Evangelho 94
“47 E estando ele ainda a falar, eis que veio Judas, um dos doze, e com ele grande multidão com espadas e varapaus, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo.
48 Ora, o que o traía lhes havia dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse é: prendei-o.
49 E logo, aproximando-se de Jesus disse: Salve, Rabi. E o beijou.
50 Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? Nisto, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam.
51 E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha.
52 Então Jesus lhe disse: Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.
53 Ou pensas tu que eu não poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos?
54 Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?
55 Disse Jesus à multidão naquela hora: Saístes com espadas e varapaus para me prender, como a um salteador? Todos os dias estava eu sentado no templo ensinando, e não me prendestes.
56 Mas tudo isso aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então todos os discípulos, deixando-o fugiram.” (Mateus 26.47-56)
Nesta passagem, são descritas as circunstâncias da prisão de Jesus no jardim do Getsêmani.
Não havia ainda nenhuma acusação formal para que Ele fosse preso, mas Judas, acompanhado de uma grande multidão a serviço dos principais sacerdotes e anciãos de Israel, trouxe-os à noite, até Ele, para que não houvesse qualquer alvoroço por parte do povo.
Podemos dizer então, que aquela foi uma traição calculada e conluiada.
Nós usaremos o texto paralelo do evangelho de João para o nosso comentário desta passagem, porque ele acrescenta outros detalhes sobre a prisão de nosso Senhor, que não se encontram registrados na narrativa de Mateus.
Nos primeiros versos deste 18º capítulo (1 a 12) são descritas as circunstâncias da prisão de Jesus no jardim do Getsêmani.
Jesus havia voltado a Jerusalém na ocasião da Páscoa com o firme propósito de se entregar voluntariamente como oferta de sacrifício cruento pelos nossos pecados, porque Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Ele poderia ter procurado as autoridades de Israel e se entregado a eles, porque, afinal, estavam procurando prendê-lo pela falsa acusação de ter cometido o crime de blasfêmia e quebra da Lei de Moisés, por estar curando em dia de sábado.
No entanto, importava, segundo as Escrituras que lhes fosse entregue por um ato de traição, e que o prendessem por uma ação insidiosa e injusta, de maneira que ficasse configurada a corrupção deles.
Assim, as chaves do reino dos céus seriam tiradas definitivamente das mãos das autoridades religiosas de Israel, e passadas para aqueles que têm fé em Cristo, e também pela instituição de uma nova aliança, cuja vigência revogaria automaticamente a antiga, sob a qual aqueles líderes corrompidos de Israel regiam.
O ato de entrega das chaves do reino dos céus por Jesus a Pedro, bem demonstra o que temos afirmado.
Elas haviam sido tiradas das mãos dos sacerdotes, escribas e fariseus, e foram entregues aos apóstolos do Senhor, representados na pessoa de Pedro, naquele gesto de Jesus.
Os principais sacerdotes e fariseus haviam ouvido a seguinte sentença que Jesus havia dado se referindo a eles na parábola dos lavradores na vinha:
“Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” (Mt 21.43).
Eles não deixavam as pessoas entrarem no reino, assim como eles não entravam, com as suas práticas corrompidas e legalistas.
Eles continuariam com suas atividades religiosas, mas a glória de Deus já havia se retirado há muito tempo do culto corrompido que Lhe prestavam.
Para demonstrar que estava realmente se entregando voluntariamente, Jesus fez com que os soldados que vieram prendê-lo recuassem e caíssem por terra, quando se identificou como sendo aquele a quem eles buscavam.
Ninguém poderia tocar-Lhe caso assim o desejasse, mas importava que fosse preso, para que fosse conduzido à morte de cruz.
Aquela demonstração de poder sobrenatural tinha também por alvo gerar temor nos soldados de maneira que atendessem ao pedido de Jesus que se deixaria prender por eles caso deixassem livres os apóstolos, que se encontravam com Ele.
Até o Seu momento final o Senhor demonstrou o Seu grande cuidado e proteção para com aqueles que o amam.
Pedro tentou ainda reagir para impedir que Jesus fosse preso tendo arremetido contra o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.
João não registra o fato, mas sim os evangelhos sinópticos, que Jesus lhe restaurou a orelha que havia sido cortada.
O reino de Deus não deve ser conquistado nem defendido pela espada, e por isso Jesus ordenou que Pedro embainhasse a sua espada.
Nem ele, nem todos os exércitos deste mundo poderiam ter impedido que Ele bebesse o cálice de sofrimentos que deveria sorver completamente para vencer a morte, o pecado e o diabo, quando morresse por nós na cruz.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/06/2014