Evangelho 20
“13 Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;
14 e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram.
15 Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.
16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?
17 Assim, toda árvore boa produz bons frutos; porém a árvore má produz frutos maus.
18 Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar frutos bons.
19 Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.
20 Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” (Mt 7.13-20)
Nos versículos 15 e 16, e até o final do sétimo capítulo de Mateus, nosso Senhor ocupa-se somente de um grande princípio, de uma grande mensagem. Enfatiza somente uma coisa, a importância de entrar pela porta estreita e assegurar-se de que estamos realmente andando no caminho apertado. Em outras palavras, é uma espécie de reforço da mensagem dos versículos 13 e 14. Ali o apresenta em forma de convite ou exortação, que temos de entrar por essa porta estreita, e caminhar e nos mantermos caminhando por este caminho apertado. Agora o expande, mostrando-nos alguns dos perigos, dificuldades e obstáculos que se apresentam a todos os que se aplicam a fazer isso.
Jesus segue enfatizando este princípio vital, que o evangelho não é algo que basta ser ouvido, ou aplaudido, senão que deve ser aplicado.
Como disse Tiago, o perigo reside em se contemplar o espelho e se esquecer imediatamente o que temos visto, em lugar de contemplar insistentemente o espelho dessa lei perfeita e recordá-la e colocá-la em prática.
Este é o tema que nosso Senhor segue sublinhando até o final do Sermão do Monte. Antes de tudo o apresenta em forma de dois perigos específicos e especiais que surgem no caminho.
Mostra-nos como temos que reconhecê-los e, uma vez reconhecidos, como enfrentá-los.
Logo, uma vez expostos estes dois perigos, conclui o argumento, e todo o Sermão, apresentando-o numa afirmação simples, franca, clara, em função da metáfora das duas casas, uma construída sobre a rocha e a outra sobre a areia.
Porém, desde o início até o fim é o mesmo tema, e o fator comum das três partes da afirmação geral é a admoestação terrível sobre o fato do juízo.
Isso, como temos visto, é o tema que é apresentado em todo este sétimo capítulo do evangelho de Mateus e é sumamente importante que nos demos conta disso.
Não captá-lo explica a maioria de nossos problemas e dificuldades. Explica o evangelismo superficial e inconsistente tão comum hoje em dia. Explica a ausência de vida santa que se percebe na maioria dos cristãos. Não é que necessitemos de ensinos especiais acerca dessas coisas. O que parece que todos esquecemos é que os olhos de Deus sempre nos acompanham, e que todos caminhamos para o juízo final.
Por isso, nosso Senhor segue repetindo isto. Apresenta-o de formas diferentes, porém sublinha sempre o fato do juízo, e a índole do juízo. Não é um juízo superficial, não é um simples exame de coisas externas, senão uma indagação do coração, um exame de toda a natureza.
Sobretudo, sublinha o caráter definitivo, absoluto, do juízo, e as consequências que lhe seguem.
Já nos disse nos versículos 13 e 14 porque devemos entrar pela porta estreita. A razão é, diz Jesus, que a outra porta é ampla e leva à perdição, a perdição que segue ao juízo final, no caso dos ímpios.
Nosso Senhor, evidentemente, estava tão preocupado com isto que constantemente o repetia. Isso mostra de novo a perfeição do seu método como Mestre. Sabia a importância da repetição. Sabia quanto obtusos e lentos somos, e sempre dispostos a pensar que sabemos tudo, quando na realidade não o sabemos e em consequência necessitamos que as mesmas coisas nos sejam constantemente recordadas.
Nosso Senhor, portanto, nos recorda de novo estas coisas, antes de tudo dando-nos advertências específicas. A primeira é sobre os falsos profetas. “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.”.
O que devemos recordar é mais ou menos isto: Podemos dizer que estamos junto ao umbral desta porta estreita. Temos ouvido o sermão, temos escutado a exortação, e estamos pensando no que fazer. “Agora”, diz nosso Senhor, “a esta altura, uma das coisas com as que têm que ter cuidado é o perigo de escutar os falsos profetas. Sempre estão aí, sempre estão presentes, precisamente no umbral da porta estreita. Esse é seu lugar favorito. Se alguém começa a escutá-los está perdido, porque te persuadirão a que não entres pela porta estreita, e que não andes no caminho apertado. Tratarão de dissuadir-te de escutar o que te estou dizendo!”.
