Evangelho 60
“14 Quando chegaram à multidão, aproximou-se de Jesus um homem que, ajoelhando-se diante dele, disse:
15 Senhor, tem compaixão de meu filho, porque é epiléptico e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água.
16 Eu o trouxe aos teus discípulos, e não o puderam curar.
17 E Jesus, respondendo, disse: ó geração incrédula e perversa! até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei? Trazei-mo aqui.
18 Então Jesus repreendeu ao demônio, o qual saiu de menino, que desde aquela hora ficou curado.
19 Depois os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, perguntaram-lhe: Por que não pudemos nós expulsá-lo?
20 Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível.
21 [mas esta casta de demônios não se expulsa senão à força de oração e de jejum.]” (Mateus 17.14-21)
Nós comentaremos esta passagem com a apresentação de um sermão de Spurgeon relativo ao assunto, o qual transcrevemos a seguir, em forma adaptada:
Quando Jesus desceu do monte da transfiguração, os seus discípulos estavam envolvidos numa discussão com os escribas diante de uma numerosa multidão, e quando Jesus interpelou os escribas sobre o motivo da discussão; uma pessoa saiu da multidão e respondeu que havia trazido seu filho que estava possuído de um espírito mudo, aos seus discípulos e estes não puderam expeli-lo. Jesus exclamou: “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei?”, e pediu que lhe trouxessem o menino. E ao perguntar ao seu pai desde quando aquilo lhe sucedia, ele lhe respondeu que desde a sua infância, e acrescentou: “mas se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos.”. E a isto Jesus respondeu: “Se podes! Tudo é possível ao que crê.”. E foi em face desta afirmação que o pai do menino proferiu as palavras do nosso texto.
“Senhor, eu creio”, disse o pai aflito. Quando nosso Senhor lhe disse que, se ele pudesse crer, todas as coisas lhe são possíveis, ele não demorou e não fez qualquer pausa, não desejou ouvir mais nenhuma evidência, mas clamou imediatamente: “Senhor, eu creio”.
Agora, observe que nós chamamos esta fé de fé verdadeira, e nós provaremos que tem sido assim. Primeiro, era fé na pessoa de Cristo. É um grande engano imaginar que endossar a sã doutrina é a mesma coisa que possuir a fé que salva, porque enquanto a fé que salva aceitar a verdade de Deus, isto se refere principalmente à pessoa e à obra do Senhor Jesus Cristo, e isto repousa em sua essência sobre o próprio Jesus. Eu não sou salvo porque eu creio na Bíblia, ou porque eu creio nas doutrinas da graça, mas eu sou salvo se eu crer em Cristo; em outras palavras, por confiar nele. Jesus é meu credo. Ele é a verdade. No senso mais alto o Senhor Jesus é a Palavra de Deus. Conhecê-lo é a vida eterna. Pelo seu conhecimento ele justifica a muitos (Is 53.11).
Eu não sei se o pai na narrativa diante de nós tinha ouvido muitos sermões. Eu não estou seguro que ele tivesse noções muito claras sobre tudo o que pertence ao reino do Salvador: isto não era essencial para que ele obtivesse a cura para o seu filho. Seria uma coisa muito desejável que ele fosse um discípulo instruído, mas na emergência diante de nós a coisa principal seria que ele deveria crer que Cristo estava disposto a expulsar o espírito imundo que dominava o seu filho.
Até aquele ponto ele creu; e, entretanto a sua fé pode ter sido deficiente em sua profundidade, contudo lhe permitiu perceber que o Messias que estava diante dele era o Senhor, e isto o levou a colocar toda a sua confiança nele.
Ele não creu nos discípulos; ele tinha confiado neles uma vez e eles falharam. Ele não creu em si mesmo; ele conhecia a sua própria impotência para expulsar o mau espírito do seu filho. Ele não creu nos remédios dos homens, mas ele creu no homem de semblante resplandecente que havia descido da montanha há pouco.
Quando ele o ouviu dizer: "Se tu podes crer, todas as coisas são possíveis ao que crê", ele disse imediatamente, "Senhor, eu creio.". Eu espero, amados, que vocês coloquem sua confiança da mesma maneira em Jesus, enquanto creem que Ele está disposto a socorrê-los. Esta é a fé que vai efetivamente salvar-te, curar-te, repreender a ação dos demônios sobre tua vida e tudo mais que se refira às tuas necessidades.
