Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
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Uma Vez Salvo... Para Sempre Salvo, Pela Evidência da Perseverança – Parte 1

 
É da vontade de Deus que todos os Seus filhos tenham certeza da sua salvação e que se regozijem na esperança da glória vindoura. Mas esta certeza só pode ser confirmada através da perseverança.
  Alguém pode pegar uma ou mais passagens isoladas das Escrituras, e fora do contexto, para negar que a nossa salvação é segura. Ele pode apontar para um texto como Gálatas 5.4 e dizer: “Vê, você pode cair da graça.”. O texto diz: “De Cristo vos desligastes vós que procurais justificar-vos na lei, da graça decaístes.”. Aí nos diz: você está vendo, isto prova que você pode cair da graça. Está certo, é o que está dito. Mas a estes que Paulo disse ter decaído da graça ele chamou de santos e de filhos amados ao longo de toda a epístola. Evidentemente não estava se referindo a uma queda fatal e final, senão à verdade de que  a graça que recebemos na conversão a Cristo está sujeita a decadências, ou seja, à diminuição da ação do seu poder em nossas vidas em razão de não nos alimentarmos da verdade que está em Jesus.
Você vai ao verso 2 do mesmo capítulo e lê: “Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.”. Em outras palavras, se você crê que será justificado por Deus por se submeter a certo tipo de operação física prescrita pela lei, então Cristo não significa nada para você.  Paulo ensinou claramente que pela lei ninguém é justificado (3.11). Quem não é justificado pela fé, a única forma estabelecida por Deus, e procura ser justificado pela lei, permanece sob a maldição da própria lei e da ira de Deus (3.10).
Além disso, quando fazemos da nossa religião uma mera prática de cerimônias e de observações dogmáticas baseadas na tradição dos homens, e não em Cristo e Sua doutrina contida nas Escrituras, ficamos sujeitos a este enfraquecimento espiritual decorrente do enfraquecimento da ação da graça em nossas vidas.
Outros textos que são muito utilizados para afirmar a possibilidade de perda de salvação são os que se encontram sobretudo na epístola aos Hebreus, conforme vemos a seguir:
Dentre as exortações bíblicas para que busquemos as evidências da nossa eleição, além de II Pe 1.10, temos a passagem de Hb 3.6: “Cristo porém, como Filho, sobre a sua casa; a qual somos nós, se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança.”.
O que este texto quer afirmar é que um verdadeiro crente guarda até o fim a ousadia e a exultação da esperança, isto é, ele tem a certeza de que é salvo, pelo Espírito Santo que testifica com o seu espírito que ele é um filho de Deus. Aqueles que são apenas convencidos e não convertidos, e que estão na igreja, ficarão com a ideia enganosa de que são crentes autênticos por algum tempo, porque, como se afirma na parábola do semeador, eles abandonarão um dia esta convicção, seja pelas tribulações, seja pelos cuidados do mundo. 
Para termos a certeza de que pertencemos realmente a Deus é necessário comprovar isto para nós mesmos por guardarmos firmes até ao fim a ousadia e a exultação da esperança, isto é, provamos que somos de fato filhos de Deus por perseverarmos até o fim da nossa jornada neste mundo, porque os que são de Cristo vivem dessa forma.
A parábola do semeador fala de pessoas que recebem a Palavra com alegria, mas que não chegam a nascer de novo, porque se fascinam com o mundo, ou não suportam as tribulações. Chegam a andar um período alegremente com os crentes, achando conforto na Palavra de Deus, mas depois de certo tempo acabam manifestando que não eram autênticos justificados e regenerados, porque não perseveraram, e a perseverança é um dom de Deus para aqueles que são seus.
O crente verdadeiro terá um estímulo espiritual que procede de Deus para perseverar, obedecer, santificar-se. Ele negará a própria segurança de sua vida até mesmo em face da morte, mas jamais negará a Cristo.
Ainda que caia por um período, levantar-se-á, nem que seja na hora da sua morte. Mas este levantar na hora da morte é da esfera do conhecimento exclusivo de Deus. Ninguém pode antever tal condição caso não lhe seja revelada diretamente pelo Senhor.
É possível que um verdadeiro crente, por motivo de desobediência não viva no descanso de Deus, e seja cumulado de muitas tristezas porque não amadureceu na fé, no entanto, destes pode-se afirmar que serão curados pela mesma graça que os salvou, em tempo oportuno.
Por isso se afirma a mesma coisa em Heb 3.14: “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a confiança que desde o princípio tivemos.”.