Existe pois, sempre o perigo dos falsos profetas que apresentam esta tentação tão sutil.
A pergunta que se apresenta imediatamente é a seguinte: “quem são estes falsos profetas? Como vamos reconhecê-los?”.
Esta pergunta não é tão fácil como parece, de ser respondida.
Uma escola de interpretação afirma que aqui se alude somente ao ensino dos falsos profetas. E que a sua doutrina se refere ao fruto que produzem, conforme referido pelo Senhor.
Uma outra escola discorda da primeira citada e afirma que esta referência aos falsos profetas não tem nada a ver com o ensino, senão puramente com o tipo de vida que estas pessoas vivem. Seu ensino seria acertado, porém suas vidas não corresponderiam ao seu ensino, por serem hipócritas.
Estas duas escolas têm razão em algo, mas também estão equivocadas em algo.
Ambos elementos devem ser considerados. Não se pode dizer que somente é questão de ensino herético, porque não é muito difícil detectar tais ensinos.
A maioria das pessoas que possuem um certo discernimento podem identificar um herege. E sem dúvida, a metáfora do Senhor sugere que há uma dificuldade no reconhecimento dos falsos profetas, que há algo sutil nisso. Ele fala em vestimentas de ovelhas na metáfora. Sugere que a verdadeira dificuldade, quanto a este tipo de falsos profetas, é que em princípio não se imagina o que sejam.
Tudo é sumamente sutil; tanto é assim que o povo de Deus pode ser levado ao engano por eles. Recordemos como Pedro se referiu a isto no segundo capítulo da sua segunda epístola. Estas pessoas, disse, “introduzirão encobertamente” os erros, parecem pessoas justas, trazem a vestimenta de ovelhas, e ninguém suspeita de qualquer falsidade.
Tanto o Antigo, quanto o Novo Testamento sempre fazem ressaltar esta característica do falso profeta.
O perigo verdadeiro provém de sua sutileza.
Toda exposição genuína deste ensino, por conseguinte, deve salientar devidamente este elemento específico.
Por esta razão, não se pode aceitar como sendo uma simples admoestação acerca dos hereges e seus ensinos.
O mesmo se aplica ao outro grupo.
É óbvio que não há nada que ofenda na conduta dos falsos profetas. Se fosse assim, todo mundo o reconheceria, e não seria sutil nem constituiria nenhuma dificuldade. Ninguém titubearia em deixar de segui-los.
O quadro que devemos ter diante de nós, portanto, deveria ser este: o falso profeta é alguém que vem a nós e a princípio tem o aspecto de ser tudo o que se poderia desejar. É agradável e prazeroso; parece ser muito cristão, e parece dizer o que tem que ser dito. Seu ensino no geral é muito bom, utiliza muitos termos que qualquer mestre cristão verdadeiro deveria usar. Fala sobre Deus, fala de Jesus Cristo, da cruz, enfatiza o amor de Deus, parece dizer tudo o que um cristão deveria dizer. Obviamente, está vestido de ovelha, e em sua forma de viver parece se harmonizar com isso. Em consequência ninguém suspeita que haja algo mau nele, não há nada que chame logo a atenção ou desperte qualquer suspeita, porque não há nada abertamente mau.
Qual é pois o mal, e o que pode ser mau numa pessoa assim?
No entanto esta pessoa está equivocada tanto em seu ensino quanto em sua forma de vida, porque, como veremos, estas duas coisas sempre andam juntas. Nosso Senhor disse: “pelos seus frutos os conhecereis”. O ensino e a vida humana não podem ser separados, e onde há ensino errôneo, de alguma maneira sempre haverá uma vida equivocada em algum aspecto.
Como podem, pois, ser descobertas estas pessoas? Que há de mau em seu ensino? A forma mais adequada de responder é dizer que não há porta estreita neles, que não há caminho apertado. O que dizem está certo, porém não inclui isto. É um ensino, cuja falsidade tem que ser detectada não pelo que dizem, mas pelo que não dizem. E é aqui que nos damos conta da sutileza da situação. Como temos dito, qualquer cristão pode detectar quem diz coisas abertamente equivocadas, porém é injusto ou pouco caridoso dizer que a grande maioria dos cristãos de hoje parece não poder detectar ao homem que parece dizer coisas boas, porém que não diz coisas vitais.
E são justamente estas pessoas que não dizem coisas vitais que são as mais perigosas.
