Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Evangelho 85
” 1 Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo.
2 Cinco delas eram insensatas, e cinco prudentes.
3 Ora, as insensatas, tomando as lâmpadas, não levaram azeite consigo.
4 As prudentes, porém, levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas.
5 E tardando o noivo, cochilaram todas, e dormiram.
6 Mas à meia-noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! saí-lhe ao encontro!
7 Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas.
8 E as insensatas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando.
9 Mas as prudentes responderam: não; pois de certo não chegaria para nós e para vós; ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós.
10 E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o noivo; e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta.
11 Depois vieram também as outras virgens, e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta.
12 Ele, porém, respondeu: Em verdade vos digo, não vos conheço.
13 Vigiai pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.” (Mateus 25.1-13)

O que é ilustrado neste vigésimo quinto capítulo de Mateus é o reino dos céus e o estado das coisas debaixo do evangelho, o  reino externo de Cristo e a sua administração e sucesso.
É particularmente ilustrado o modo como o reino será consumado por ocasião da volta do Senhor Jesus.
E nesta parábola é ilustrada uma solenidade de matrimônio entre os judeus, na qual era costume o noivo ser conduzido pelos seus amigos, tarde da noite, à casa da sua noiva, onde esta o esperava com as suas damas de companhia que tinham por principal função notificar-lhe da aproximação do noivo, o qual elas conduziam pelo interior da casa com suas lâmpadas através da escuridão, até o aposento em que a noiva se encontrava.  
O noivo da parábola é nosso Senhor Jesus Cristo, e a noiva, a Igreja, quando esta for entregue a ele, sem mácula, ruga ou qualquer outro defeito.
Estas virgens são especialmente os mestres do evangelho, membros da Igreja, que têm a seu encargo preparar a noiva para apresentá-la a Cristo, tal como as damas de companhia da parábola tinham tal encargo em relação à noiva, nos costumes antigos de Israel.
O dever destas virgens citadas na parábola era o de conhecer o noivo para poderem realizar o dever delas. Elas deveriam esperar o noivo até que Ele aparecesse. E aqui está resumida a natureza do cristianismo, e especialmente o dever dos líderes da Igreja. Como cristãos, somos servos de Cristo e devemos honrá-lo como o Noivo glorioso, especialmente quando Ele vier para ser glorificado nos Seus santos.
É comum se pensar no evangelho como apenas a realização de milagres, curas e expulsões de demônios por Jesus Cristo, mas na verdade, o relato do evangelho se ocupa muito mais em descrever as características essenciais do Reino dos céus e dos seus cidadãos, conforme temos visto ao longo do nosso estudo de Mateus, e daí, a expectativa do Senhor de que se empenhem na sua salvação e santificação, todos os que leem ou ouvem o evangelho.  
Assim, como a preocupação principal das virgens deveria ser a de terem lâmpadas acesas em suas mãos para recepcionarem o noivo, para honrá-lo e servi-lo, de igual modo devem os cristãos, que são filhos da luz, terem a luz do evangelho não apenas em si mesmos, mas tê-la brilhando para iluminarem a outros, e é desta forma que eles devem ser achados por ocasião da volta do Senhor.  
Quanto ao caráter daquelas virgens se evidencia que cinco eram sábias e cinco eram tolas.
E isto indica que apesar de existirem pessoas da mesma profissão e denominação quanto ao evangelho, entretanto existe uma imensa diferença de caráter à vista de Deus. Cristãos sinceros são as virgens sábias, e os hipócritas, as tolas.  
Estas parábolas citadas no vigésimo quinto capítulo de Mateus foram proferidas no contexto de tudo o que se relata nos capítulos 23 e 24. No vigésimo terceiro nós vemos Jesus repreendendo severamente os escribas e os fariseus por causa da hipocrisia deles, e por serem mestres desviados da verdade que não se conduziam segundo a Palavra de Deus, e assim não podiam dar boa direção aos que estavam debaixo da liderança deles.
