Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Os que Enganam São Também Enganados
"Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados." (2 Tim 3.13)

Nunca foi e jamais será uma boa política tentar prevalecer através de enganos, porque os que enganam serão também enganados por Satanás para a própria destruição deles.
Não que o diabo seja o guardião da verdade e da justiça, mas porque é todo o seu prazer usar os que são dados à prática do engano para depois destruí-los, porque afinal ele não admite concorrentes na sua principal esfera de atuação que é a de roubar, matar, enganar e destruir.
Assim, é permitido por Deus que todos aqueles que amam a mentira e o engano sejam entregues a si mesmos, e pecando deliberadamente contra Ele, ficam também sujeitos à esfera de engano produzido pelo Inimigo, sendo todos sujeitados por fim ao juizo de condenação do Senhor, caso não se arrependam.  
Nós podemos ver isto com muita clareza na narrativa bíblica de I Reis 22.    
Os eventos narrados no capítulo 22 de I Reis se referem ao 22º ano do reinado de Acabe, correspondente ao ano da sua morte na batalha que empreendeu contra o rei da Síria, para retomar a cidade de Ramote-Gileade, pertencente a Israel, que se encontrava sob o domínio da Síria.
Acabe chamou o rei Josafá de Judá para se aliar a ele nesta batalha, e seria difícil a Josafá recusar o convite, porque a filha de Acabe com Jezabel, chamada Atalia, havia sido dada como esposa a Jeorão, filho de Josafá, certamente para selar uma aliança de ajuda mútua feita entre ambos os reis.
Josafá, que era um homem de Deus, equivocou-se quanto a isto, deixando que o lado político falasse mais alto, porque deve ter pensado numa possibilidade de Israel e Judá voltarem a formar no futuro uma única unidade federativa, sob o governo de um dos reis de ambas as casas, que viesse a contar com o apoio da maioria em Israel.
Entretanto, Jeorão, filho de Josafá, matou todos os seus irmãos quando assumiu o trono de Judá, no lugar de seu pai.
E andou nos caminhos de Acabe e não nos de Josafá, seu pai, e assim como Acabe se deixou influenciar por Jezabel, ele também se deixou influenciar por Atalia (II Crôn 21.1-6).    
Assim, a amizade de Josafá com Acabe não lhe trouxe apenas constrangimentos como os que nós lemos neste capítulo de I Reis 22, como dificuldades ao seu reino, e sobretudo a importação do culto a Baal em Judá, através de Atalia, filha de Acabe, quando Jeorão, filho de Josafá, assumiu o trono.
O rei Josafá tinha em alta conta não somente o Senhor como a Sua Palavra, o seu culto, os seus profetas, e o rei Acabe tinha um desprezo por tudo isto, e como poderia então haver uma tal sociedade da justiça com a injustiça?
Nós vemos no texto paralelo de II Crônicas, relativo ao reinado de Josafá, os contratempos que ele teve que experimentar por conta desta sociedade com Acabe.
Em II Crôn 19.2 nós vemos por exemplo a repreensão que lhe foi dirigida pelo profeta Jeú, quando ele retornou a Jerusalém depois da batalha em que se aliou a Acabe para lutar contra os sírios:
“Mas Jeú, filho de Hanani, a vidente, saiu ao encontro do rei Josafá e lhe disse: Devias tu ajudar o ímpio, e amar aqueles que odeiam ao Senhor? Por isso virá sobre ti grande ira da parte do Senhor.”.
E a primeira dificuldade que ele teve que enfrentar foi ter que guerrear contra os moabitas, os amonitas e meunitas, que vieram contra ele em grande multidão:
“Depois disto sucedeu que os moabitas, e os amonitas, e com eles alguns dos meunitas vieram contra Josafá para lhe fazerem guerra. Vieram alguns homens dar notícia a Josafá, dizendo: Vem contra ti uma grande multidão de Edom, dalém do mar; e eis que já estão em Hazazom-Tamar, que é En-Gedi.” (II Crôn 20.1,2).
Mas ele foi bem sucedido, porque apesar do mal ter sido despertado contra ele, Josafá buscou o Senhor e saiu vitorioso nesta guerra.
Depois de Acabe, Josafá se aliançou ainda, por força das circunstâncias a Acazias, filho de Acabe, e teve também dificuldade por conta desta aliança:
“35 Depois disto Josafá, rei de Judá, se aliou com Acazias, rei de Israel, que procedeu impiamente;
36 aliou-se com ele para construírem navios que fossem a Társis; e construíram os navios em Eziom-Geber.
