Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Evangelho 44

“1 No mesmo dia, tendo Jesus saído de casa, sentou-se à beira do mar;
2 e reuniram-se a ele grandes multidões, de modo que entrou num barco, e se sentou; e todo o povo estava em pé na praia.
3 E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.
4 e quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram.
5 E outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda;
6 mas, saindo o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou-se.
7 E outra caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram.
8 Mas outra caiu em boa terra, e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um.
9 Quem tem ouvidos, ouça.
10 E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?
11 Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;
12 pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.
13 Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem nem entendem.
14 E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, e de maneira alguma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira alguma percebereis.
15 Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardamente, e fecharam os olhos, para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração, nem se convertam, e eu os cure.
16 Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.
17 Pois, em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram.
18 Ouvi, pois, vós a parábola do semeador.
19 A todo o que ouve a palavra do reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi semeado no coração; este é o que foi semeado à beira do caminho.
20 E o que foi semeado nos lugares pedregosos, este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria;
21 mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e sobrevindo a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
22 E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera.
23 Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve a palavra, e a entende; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta.” (Mateus 13.1-23)

É muito comum se ouvir da parte de muitos, que nem mesmo Jesus conseguiu unanimidade quando esteve ministrando em carne, na terra.
Falam isto não por julgarem segundo a reta justiça, mas como que atribuindo insucesso a nosso Senhor no cumprimento da Sua missão, ou como para justificar o livre arbítrio humano, como que o homem tivesse o direito de  traçar o seu próprio caminho sem se sujeitar a Deus.
Todavia, esta resistência permanente e declarada a Jesus da parte de muitos; e a aparente recepção de nosso Senhor e de Sua mensagem por parte de outros - dizemos aparente porque parecem terem se convertido, mas passado algum tempo, voltam a seu antigo modo de vida - e finalmente a perseverança daqueles que permanecem no Senhor e na Sua doutrina, já estava previsto nos conselhos de Deus, desde a eternidade.
Isto foi revelado pelo Senhor na Parábola do Semeador.
Então, não é pelo fato de serem menos os que se convertem em comparação com os que se perdem, que se comprova que Jesus não é bem sucedido em Sua função de Salvador do mundo.
Ao contrário, Ele é mais do que suficiente e competente capitão da nossa salvação, porque não perde a nenhum daqueles que Lhe foram dados pelo Pai.
Deus conhece os que são Seus, e estes não deixarão de ser alcançados pela Sua graça e poder, para que sejam salvos, e ainda que nem todos frutifiquem no mesmo grau, porque uns frutificam mais do que outros, entretanto, todos fazem parte da família de Deus e não serão portanto, de nenhum modo, rejeitados por Ele.  
Esta verdade já havia sido profetizada cerca de 700 anos antes de nosso Senhor ter-se manifestado a este mundo, na plenitude do tempo, encarnando num corpo como o nosso.
Isto foi feito especialmente através do profeta Isaías, cujo ministério foi, principalmente, o de preanunciar o evangelho e a obra de salvação que nosso Senhor faria.
Todavia, Deus deixou claro, por meio do profeta, que Israel não entenderia o evangelho apesar de ouvi-lo.
Não entenderiam o significado dos milagres realizados pelo Messias e pela Igreja, apesar de testemunharem tais milagres com a vista de seus olhos.
Isto, por causa do endurecimento deles no pecado, especialmente pelo engessamento nas falsas convicções religiosas em que viveriam por influência dos escribas, fariseus e todos os demais líderes religiosos de Israel.
O Senhor falou ao profeta Isaías, quando lhe enviou depois de ter sido tocado pela brasa do altar:
“9 Disse, pois, ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis.
10 Torna insensível o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado.” (Is 6.9,10)
Isaías é conhecido como o profeta evangélico, porque profetizaria mais do que qualquer outro sobre a pessoa de Cristo e o período da Igreja cristã, do milênio e da glória futura dos santos.
Ele viu o Senhor Jesus na Sua glória em sua chamada, porque Sua grande missão seria a de falar do ministério e glória do Messias, e que somente nEle havia esperança, não somente para Israel, como para todas as nações.
Então não é para se estranhar que não tenha sido chamado para convocar os israelitas de seus dias ao arrependimento, durante o tempo do seu longo ministério, mas ao contrário, lhes revelar que permaneceriam endurecidos à recepção do Messias e do evangelho por um longo período.
Eles ouviriam o evangelho, mas não entenderiam.
Veriam os sinais realizados por Cristo e pela Igreja mas não perceberiam a mão de Deus agindo, porque o seu coração se tornaria insensível, e seus ouvidos ficariam endurecidos à voz do Espírito, e seus olhos fechados para verem a verdade da Palavra do evangelho (Is 6.9, 10).
