Evangelho 19
“13 Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;
14 e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram.” (Mt 7.13,14)
A notável e surpreendente afirmação dos versículos 13 e 14, é importantíssima e vital. Podemos dizer sem temor de nos equivocar que Jesus concluiu realmente o Sermão do Monte propriamente dito, e que de agora em diante o que faz é arrematá-lo, aplicá-lo, fazendo ver a seus ouvintes a importância e necessidade de praticá-lo e cumpri-lo na vida diária.
Temos visto em nossos estudos que a seção do Sermão que ocupa o sétimo capítulo de Mateus tem uma unidade essencial, um tema comum, a saber, o do juízo. A rigor, o Sermão é concluído no versículo 12, onde Jesus resumiu todos os princípios que queria inculcar (“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.” V.12).
O objetivo do Senhor neste sermão, como temos visto, é o de conduzir os cristãos a darem conta de sua natureza e caráter como povo de Deus, e em seguida lhes mostrar como têm que manifestar essa natureza e caráter na vida diária. Nosso Senhor, o Filho de Deus, veio do céu à terra para fundar e estabelecer um novo reino, o reino dos céus. Veio aos reinos deste mundo, e seu propósito é chamar a si pessoas do mundo e constituí-las em reino. Por conseguinte, é essencial que proponha com toda clareza que este reino que veio estabelecer é completamente diferente de tudo o que o mundo tem conhecido, porque é o reino de Deus, o reino da luz, o reino dos céus. Seu povo deve dar-se conta de que é algo único e distinto; por isso, lhes faz uma descrição do mesmo. Temos estudado essa descrição. Temos examinado o retrato geral que se faz do cristão nas Bem-Aventuranças. Temos escutado o Senhor dizer a este povo, que precisamente por ser esta classe de pessoas, que o mundo reagiria de forma especial em relação a elas; e que as perseguiria. Contudo, não têm que sair do mundo para se converter em monges e eremitas; têm que permanecer na sociedade como sal e luz; têm que guardar a sociedade da putrefação e da decomposição, e têm que ser luz; essa luz, sem a qual o mundo permanece num estado de trevas absolutas.
Uma vez feito isto, passa à aplicação prática e à elaboração disso. Recorda-lhes o tipo de vida que têm que viver, tem de ser completamente diferente, inclusive superior à das pessoas mais religiosas que existiam naquele tempo.
Contrasta seu ensino com o dos fariseus, dos escritas e dos sacerdotes da lei. Eram considerados como os melhores, os mais religiosos, e contudo mostra ao Seu povo que a sua justiça deve superar a deles. E passa a lhes mostrar como isto deve ser feito dando-lhes instruções detalhadas como por exemplo como se deve dar esmolas, como se deve orar, e como devem jejuar. Finalmente se ocupa de toda a nossa atitude em relação à vida neste mundo, e de nossa atitude para com o julgamento das demais pessoas.
E agora, havendo feito isto, faz uma pausa, por assim dizer, para contemplar os seus e dizer: “bem, este é meu propósito. Que vão fazer? De nada aproveita escutar este sermão, se vão se contentar em escutá-lo. Que vão fazer?”. Passa, em outras palavras, à exortação, à aplicação.
O método do Senhor deve ser o nosso método. Não há verdadeira pregação se não se aplica a mensagem e a verdade que ela contém; não há verdadeira exposição da Bíblia se nos contentamos em explicar uma passagem e não fazer depois a devida aplicação. A verdade deve ser incorporada à vida, e tem de ser vivida. A exortação e a aplicação são partes essenciais da pregação. Vemos como nosso Senhor faz precisamente isto aqui. O resto deste sétimo capítulo não é senão uma grande aplicação da mensagem do Sermão do Monte para aqueles que o ouviram pela primeira vez, e para todos os que, em todos os tempos, pretendem ser cristãos.
Em consequência, agora passa a submeter à prova os seus ouvintes. Diz de fato: “tenho terminado o sermão. Agora devem se perguntar: o que vou fazer? Qual é minha reação? Vou me contentar com cruzar os braços e dizer com muitos outros que é um sermão maravilhoso, que é a mais grandiosa concepção da vida que o gênero humano tem conhecido – moral tão sublime, uma elevação tão maravilhosa – que é a vida ideal que todos deveriam viver?”. O mesmo se aplica a nós. É essa nossa reação? Limitarmo-nos a louvar o Sermão do Monte? Se é assim, segundo nosso Senhor, seria o mesmo que não tivesse sido pregado. O que Ele quer não é elogio; é prática. O Sermão do Monte não deve ser simplesmente elogiado, tem que ser praticado.
