Aprendendo da História dos Israelitas dos Dias de Moisés
O maná, citado no 11º capítulo do livro Números, representa a provisão de Deus estritamente necessária para a manutenção da nossa vida.
Há muitas situações em que muitos servos de Deus são assim providos pelo Senhor, para serem provados em sua fé, de modo que possam se revelar gratos pela Sua misericordiosa provisão, sem a qual não poderiam sobreviver.
Todavia, não são poucos os que murmuram, quando são encontrados nesta condição de terem que sobreviver com o estritamente necessário, porque se sentem frustrados em não alcançarem tudo quanto têm ambicionado.
Era exatamente esta a situação que Israel estava experimentando em sua caminhada no deserto, só que em vez de serem gratos e se regozijarem em Deus, pela misericórdia de lhes ter livrado da escravidão no Egito, e lhes dar o maná de forma miraculosa, eles se deixaram vencer por suas cobiças carnais e endurecidos pelo pecado, vieram a murmurar não poucas vezes, porque estavam se rebelando contra a situação que estavam sendo obrigados a experimentar pela vontade do Senhor.
Eles não queriam se submeter ao desígnio de Deus, ao contrário queriam satisfazer aos desejos do seu próprio coração, e assim, queriam ter de volta a mesma alimentação que tinham à sua disposição no Egito, ainda que debaixo de escravidão.
A fraqueza da lei pela carne (Rom 8.3) revelou-se plenamente na Antiga Aliança, pois apesar de estarem sob o regime da lei, a lei descobriu o pecado dos israelitas, mas não pôde destruí-lo; pois isto pode ser feito somente pelo poder da graça.
Tão logo partiram do Sinai, em face das dificuldades do deserto, no qual haviam caminhado três dias, eles reclamaram e mostraram abertamente o seu descontentamento, e isto despertou o fogo do juízo de Deus, que consumiu as extremidades do arraial, e o povo clamou a Moisés, e este clamou ao Senhor, e o fogo apagou (Núm 11.1,2).
Deus admite a nossa queixa quando há uma razão justa para isto, como vemos, por exemplo, no Sl 142.1,2:
“Com a minha voz clamo ao Senhor; com a minha voz ao Senhor suplico. Derramo perante ele a minha queixa; diante dele exponho a minha tribulação.”
Queixar-se da condição é uma coisa, e queixar-se de Deus é outra muito diferente, e é nisto que consite a murmuração.
Então, quando esta queixa é contra o Senhor, podemos estar certos de despertar o Seu juízo contra nós, assim como se deu com os israelitas.
O fogo que havia consumido Nadabe e Abiú estava cercando os israelitas e ameaçando consumi-los.
Eles haviam murmurado várias vezes desde que haviam saído do Egito, mas não houve nenhuma manifestação da ira de Deus contra eles, como estava ocorrendo agora, porque eram indesculpáveis, pois conheceram perfeitamente qual era a vontade do Senhor em relação a eles, nos doze meses em que permaneceram no Sinai para o fabrico do tabernáculo e para receberem a Lei e os mandamentos de Deus para eles.
Aquele fogo havia sido apenas um fogo de advertência, de modo que não viessem a murmurar no futuro, e a evitarem assim, que lhes sobreviesse algum juízo.
Aquele lugar recebeu um novo nome, a saber, Taberá, que significa queima.
Porém, por influência do misto de gente que havia se juntado aos israelitas, quando deixaram o Egito, que é denominado no hebraico por aspesof, que significa mistura, e pelo grande desejo manifestado por eles de voltarem ao Egito, para comerem das comidas daquela terra, o povo de Israel se deixou influenciar fortemente e veio a murmurar de novo contra o Senhor, porque queriam especialmente comer carne todos os dias, e não estavam satisfeitos em terem que comer o maná.
Aqueles que eram de outra nacionalidade, e que haviam deixado o Egito juntamente com os israelitas, queriam apenas a terra prometida, mas não o Senhor, e muito menos passarem pelas provações que seriam necessárias até que viessem a alcançá-la.