E estas coisas haviam ocorrido no interior do templo de Jerusalém.
E no momento que Jesus estava saindo do templo (24.1) os discípulos vieram até Ele para lhe mostrar as construções do templo, orgulhosos que deviam estar delas, por serem um símbolo nacional da religiosidade de Israel.
Mas foram surpreendidos com as palavras de Jesus que dele não ficaria pedra sobre pedra (24.2).
E foi quando Ele chegou ao Monte das Oliveiras que os discípulos se sentiram movidos a perguntar-lhe sobre o que havia dito sobre a destruição do templo e quais coisas sucederiam por ocasião da Sua vinda na consumação do século (24.3).
E foi isto que deu ocasião para que Ele abrisse o sermão profético de todo o capítulo vigésimo quarto.
E as duas parábolas deste vigésimo quinto capítulo (das dez virgens e dos talentos) foram proferidas por Jesus então com o propósito de ser ilustrado o que ocorreria com aqueles que professavam conhecer a Deus, por ocasião da inauguração do reino dos céus na Sua vinda, especialmente com aqueles líderes religiosos de Israel, que não se aplicavam de modo devido às exigências e deveres do reino relativos à própria vida, e não somente eles, como todos os líderes que não servem ao Senhor do modo devido, e que estão em trevas eles próprios, e aqueles que eles mantêm debaixo da sua liderança que não é segundo Deus e a Sua Palavra.
Um terrível banimento da presença do Senhor para todo o sempre será o quinhão da desobediência deles à verdade.
O Senhor dirá que não os conhece e que o destino eterno deles e dos seus seguidores são as trevas exteriores, que é o lugar de todos aqueles que viveram nas trevas, e não vieram para a luz para andarem na luz.  
Aqueles que são realmente sábios, ou tolos, sempre o serão em relação aos assuntos que dizem respeito à condição das suas almas.
A santificação é verdadeira sabedoria, e o pecado é tolice e loucura, especialmente o pecado da hipocrisia, porque estes são os maiores tolos, porque são sábios aos seus próprios olhos, na própria vaidade deles, e para Deus estes são os piores  pecadores, a saber, aqueles que fingem santidade e justiça diante dos homens e que na verdade não têm luz em si mesmos, e não estão se aplicando efetivamente às coisas relativas ao reino de Deus, conforme reveladas na Palavra, e segundo um viver sob a direção e instrução do Espírito Santo.            
Os cristãos sábios são aqueles que fazem provisões para sua vida espiritual (azeite, que representa o Espírito Santo) de modo a poderem atender às exigências do reino de Deus, até a volta do Noivo.
Eles estão sempre em condições de atender à Sua recepção, mesmo se estiverem dormindo quando Ele voltar.
O sono aqui referido na parábola não é o espiritual, por uma indolência e falta de diligência quanto à santificação de suas vidas, mas o sono físico.
Estes que estão preparados logo se levantarão ao serem despertados pelo toque da trombeta de Deus para o arrebatamento, e irão ao encontro do Noivo entre nuvens, porque eles têm a provisão necessária em suas vidas santificadas para estarem na presença dAquele cuja vinda eles tanto esperaram e ansiaram por ela, demonstrando-o não pela simples manifestação de um desejo, mas pelo empenho em estrita obediência à Sua vontade.
Quanto aos tolos, aos hipócritas, eles chegam até mesmo a fazer alguma provisão para o reino de Deus, chegando a acender as suas lâmpadas com uma profissão religiosa externa.
Mas isto não afeta o caráter e o coração deles. Eles não estão efetivamente envolvidos com os assuntos do reino de Deus e com os Seus santos interesses.
Eles não são meros cristãos descuidados, mas cristãos nominais que não conhecem efetivamente ao Senhor, e que pouco estão interessados com a Sua volta, o que se comprova pelo fato de não fazerem nenhuma provisão do azeite requerido, que significa a comunhão com Deus mediante a Sua Palavra e Espírito, que são o combustível, que faz queimar a verdadeira santificação, que faz as nossas vidas brilharem com a luz do Evangelho.