37 Então Eliézer, filho de Dodavaú, de Maressa, profetizou contra Josafá, dizendo: Porquanto te aliaste com Acazias, o Senhor destruiu as tuas obras. E os navios se despedaçaram e não puderam ir a Társis.” (II Crôn 20.35-37).
Contudo ele aprendeu a lição de não se aliar àqueles que eram tidos na conta de inimigos de Deus, porque tendo Acazias se oferecido para enviar homens de Israel com os de Judá nos navios, ele recusou tal ajuda (v. 49).
Nós vemos no capítulo 20 de I Reis que Acabe havia poupado o rei da Síria quando este lhe foi dado em suas mãos pelo Senhor, para ser morto, e por causa disto um profeta lhe disse que a vida de Acabe responderia pela vida de Ben-Hadade (v. 42), isto é, este seria deixado então em vida enquanto Acabe seria morto.
E isto sucederia na batalha pela tentativa da retomada da posse de Ramote-Gileade.
Josafá não se dispôs a ir com Acabe à peleja sem que antes fossem consultados os profetas do Senhor.
Porque em vez destes, Acabe chamou os novos 400 falsos profetas do Aserá de Jezabel que haviam sido colocados como substitutos dos que haviam sido mortos por Elias.
E todos eles, que eram falsos profetas, não falavam evidentemente da parte do Senhor, senão pelos espíritos malignos mentirosos e pela própria imaginação deles, sempre com o intuito de agradarem ao rei, falando-lhe somente aquilo que ele gostaria de ouvir.
E nesta ocasião, conforme seria revelado posteriormente por Micaías, que era um verdadeiro profeta do Senhor, que nesta condição, era rejeitado por Acabe, o Senhor permitiu a Satanás que enganasse os 400 falsos profetas, não permitindo que nenhum deles dissesse a Acabe que não fosse àquela batalha, como também não lhe diria por meio de nenhum dos seus verdadeiros profetas, o que ocorreria com ele em Ramote-Gileade, porque o Senhor havia determinado que ele seria morto naquela batalha, por todo o grande mal que havia trazido para o povo de Israel e do qual não havia se arrependido.
Então, como seria revelado posteriormente, por Micaías, um espírito imundo se apresentou ao Senhor pedindo para enganar Acabe, mentindo-lhe pela boca de todos os seus falsos profetas, que seria bem sucedido na batalha.
O diabo veio roubar, matar e destruir.
E então estaria cumprindo assim o seu ministério de enganar para que Acabe fosse morto.
Sem a permissão divina ele não poderia fazê-lo, caso Deus tivesse outros planos em relação à sua vida, mas o engano seria permitido naquela situação, porque estaria atendendo ao propósito do Senhor de colocar um termo nas perversidades do rei de Israel.
Quando Deus pretende induzir pessoas rebeldes à destruição, ele pode permitir que espíritos malignos conduzam tais pessoas ao erro, ao engano, à morte, porque em vez de amarem a verdade, elas amaram a mentira, e pela própria mentira que  elas amaram, elas serão destruídas:

“E por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira; para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na injustiça.” (II Tes 2.11,12).

E foi este o caso que ocorreu com Acabe.
Josafá, que possuía discernimento espiritual não se convenceu com a unanimidade da resposta daqueles 400 homens, e perguntou a Acabe se não havia algum outro profeta do Senhor, que pudesse consultar a Deus em favor deles.
Ele disse “outro” não porque considerasse aqueles 400 como o sendo de fato, mas por uma questão de cortesia para com Acabe para não ofendê-lo.
O que era um desagrado para Acabe era um agrado para Josafá, porque aquele afirmou que não gostava do profeta porque somente lhe falava aquilo que não lhe interessava ouvir.
E por isso Micaías foi apertado pelo oficial que foi buscá-lo para falar ao rei, para que dissesse o que os demais haviam dito, isto é, que ele seria bem sucedido na batalha, uma vez que Acabe não suportava ser contrariado, mesmo se fosse para ouvir a verdade que lhe fosse dita da parte de Deus.
Todavia, Micaías disse ao oficial com toda a convicção que falaria somente a palavra que o Senhor colocasse na sua boca (v. 14).
Ele havia visto todo o exército de Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor, e o Senhor dizendo que já que eles estavam sem liderança, que voltassem então em paz para suas casas (v. 17).
Isto era uma clara visão de que Acabe seria morto naquela guerra, e todo o seu exército bateria em retirada, e os sírios não empreenderiam nenhuma perseguição a eles, porque a intenção de Ben-Hadade naquela batalha era a de matar somente a Acabe.