O falso profeta não tem porta estreita nem caminho apertado no seu evangelho. Não há nele nada que ofenda ao homem natural; agrada a todos. Veste-se de ovelha, é atrativo, agradável à vista. Apresenta uma mensagem tão bonita, confortante e consoladora. Agrada a todo mundo e todo mundo fala bem dele. Nunca o perseguem por seu ensino, nunca o criticam com rigor. Tanto os liberais como os modernistas o louvam. Em suas palavras não há nada do escândalo da cruz.
Agora, o que é esta porta estreita e este caminho apertado?
Lembram que Pedro disse em sua segunda carta que “houve também falsos profetas entre o povo de Israel” e que de igual modo haveria tais falsos mestres na Igreja?
Voltemo-nos então ao Antigo Testamento para ler o que diz sobre os falsos profetas, porque o modelo não muda.
Sempre estiveram presentes, e cada vez que aparecia um verdadeiro profeta, como Jeremias, ou outro, os falsos profetas sempre duvidavam dele, lhe resistiam, e lhe acusavam e ridicularizavam.
Porém como eram eles?
Assim é como se lhes descreve: “curam a ferida da filha de meu povo com leviandade, dizendo: Paz, paz, e não há paz!”.
O falso profeta sempre é um pregador muito consolador. Ao escutá-lo dá sempre a impressão de que não há muitas coisas más. Admite desde logo, que há algo mau; não é o bastante néscio para dizer que não há nada mau. Porém diz que tudo vai bem e que tudo irá bem. “Paz, paz”, diz. “Não escutem alguém como Jeremias”, exclama. “é de mente estreita, é um herege, não tem espírito cooperador. Não o escutem, tudo está bem!”. “Paz, paz”.
Cura “a ferida da filha de meu povo com leviandade, dizendo: Paz, paz, e não há paz!”, e se acrescenta de forma aterradora, quanto ao modo como o povo de Deus recepcionava esta mensagem dos falsos profetas: “o meu povo assim o quis”. O povo desejava isto porque nunca lhes perturbava, nunca fazia com que se sentissem incomodados. Se tudo seguir como sempre foi, está tudo bem, não há porque se preocupar com uma porta estreita e um caminho apertado, nem de uma doutrina específica.
“Paz, paz!”, e acrescentaríamos: “prosperidade, prosperidade”, é muito consolador, muito tranquilizante, sempre é assim o falso profeta em seu vestido de ovelha, sempre inofensivo e agradável, sempre, invariavelmente, atrativo. Jamais apontará ao povo o dever de mortificar o pecado e de andar em temor e reverência diante de Deus. Nunca exporá toda a verdade da Palavra de Deus, particularmente os Seus juízos contra o pecado.
De quê maneira isto se manifesta na prática?
Diria que se manifesta de modo geral na quase ausência total de doutrina, quanto na mensagem.
Sempre fala de variedades, de coisas vãs, e de modo geral, nunca desce a detalhes doutrinais. Não lhes agrada a pregação doutrinal; sempre é muito vaga. Porém alguém talvez pergunte: “Que quer dizer com isto de descer a detalhes doutrinais, e como se relaciona isto com a porta estreita e o caminho apertado?”.
A resposta é que o falso profeta mui raras vezes nos diz algo acerca da santidade, da justiça e da ira de Deus. Sempre prega acerca do amor de Deus, e nunca menciona as outras coisas. Nunca faz tremer a ninguém quando fala deste Ser santo e Majestoso com o qual todos devemos prestar contas. Não diz que crê nestas verdades. Não, não é essa a dificuldade. A dificuldade é que não diz nada acerca delas. Não as menciona. Não menciona as verdades que são destacadas na Bíblia, e é aí que está o perigo. Não diz coisas que sejam obviamente verdadeiras e justas. E por isso é falso profeta, porque todo verdadeiro profeta que fala da parte de Deus aos homens tem o dever de ensinar toda a verdade revelada. Ocultar a verdade é tão reprovável e condenável como proclamar uma heresia, e por isso o efeito de tal ensino é o de um “lobo devorador”.
Outra doutrina que o falso profeta nunca enfatiza é a do juízo final e do destino eterno dos condenados.