A fé daquele homem era fé verdadeira porque era fé pessoal sobre o assunto em questão, fé sobre o caso que ele estava apresentando.
Crer para outros é uma questão fácil, mas quando isto se refere ao seu próprio caso, crer que o seu pecado pode ser destruído, que você, que tem agido tão mal como o filho pródigo, pode ser recebido por seu Pai e que suas doenças espirituais podem ser curadas, e que o diabo pode ser expulsado de você - aqui está o trabalho, aqui está a dificuldade. Mas, amados, nós devemos crer nisto ou então nós não temos fé que salva. Eu crerei que o meu Salvador pode resolver qualquer problema das pessoas, e menos os meus?
A fé daquele homem era uma fé verdadeira porque ela triunfou sobre as dificuldades. O seu filho estava atormentado pelo espírito maligno há muito tempo, desde a sua infância. E agia de modo terrível procurando tirar-lhe a vida.
Os anos se passavam e o menino piorava. Isso enfraquece a esperança de qualquer um. Mas aquele pai intercedeu com fé pelo seu filho, ainda que abatido pelas lutas de anos a fio. Este homem pode ter considerado por muito tempo que o caso do seu filho não tinha mais esperança. O caso lhe parecia impossível. Por isso Jesus diz para fortalecer a sua fé: “tudo é possível ao que crê”. Eu espero assim, caso haja alguém em nosso meio que tenha perdido a esperança ou que não creia que haja cura para o seu caso que lhe parece impossível, que não há impossibilidade para aquele que crê no Senhor.
Tenha a fé de Abraão que creu contra a esperança.
Na presença de Cristo a confiança do homem voltou a ele. De repente, esta é a sua principal necessidade. Você precisa entrar na presença do Senhor pela oração e obediência à Sua vontade, e ali, você verificará que a sua fé é fortalecida por Ele e você pode ver que tudo é possível ao que crê.
Venha aos pés de Jesus e creia nele. Qualquer razão pode vir sobre sua alma, levando-o ao desânimo, em razão de derrotas passadas, mas creia firmemente que o poder dEle ainda é invencível; o braço do Senhor não está encurtado de modo que ele não possa salvar, o seu ouvido não está fechado de maneira que Ele não possa ouvir.
O espírito maligno agitou o menino quando Jesus se aproximou dele, porque sabia que o seu tempo era curto. Quando o Salvador lhe ordenou que saísse do menino, o espírito imundo clamou e agitou muito o menino antes de sair, deixando-o como se estivesse morto. E muitos pensaram que ele tinha morrido. Mas Jesus o tomou pela mão e o ergueu, e ele se levantou. É possível que muitos já tenham sido abençoados pelo Senhor mas ainda estejam deitados como mortos em seu desânimo pelos ataques que sofreram do Inimigo.
É preciso permitir serem erguidos agora pelas mãos do próprio Jesus, de maneira que sejam levantados na liberdade dos filhos de Deus para prosseguirem na jornada da vida.
A dúvida pode entretanto assaltar a fé na hora em que se trava o combate. E quando dizemos como o pai do menino: “eu creio, ajuda-me na minha incredulidade”, estamos na verdade dizendo que reconhecemos que a dúvida invadiu o nosso coração, apesar de continuarmos crendo no Senhor e no seu poder para nos ajudar. Ainda que lhe digamos”se tu podes fazer alguma coisa por nós, tem compaixão de nós, e ajuda-nos” assim como fizera o pai do menino, indicando não a nossa falta de fé no Seu poder para realizar o que quer que seja, mas quanto ao Seu interesse efetivo na nossa necessidade específica, nós podemos confiar na Sua bênção e socorro porque sabemos que tudo está sob o domínio da Sua soberana vontade, e não poderemos saber se Ele nos atenderá ou não caso não nos revele isto pelo Seu Espírito. Por isso faremos bem em pedir que nos ajude na nossa falta de fé, quando se mostra favorável à resolução do nosso problema e nos indica que devemos crer que Ele está interessado em nos atender. Foi isso o que o pai do menino fez quando percebeu que o Senhor Onipotente atuaria em seu favor. Ele sabia que Ele podia todas as coisas, mas precisava confiar também que Ele queria resolver o seu problema. Por isso pediu que fosse ajudado a crer nisto.
