que significa esse ar de pensamentos profundos presente em cinco de cada seis que encontramos? Ah, essas coisas contam uma séria história. Elas nos contam que é preciso algo mais do que ouro e notas bancárias para fazer o homens felizes.
Venha agora e fique comigo perto das Casas do Parlamento, no meio de uma ocupada sessão. Vamos olhar as faces dos Peers e dos Commoners, cujos nomes são familiares e conhecidos por todo o mundo civilizado. Lá você pode ver num bom final de tarde de maio os mais poderosos homens de Estado na Inglaterra indo para um debate, como águias para uma carcaça. Cada um tem o poder de bem ou mal em sua língua que é temeroso contemplar. Cada um pode dizer coisas antes que o sol da tarde se ponha que podem afetar a paz e a prosperidade das nações e convulsionar o mundo. Ali você pode ver os homens que seguram as guias do poder e do governo; ali você pode ver os homens que estão diariamente procurando uma oportunidade de arrebatar essas guias de suas mãos e governar em seu lugar. Mas o que suas faces nos contam enquanto eles se apressam para seus lugares? O que pode se aprender de seu semblante aflito? O que se pode ler em tantas testas franzidas que parecem tão distantes e afundadas em pensamento? Elas nos ensinam uma solene lição. Elas nos ensinam que se precisa algo mais do que grandeza política para fazer os homens felizes.
Venha agora e fique comigo na parte mais elegante de Londres, na alta temporada. Vamos visitor Regent Street ou o Pall Mall, Hyde Park ou May Fair. Quantas caras de feirantes e equipamentos esplêndidos nós veremos! Quantos vamos contar em uma hora que parecem possuir os presentes mais seletos do mundo, beleza, riqueza, alta classe social, moda, e tropas de amigos! Em quantos semblantes nós leremos fadiga, insatisfação, descontentamento, angústia, ou infelicidade tão claros como se tivessem escritos com uma caneta! Sim: é uma lição humilhante para aprender, mas é muito saudável. É preciso algo mais do que classe, moda e beleza para fazer as pessoas felizes.
Venha depois e caminhe comigo por alguma quieta freguesia do campo da feliz Inglaterra. Vamos visitar algum canto isolado da nossa bela e velha mãe pátria, bem distante das grandes cidades e da dissipação da elegância e dos conflitos políticos. Há freguesias rurais onde não há ruas, nem casas públicas, nem bares, onde há trabalho para todos trabalhadores, e uma igreja para toda a população, e uma escola para todas as crianças, e um ministro do Evangelho para cuidar de todo o povo. Claramente, você dirá, nós iremos encontrar felicidade ali! Claramente alguma freguesia como essa tem de ser verdadeiras moradas de paz e gozo! Vá dentro de uma dessas casas de campo que parecem quietas e você será brevemente desiludido. Aprenda a história peculiar de cada família e você rapidamente irá mudar de ideia. Você irá logo descobrir que maledicência, mentira, calúnia, inveja, ciúmes, orgulho, preguiça, bebedeira, extravagância, luxúria e querelas mesquinhas podem assassinar a felicidade no campo até tanto quanto na cidade. Sem dúvida uma vila rural afigura-se bonita na poesia, e parece linda nas pinturas; mas na sóbria realidade a natureza humana é a mesma coisa ruim em qualquer lugar.
Aliás, é preciso algo mais do que a residência numa quieta freguesia campestre para fazer qualquer filho de Adão um homem feliz!
Eu sei, isso são coisas antigas. Elas foram ditas mil vezes antes sem efeito, e eu suponho que serão ditas sem efeito de novo. Eu não quero uma maior prova da corrupção da natureza humana do que a obstinação em procurar felicidade onde a felicidade não pode ser encontrada. Século após século homens sábios têm deixado registradas as suas experiências sobre o caminho de se ser feliz. Século após século os filhos dos homens vão achar que sabem o caminho perfeitamente bem, e não precisam ser ensinados.