Assim segue dizendo que há outra prova, a prova do fruto. Há muitos que têm elogiado este sermão porém que nunca o têm encarnado em suas vidas. Cuidado com essas pessoas, diz nosso Senhor. O que importa realmente não é a aparência de uma árvore; a pedra de toque é o fruto que ela dá.
Deste modo há uma prova final, e é a que as circunstâncias nos aplicam. Que sucede quando o vento começa a soprar, e o furacão ameaça, e cai a chuva produzindo inundações que sacodem a casa da nossa vida? Ela se mantém de pé? Esta é a prova. Noutras palavras, o interesse que tenhamos por estas coisas de nada serve e não tem valor a não ser que signifique que temos algo que nos permitirá permanecer firmes nas horas mais tenebrosas e críticas de nossa vida. Assim é como Jesus faz a aplicação.
Ao escutar estas coisas, ao ouvi-las, já não basta elogiá-las; segundo nosso Senhor é sumamente perigoso. Este sermão é prático; foi pregado para ser vivido. Não é uma simples ideia ética; é algo que temos que realizar e por em prática. E somos exortados a fazê-lo sempre à luz do juízo, sabendo que Deus é Onipresente e julga todos os nossos pensamentos e ações. E isto não é apenas o ensino do Sermão do Monte, é o ensino de todo o Novo Testamento.
Tomemos qualquer passagem da Bíblia como a carta aos Efésios, capítulos 4 e 5. Ali temos exatamente o mesmo. O apóstolo lhes dá conselhos práticos, lhes diz que não mintam, que não furtem, que amem, que sejam amáveis e de coração terno. Isso não é senão uma reiteração do Sermão do Monte. A mensagem cristã não é uma ideia teórica; é algo que realmente tem de se converter numa marca de nossa vida diária. Este é o propósito do restante deste sermão.
Agora devemos examinar os versículos 13 e 14 com os quais nosso Senhor começa esta aplicação de sua própria mensagem. Ele nos diz que a primeira coisa que devemos fazer, depois de ter lido este sermão, é observar o tipo de vida a que nos chama, de dar-nos conta do que significa. Temos visto muitas vezes que o perigo, ao considerar o Sermão do Monte, é perder-se em detalhes, ou desviar-se com coisas específicas que não interessam. Este é um enfoque errado. Por isso, Jesus nos exorta a que nos detenhamos a contemplar o sermão como um todo e refletir acerca dele. Qual é o elemento que sobressai como mais importante? Qual é o elemento da vida cristã que deve ser captado como sendo seu elemento básico? O Senhor nos responde dizendo que é a “estreiteza”. É uma vida estreita, é um caminho estreito. E aplicou isto de uma forma dramática afirmando que devemos entrar pela portar estreita e caminhar por um caminho também estreito.
Esta ilustração é muito útil e prática e o Senhor a apresenta numa forma gráfica que nos permite visualizar imediatamente a cena. Estamos caminhando, e de repente encontramos diante de nós duas portas. Há uma à esquerda que é ampla, e por ela entra uma multidão de pessoas. Do outro lado, há uma porta estreita pela qual pode entrar somente uma pessoa por vez. Ao olhar a porta ampla vemos que conduz a um caminho amplo e que uma grande multidão está caminhando por ele. Podemos ver o quadro com toda a clareza. E o Senhor nos diz que esse caminho estreito é o caminho que Ele deseja que sigamos, mas para isto devemos entrar pela porta estreita, que é a que conduz a ele. Ele nos convida para seguir este caminho porque é somente nele que podemos encontrar a Ele seguindo adiante de nós.