A batalha estava se desenvolvendo naqueles poucos minutos. A fé que o levou a recorrer a Cristo, estava sendo provada em sua perseverança. Ele deveria manter a fé. Deveria continuar confiando. Os discípulos afinal, estavam a serviço de Jesus e não puderam expulsar o espírito maligno. É provável que tenha chegado ao conhecimento do pai que aqueles mesmos discípulos haviam expulsado antes muitos demônios. E por que não puderam fazê-lo agora ? Seria o problema do seu filho um problema tão grande que estivesse fora da esfera de poder ser resolvido por Cristo e seus discípulos? A fé daquele homem estava sendo provada. Este é o ponto. É no contexto da situação real que devemos avaliar as suas palavras e as do Senhor no texto bíblico. É nesta condição que ele pede que seja ajudado pelo Senhor na sua falta de fé, na dimensão que ele sabia que ela podia se firmar no Senhor: até o ponto de não ter qualquer sombra de dúvida, ou temor, receio, inquietação no coração.
Faríamos bem em ter a sinceridade daquele pai, dizendo a verdade ao Senhor: “ajuda-me na minha incredulidade” porque não cremos como o Senhor é digno de ser crido. Pecadores e fracos que somos, vacilamos muitas vezes, mas é preciso progredir e buscar nEle e por Ele que a nossa fé seja mais e mais fortalecida.
A fé pode ser pequena ou fraca, mas se for verdadeira ela salvará a nossa alma e nos trará as bênçãos de Deus.
É observado que aquele pai não disse: "Senhor, eu creio, mas tenho algumas dúvidas", e menciona isto como se fosse uma mera questão de inteligência comum. Oh, não; ele disse isto com lágrimas; ele fez uma confissão triste disto. Não era a mera declaração de um fato, mas era o reconhecimento de uma falta. Com lágrimas ele disse: "Senhor, eu creio", e então reconheceu a sua incredulidade. Aprenda então, no seu exemplo, sempre olhe para a incredulidade em Cristo na luz de uma falta. Nunca diga: "Esta é a minha fraqueza", mas diga: "Este é o meu pecado.". Por que eu deveria descrer do meu Senhor? Como ouso duvidar de quem não pode mentir? Repreendam a si mesmos, por suas dúvidas. As dúvidas estão entre os piores inimigos de suas almas. Não as entretenha. Não as trate como se elas fossem viajantes errantes. Lute contra elas, mate-as, e peça a Deus para ajudar-lhe a matá-las, e as enterre.
A dúvida e a incredulidade deve ser detestada, e ser confessada com lágrimas como pecado diante de Deus. Assim como fizera o pai daquele menino. Nós precisamos de perdão por duvidar.
É notável o fato que o pai do menino que estava possesso, não disse: "Senhor, eu creio; ajude meu filho." Nem disse: "Senhor, eu creio; agora expulse o diabo do meu menino.". Não; ele percebe que a sua própria incredulidade era mais dura do que superar o diabo. Este é o ponto para se chegar, sentir que não há nenhuma deficiência no mérito de Cristo; nenhuma falta de poder no seu sangue precioso; nenhuma repugnância no coração de Cristo para me salvar; mas todo o obstáculo reside na minha incredulidade. Nenhum médico pode curar incredulidade mas somente Cristo.”
A estas palavras de Spurgeon devemos acrescentar o comentário relativo à parte final desta passagem de Mateus, na qual os discípulos perguntaram a nosso Senhor qual foi a causa de não terem podido eles expulsar o demônio?
Ele lhes respondeu que a causa foi a pouca fé deles, menor ainda do que um grão de mostarda, porque uma fé tão pequena como esta pode ser suficiente para realizar proezas, até mesmo deslocar um monte de seu lugar, se esta fosse a vontade de Deus.
Com esta afirmação nosso Senhor quis nos ensinar que não há impossíveis para a fé, por menor que ela seja.
Todavia, a fé é muito preciosa e não pode ser obtida senão da nossa comunhão real com Deus, e esta decorre de uma vida de oração e jejum. Portanto, não se deve jejuar para expulsar demônios, mas ter uma vida de comunhão tal com Deus, que para orarmos, abriremos até mesmo mão, de nossos momentos regulares de refeição.
Esta vida de intimidade espiritual com o Senhor é obtida pelo hábito da oração constante e perseverante, não como um hábito mecânico religioso, mas como um canal de efetiva comunhão com Ele, de modo, que assim sendo, nos tornamos hábeis para sermos Seus instrumentos, para a realização da Sua obra, inclusive para expulsar demônios, porque não somos propriamente nós que o fazemos, mas o Seu poder operante em nossas vidas.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 13/06/2014