Eles jogam aos ventos nossos avisos; eles se apressam, cada um, a sua passagem favorita; eles andam na vã sombra, e se inquietam a si mesmos em vão, e acordam quando é tarde demais para saber que sua vida foi um grande erro. Seus olhos estão cegos: eles não verão que suas visões são infundadas e desapontadoras como uma miragem no deserto africano. Como o viajante cansado nesses desertos, eles pensam que estão se aproximando de um lago de águas refrescantes; como o mesmo viajante, eles encontram, para seu desânimo, que esse lago fantasioso era uma esplêndida ilusão de ótica e que eles ainda estão desamparados no meio das quentes areias.
Você é uma pessoa jovem? Eu rogo a vocês a aceitarem o afetuoso aviso de um ministro do Evangelho, e não procurem felicidade onde felicidade não se pode achar. Não a procurem nas riquezas; não a procurem na classe e no poder; não a procurem no prazer; não a procurem no aprender. Todas essas são brilhantes e esplêndidas fontes: suas águas são doces. Uma multidão está em pé perto delas, a qual não irá deixá-las; mas, oh, lembre o que Deus escreveu em cada uma dessas fontes, “Quem beber desta água tornará a ter sede” (João 4:13). Lembre-se disso e seja sábio.
Você é pobre? Você é tentado a fantasiar que se você tivesse o lugar do homem rico você seria um pouco feliz? Resista à tentação e lance-a para trás de você. Não inveje seus vizinhos ricos: seja contente com aquelas coisas que você tem. Felicidade não depende de casas ou terras; sedas e cetins não podem fechar a angústia do coração; castelos e corredores não podem prevenir ansiedade e preocupação vindo à sua porta. Há tanta miséria montando e dirigindo as carruagens quanto há andando a pé: há tanta infelicidade em casas forradas quanto em chalés humildes. Oh, se lembre dos erros que são comuns acerca da felicidade, e seja sábio!
III. Permita-me agora, em último lugar, apresentar o caminho para ser realmente feliz.
Há um caminho certo que dirige à felicidade, se os homens pelo menos o tomassem. Nunca houve uma pessoa que viajou por este caminho e perdeu o objeto que queria atingir.
É um caminho aberto a todos. Não é necessário riquezas, nem classe, nem aprendizado em questão de caminhar nele. É para o servo assim como é para o senhor: é para o pobre assim como é para o rico.
Ninguém é excluído a não ser aqueles que se excluem. É o único caminho. Todos que já estiveram felizes, desde os dias de Adão, viajaram por ele. Não há uma estrada exclusiva da realeza para a felicidade.
Reis precisam estar contentes de ir lado a lado com os sujeitos mais humildes, se eles querem ser felizes.
Onde está este caminho? Onde está essa estrada? Escute, e você irá ouvir. O caminho de se ser feliz é ser real, completo e verdadeiramente de coração um cristão. A Escritura o declara: a experiência o prova. O homem convertido, o crente em Cristo, o filho de Deus, ele, e ele somente, é o homem feliz.
Parece simples demais para ser verdade: parece, à primeira vista, uma receita tão clara que não deve ser acreditada. Mas as maiores verdades frequentemente são as mais simples. O segredo que muitos dos mais sábios da terra têm falhado totalmente para descobrir é revelado aos mais humildes crentes em Cristo. Eu repito deliberadamente, e desafio o mundo provar o contrário: o verdadeiro cristão é o único homem feliz.
O que eu quero dizer quando falo do verdadeiro cristão? Será que eu falo de todo mundo que vai à igreja ou à capela? Será que falo de todos que professam um credo ortodoxo e encurva sua cabeça à crença? Será que falo de todos que professam amar o Evangelho? Não, por certo! Eu falo de algo bem diferente. Nem todos que são chamados de cristãos são cristãos. O homem que eu tenho em mente é o cristão em coração e em vida. Aquele que foi ensinado pelo Espírito a realmente sentir seus pecados, aquele que realmente descansa suas esperanças no Senhor Jesus Cristo, e em Seu sacrifício, ele que nasceu de novo e realmente vive uma vida espiritual e santa, aquele cuja religião não é um mero casaco de domingo, mas um poderoso princípio que restringe e governa todos os dias de sua vida, este é o homem de quem eu falo quando eu falo do cristão verdadeiro.