Isaías falaria portanto, de coisas relativas ao evangelho, mas eles não se converteriam a Deus, por ouvirem as coisas que seriam reveladas ao profeta.
Ao contrário, a mensagem profética de Isaías lhes endureceria o coração, fecharia os seus olhos e ouvidos, para que não vissem com os olhos e ouvissem com os ouvidos a mensagem da verdade, e assim, não podendo entender com o coração, não se converteriam e não seriam sarados por Deus.
Isaías perguntou ao Senhor até quando duraria tal endurecimento de Israel ao evangelho, e a resposta divina foi a seguinte: “Até que sejam assoladas as cidades, e fiquem sem habitantes, e as casas sem moradores, e a terra seja de todo assolada, e o Senhor tenha removido para longe dela os homens, e sejam muitos os lugares abandonados no meio da terra.”.
A remoção do endurecimento de Israel ocorreria, conforme do conhecimento do Senhor em Sua onisciência, e como revelou a Isaías, somente depois que a terra de Israel fosse assolada, e as suas cidades e casas ficassem sem habitantes e moradores e a sua terra totalmente assolada.
Isto ocorreria no cativeiro babilônico, e na diáspora causada pelos romanos em 70 d. C., mas o grande cumprimento da  profecia aponta para o tempo das assolações que serão realizadas pelo Anticristo.
Apenas um remanescente seria objeto da remoção do endurecimento e se converteria ao Senhor, mas é identificado como sendo menos da décima parte da população que seria poupada.
E este remanescente foi chamado de santa semente, e comparado ao renovo do toco de um carvalho que é deixado na terra, depois que este é derrubado (Is 6.13).
Deus manteria apenas um remanescente, uma pequena sobra de eleitos em Israel, de maneira que somente a estes seria dado conhecerem os mistérios do reino dos céus, enquanto os demais permaneceriam endurecidos, conforme conhecido pelo Senhor em Sua presciência divina.    
Por isso, a verdade do reino dos céus soaria em Israel, especialmente por meio de parábolas.
O conjunto de parábolas citadas neste capítulo foram pronunciadas por Jesus à beira mar, provavelmente no mar da Galileia, que era conhecido também por mar de Tiberíades (Jo 6.1), estando nosso Senhor num barco junto à praia, em razão da grande multidão que havia se reunido para ouvi-lo.
Veja que nosso Senhor nunca se deixou impressionar pelo imenso número de pretensos admiradores que O procuravam.
Ele bem sabia o que é a natureza terrena, e assim, nunca se deixou enganar por ela, e sempre pregou e ensinou a verdade sem desejar ser visto pelos homens, ou para agradá-los com o intuito de obter o seu aplauso.
Ele jamais negociaria a pérola da verdade e da justiça por qualquer outra coisa que lhe fosse oferecida.
Nossos corações têm desejos não lícitos e impuros, mas isto era algo desconhecido ao coração puramente santo de Cristo.
Ele não poderia ser tentado por suas próprias cobiças, porque não tinha cobiças pecaminosas tal como nós estamos sujeitos a tê-las.
Logo, tudo faria e tudo fez para a exclusiva glória do Pai, e em perfeita santidade e justiça.
O fato de ter falado muitas vezes por parábolas comprova que nosso Senhor não buscava realmente agradar a  homens, porque em sua grande maioria ficavam sem entender o que lhe foi ensinado e pregado, inclusive os próprios apóstolos, necessitavam ser ensinados à parte, quanto ao significado das parábolas, coisa que Jesus nunca se negou a fazer particularmente em relação a eles, porque eram cidadãos do reino dos céus, e até com o menor membro de Seu corpo, a Igreja, Jesus será paciente em ensinar os mistérios do Seu reino, tal como fizera com os todos os Seus discípulos no passado.
É interessante observar as seguintes verdades na explicação que nosso Senhor deu aos discípulos quanto ao significado da Parábola do Semeador:
1 - A semente  é a palavra do reino, a saber, a mensagem do evangelho.
2 - Os vários tipos de solos representam os vários tipos de corações:
a ) Beira do caminho, ou seja, fora do canteiro, representa os corações desatentos que não dão qualquer consideração à palavra pregada ou ensinada. Satanás remove inteiramente o que foi aplicado a tais corações. Assim, estes sequer chegam a entender a palavra do reino que ouviram.
  b) Lugares pedregosos representam os corações endurecidos, que podem até mesmo recepcionar a mensagem do evangelho com uma alegria inicial, mas que não pode resistir à angústia e à perseguição por causa do evangelho.
São como plantas que brotam mas não chegam a criar raízes, e que portanto, não podem resistir às intempéries produzidas por se ter abraçado o evangelho.
c) Lugares com espinhos, representam os corações volúveis e cobiçosos, que não conseguem resistir aos cuidados e à sedução das riquezas mundanas.
Estes são como plantas que podem até mesmo criar umas poucas raízes e atingirem um certo crescimento, mas por fim morrem espiritualmente, porque não permitirão que seus egos cobiçosos sejam vencidos pela graça, produzindo uma verdadeira conversão de seus corações.
d) Finalmente, o único tipo de solo que pode produzir o fruto de conversão esperado por Deus são aqueles que possuem corações que são solos férteis, que permitiram serem limpos das pedras e dos espinhos que poderiam atrapalhar o seu crescimento espiritual.
Estes não somente entendem a palavra do reino, como produzem frutos para Deus, ainda que uns mais do que outros, em função da fertilidade do solo de seus corações, na diligência na busca da santificação, porque esta não é absoluta e instantânea como a justificação e a regeneração. Ela depende também do empenho de cada cristão.
Daí haver cristãos mais santificados do que outros, porque a santificação depende do grau da consagração de cada um deles a Deus.    


Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 12/06/2014
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