E se a verdade do reino de Deus está de tal forma disposta por Ele subentende-se que aqueles que são verdadeiramente Seus filhos têm o dever de estarem sempre prontos em santificação de suas vidas, porque estas parábolas mostram claramente qual será o final dos hipócritas que se ocuparam com a demonstração de uma santidade superficial, externa, e que não procedia de fato dos seus corações.
O coração é o depósito, o tesouro onde podem ser guardadas as coisas boas do reino, ou as más do pecado. Então é no coração em que se deve fazer provisão da Palavra de Deus e da presença do Espírito Santo, e é do coração que deve proceder toda a nossa santificação.
O coração é o recipiente que deve ser abastecido com o azeite espiritual da Palavra e do Espírito Santo que nos fazem arder em santificação. De modo que os próprios cristãos devem ser estas lâmpadas que iluminam o mundo com a verdade do evangelho.  
Assim, as virgens sábias poderiam tirar cousas boas do bom tesouro dos seus corações.
A luz dos cristãos são as boas obras que eles devem fazer diante dos homens, para que o nome de Deus seja glorificado. E sem o azeite espiritual da diligência, da perseverança, da santificação, da oração, da prática da Palavra, da obediência ao Espírito Santo, não é possível manter a chama acesa. Devemos lembrar que o azeite era o combustível do passado, que era usado para queimar como uma lâmpada, e assim emitir luz e calor, e assim o azeite espiritual dos cristãos deve trazer as pessoas das trevas para a luz.
Jesus ensinou claramente o dever de os cristãos perseverarem na verdade até a Sua vinda. Mas esta perseverança que é assim ordenada pelo Senhor não tem o mero propósito de nos deixar preparados para uma possível volta dEle inesperada, porque ela é a condição mesma em que devem viver os verdadeiros filhos de Deus.
Desde a morte e ressurreição de Jesus o Espírito Santo tem sido derramado em todas as nações, e assim, Deus tem disponibilizado a graça da salvação a todo aquele que a desejar e crer na Sua Palavra quanto ao modo de adquiri-la, que é pela graça, mas segundo o arrependimento e fé em Jesus Cristo.
Como podem os homens, em sua tolice, se queixarem então que não havia azeite suficiente e disponível para que eles enchessem as suas lâmpadas, de modo que nunca lhes faltasse a luz da verdade em suas vidas?
E o Noivo tem retardado o mais possível a Sua volta de maneira que muitos possam ter a oportunidade de adquirir o azeite precioso, neste longo tempo que lhes tem sido dado pela Sua completa longanimidade.
E como eles poderão então ser desculpados se forem achados sem o azeite que deveriam adquirir para terem luz em si mesmos, e assim honrá-lo em Sua Majestade Divina?
O fato de que cada um deve ter o seu próprio azeite indica que cada cristão, individualmente, deve ter a sua própria santificação porque ela é indispensável para a sua própria salvação.
Esta santificação não pode ser transferida a outros, como pensavam as virgens tolas ao pedirem às sábias que lhes dessem do seu azeite para poderem acender as suas lâmpadas.
Não podemos transferir nossa santificação a outros de modo a santificá-los, porque este é um trabalho exclusivo e progressivo do Espírito Santo e da Palavra de Deus, em cada cristão, individualmente..    
Os que são salvos têm que ter a sua própria graça. Embora nós tenhamos benefício na comunhão dos santos, e a fé a oração de outros podem redundar em bênçãos para nós, contudo é indispensável a nossa própria santificação para a nossa própria salvação. O justo viverá pela fé dele, e não pela de outros (Hc 2.4).
Todos darão contas de si mesmos no juízo, e serão julgados pelas suas próprias obras, e de nenhum modo serão levadas em conta as obras de outros em seu beneficio ou mesmo prejuízo.
