Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Evangelho 8
“21 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, quem matar será réu de juízo.
22 Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno.
23 Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24 deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta.
25 Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda, e sejas lançado na prisão.
26 Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.” (Mt 5.21-26)

Ao usar a fórmula “ouvistes o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo” no Sermão do Monte, nosso Senhor Jesus Cristo não estava fazendo alterações na Lei de Moisés, porque havia afirmado antes que não veio revogar a Lei, mas cumpri-la.
Afinal, como Deus que é, Ele próprio havia dado a Lei a Moisés, e portanto, estava não modificando mas revelando o espírito da Lei, por uns poucos exemplos que havia tomado para apresentar em seu ensino relativo à forma de um cristão se relacionar com a Lei.
Ele tinha em vista combater especialmente o ensino errôneo dos escribas e fariseus quanto ao modo de se aplicar a Lei, pois eles não atentavam para o espírito da Lei, senão para a letra, e ainda assim, não faziam uma exposição adequada da letra da Lei sem alterar o modo como se encontra registrada nas Escrituras.
Eles se valiam da ignorância do povo de um modo geral da língua hebraica, na qual a Lei se encontrava escrita, porque desde que haviam sido deportados para Babilônia os judeus começaram a falar o aramaico no lugar do hebraico, e praticamente somente os escribas e fariseus detinham o conhecimento do hebraico, de maneira que tinham facilidade para ocultar o verdadeiro significado da Lei para o povo.
Entretanto faltava a eles próprios, a sabedoria para entenderem o verdadeiro significado e forma de aplicação dos preceitos de Deus constantes da Sua Palavra.
Então Jesus tratou de expor a verdadeira maneira de se tratar com a Lei, que como veremos adiante, era bastante diferente do modo como a mesma era apresentada ao povo pelos escribas e fariseus.  
Então quando Jesus disse “ouvistes o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo”, Ele certamente estava pretendendo afirmar senão que tudo o que eles vinham ouvindo desde há muito da parte dos escribas e fariseus deveria ser entendido à luz da interpretação correta, que Ele apresentaria agora quanto à forma de se honrar e aplicar a Lei de Deus à vida, pelos exemplos que seriam destacados por Ele (homicídio, adultério, amor ao próximo  etc – Mt 5.27-43)  para ilustrar o quanto erroneamente eles haviam sido ensinados quanto ao modo de se considerar a Lei.  
Para detalhar em que consistia a justiça que deveria exceder em muito a dos escribas e fariseus, conforme havia citado no verso precedente a estes (v. 20), Jesus começou a ilustrá-la com o ensino destes versos 21 a 26.
Este é o primeiro dos seis exemplos que Jesus apresentou para sua interpretação da lei de Deus em contraposição à dos escribas e fariseus.
Os escribas e fariseus haviam agregado ao mandamento não matarás das tábuas da lei de Moisés, o de que o assassino se faria réu de juízo, os escribas e fariseus reduziram as sanções divinas relativas ao mandamento “não matarás” a um simples castigo da parte das mãos dos magistrados civis.
Com isto, haviam esvaziado o mandamento de seu grande conteúdo e o haviam reduzido a uma simples questão de homicídio.
Além disso, não mencionavam nada relativamente ao juízo de Deus, porque se preocupavam somente com o juízo do Sinédrio.  
Mas nosso Senhor colocou a descoberto essa falácia dos escribas e fariseus mostrando que este mandamento não inclui  somente o ato físico de matar, senão também a ira contra um irmão. A verdadeira forma de entender o “Não matarás” é esta: ”Qualquer que se enfureça contra seu irmão, será culpado de juízo”, em ao propriamente o juízo dos homens, mas o de Deus.
Segundo nosso Senhor Jesus Cristo, abrigar inimizade no coração, é ser culpado de algo que, diante de Deus, é homicídio.
Odiar, enfurecer-se, abrigar esse sentimento desagradável e odioso de ressentimento contra uma pessoa é homicídio.
Porém isto não é tudo. Não somente não devemos nos irar e permanecer debaixo da influência da ira; como também não devemos mostrar desprezo. Porque qualquer que chamar seu irmão de raka será culpado ante o concílio. Desprezar a um irmão chamando-o de raka, é, segundo nosso Senhor, algo que, diante de Deus, é terrível.    
A pessoa que abriga o ódio em seu coração é homicida aos olhos de Deus porque impede que vida de Cristo prevaleça contra a sua própria morte espiritual. A pessoa que odeia está morta. Comete homicídio contra si mesma.
E o fato de desprezar, ofender, odiar o seu próximo, atesta este fato, e comprova que é de fato justo que seja julgada por Deus a uma condenação eterna.
Por isso nosso Senhor concluiu seu ensino sobre o mandamento “não matarás” com a citação dos versos 25 e 26.
Ele diz que não devemos demorar para nos livrarmos da mágoa e ressentimento contra um irmão, pelo exercício do perdão e da reconciliação, para que o nosso culto a Deus seja aceitável.
E em não havendo esta abertura de coração para a graça e o amor divino nos penetrarem, por permanecermos em nosso endurecimento iracundo, teremos que arcar com as consequências de sermos entregues à ação de espíritos malignos que aprisionarão nossa alma em cadeias, e que nos atormentarão, até que nos disponhamos ao perdão que nos é ordenado.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 09/06/2014
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