Evangelho 18
“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.” (Mt 7.12)
Sempre há o perigo de considerar a lei como algo em si mesmo e por si mesmo, e de pensar que a única coisa que há que se fazer é observar todas as regras e que, se assim o fazemos e nunca nos desviamos delas, se nunca nos excedemos em cumpri-las nem as cumprimos deficientemente, tudo irá bem. Contudo, todas estas ideias acerca da lei são completamente falsas.
Talvez podemos dizer que o perigo em que nos encontramos é pensar na lei como algo negativo, algo proibitivo. Claro que há aspectos da lei que são negativos; porém o que nosso Senhor enfatiza aqui é que a lei que Deus deu aos filhos de Israel por meio dos anjos e de Moisés é algo muito positivo, é algo espiritual. Nunca quis ser algo mecânico, e a falácia básica dos fariseus e dos escribas, e de todos seus seguidores, foi que reduziram algo essencialmente espiritual e vivo a nível do mecânico, a algo que era um fim em si mesmo. Pensaram que como não haviam matado a ninguém, haviam observado a lei relativa ao homicídio, e que, como hão haviam cometido adultério físico, tudo estava bem no sentido moral.
Se fizeram culpados de não verem o desígnio espiritual, o caráter espiritual da lei, e sobretudo de não verem o grande fim e objetivo para o que se havia dado à lei.
Aqui, nosso Senhor diz tudo nesta síntese perfeita. O propósito básico e o espírito verdadeiro que está na raiz de tudo isto é que devemos amar o próximo com a nós mesmos, que temos que nos amar uns aos outros.
Sendo como somos, contudo, não basta que se nos diga que nos amemos uns aos outros; tem que ser detalhado. Como resultado da Queda somos pecadores; em consequência não basta dizer: “Amai-vos uns aos outros”. Nosso Senhor, em consequência,o detalha e diz: do mesmo modo que valorizas tua própria vida, recorda que os outros também valorizam as suas, e que se tua atitude para com um homem é adequada, não matarás a esse homem, porque sabes que valoriza sua vida como tu valorizas a tua. O vital, depois de tudo, é que ames a esse homem, que o compreendas e desejes o bem-estar do teu próximo, dom esmo modo como desejas teu próprio bem-estar. Esta é a lei e os profetas. Tudo se reduz a isto. As normas detalhadas que são dadas no Velho Testamento – o que se te diz que faças, por exemplo, se vês que o boi do teu vizinho fugiu, com tens que levá-lo,ou se vês que algo vai mal em seus cultivos, como tens que informar-lhe imediatamente e fazer todo o possível para ajudá-lo.
Agora, devemos aplicar tudo isto ao mundo moderno e a nós mesmos. As pessoas ouvem a regra de ouro, a louvam como maravilhosa e estupenda, e como uma síntese perfeita de um tema importante e complicado. Porém a tragédia é que, depois de tê-la louvado, não a cumprem. E depois de tudo, a lei não foi dada para ser louvada senão para ser praticada. Nosso Senhor não pregou o Sermão do Monte para que vocês e eu o pudéssemos comentar, senão para que o cumpríssemos.
A razão para que todos os homens, por instinto e natureza, não se apressem a colocar em prática esta regra de ouro é porque são egoístas.
Tudo pode ser reduzido numa palavra: o ego. Nosso Senhor diz que deveríamos amar ao próximo como a nos mesmos. Porém, isso é o que não fazemos, e não queremos fazê-lo, porque amamos o eu demasiadamente e numa forma equivocada. Não fazemos aos demais como gostaríamos que eles fizessem a nós, porque estamos sempre pensando somente acerca de nós mesmos, e nunca nos dedicamos a pensar nos outros.
Como pode alguém colocar em prática esta regra de ouro? Como pode nossa conduta e atitude se conformar com o que nosso Senhor nos diz aqui? A resposta do evangelho é que tem que se começar com Deus. Qual é o maior mandamento? É este: “Amarás ao Senhor teu Deus com todo teu coração, e com toda a tua alma, e com toda a tua mente”. E o segundo é semelhante: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
Se não amarmos primeiro a Deus não poderemos amar o próximo.
Por D. M. Lloyd Jones ( traduzido e adaptado por Silvio Dutra)
D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/06/2014