O que eu quero dizer quando falo que o verdadeiro cristão é feliz? Ele não tem dúvidas nem medos? Ele não tem ansiedades nem problemas? Ele não tem angústias e preocupações? Ele nunca sente dor nem derrama lágrimas? Longe de mim dizer qualquer coisa desse tipo. Ele tem um corpo fraco e frágil como os outros homens; ele tem afeições e paixões como qualquer outro nascido de mulher: ele vive num mundo cheio de mudanças. Mas no fundo de seu coração ele tem uma mina de sólida paz e gozo substancial que nunca se exaure. Essa é a verdadeira felicidade.
Será que eu estou dizendo que todos os cristãos verdadeiros são igualmente felizes? Não, nem por um momento! Há bebês na família de Cristo bem como homens velhos; há membros fracos do corpo místico bem como outros fortes; há cordeiros tenros bem como ovelhas. Há não só os cedros do Líbano, mas também o hissopo que cresce na parede. Há graus de graça e graus de fé. Aqueles que têm mais fé e graça têm mais felicidade. Mas todos, mais ou menos, comparados aos filhos do mundo, são homens felizes.
Será que eu estou dizendo que todos reais e verdadeiros cristãos são igualmente felizes em qualquer tempo? Não, nem por um momento! Todos têm seus fluxos e refluxos de conforto: alguns, como o mar Mediterrâneo, quase insensivelmente; alguns, como a maré em Chepstow de cinquenta ou sessenta pés por vez. A saúde de seu corpo não é sempre a mesma; suas circunstâncias terrenas não são sempre as mesmas; as almas dos que amam os enchem, às vezes, com especial ansiedade: eles próprios às vezes são sobrecarregados por alguma falta e andam em trevas. Eles às vezes perdem para inconsistências e pecados assediadores e perdem seu senso de perdão.
Mas, como uma regra geral, o verdadeiro cristão tem uma profunda reserva de paz dentro dele, que até quando está mais vazia não está inteiramente seca.
O verdadeiro cristão é o único homem feliz porque sua consciência está em paz. Aquele misterioso testemunho para Deus, o qual é tão misericordiosamente colocado dentro de nós, é completamente satisfeito e está em descanso. Ele vê no sangue de Cristo um lavar completo de toda culpa.
Ele vê que por meio do sacrifício e morte de Cristo, Deus agora pode ser justo e justificador do ímpio. Ele não mais morde e alfineta e faz seu possuidor temeroso dele mesmo. O Senhor Jesus Cristo encontrou amplamente todos os seus requerimentos.
A consciência não está mais como inimiga do verdadeiro cristão, mas é sua amiga e conselheira.
Portanto, ele está feliz.
O verdadeiro cristão é o único homem feliz, porque ele pode se sentar quietamente e pensar sobre sua alma. Ele pode olhar para trás e para antes dele, ele pode olhar dentro dele e em volta dele, e sentir, “tudo está bem.” Ele pode pensar calmamente na sua vida que passou e, por mais que seus pecados sejam muitos e grandes, tem conforto que eles foram todos perdoados. A justiça de Cristo cobre tudo, assim como o dilúvio de Noé ultrapassou as mais altas colinas. Ele pode pensar calmamente sobre as coisas que virão, e ainda não se amedrontar. Enfermidade é dolorosa; morte é solene; o dia do juízo é uma coisa terrível: mas tendo Cristo por ele, ele não tem nada a temer. Ele pode pensar calmamente sobre o Santo Deus, cujos olhos estão em todos os seus caminhos, e sentir, “Ele é meu Pai, meu Pai reconciliado em Cristo Jesus. Eu sou fraco; Eu sou inútil: mas em Cristo ele me considera com Seu filho amado no qual se compraz.”
Oh, que bendito privilégio é ser apto a pensar, e não estar amedrontado! Eu posso entender bem a queixa triste do prisioneiro no confinamento solitário. Ele tinha calor, comida e trabalho, mas não estava feliz. E por quê? Ele disse, “Ele era obrigado a pensar.”