Nos últimos cinquenta ou sessenta anos, não se tem pregado muito acerca do juízo final, e tampouco acerca do inferno e da destruição eterna dos ímpios. Não, porque aos falsos profetas não lhes agrada ensinos como os que contém a segunda epístola de Pedro. Porém está também na carta de Judas, em João, no Sermão do Monte, proferido pela boca do próprio Jesus.
O ensino do falso profeta tampouco enfatiza a condição radicalmente pecaminosa do pecado e da incapacidade total do homem para fazer algo por sua própria salvação. Eles falam do pecado como se não fosse algo grave. Na verdade não lhes agrada falar sobre o pecado, e sobre a necessidade de mortificá-lo.
O falso profeta não enfatiza também a doutrina da predestinação, da eleição, e da expiação e justificação pela graça. Eles falam da cruz de forma sentimental, mas nada sobre a ofensa da cruz. A pregação deles sobre a cruz, não é loucura para os gentios, nem escândalo para os judeus. Através da sua filosofia removem todo o efeito da cruz. Eles fazem dela algo maravilhoso, uma grande filosofia de amor e sentimento. Nunca conseguem vê-la como uma tremenda transação santa entre o Pai e o Filho, na qual o Pai fez com que o Filho se tornasse pecado por nós.
Tampouco enfatizam o arrependimento em seu sentido real. Apresentam uma porta muito ampla que conduz à salvação e um caminho muito amplo que conduz ao céu. Basta a pessoa confessar que Jesus é o Salvador, que no entendimento deles já ocorreu ali o arrependimento e a salvação.
Isto é muito diferente do evangelismo dos puritanos, de John Wesley, de George Whitefield e outros; porque aquele evangelismo conduzia ao temor do juízo de Deus, e à angústia da alma, às vezes por dias, semanas e meses. John Bunyan nos diz que durante dezoito meses sofreu a agonia do arrependimento. Hoje em dia parece que não há muita possibilidade disto, porque as pessoas têm uma ideia superficial sobre o pecado e sobre a justiça de Deus. (Não se pensa que há condições para o perdão de pecados presentes, mesmo de cristãos, como o perdoar o próximo, e principalmente o arrependimento que consiste basicamente em três partes: contrição, confissão e conversão – II Crôn 7.14. O perdão sempre será concedido com base no sangue e nos méritos de Cristo, mas sempre também mediante o atendimento destas condições. Mas quantos pregam sobre isto, desta maneira, conforme é a verdade revelada por Deus nas Escrituras, quanto ao perdão de pecados? - nota do tradutor).
Pensa-se no pecado como o simples ato de errar e não a condição de estado ruim da alma que desperta a ira de Deus.
O falso profeta não pensa na necessidade de se tomar a cruz para se seguir a Cristo. Ele simplesmente se limita a curar a ferida superficialmente dizendo que tudo está bem, que há paz, que tudo o que se tem que fazer é vir a Cristo e se fazer cristão.
Vê-se assim que a porta e o caminho do falso profeta não são estreitos e apertados, mas bastante amplos, conduzindo muitos à perdição, pela falsa ideia de que se arrependeram e se converteram de fato de seus pecados para Deus, enquanto não apresentam qualquer evidência de transformação operada pelo Espírito Santo em suas vidas.
O falso profeta não diz que temos que praticar o Sermão do Monte. Nunca o veremos pregando as coisas que Jesus ordena neste sermão. O falso ensino não se interessa pela verdadeira santidade, pela santidade bíblica.
Sustenta uma ideia de santidade parecida com a dos fariseus. Os fariseus escolhiam certos pecados dos quais eles mesmos não eram réus, segundo criam, e diziam que desde que as pessoas não fossem culpadas daqueles pecados, os demais não importava. Ah! Quantos fariseus existem hoje em dia! A santidade se converteu em não se fazer três ou quatro coisas. Já não pensamos em função de “não ameis o mundo, nem as coisas que estão no mundo... os desejos da carne, a cobiça dos olhos e a soberba da vida. E esta soberba da vida é uma das maiores maldições na Igreja cristã. O falso ensino deseja uma santidade como a dos fariseus. É simplesmente questão de não fazer certas coisas acerca das quais nos temos colocado em acordo. Com isso temos reduzido a santidade a algo fácil e corremos em multidões ao caminho espaçoso, e tratamos de segui-lo.
Estas são algumas das características destes falsos profetas que vêm disfarçados de ovelhas. Oferecem sempre uma salvação fácil, um tipo de vida fácil. Não aconselham o auto exame diário; e chegam quase a afirmar que examinar a si mesmo é uma heresia.
