Evangelho 7
Depois de ter-se referido aos cristãos como sal da terra e luz do mundo, Jesus disse o seguinte em relação à Lei dada por Deus a Moisés:
“17 Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir.
18 Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido.
19 Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.
20 Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” (Mt 5.17-20)
O tema aqui referido é o da justiça do evangelho, a justiça do reino de Deus que Jesus veio inaugurar com sua morte na cruz, e o impacto deste grande evento em nossas próprias vidas.
Ele havia falado pouco antes, no final das bem-aventuranças sobre a perseguição que é deflagrada contra os seus discípulos, em razão de terem e viverem a sua própria justiça, que lhes é atribuída e implantada.
Então, para que não se pensasse num julgamento errôneo que esta justiça era algo desvinculado do que se achava revelado nas Escrituras do Velho Testamento (“Lei e Profetas”), nosso Senhor se apressou em desfazer qualquer equívoco neste sentido, afirmando que mais do que confirmar tais Escrituras, Ele viera para lhes dar cumprimento.
Todavia, a nova aliança que Ele veio inaugurar com base no seu sangue (Novo Testamento) era um passo além de tudo o que havia sido revelado no Antigo Testamento, uma vez que a justiça do cidadão do reino, alcançado pelo evangelho, é muito maior do que a que existia no período de vigência da Antiga Aliança, a qual era representada e praticada sobretudo pelos escribas e fariseus.
A justiça da lei se baseava num pacto de obras, e a justiça do evangelho, num pacto de pura graça e fé.
Cumprir as prescrições morais, civis e cerimoniais da lei dada a Moisés, trazia a aprovação de Deus aos praticantes do antigo pacto, mas do cristão se exige muito mais do que a prática dos mandamentos morais da lei.
Exige-se conversão, conhecimento pessoal e real de Deus, por participação da sua natureza divina. Exige-se a mortificação do pecado e o revestimento das virtudes de Cristo, em sua própria vida. Exige-se um caminhar diário no Espírito e a proclamação do evangelho para a conversão e edificação de almas; entre outras exigências prescritas no Novo Testamento.
Outro aspecto a ser considerado quanto à justiça do cristão que deve exceder a dos escribas e fariseus, é o de que os judeus consideravam os escribas e os fariseus como sendo os expoentes das Sagradas Escrituras.
No entanto Jesus sublinhou que eles erravam tanto na exposição das Escrituras quanto na sua prática, mas Ele não somente faria a exposição correta do ensino da verdade das Escrituras, como também cumpriria perfeitamente todas as suas santas exigências.
Assim, não veio destruir a revelação do Antigo Testamento, mas confirmá-la, inclusive naqueles aspectos relativos à transposição profetizada no Velho Testamento, da Antiga para a Nova Aliança.
Era nEle, Jesus, que haveria este cumprimento.
Nosso Senhor comprovou a validade das Escrituras do Velho Testamento na Antiga Aliança, vivendo sob os costumes dos judeus determinados pela Lei para o referido período do Antigo Testamento, como também, inaugurou uma Nova Aliança, revogando a obrigatoriedade de cumprimento das disposições civis e cerimoniais da Lei, especialmente para que o evangelho alcançasse também as nações gentias.
Com seu ensino Jesus destacou que a lei de Deus é absoluta e que não pode ser mudada, nem modificada no mínimo. É absoluta e eterna. Suas exigências são permanentes, e nunca podem ser revogadas, nem reduzidas “até que passem o céu e a terra”.
Esta última expressão significa o fim dos tempos.
O céu e a terra são sinal de continuidade. Enquanto permanecerem, diz nosso Senhor, nada desaparecerá, nem um jota ou til da lei. Não há nada menor que isto no alfabeto hebraico.
Isto indica que a lei que Deus promulgou, e que pode ser encontrada no Antigo Testamento e em tudo o que os profetas disseram, se cumprirá até o mínimo detalhe, e permanecerá até que se tenha cumprido até a perfeição.
Logo, a vinda do Senhor teve o propósito de conduzir até a perfeição tudo o que está contido na lei e nos profetas.
De fato, muito do que está profetizado no Velho Testamento, teve cumprimento quando Jesus se manifestou em carne, e muito ainda do que está profetizado ainda aguarda pelo respectivo cumprimento, e as palavras de Jesus asseguram que tudo será cumprido a seu tempo, sem falhar.
E o principal em tudo o que há de se cumprir é a justificação de pecadores pela simples fé nEle.
Porque é este o caráter essencial da justiça do Novo Testamento. É a oferta pela graça da justiça do próprio Cristo, para a justificação de toda e qualquer pessoa, sem qualquer distinção.
A justiça da lei, continha também prescrições de condenação para as transgressões dos mandamentos, que deveriam ser aplicadas pelos juízes de Israel.
Mas a justiça da graça, da fé, do evangelho, não contém qualquer tipo de condenação, senão a oferta de livramento e salvação. Este é o caráter mesmo da justiça de Cristo na dispensação da graça.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 09/06/2014