O verdadeiro cristão é o único homem feliz, porque ele tem fontes de felicidade inteiramente independentes deste mundo. Ele tem algo que não pode ser afetado pelas doenças e pelas mortes, por perdas privadas e calamidades públicas, a “paz de Deus que excede todo o entendimento.” Ele tem uma esperança depositada para ele no céu; ele tem um tesouro que traça e ferrugem não podem corromper; ele tem uma casa que nunca pode ser destruída. Sua amorosa esposa pode morrer, e seu coração pode se rachar em dois; seus queridos filhos podem ser tirados dele, e ele pode ficar sozinho neste mundo frio; seus planos terrestres podem ser riscados; sua saúde pode falhar: mas em todo esse tempo ele tem uma porção que nada pode atingir; Ele tem um Amigo que nunca morre; ele tem possessões além do túmulo, das quais nada pode privar dele: suas fontes inferiores podem falhar, mas suas fontes superiores nunca secarão. Isso é real felicidade.
O verdadeiro cristão é feliz, porque ele está na posição correta dele. Todos os poderes de seu ser estão direcionados aos fins certos. Suas afeições não estão configuradas para as coisas de baixo, mas para as coisas de cima; sua vontade não está curvada à auto-indulgência, mas está submissa à vontade de Deus; sua mente não está absorta em futilidades miseráveis e perecíveis. Ele deseja um emprego útil: ele desfruta o luxo de fazer o bem. Quem não conhece a miséria da desordem? Quem não provou o desconforto de uma casa onde tudo e todos estão em lugares errados, as coisas últimas primeiro e as coisas primeiras por último? O coração do não convertido é justamente igual a tal casa. A graça põe tudo no coração na posição certa. As coisas da alma vêm em primeiro e as coisas do mundo vêm em segundo.
Anarquia e confusão cessam: paixões rebeldes não mais levam os homens a fazer o que é certo aos seus próprios olhos. Cristo reina sobre o homem inteiro e cada parte dele faz seu trabalho adequado. O novo coração é o único coração realmente leve, porque ele é o único coração que está em ordem. O verdadeiro cristão encontrou o seu lugar. Ele deixou seu orgulho e interesse próprio; ele se senta aos pés de Jesus, e está com a mente certa: ele ama a Deus e ama ao homem, e então é feliz. No céu todos seremos felizes porque todos faremos a vontade de Deus perfeitamente. Quanto mais um homem chega perto desse padrão, mais feliz ele será.
A clara verdade é que sem Cristo não há felicidade neste mundo. Somente Ele pode dar o Consolador que permanece para sempre. Ele é o sol; sem Ele os homens nunca se sentirão quentes. Ele é a luz; sem Ele os homens sempre estarão nas trevas. Ele é o pão; sem Ele os homens sempre estarão famintos.
Ele é a água da vida. Sem Ele os homens sempre estarão com sede. Dê-lhes o que quiser, coloque-os onde lhes agradar, brinde-os com todos os confortos que possam imaginar, não faz diferença. Separe-o de Cristo, o Príncipe da Paz, e o homem não poderá ser feliz.
Dê a um homem um interesse sensível em Cristo, e ele vai ser feliz apesar da pobreza. Ele vai te contar que ele não quer nada que é realmente bom. Ele está provido: ele tem riquezas em possessão e riquezas em reversão; ele tem carne para comer que o mundo não conhece; ele tem amigos que nunca o deixarão nem o desampararão. O Pai e o Filho vêm a ele, e fazem morada nele: o Senhor Jesus ceia com ele, ele com Cristo (Apocalipse 3:20).
Dê a um homem um interesse sensível em Cristo, e ele vai ser feliz apesar da enfermidade. Sua carne pode gemer, e seu corpo pode estar desgastado com dor, mas seu coração vai descansar e estar em paz. Uma das mais felizes pessoas que eu já vi foi uma jovem mulher que tinha sido desesperadamente doente por tantos anos com uma doença de coluna. Ela estava num sótão sem fogo; o sopé de palha não estava nem dois pés sobre sua cabeça. Ela não tinha a menor esperança de recuperação. Mas ela estava sempre se regozijando no Senhor Jesus. O espírito triunfou fortemente sobre a carne. Ela estava feliz, porque Cristo estava com ela.
Dê a um homem um interesse sensível em Cristo, e ele vai ser feliz apesar das abundantes calamidades públicas. O governo desse país pode cair em confusão, rebelião e desordem pode virar tudo de ponta cabeça, leis podem ser pisadas debaixo dos pés; justiça e equidade podem ser ultrajados; liberdade pode ser jogada no chão; poder pode prevalecer sobre o certo: mas ainda seu coração não irá falhar. Ele vai se lembrar de que o reino de Cristo um dia vai ser estabelecido. Ele vai dizer, como o antigo ministro escocês que viveu sem se mover durante o tumulto da primeira revolução francesa: “Está tudo bem: vai ser bom para o justo”.
