Evangelho 95
“57 Aqueles que prenderam a Jesus levaram-no à presença do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos.
58 E Pedro o seguia de longe até o pátio do sumo sacerdote; e entrando, sentou-se entre os guardas, para ver o fim.
59 Ora, os principais sacerdotes e todo o sinédrio buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem entregá-lo à morte;
60 e não achavam, apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas. Mas por fim compareceram duas,
61 e disseram: Este disse: Posso destruir o santuário de Deus, e reedificá-lo em três dias.
62 Levantou-se então o sumo sacerdote e perguntou-lhe: Nada respondes? Que é que estes depõem contra ti?
63 Jesus, porém, guardava silêncio. E o sumo sacerdote disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus.
64 Respondeu-lhe Jesus: É como disseste; contudo vos digo que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.
65 Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou; para que precisamos ainda de testemunhas? Eis que agora acabais de ouvir a sua blasfêmia.
66 Que vos parece? Responderam eles: É réu de morte.
67 Então uns lhe cuspiram no rosto e lhe deram socos;
68 e outros o esbofetearam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem foi que te bateu?
69 Ora, Pedro estava sentado fora, no pátio; e aproximou-se dele uma criada, que disse: Tu também estavas com Jesus, o galileu.
70 Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes.
71 E saindo ele para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este também estava com Jesus, o nazareno.
72 E ele negou outra vez, e com juramento: Não conheço tal homem.
73 E daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Certamente tu também és um deles pois a tua fala te denuncia.
74 Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.
75 E Pedro lembrou-se do que dissera Jesus: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou amargamente.” (Mateus 26.57-75)
Jesus foi preso como se fosse um malfeitor porque teve suas mãos amarradas, conforme se afirma no evangelho de João.
Ele que não havia oferecido qualquer resistência ao ser preso, e que não havia feito nenhum mal a qualquer pessoa, e muito menos qualquer ato de violência, estava sofrendo agora violência por parte daqueles que deviam debelar a violência e promover a justiça.
Eles queriam passar uma impressão de uma suposta periculosidade de Jesus ao terem-no tratado daquela maneira, ao mesmo tempo em que procurariam agradar às autoridades que lhes haviam enviado, porque bem conheciam o ódio que elas sentiam por Jesus.
Eles exibiram Jesus como um troféu do triunfo deles levando-o à residência de Anás, porque era sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote indicado para aquele ano.
Eles estavam em conselho há muito tempo para verem como prenderiam Jesus e agora estavam se deleitando com o triunfo deles.
No entanto, quando injustiças devem ocorrer, a providência divina se encarregará de conduzir ao poder homens maus como Anás, Caifás e Pilatos, para a própria ruína deles, de maneira que nenhum justo tenha que deliberar contra a justiça.
Importava que Jesus fosse injustiçado, mas Deus providenciou que isto fosse feito pelas mãos de ímpios, previamente preparados para aquela hora.
Então o triunfo daqueles homens foi a pior das ruínas que poderia ocorrer a qualquer mortal, a saber, a de condenarem o próprio Filho de Deus como um malfeitor digno de morte, por motivo de inveja e ódio, e baseando-se em acusações falsas e injustas.
O sumo sacerdote era conhecido por um discípulo de Jesus, do qual João não citou o nome, e nem com isto Ele se desviou da maldade que praticaria contra o Senhor.
Nós vemos nisto que Jesus terá discípulos até mesmo nas casas dos Seus piores inimigos. Ele sempre terá testemunhas em todas as partes para que todos os que Lhe resistem sejam indesculpáveis perante Ele no dia do juízo quanto à incredulidade e maldade deles; assim como dá-lhes também a oportunidade de se arrependerem pelo que virem no bom testemunho dos Seus servos.
Este discípulo de Jesus que era conhecido do sumo sacerdote acompanhou o Senhor até a sua sala, e sabendo que Pedro estava junto à porta, do lado de fora, levou Pedro para dentro.
Jesus havia dito a Pedro que o galo não cantaria naquela noite até que ele Lhe tivesse negado por três vezes. Pedro estava seguindo o Senhor porque disse que não o abandonaria de maneira nenhuma.
E nós temos nesta passagem a oportunidade de ver que para o serviço de Deus, e para os laços de comunhão eterna que devem existir entre os cristãos, o afeto natural é de pouco ou nenhum proveito porque não persistirá e não resistirá às provas a que for submetido, tal como ocorreu com Pedro, que negou veementemente que conhecia a Jesus quando foi confrontado na casa do sumo sacerdote.
