Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Evangelho 58
“24 Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me;
25 pois, quem quiser salvar a sua vida por amor de mim perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.
26 Pois que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? ou que dará o homem em troca da sua vida?
27 Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras.
28 Em verdade vos digo, alguns dos que aqui estão de modo nenhum provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino.”

     É a cruz que trata com o ego do cristão, é ela que mortifica a carne liberando a vida do espírito, a saber, do nosso  homem interior.
O trabalho da cruz crucifica nossas paixões e cobiças, para que possamos não somente viver, mas também andar no Espírito Santo, conforme se vê em Gálatas 5.24,25.
     Nós lemos em Gênesis 6.3 o seguinte:
   “Então disse o Senhor: O meu Espírito não permanecerá para sempre no homem, porquanto ele é carnal, mas os seus dias serão cento e vinte anos.”
      O que podemos deduzir desta passagem das Escrituras senão que Deus não havia criado o homem para que ele vivesse pelo governo da sua alma?
O mundo antigo foi destruído pelas águas do dilúvio porque o homem havia se tornado carnal.
Mas o propósito de Deus na criação do homem é que este fosse espiritual e não carnal.
E quando Deus diz que o homem se tornou carnal por causa do pecado é a isto que Ele quer principalmente  se  referir,  porque não é governado pelo reino espiritual divino, mas pelo reino natural segundo a carne.
Desde a Queda no Éden a alma humana deixou de estar  em sujeição ao espírito e passou a assumir o governo do ser humano, tornando-se assim uma barreira para o conhecimento experimental da vida de Deus, que é espírito.
Se a vida eterna, a vida que Deus planejou desde antes da fundação do mundo, para o homem, depende da habitação do Espírito Santo no homem, e da plena comunicação do homem com o Espírito de Deus, então, a  conclusão lógica é que não haverá nenhuma vida onde Cristo não estiver habitando pelo Espírito.
Daí se  dizer que o espírito do homem, sem Cristo, está morto.  
Se Cristo não estabelecer o Seu governo no nosso coração, o que haverá será o  governo usurpador da alma contra a vontade de Deus.
E este governo da alma é designado na Bíblia como um viver segundo a carne. Segundo o homem natural e não segundo o homem espiritual.
Vale lembrar que a palavra constante de I Cor 2.14 para “natural”, quando Paulo diz que o homem natural não aceita as coisas do Espírito, tal palavra é no original grego psiquikós, que significa  aquilo que é relativo à alma.
Quando o homem é governado pelas faculdades da alma, e não pelas faculdades do espírito, ele agirá segundo a natureza terrena, porque a vida sobrenatural de Deus só pode ser vivida quando se é governado pelo espírito, e não pela alma.
Daí se afirmar que o homem natural, ou seja, aquele que é governado por um viver segundo a alma, e não segundo o espírito, não pode entender as coisas do Espírito Santo de Deus.
Os cristãos carnais a que Paulo se  refere  em  I Cor 3.1 em contraposição aos espirituais, são designados no original grego pela palavra sarkikós, para carnais, e os espirituais, pela palavra pneumatikós, que se refere ao espírito.
Em resumo, o trabalho da alma no cristão carnal é fazê-lo viver pela sua própria vida natural e trabalhar e servir a Deus pela  sua própria habilidade natural; e buscar conhecer o Senhor e sentir a presença  de Deus  através dos seus sentimentos; e usar somente a habilidade da sua mente para entender  a Palavra de Deus.
Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse: "38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 39 Quem achar a sua vida  perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim acha-la-á.".
Neste texto,  a  palavra para vida no original grego é psiquê, que significa alma.
Não se trata  propriamente de se matar a alma, mas o modo de viver pela alma, para que se possa viver pelo espírito. É isto que Jesus quis dizer com suas palavras.
Este modo de viver pela alma somente pode ser morto pela  cruz. É por isso que em outras passagens do Evangelho, como  em  Lc  14.26,27  por exemplo, Jesus associou a perda da vida da alma ao ato voluntário de se carregar a cruz e de se auto negar, para poder segui-lO.
Assim, sem cruz, não há a verdadeira vida abundante que Jesus veio nos dar.
Jesus disse que veio para dar vida e vida abundante. Esta vida é espiritual e eterna.
Deste modo, teremos mais desta vida, quanto mais mortificarmos o nosso velho homem.
Muito mais a vida da nova criatura em Cristo Jesus florescerá, no terreno em que a vida do velho homem for mais mortificada.  
E é nesta condição de ter a alma e espírito separados pela  Palavra de Deus, que o espírito é livrado dos embaraços  e  pesos  da alma que assediam juntamente com o pecado tão de perto a vida dos cristãos.
É somente o cristão espiritual que pode ser livrado  dos pesos deste mundo que tentam impedir  a sua  corrida espiritual porque os atrativos do mundo já não exercem fascínio sobre a  sua alma santificada, porque o seu espírito tem achado deleite na Palavra de Deus, na Sua obra e vontade.
E então a alma é  levada  a compartilhar deste deleite, em vez de se sentir facilmente tentada e atraída pelos prazeres que são oferecidos pelo mundo.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 13/06/2014
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