Eu sei muito bem que Satã odeia a doutrina que eu estou me esforçando para apresentar a vocês.
Eu não tenho dúvida de que ele está enchendo sua mente com objeções e raciocínios, e persuadindo-o de que eu estou errado. Eu não tenho medo de encontrar essas objeções face a face. Vamos trazê-las para frente e ver quais são.
Você pode me dizer que “você conhece muitas pessoas religiosas que não são tão felizes” Você os vê atender diligentemente à participação do culto público. Você sabe que eles nunca perdem o Sacramento da Ceia do Senhor. Mas você não vê nelas as marcas de paz que eu tenho descrito.
Mas você está certo de que essas pessoas das quais fala são verdadeiros crentes em Cristo? Você está certo de que, com toda sua aparência de religiosa, elas são nascidas de novo e convertidas a Deus? Não é mais provável que elas não têm nada mais do que o nome do Cristianismo, sem a realidade; e uma forma de piedade, sem o poder? Aliás, você ainda tem de aprender que pessoas que podem fazer muitos atos religiosos, mas que ainda não possuem religião salvadora! Um Cristianismo meramente formal, cerimonial, nunca irá fazer as pessoas felizes. Nós queremos algo mais do que ir à Igreja, e ir aos sacramentos, para ter felicidade. É preciso haver união real e vital com Cristo. Não é o cristão formal, mas o cristão verdadeiro, que é o homem feliz.
Você pode me contar que “você conhece pessoas realmente com mentes espirituais e convertidas que não parecem felizes.” Você as ouve frequentemente reclamando de seus próprios corações e gemendo acerca de sua própria corrupção. Eles parecem para você todas somente dúvidas, ansiedades e temores; e você quer saber onde há felicidade nessas pessoas das quais eu tenho tanto dito.
Eu não nego que há muitos santos de Deus tais como esses que você descreveu, e eu sinto muito por isso. Eu logo digo que há muitos crentes que vivem debaixo de seus privilégios, e parecem nada conhecer de gozo e paz em crer. Mas você já perguntou a algum desses se eles desistiriam da posição na religião que eles atingiram e voltariam ao mundo? Você já lhes perguntou, depois de todos seus gemidos, dúvidas, e temores, se eles pensam que seriam mais felizes se eles parassem de seguir firmemente a Cristo? Você já lhes fez alguma dessas perguntas? Eu estou certo de que se você o fizesse, os mais fracos e os mais baixos dos crentes dariam uma só resposta, eu estou certo de que eles falariam que iriam antes se agarrar à sua pequena fagulha de esperança em Cristo do que possuir o mundo. Eu estou certo de que eles todos iriam responder, “nossa fé é fraca, se nós temos alguma; nosso gozo em Cristo é próximo de nada: mas nós não podemos desistir do que temos. Ainda que o Senhor nos esmague, nós precisamos nos agarrar a Ele” A raiz da felicidade está profundamente no coração de muitos dos crentes pobres e fracos, mesmo quando nem folhas nem pétalas são vistas!
Mas você irá me dizer, em último lugar, que “você não pode pensar que a maioria dos crentes é feliz, porque eles são tão graves e sérios.” Você pensa que eles não possuem realmente está felicidade que eu venho descrevendo, porque seus semblantes não a mostra. Você dúvida da realidade de seu gozo, porque é muito pequeno para ser visto.
Eu posso facilmente repetir o que eu lhe disse no começo do texto, que uma face alegre não é uma prova certa de um coração feliz. Mas eu não o farei.