Imediatamente recordamos algumas das características da vida cristã à qual Jesus nos chama. É uma vida estreita e apertada desde o seu começo. Não é uma vida que é bastante ampla no começo e que à medida que a vamos vivendo vai se estreitando cada vez mais. Não! A própria porta, que é a forma de entrar nesta vida, é estreita. É importante sublinhar e reforçar este ponto porque, é essencial desde a perspectiva do evangelismo. Quando a sabedoria mundana e os motivos carnais entram no evangelismo, descobrirão que isto não é a porta estreita. Frequentemente isto dá a impressão que ser cristão não é muito diferente de não ser cristão, que não tem que se pensar no cristianismo como uma vida estreita, senão como algo sumamente atrativo e maravilhoso, e que se entra nessa vida de qualquer maneira. Segundo nosso Senhor, não é assim. O evangelho de Jesus Cristo é demasiado sincero para convidar a alguém dessa forma. Não se ocupa em persuadir-nos de que é algo muito fácil, e que somente mais tarde começaremos a descobrir que é difícil. O evangelho de Jesus é algo que é anunciado desde o princípio como algo cuja entrada é estreita. Isto significa que se queremos entrar nesta vida há muitas coisas que teremos que deixar do lado de fora. Não há lugar para elas. Porque temos que começar passando por uma porta estreita e apertada. Agrada-me pensar nisto como se fosse um torniquete que admite uma pessoa por vez e não mais que isso. E é tão estreito que há certas coisas que simplesmente não podemos carregar conosco. É importante que consideremos este sermão para ver algumas destas coisas que devemos deixar do lado de fora.
A primeira que temos que deixar do lado de fora é o que se chama de mundanismo. Deixamos fora a multidão, o caminho do mundo, porque esta porta é ampla e conduz à perdição.
Tornar-se cristão é converter-se em algo excepcional e pouco frequente. Rompe-se com o mundo, com a multidão, com a grande maioria das pessoas. É inevitável. É importante que o saibamos. A forma cristã de viver não é popular. Nunca foi e nunca o será. É uma forma diferente, excepcional. Ninguém pode levar a multidão consigo na vida cristã, porque terá que sair da multidão para entrar na porta estreita, e terá que fazê-lo sozinho, e sem acompanhantes, numa firme decisão pessoal, porque a porta é estreita. Implica inevitavelmente em ruptura.
Estamos num mundo cheio de tradições, de hábitos e de costumes, com os quais tendemos a nos conformar. É o fácil e o óbvio, e podemos dizer que a maioria das pessoas não têm nada que tanto odeiem quanto o serem diferentes.
Então uma das coisas mais difíceis que temos que enfrentar, quando nos convertemos, é o pensar que isso nos tornará diferentes. Porém isto tem que suceder. Uma das primeiras coisas que sucedem à pessoa que escuta a mensagem do evangelho é que diz para si mesma: “bem, seja o que for que ocorra com a maioria, eu tenho alma e sou responsável por minha própria vida.”. “Cada um levará a sua própria carga!”. Consequentemente, quando uma pessoa se torna cristã, começa a se ver como alguém separado deste grande mundo.
Estava vivendo intensamente com a multidão, porém se detém de repente. Este é sempre o primeiro passo para chegar a ser um cristão. E sente que deve se separar da multidão para salvar sua alma e seguir a Cristo. E ainda que esta separação seja difícil, sabe que deve fazê-lo. A porta estreita pela qual passa somente uma pessoa por vez faz o homem reconhecer que é responsável diante de Deus, seu Juiz Eterno. A porta é estreita e apertada e nos conduz ao juízo, situando-nos cara a cara com Deus, e leva-nos a considerar a questão da vida e de nosso ser pessoal, de nossa alma e seu destino eterno.
Agora, uma coisa é deixar a multidão, porém outra muito diferente é deixar o caminho da multidão. A falácia final do monasticismo é isto. O monasticismo, na realidade se baseia na ideia que se deixarmos as pessoas, deixaremos o espírito do mundo. Mas não é assim. É possível deixar o mundo num sentido físico, e se pode se afastar de uma multidão, porém na solidão do mosteiro, o espírito do mundo pode nos seguir. O mesmo pode ocorrer com a vida cristã. Há pessoas que têm se separado do grupo ao qual pertenciam, e contudo, alguém percebe que saiu do grupo, mas o espírito do grupo ainda permanece nele. Não abandonou o espírito do mundo, mas deve fazê-lo. Viver a vida do mundo e seguir o caminho do mundo de um modo diferente, não nos torna cristãos. Noutras palavras, devemos deixar do lado de fora da porta as coisas que agradam ao mundo. Isto não pode ser evitado. Basta ler o Sermão do Monte para chegar à conclusão que as coisas que pertencem à nossa natureza não regenerada e que agradam a esta natureza, devem ser deixadas do lado de fora dessa porta estreita.