Dizem que não temos que examinar a nossa própria alma, porque tudo o que temos que fazer é olhar somente para Jesus, e nunca a nós mesmos para descobrir o pecado.
Assim, desaconselham o que a Bíblia nos aconselha que façamos. Não lhes agrada o processo de auto exame e de mortificação do pecado, que ensinavam os puritanos e os grandes líderes do século dezoito, como Wesley, Whitefield, John Fletcher e Jonathan Edwards.
Eles não creem nisto porque é incômodo. Querem uma salvação fácil, uma vida cristã fácil. Nada conhecem do sentimento de Paulo, quando disse “os que estamos neste tabernáculo gememos com angústia”. Nada sabem acerca de pelejar o bom combate da fé. Não sabem o que Paulo quer dizer quando afirma que nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais (Ef 6.12). Não entendem isto, não vêm necessidade alguma de revestir-se de toda a armadura de Deus, porque não têm visto o problema, afinal para eles “tudo é tão fácil!”. Eles não incomodam o diabo com o seu falso evangelho, e o diabo também não lhes incomoda, porque nada perde com a pregação e ensino destes falsos profetas, ao contrário, só tem a ganhar.
Hoje em dia não agrada às pessoas este tipo de ensino contra os falsos profetas. Vivemos numa época em que as pessoas dizem que contanto que alguém professe ser cristão, devemos considerá-lo como irmão e seguir juntos. Porém a resposta é o que disse nosso Senhor: “Guardai-vos dos falsos profetas!”. Estas advertências terríveis e penetrantes estão no Novo Testamento devido precisamente ao que temos comentado. Claro que não devemos ser hipercríticos, porém tampouco devemos confundir a amizade e afabilidade com a santidade. Não se trata de personalidades. Não devemos desapreciar estas pessoas. De fato o Dr. Alexander MacLaren tem razão quando afirma que são hipócritas inconscientes. Não é que não sejam agradáveis e complacentes, porque o são. Em certo sentido, este é o perigo maior, e isso é o que faz ser uma tal fonte de perigo. Ponho isto em relevo porque segundo nosso Senhor, é algo que sempre nos cerca. Há um caminho que conduz à perdição, e o falso profeta não crê na perdição ou então não dá a devida consideração a ela.
Não é acaso correto que a explicação do estado atual da Igreja cristã é precisamente isto que temos examinado?
Porque a Igreja está tão débil e ineficiente?
Não vacilo em responder que se deve ao tipo de pregação que se introduziu como consequência do movimento de alta crítica que começou no século dezenove, e que condenava totalmente a pregação doutrinal. Advogava uma pregação moral. Tomavam tais ilustrações da literatura e da poesia, e Emerson veio a ser um de seus sumo sacerdotes. Esta é a causa do problema. Prosseguiram falando de Deus, falando de Jesus e de sua morte na cruz. Não se apresentavam como hereges evidentes, mas em seu desejo de contextualizarem a mensagem ao mundo moderno em que viviam, não mencionavam as coisas que são vitais para a salvação. Ofereciam essa mensagem vaga que nunca perturba a ninguém. Eram sempre tão modernos e agradáveis; estavam acompanhando a ordem do dia e não se poderia chamá-los de fora de moda. Agradavam ao gosto popular, e o resultado é o de igrejas medíocres na vida cristã que se encontram entre tantos de nós.
Estas coisas são amargas e desagradáveis, e tenho que confessar honestamente, que se não tivesse me comprometido a pregar o Sermão do Monte, como estou fazendo, nunca teria escolhido estas palavras como texto. Nunca teria pregado acerca delas. Nunca tenho escutado um sermão sobre elas. Pergunto-me quantos de nós o temos escutado? Não nos agrada, é molesto, porém não nos compete escolher o que nos agrade. Isto disse o Filho do homem, e o situa no contexto do juízo e da destruição.
Assim, pois, ainda que me custe que me chamem de caçador de heresias ou pessoa que se senta para julgar seus irmãos e todo mundo, tenho tratado honestamente de explicar a Bíblia, e rogo que pensemos outra vez nisso em oração, na presença de Deus, enquanto consideramos o valor da nossa alma imortal e seu destino eterno.
Por D. M. Lloyd Jones ( traduzido e adaptado por Silvio Dutra)
D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/06/2014