Mas como Micaías havia sido pressionado a falar como os demais profetas, e tendo ele sabido antecedentemente qual foi o motivo de terem dito a Acabe que subisse à peleja, ele usou de ironia quando Acabe lhe perguntou se deveria ir ou não a Ramote-Gileade, dizendo que deveria subir à peleja porque seria bem sucedido e o Senhor entregaria a cidade nas suas mãos (v. 15).
Percebendo que ele estava usando de ironia, Acabe o conjurou a dizer a verdade em nome de Deus (v. 16).
Foi então que Micaías lhe declarou a visão que tivera do exército de Israel, como ovelhas sem pastor, e se retirando em paz para suas casas.
E como Acabe tinha dito a Josafá que Micaías profetizava somente o mal a respeito dele, o profeta prosseguiu dizendo de que modo ele havia sido enganado pelos 400 profetas, por causa do espírito enganador que falara através deles (v. 19 a 23).
Diante de tal declaração um daqueles 400 falsos profetas, chamado Zedequias, feriu Micaías na face e protestou que ele não poderia falar daquele modo porque o Espírito do Senhor não havia passado dele para falar a Micaías (v. 24).
Ele se mostrou indignado e furioso porque fora ele o primeiro a profetizar usando inclusive de uma alegoria para convencer os reis Acabe e Josafá, pois fez uns chifres de ferro e disse que o Senhor lhe dissera que com aqueles chifres eles feririam os sírios até serem consumidos, e nisto passou a ser seguido por todos os demais profetas que diziam o mesmo (v. 11, 12).
Depois disso Acabe mandou que Micaías fosse colocado na prisão e sustentado somente a pão e água, até que ele voltasse em paz da batalha contra os sírios (v. 27).
E Micaías ainda lhe falou dizendo que caso ele voltasse em paz, então isto comprovaria que Deus não havia falado por intermédio dele. E disse mais, que todos o ouvissem, para testemunho de que a palavra que ele havia proferido era verdadeira.
Tal era a obstinação de Acabe e bem conhecida do Senhor, que foi permitido depois dele ter sido enganado pelos seus falsos profetas, que lhe fosse desvendada toda a verdade do fato através de Micaías, pois o Senhor sabia que ele iria ao campo de batalha para honrar a mentira que lhe fora proferida pela boca daqueles 400 homens, que não serviam à verdade e à justiça.
E Acabe era um homem tão dissimulado e enganador quanto aqueles que o enganaram, que ele na verdade temeu a palavra que lhe fora proferida por Micaías, mas não o revelaria publicamente por causa da sua vaidade, e então o que foi que ele projetou? Um outro engano - pois pediu ao rei Josafá que tivesse a honra de comandar o exército, indo à frente deles com seus trajes reais (de Acabe), e ele se disfarçaria num soldado comum para que Josafá ficasse mais confortável na posição de chefe de todo o exército.
Ele esperava com isto escapar da morte, e expor o próprio Josafá ao perigo, e de fato isto teria ocorrido se não fosse a misericórdia do Senhor que livrou Josafá, quando estava no campo de batalha, fazendo com que o grito dele fosse ouvido quando os sírios deram sobre ele para matá-lo, e serem detidos em sua intenção, porque o reconheceram como não sendo Acabe, o rei que deveriam matar, seguindo ordens expressas de Ben-Hadade (v. 29 a 33).
Como os juízos de Deus não podem falhar e ele havia determinado que Acabe deveria ser morto em Ramote-Gileade, então a flecha disparada a esmo por um soldado foi direcionada sobrenaturalmente até ele e esta atravessou o espaço entre a couraça e a armadura de Acabe, ferindo-o mortalmente (v. 34, 35).
Então foi cumprida cabalmente a palavra do Senhor na boca de Micaías, porque tendo Acabe morrido, foi ordenado que os soldados de Israel voltassem cada um para a sua própria cidade (v. 36).  
Acabe foi sepultado em Samaria, mas a palavra que havia sido proferida contra ele através de Elias, por causa da morte de Nabote, seria também cumprida, pois o seu carro de guerra foi lavado junto ao tanque de Samaria, e os cães lamberam o sangue de Acabe, que havia escorrido do seu ferimento para o carro (v. 38).
A longanimidade do Senhor aguardou não pelo arrependimento de Acabe, que em Sua onisciência Ele sabia que não ocorreria, mas para o cumprimento do juízo que já estava determinado sobre ele, e que lhe foi proferido pelo profeta Elias, conforme consta em I Reis 21.19:

“E falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o Senhor: Porventura não mataste e tomaste a herança? Falar-lhe-ás mais, dizendo: Assim diz o Senhor: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, lamberão também o teu próprio sangue.” (I Reis 21.19).
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 29/06/2014
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