Antes, irei lhe perguntar se você mesmo não pode ser a causa porque os crentes parecem graves e sérios quando você os encontra? Se você mesmo não se converteu, você com certeza não pode esperar que eles lhe observem sem angústia. Eles veem você no caminho para a destruição e isso somente é suficiente para dar-lhes dor: eles veem milhares como você apressando-se para o choro, o gemer e o ai sem fim. Agora, é possível que esse olhar diário não os dê dor? Sua companhia, mui provavelmente, é uma causa porque eles são tão graves. Espere até você ser um homem convertido antes de julgar sobre a gravidade nas pessoas convertidas. Veja eles em companhia com todos que são um coração, e todos amam a Cristo, e até onde a minha própria experiência vai, você não vai encontrar pessoas tão verdadeiramente felizes quanto os verdadeiros cristãos.
Eu repito a minha afirmação desta parte do meu assunto. Eu repito-a corajosamente, confiantemente, deliberadamente. Eu digo que não há felicidade entre homens que possa ser comparada com aquela do verdadeiro cristão. Toda outra felicidade ao lado dele é a luz da lua comparada à luz do sol, e o latão ao lado do ouro. Orgulhe-se, se você quiser, da risada e do divertimento de homens não religiosos; zombe, se quiser, da gravidade e da seriedade, que aparece no comportamento de muitos cristãos. Eu tenho olhado para toda a matéria cara a cara, e eu não me movi. Eu digo que somente o verdadeiro cristão é o homem verdadeiramente feliz, e que o caminho para se ser feliz é ser um verdadeiro cristão.
E agora eu vou terminar este texto com umas poucas palavras de clara aplicação. Eu tenho me esforçado para mostrar o que é essencial à verdadeira felicidade. Eu tenho me esforçado para expor a falácia de muitas visões que prevalecem no assunto. Eu tenho me esforçado para apontar, em palavras claras e inequívocas, o único lugar em que se pode achar a verdadeira felicidade. Deixe-me acabar tudo isso por um afetivo apelo às consciências de todos em cujas mãos este volume possa cair.
(1) Em primeiro lugar, deixe-me suplicar a todo leitor deste texto a aplicar a seu próprio coração o solene inquérito: você é feliz?
Alto ou baixo, rico ou pobre, mestre ou servo, fazendeiro ou trabalhador, jovem ou velho, aqui está a questão que merece uma resposta: você é realmente feliz?
Homem do mundo, você que não se importa com nada senão com as coisas temporais, negligenciando a Bíblia, fazendo um deus dos negócios ou do dinheiro, preparando-se para tudo menos para o dia do juízo, fazendo esquemas e planejando sobre tudo menos a eternidade: você é feliz? Você sabe que não é.
Mulher tola, que tem jogado a vida fora futilmente em leviandade e frivolidade, gastando horas após horas nesse frágil corpo que cedo vai alimentar os vermes, fazendo um ídolo do vestir e da moda, do entusiasmo e do louvor humano, como se esse mundo fosse tudo: você é feliz? Você sabe que não é.
Jovem, você que tem estado encurvado ao prazer e a auto-indulgência, tremulando de um passatempo ocioso para outro como uma mariposa sobre a vela, imaginando-se como esperto e conhecedor, sábio demais para ser liderado por pessoas, e ignorante de que o diabo o tem cativo como o boi que é levado ao matadouro: você é feliz? Você sabe que não é.
Sim: cada um de vocês, vocês não são felizes? E nas suas próprias consciências vocês sabem disso muito bem. Vocês podem não admitir, mas é tristemente verdade. Há um grande vazio em cada um de seus corações, e nada vai enchê-los. Encha-o com dinheiro, aprendizado, classe, e prazer, e ainda vai estar vazio. Há um dolorido lugar em cada uma de suas consciências, e nada vai curá-lo. Infidelidade não pode; pensamento livre não pode; Romanismo não pode: eles são todos remédios impostores. Nada pode curá-lo, mas o simples presente que você não usou, o simples Evangelho de Cristo. Sim: vocês são com certeza um povo infeliz!
Marque neste dia que você nunca vai ser feliz até você ser convertido. Assim como você pode esperar sentir o sol brilhar na sua face quando você dá as costas a ele, você também pode esperar se sentir feliz quando você der as costas a Deus e a Cristo.
(2) Em segundo lugar, permita-me advertir todos que não são verdadeiros cristãos da tolice de viver uma vida que não lhes pode fazer feliz.