Ele começou negando que conhecia Jesus logo à entrada quando a porteira lhe perguntou se não era um dos discípulos de Jesus (Jo 18.17).
Quando o sumo sacerdote perguntou a Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina, Jesus lhe respondeu que aqueles aos quais havia ensinado poderiam responder por Ele. Pedro certamente seria um destes, mas ele estava atemorizado demais para fazê-lo, e preferiu ficar se aquentando juntamente com os servidores que haviam acendido um braseiro, porque fazia muito frio naquela noite.
Jesus foi esbofeteado por um dos servidores por ter respondido ao sumo sacerdote daquela maneira. Mas o Senhor lhe perguntou por que lhe havia esbofeteado uma vez que se tivesse falado mal, o servidor deveria dar testemunho do mal que ele havia falado.
Na verdade Jesus não estava na obrigação de dar qualquer resposta a Anás, porque ele não era o sumo sacerdote principal naquele ano, mas Caifás seu genro, assim ele estava abusando de sua autoridade ao interrogar Jesus, porque deveria fazê-lo com um tribunal regularmente instituído para tal, e ao ver que não conseguiu obter nenhuma informação privilegiada da parte do Senhor, ele o enviou a Caifás, ainda manietado, para demonstrar que Jesus não havia obtido nenhum ato de misericórdia da sua parte.
Pedro negaria ao Senhor mais uma vez quando aqueles com os quais se aquentava lhe perguntaram se ele não era um dos discípulos de Jesus.
E logo o negaria pela terceira vez quando foi indagado por um dos parentes de Malco, também servo do sumo sacerdote, se não o tinha visto no jardim do Getsêmani juntamente com Jesus.
Assim que Pedro negou o Senhor pela terceira vez o galo cantou.
Mateus coloca a negação de Pedro no final da narrativa desta passagem, mas João registra a negação como tendo ocorrido na casa de Anás, e não no Sinédrio. Portanto, podemos inferir que Mateus destacou a negação de Pedro, sem se importar em colocar a narrativa em ordem cronológica, uma vez que não se ateve ao que havia ocorrido na casa de Anás, no seu evangelho.
Então, é neste ponto que Mateus inicia a Sua narrativa, a saber no Sinédrio, perante o sumo sacerdote Caifás, mas vemos no evangelho de João que nosso Senhor havia sido levado primeiro para a casa de Anás.
Foi no Sinédrio que se apresentaram falsas testemunhas para acusarem a nosso Senhor.
E como não conseguiam achar motivo para acusá-lo, por fim se apresentaram duas testemunhas que disseram ter ouvido o Senhor dizer que derrubaria o templo e que em três dias o reedificaria. Sabemos que Ele disse isto se referindo ao templo do Seu corpo, mas Suas palavras foram tomadas literalmente, e portanto, configurariam um sacrilégio contra a casa de Deus.
Indagado a respeito da acusação pelo sumo sacerdote, nosso Senhor guardou silêncio, porque importava não se defender, uma vez que deveria ser crucificado por um motivo injusto, para que pudesse levar sobre Si os nossos pecados.
Todavia, somente com esta acusação os romanos certamente se negariam a crucificá-lo, porque não se intrometiam nos assuntos religiosos de Israel.
Isto explica em parte o silêncio que Jesus guardou, que precipitou a ira do sumo sacerdote que O conjurou pelo Deus vivo que dissesse abertamente se era o Cristo, o Filho de Deus.
Esta foi a oportunidade para nosso Senhor dar Ele mesmo a eles um motivo para ser acusado, ainda que injustamente, porque o que lhes diria era a pura verdade, de que não somente era o Messias, como também quem eles veriam assentado à direita do Poder, ou seja do próprio Deus, e vindo sobre as nuvens do céu.
Pronto, isto era para eles não somente um pecado de blasfêmia, como uma declaração de alguém que se dizia rei, e um rei poderoso, e usariam este argumento para incitar o Império Romano contra Ele, afirmando por Ele, falsamente, que não reconhecia a autoridade de César.
Como havia profetizado antes a Seus discípulos, nosso Senhor foi escarnecido pelo Sinédrio, e lhe cuspiram no rosto e lhe deram socos e lhe esbofetearam dizendo com ironia que lhes profetizasse quem lhe havia batido, uma vez que era tido por profeta (v. 67, 68).
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/06/2014