Certamente, pouco lhes agradava terem que se submeter às ordenanças de Deus. Este fermento levedou a massa inteira.
Por isso a Bíblia é bastante enfática em ordenar aos cristãos a não se colocarem em jugo desigual com aqueles que desprezam o Senhor e os Seus mandamentos, para participarem das suas práticas e/ou ficarem debaixo da influência dos seus hábitos e costumes, pois o resultado será sempre este que o povo de Israel experimentou, a saber, desviar-se dos caminhos de Deus.
Sempre será oportuno atentar para a ordem do apóstolo:
”E com muitas outras palavras dava testemunho, e os exortava, dizendo: salvai-vos desta geração perversa.” (At 2.40)
As pessoas que levaram Israel à ruína, nos dias de Moisés, sequer haviam sido contadas quando foi feito o censo, porque não tinham qualquer participação na genealogia dos filhos da promessa, a saber, dos descendentes de Jacó.
Com isto não se sentiam obrigados a terem qualquer compromisso com Deus.
Muitos israelitas se igualaram a eles, apesar de saberem que estavam arrolados entre os aliançados com o Senhor, pela promessa que Ele havia feito aos patriarcas.
É preciso saber distinguir entre o amor que é devido a todos os nossos semelhantes, pela nossa descendência comum em Adão, mas é preciso também reconhecer que fazemos parte de uma nova Cabeça, de uma nova criação, e que as coisas antigas já passaram, pois em Cristo tudo se fez novo.
Quando a semente santa se mistura àqueles que vivem escravizados ao pecado, os seus ouvidos se fecharão às instruções dos ministros de Deus, e se deixarão conduzir por doutrinas, costumes e hábitos estranhos e abomináveis ao Senhor.
A porta da salvação está aberta para todos. A graça de Jesus está disponível para todos os que se arrependerem do pecado.
Então não se trata de discriminação ou acepção de pessoas, porque o próprio Deus não o faz. Mas o que se pode esperar quando alguém faz acepção de Deus e o rejeita deliberadamente? Que se minta ou que se disfarce, dizendo que faz parte do contingente daqueles que o amam e servem?
O espírito de queixa se alastra como fogo, e todas as famílias de Israel vieram a chorar reclamando que nada tinham para comer além do maná.
Foi tão grande a pressão que fizeram sobre Moisés, lhe pedindo que lhes desse carne a comer, que ele derramou toda a aflição de sua alma perante o Senhor, pedindo até mesmo que lhe tirasse a vida, pois o encargo de conduzir todo aquele povo era pesado demais para ser suportado por ele.
No meio da calamidade o Senhor proveria um alívio para Moisés, designando setenta anciãos aos quais revestiria com o poder sobrenatural do Espírito, para que o auxiliassem.
Como sinal de que estes tinham recebido o Espírito de Deus, para também liderarem o povo, debaixo da liderança geral de Moisés, foi-lhes dado que profetizassem, e até mesmo dois deles que não se encontravam no ajuntamento, por não estarem na tenda da congregação, mas fora no arraial, que também profetizaram, e se diz que nenhum deles profetizou depois disto, porque Moisés era o profeta de Deus entre eles, e isto evitaria que viessem a disputar a posição de Moisés no futuro, movidos por ambição, ciúme, rebelião ou por influência de Satanás; e disseminassem ensinos como sendo proferidos por Deus para o povo de Israel, quando na verdade não passariam de enganos.
Deus poderia fazer com que todos tivessem os mesmos dons e poderes espirituais, para o exercício da liderança, mas isto faria com que muitos deixassem de reconhecer aqueles que Ele tem levantado para liderar o Seu povo.
Nós vemos este cuidado e critério do Senhor, ao longo de toda a história da Igreja, e desde os dias apostólicos, quando muitos, eram batizados com o Espírito Santo, somente quando um dos apóstolos estivesse presente entre eles, apesar de terem sido evangelizados antes, por outros servos de Cristo (At 8.16; 19.3-5).