Eu tenho pena de vocês do fundo do meu coração e iria de bom grado o persuadir a abrir seus olhos e ser salvo. Eu estou como o atalaia na torre do eterno Evangelho. Eu os vejo colher miséria para si mesmos, e eu chamo vocês para pararem e pensarem, antes que seja tarde demais. Oh, que Deus mostre a vocês suas tolices!
Vocês estão talhando cisternas para vocês, cisternas quebradas, que não podem reter água alguma. Vocês estão desperdiçando seu tempo, força e afeições naquilo que vai dar nenhum retorno pelo seu trabalho; “gastando seu dinheiro naquilo que não é pão, e seu trabalho naquilo que não satisfaz”16 (Is 55:2). Vocês estão construindo Babéis de suas próprias maquinações e são ignorantes de que Deus vai derramar contenda em seus esquemas para procurar felicidade, por causa da sua tentativa para ser feliz sem Ele.
Acordem dos seus sonhos, eu suplico, e se mostrem homens. Pensem na inutilidade de viver uma vida que vocês estarão envergonhados quando morrerem, e em ter uma religião meramente nominal, que vai falhar quando vocês mais precisarem.
Abra seus olhos e olhe em volta para o mundo. Conte-me quem já foi realmente feliz sem Deus ou Cristo ou o Espírito Santo. Olhe para o caminho em que você está viajando. Note as pegadas daqueles que passaram antes de você: veja quantos saíram dela e confessaram que estavam errados.
Eu o advirto claramente que se você não é um verdadeiro cristão você vai perder felicidade no mundo que é agora, como também no mundo que há de vir. Oh, acredite, o caminho da felicidade e o caminho da salvação são um e o mesmo! O que seguir seu próprio caminho, e se negar a servir a Cristo, nunca será realmente feliz. Mas aquele que serve a Cristo tem a promessa em ambas as vidas. Ele é feliz na terra e ainda será feliz no céu.
Se você não é feliz neste mundo nem no próximo, será tudo culpa sua. Oh, pense nisso! Não seja culpado de tamanha tolice. Quem não chora sobre a tolice do bêbado, do usuário de ópio e do suicida? Mas não há tolice semelhante a do impenitente filho do mundo.
(3) Em terceiro lugar, permita-me rogar a todos os leitores deste livro, que ainda não são felizes, a buscarem felicidade no único lugar que pode ser encontrada.
As chaves para o caminho da felicidade estão nas mãos do Senhor Jesus Cristo. Ele é selado e apontado por Deus o Pai para dar o pão da vida aos famintos, e dar a água da vida aos sedentos. A porta que riquezas, status e aprendizado tem tanto tentado abrir, e tentaram em vão, agora está pronta para ser aberta para todo crente humilde que ora. Oh, se você quer ser feliz, venha a Cristo!
Venha a Ele, confessando que você está cansado dos seus próprios caminhos, e quer descansar, que você descobriu que não tem poder e força para fazer por si santo ou feliz ou adequado para o céu, e não tem esperança a não ser nEle. Conte tudo a Ele sem reservas. Isso é vir a Cristo.
Venha a Ele, implorando-O a mostrar-lhe a misericórdia dEle, e conceder-lhe a salvação dEle para lavá-lo no Seu próprio sangue, e tirar fora todos os nossos pecados, para falar paz à sua consciência, e curar sua perturbada alma. Conte a Ele tudo isso sem reservas. Isso é vir a Cristo.
Você tem tudo para o encorajar. O próprio Senhor Jesus lhe convida. Ele proclama a você bem como aos outros: “vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30). Não espere por nada. Você pode se sentir indigno. Você pode sentir como se você não tivesse arrependido o suficiente. Mas não espere mais. Venha a Cristo. Você tem tudo para o encorajar. Milhares têm caminhado no caminho que você é convidado a entrar, e o acharam bom. Uma vez, como você, eles se tornaram cansados de sua perversidade, e desejaram libertação e descanso. Eles ouviram de Cristo, e de Sua disposição para ajudar e salvar: eles vieram a Ele por fé e por oração, depois de muita dúvida e hesitação; eles O acham mil vezes mais gracioso do que eles esperavam. Eles descansaram nEle e foram felizes: eles carregaram Sua cruz e provaram paz. Oh, ande em seus passos. Eu imploro a você, pelas misericórdias, para vir a Cristo. Já que você sempre será feliz, eu lhe rogo a vir a Cristo. Expulse os atrasos. Acorde do seu passado de sono: levante-se, e seja livre! Venha a Cristo neste dia.