Isto pode ser ilustrado. No Sermão do Monte aprendemos que devemos dominar o espírito que exige “olho por olho, e dente por dente”, que não devemos resistir ao mal lutando com as mesmas armas dele, e que devemos estar dispostos a sofrer por amor a Cristo com a atitude de quem oferece a outra face para ser ferida. Isto não se faz por instinto; não saem espontaneamente de nós e não nos agradam. “Ao que demanda contigo a túnica deixa-lhe também a capa!”. “A qualquer que te obrigue a caminhar uma milha vai com ele duas!”. “Amai os vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei o bem aos que lhes aborrecem, e orai pelos que lhes ultrajam e perseguem.”.
Não obedecemos estes mandamentos instintivamente, antes resistimos a fazê-lo. O instintivo é devolver o golpe, defender nossos direitos e amar os que nos amam e odiar os que nos odeiam. Porém nosso Senhor nos disse que se queremos ser seus discípulos e viver no seu reino, devemos deixar do lado de fora o instinto mundano, as coisas que agradam a nossa natureza caída e que o que essa natureza faz. Não há lugar para tais coisas. Devemos nos dar conta desde o princípio que este tipo de equipamento não pode entrar conosco no caminho apertado. O Senhor nos adverte contra o perigo de uma salvação fácil, que geralmente é traduzida pelo convite: “vem a Cristo como és e estás e tudo irá bem!”. Não, o evangelho nos diz desde o começo que vai ser difícil. Significa uma ruptura radical com o mundo; é um tipo de vida completamente diferente. De modo que deixamos fora não somente o mundo, como também o caminho do mundo.
Mas não podemos deixar do lado de fora nosso antigo modo de vida se não deixamos também do lado de fora o nosso “eu”. E aqui é onde encontramos a pedra de tropeço maior. Uma coisa é deixar o mundo e o caminho do mundo, porém mais importante é deixar nosso eu. O eu é o homem adâmico, uma natureza caída; e Cristo diz que tem que ser deixado fora. “Despojai-vos do velho homem”, é o mesmo que dizer que deve ser deixado do lado de fora da porta estreita. O velho e o novo homem não podem passar juntos por esta porta que nos dá acesso ao caminho do reino de Deus. O velho tem que ficar do lado de fora.
O evangelho do Novo Testamento é muito humilhante para o eu e para o orgulho. No começo do Sermão nos é dito: “Bem-aventurados os pobres de espírito”. Mas a ninguém agrada ser pobre de espírito. Por natureza somos exatamente o oposto, porque todos nascemos com uma natureza orgulhosa, e o mundo faz tudo o que pode para estimular este orgulho desde o momento do nosso nascimento. A coisa mais difícil no mundo é fazer-se pobre de espírito. É humilhante para o orgulho, e contudo é essencial. A entrada desta porta estreita tem um aviso que diz: “deixem do lado de fora o seu eu”. Como podemos bendizer aos que nos maldizem, e orar pelos que se aproveitam de nós, a não ser que façamos isto de fato?
O eu não pode existir nesta atmosfera; deve ser crucificado. “Não julgueis para que não sejais julgados!”. Façam aos demais o que querem que vos façam, e assim por diante. O Senhor nos diz isto desde o começo. Não há como se criar ilusões. Se alguém pensa que é uma vida na qual se poderá alcançar fama e ser louvado, e ser considerado maravilhoso, é melhor parar e retornar ao começo, porque o que entra por esta porta sabe que deve dizer adeus ao eu. É uma vida de humilhação. “Se alguém quer vir após mim!”. Quê sucede? “Negue-se a si mesmo (sempre em primeiro lugar), e tome sua cruz e siga-me!”. Porém a auto negação, a negação do eu, não significa abster-se de prazeres e coisas que nos agradam; significa que negamos nosso direito mesmo ao nosso eu, que deixamos fora o nosso eu, e que passamos pela porta dizendo: “Já não vivo eu, mas Cristo vive em mim!”.
Jesus diz que a porta é estreita porque a vida cristã é difícil. Não é uma vida fácil. É muito maravilhosa para ser fácil. Significa viver como o próprio Cristo, e isto não é fácil. É por isso que Jesus diz que são poucos que acham esta porta estreita.
Todo mundo pode seguir o comum e o fácil, porém quem deseja alcançar as alturas, percebe que não há muitos que estejam tentando fazer o mesmo. É isto o que se dá com a vida cristã, é uma vida maravilhosa e elevada, que poucos encontram e entram nela, simplesmente porque é difícil. Além disso a porta é estreita porque sempre conduz ao sofrimento, e porque quando se vive a verdade sempre traz perseguição.