Quando o Senhor ordenou a Moisés que dissesse ao povo que se santificasse, porque lhes daria carne para um mês inteiro, Moisés se sentiu constrangido e protestou diante de Deus, porque como diria aos israelitas que Ele havia prometido dar carne, para um mês inteiro, porque somente de homens preparados para a guerra havia mais de 600.000 mil almas?
Mas a resposta do Senhor foi dada com uma pergunta: “Porventura tem-se encurtado a mão do Senhor?”, e a isto acrescentou: “agora mesmo verás se a minha palavra se há de cumprir ou não.”
Moisés disse as palavras do Senhor ao povo, e a Bíblia nada fala sobre a reação deles, mas é bem possível que muitos tenham não apenas duvidado da promessa de Deus, em face da Sua grandiosidade, e não seria nada improvável, que muitos deles tivessem até escarnecido tanto de Moisés, quanto do Senhor, e não seria de se estranhar que os que viriam a ser submetidos ao juízo que lhes sobreviria, quando estivessem comendo a carne, fossem contados entre estes que não eram dignos de se alimentarem do milagre operado por Deus, em face da sua incredulidade.
De fato a incredulidade mata não somente com a morte física e espiritual, como também com a eterna, pois a única forma de se ter vida e vida em abundância é pela fé em Cristo.
Muitos descreem da promessa de Deus de nos dar não apenas provisão para um mês inteiro, no meio do grande deserto espiritual de nossas vidas, mas para a vida eterna, e não com o alimento que vai para lugar escuso, mas com o alimento espiritual que está em Jesus Cristo, e que permanece para sempre.
Realmente é uma oferta muito grandiosa, imerecida por nós, mas todos os que tiverem um coração simples e sincero, e a pegarem com a mão humilde da fé, receberão o seu cumprimento, e serão salvos.
O desejo dos israelitas seria satisfeito por Deus, pois lhes daria carne de codornizes para mais de um mês, e era tanta carne que eles levaram dois dias recolhendo aqueles pássaros no campo.
Entretanto a satisfação do desejo não seria para o bem deles, senão para juízo, pois não puderam ter o prazer de desfrutar com alegria e satisfação o que colheram, pois antes mesmo que engolissem o alimento, quando a carne ainda estava entre os seus dentes, muitos deles foram feridos com uma praga mortal que lhes sobreveio da parte do Senhor, em razão da manifestação da Sua ira contra o seu pecado.
O nome do lugar onde foram sepultados passou a se chamar Quibrote-Taavá, que significa no hebraico “túmulo do desejo”, pois o desejo deles foi sepultado juntamente com eles naquele lugar.
Aqui está uma grande lição que é mais importante ter pouco com contentamento do que muito sem estar satisfeito, porque sem a aprovação de Deus, nada do que venhamos a conquistar, mesmo da parte dEle, poderá fazer com que estejamos alegres, em paz e com contentamento em nossos corações.
Aquilo que é alcançado pela obstinação do nosso ego carnal contra a vontade do Senhor para nós, não poderá jamais ser traduzido em bênção para as nossas vidas.
Não havia nenhuma falha no maná, mas mentes descontentes acham falhas onde elas não existem.
Veem penúria onde está havendo provisão miraculosa da parte de Deus.
O mau humor há de dominar a todo aquele que não aprender a viver contente em toda e qualquer situação, que é a norma bíblica de vida para todos os filhos de Deus.
A falta de contentamento conduz imediatamente à ingratidão, e é da vontade dEle que em tudo Lhe demos graças.
É uma ofensa a Deus deixar os nossos desejos irem além da nossa fé.
É neste sentido que nos é ordenado não estarmos ansiosos por coisa alguma, porque os nossos desejos, não raro, podem nos conduzir à ansiedade.
Em I Cor 10.6 nós somos alertados que tudo o que foi registrado na Bíblia em relação à história de Israel, foi para advertência da igreja de Cristo, de modo a não incorrer nos mesmos erros em que eles incorreram:
“Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.” (I Cor 10.6).
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 15/06/2014