E a graça que nós temos é suficiente apenas para nós mesmos quanto ao que é necessário para comparecermos diante de Deus.  
O melhor dos cristãos tem necessidade de pedir graça a Cristo, mas não tem nenhuma excedente para poder emprestar e transferir ao seu próximo.
A chegada inesperada do noivo e a pressa com que as cinco virgens tolas saíram para comprar azeite (graça) para suas lâmpadas traz para nós o grande ensino de que adquirir graça é um trabalho que exige tempo, e não pode ser feito às pressas.
O trabalho de santificação é progressivo porque é gradual.
O próprio trabalho de Deus na alma para conduzi-la ao arrependimento que lhe trará a justificação e a regeneração, é no caso de muitas pessoas, uma transação longa de convencimentos contínuos do Espírito Santo quanto ao pecado, à justiça e ao juízo, e estas pessoas são trabalhadas pacientemente por Deus nas circunstâncias reais da vida até atraí-las para a salvação em Cristo Jesus.
E isto permanece debaixo da Soberania de Deus, operando naqueles que hão de alcançar a salvação de suas almas.
Vemos assim que isto não poderá ser feito às pressas, pela própria pessoa, no momento em que ela decidir fazê-lo isoladamente, sem contar com todo este trabalho de Deus ao qual nos referimos.
Se a conversão é instantânea, no entanto o prazer de estar na presença de Deus cresce com o tempo de experiência com Ele.
E é o próprio Espírito que confere isto ao espírito dos santos.
Eles terão maior prazer de estarem na presença do Senhor à medida que o tempo passa.
E o azeite deles não se gasta com o tempo, ao contrário aumenta, porque a graça aumenta naqueles que se aproximam desta forma de Deus.
Quando o salmista diz: “Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia.” (Sl 34.8), ele não está se referindo a uma experiência fugaz e rápida com Deus, mas este crescer contínuo de se experimentar a bondade de Deus na própria vida com o passar do tempo.
Isto aumenta mais e mais e traz este estado de bem-aventurança de se refugiar continuamente nos braços poderosos do Senhor, não apenas para ser salvo da condenação futura, mas para achar ali descanso e paz contínuos para a alma.
Quão grandioso é isto para ser conhecido pelos que são como as virgens tolas, que não dão o devido valor à graça de Jesus, que é o que possibilita tal aproximação de Deus e gozo contínuo na alma.                .  
Por isso estes receberão a declaração dos lábios do Senhor, naquele dia, que Ele não os conhece, e acrescentará a isto o Seu “amém”, como está no original grego, e que traduzimos por “em verdade” (v. 12).
E como Esaú serão rejeitados para sempre porque não amaram a santidade de Deus e não desejam ser santificados por Ele.
Não conheceram o prazer que é servir o Senhor e estar na Sua presença, e efetivamente nunca o desejaram de fato no íntimo de seus corações.
Então a condenação deles será perfeitamente justa, conforme não poderia deixar de ser, porque o nosso Deus é digno de ser honrado e amado.
Se aqueles que desprezam a Deus serão rejeitados de uma forma definitiva como a que é declarada na parábola, de que cuidado não devemos ter então em vigiar em todo o tempo, aperfeiçoando a nossa santificação no temor de Deus?
Porque não sabemos o dia e a hora em que Ele voltará, e devemos ser achados por Ele de modo digno, conforme nos alerta na Sua Palavra.
Assim, diariamente, e em todas as horas de nossas vidas, devemos estar prontos.
Não devemos fixar um tempo para nos devotarmos a Deus, senão devemos Lhe devotar todo o nosso coração durante todos os dias e horas de nossas vidas, e devemos nos esforçar para não permitirmos estarmos fora da Sua presença.
É desse modo que mantemos as nossas lâmpadas continuamente acesas, porque Deus concede graça aos que O servem deste modo.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 19/06/2014
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