(4) Em último lugar, permita-me oferecer algumas sugestões para todos os cristãos incrementarem e promover a felicidade deles. Eu ofereço essas dicas com modéstia. Eu desejo aplicá-las a minha própria consciência bem como às suas. Você descobriu que o serviço a Cristo é feliz. Eu não tenho dúvidas de que você sentiu tal doçura na paz de Cristo que você iria de bom grado querer provar mais dela. Eu estou certo de que essas dicas merecem atenção.
Crentes, se vocês querem ter um aumento da felicidade no serviço a Cristo, trabalhe todo ano para crescer na graça. Atente-se acerca de ficar parado. Os homens mais santos sempre são os mais felizes.
Permita que seu alvo seja ser todo ano mais santo, conhecer mais, sentir mais, ver mais a plenitude de Cristo. Não descanse sobre a velha graça: não esteja contente com o grau de religião que você alcançou.
Examine as Escrituras mais seriamente; ore mais fervorosamente; odeia mais ao pecado; mortifique a obstinação mais; torne-se mais humilde ao se achegar perto do seu fim. Busque mais comunhão pessoal e direta com o Senhor Jesus; lute mais para ser como Enoque, — diariamente andando com Deus; mantenha sua consciência limpe de pecados pequenos; não entristeça o Espírito; evite discussões e disputas sobre matérias pequenas da religião: apoie-se mais firmemente sobre aquelas grandes verdades, sem as quais nenhum homem pode ser salvo. Lembre e pratique essas coisas, e você será mais feliz.
Crentes se vocês querem ter um aumento da felicidade no serviço de Cristo, trabalhem todo ano para serem mais agradecidos. Ore para que você possa conhecer mais e mais do que é “regozijai-vos no Senhor” (Filipenses 3:1). Aprenda a ter um senso mais profundo de sua própria miserável pecaminosidade e corrupção, e ser mais profundamente grato, porque pela graça de Deus você é o que é. Aliás, há muita reclamação e pouca ação de graças entre o povo de Deus! Há muita murmuração e ambição pelas coisas que nós não temos. Há pouco louvor e benção pelas muitas imerecidas misericórdias que nós temos. Oh, que Deus derrame sobre nós um grande espírito de gratidão e louvor!
Crentes, se vocês querem ter um aumento da felicidade no serviço de Cristo trabalhe todo ano para fazer mais o bem. Olhe a sua volta no círculo em que sua área está, e desenvolva-se para ser útil. Lute para ser do mesmo caráter do que Deus: Ele não só é bom, mas também “fazes o bem” (Salmo 119:68).
Aliás, há egoísmo demais entre crentes nos presentes dias! Há demais sentar perto do fogo para cuidar das nossas próprias doenças espirituais, demais coaxar sobre os nossos próprios corações. Levante-se; e seja útil ao seu dia e geração! Não há ninguém em todo mundo para quem você possa ler? Não há ninguém com quem você possa conversar? Não há ninguém para quem você possa escrever? Não há literalmente nada que você possa fazer para a glória de Deus, e para o benefício de seus companheiros? Oh, eu nem penso nisso! Eu não posso pensar nisso. Há muito que você pode fazer, se ao menos quisesse. Para a saúde de sua própria felicidade, levante-se e o faça, sem atrasos. O bravo e falante trabalhador cristão é sempre o mais feliz. O quanto mais você faz por Deus, mais Deus fará por você.
Leitor, peço-lhe que reflita sobre as coisas que eu tenho dito. Que você nunca descanse até que possa dar uma resposta satisfatória a minha pergunta: você está feliz? Leitor, se você é capaz de responder a minha pergunta de forma satisfatória, peço-lhe para que nunca mais esqueça que uma grande decisão no serviço de Cristo é o segredo de uma grande felicidade. O cristão descomprometido, e não o persistente, jamais deve esperar para provar paz perfeita.
O CRISTÃO MAIS DECIDIDO SEMPRE SERÁ O HOMEM MAIS FELIZ.
J. C. Ryle
Enviado por Silvio Dutra Alves em 27/05/2014