E a quem agrada ser perseguido? Não nos agrada que nos critiquem e que nos tratem com rudeza. Nos agradam as pessoas que falam bem de nós, e é muito irritante saber que nos odeiam e criticam; porém Cristo nos tem advertido que assim será se entrarmos por esta porta estreita. É estreita e difícil, e ao entrar por ela, devemos estar dispostos ao sofrimento e à perseguição.
Temos que estar dispostos a sermos mal-entendidos, temos que estar inclusive dispostos a que isto ocorra com aqueles que estão mais próximos de nós e quem queremos bem. Cristo não disse que veio trazer a paz para todos os relacionamentos, senão a espada, uma espada que talvez divida a mãe da filha, o pai do filho, e os da própria casa talvez sejam os nossos maiores inimigos. Por que? Porque ocorreu uma separação operada pela espada. Quando se entra por esta porta estreita não é possível mais estar unido em espírito com os que entram pela porta espaçosa. Isto é muito difícil e muito duro. Porém Jesus é sincero conosco, dizendo que teremos que estar separados espiritualmente daqueles que não Lhe seguem.
Agora, esta vida não é difícil somente no começo, pois segue sendo depois. A porta estreita conduz a um caminho apertado. A vida cristã é difícil do começo até o fim. Não existem férias espirituais. A vida cristã é uma batalha da fé até o final. E há inimigos em ambos os lados deste caminho apertado. Estão ao longo da estrada até o seu final, as coisas que nos oprimem e as pessoas que nos atacam. Ninguém terá uma vida fácil quando está neste caminho. A verdadeira vida cristã, quando realmente vivida será sempre difícil. Se alguém pensar que será difícil no começo e que progressivamente vai se tornando fácil, tem uma ideia completamente falsa do ensino do Novo Testamento. É sempre apertada, terá inimigos e adversários que nos atacarão até o último momento de nossas vidas neste mundo.
Estou desanimando alguém com estas palavras? Haveria algum ganho em dizer: “Bem, se é assim vou desistir?”. Antes de dizer isto gostaria de lhe dizer, antes de se decidir, que há algo sobre o final a que conduz este caminho. Porém afastado dele o que se terá? Não é melhor continuar seguindo por este caminho apertado? Mas em todo o caso, não tenhamos ilusões, a luta contra os principados e potestades, contra as trevas deste mundo e as hostes espirituais da maldade nas regiões celestes, prosseguem enquanto os homem estão nesta vida e neste mundo. No caminho da vida haverá tentações sutis, e teremos que vigiar e estarmos alertas, desde o princípio até ao fim. Nunca ninguém poderá descansar. Sempre terá que ter muito cuidado; sempre terá que vigiar com diligência, como Paulo disse, terá que vigiar todos os passos que tiver que dar. É um caminho apertado que começa assim e que assim continua.
O evangelismo genuíno, tal como o entendo, é o que apresenta aos homens a vida cristã como um todo, e devemos ter muito cuidado em não dar a impressão de que as pessoas podem acudir em massa, por assim dizer, a Cristo, que podem ter acesso à porta estreita sem levar em conta o caminho apertado a que conduz. O Senhor foi quem pronunciou as parábolas acerca dos néscios que não calculam o que custam as coisas, como o homem que começou a edificar, sem levar em conta o custo, por isso teve que deixar de concluir o edifício. Assim também se deu no caso do rei que foi guerrear contra outro rei, sem considerar a força do inimigo. O Senhor nos diz que calculemos o que custa, e que avaliemos o que temos de fazer antes de começar. Jesus não veio somente para nos salvar do castigo do pecado, veio para fazer-nos santos, e para “purificar para si um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”. Veio a este mundo para preparar o caminho de santidade, e seu desejo e propósito em relação a nós é que andemos nesse caminho seguindo suas pisadas, neste chamamento tão elevado, nesta vida gloriosa, e que vivamos da mesma maneira que ele viveu, resistindo inclusive até o derramar do sangue se for preciso. Essa foi sua vida, um caminho apertado e espinhoso; porém o seguiu. E o privilégio de todos nós é o de sair do mundo e entrar nessa vida seguindo a Ele até o fim.
Por D. M. Lloyd Jones ( traduzido e adaptado por Silvio Dutra)
D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/06/2014