Deus em Sua infinita sabedoria estabeleceu o desenvolvimento da nova natureza recebida na regeneração, pela santificação, para que o crente se esforce em seu crescimento espiritual à semelhança de Cristo, de modo que somente assim possa ter a certeza da segurança plena da sua salvação em todos os dias da sua vida.
Isto se torna portanto um fator contribuinte para não se desestimular. Para não desistir em meio à sua peregrinação. Porque a certeza da segurança da salvação, veja bem, a certeza, e não a salvação propriamente dita que lhe foi dada pela graça, mediante a fé, está diretamente ligada à sua perseverança.
É por isso que lemos ainda em Heb 6.1-3, uma exortação para a busca do amadurecimento espiritual, rumo à perfeição, porque a tendência natural da maioria dos crentes é a de se acomodarem depois de terem sido salvos, e é o que parece que o texto quer se referir quando fala de princípios elementares da doutrina de Cristo, a saber, o arrependimento, a fé, batismos, imposição de mãos, ressurreição dos mortos e juízo eterno.
Há uma tendência em nós para dizermos: eu passei da morte para a vida, estou entre o limiar do meu batismo e da minha ressurreição prometida, já o tenho conquistado, vou sentar, descansar e esperar. Entretanto a vida cristã não é isto. É uma caminhada, no caminho da perseverança e da santificação.
A Palavra de Deus nos exorta a isto. E era exatamente este o problema com os crentes aos quais o autor de Hebreus dirigiu originalmente a sua epístola. Ele lhes repreendeu por sua imaturidade espiritual e falta de progresso em direção à maturidade (Hb 5.11-14).
Ele lhes exortou a correrem com perseverança a carreira que lhes estava proposta olhando para Jesus (Hb 12.1,2).
Ele lhes falou tudo o que haviam conquistado em Cristo 6.4,5, a saber, a iluminação espiritual, o dom celestial, a habitação do Espírito Santo, a Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, tudo isto pela justificação e pela regeneração.
Agora, isto não lhes foi dado para ficarem imobilizados, e pior ainda, transferirem a sua confiança de Jesus para as antigas tradições da lei, e é bem possível que estivessem considerando Jesus menor que Arão, Moisés e todos os heróis da fé do Antigo Testamento, e possivelmente até aos anjos, daí a explanação que faz sobre a superioridade de Jesus nos primeiros capítulos da epístola.
Este era o quadro reinante, e daí o tom das suas palavras falando da impossibilidade de renovação para arrependimento de quem se desligasse de Cristo (numa suposição de desligamento) porque não há outro nome dado debaixo do céu pelo qual possamos ser salvos. Eles foram salvos em Cristo para perseverarem em Cristo, e para serem transformados à semelhança de Cristo. A vida cristã é uma carreira, e não uma mera expectativa contemplativa do cumprimento da promessa da glória do céu. Não é o bastante para o crente o ter passado por uma experiência gloriosa de justificação e regeneração no passado, é necessário crescer espiritualmente pela transformação do seu caráter e aprender a fazer a vontade de Deus. É absolutamente necessário que a dinâmica de uma fé viva seja o moto principal para que o testemunho de Cristo seja confirmado em suas vidas, para que sejam cartas vivas onde outros possam testemunhar a vida que há em Jesus disponível para os pecadores.    
Não é suficiente ser justificado e nascer de novo. É preciso experimentar que Jesus é competente para remover minha corrupção (despojamento da carne) e revestir-me de suas virtudes. Isto é um programa para toda a vida. Não é algo para se obter em único dia ou momento de nossa vida. O alvo de Deus para o crente em santificação é um trabalho demorado e penoso, e para cumprir-se exige que  nós perseveremos firmes na fé.
Afinal, o propósito principal da conversão visa à nossa santificação, a qual será perfeita na glória celestial. Assim, esta deve começar ainda neste mundo.
Esta é a razão porque Paulo sempre confirmava os crentes exortando-lhes a permanecerem firmes na fé durante toda a sua peregrinação como forasteiros neste mundo de trevas. Não é suficiente, conforme a vontade de Deus, sabermos que Cristo é nosso Salvador e que por meio dEle fomos justificados, é necessário ter permanente e vital união com Ele.
O verbo “cair” empregado no texto de Heb 6.6, corresponde no original à palavra grega parapipto, que significa “desviar-se” ou “apostatar”. É o mesmo verbo usado em Heb 3.12, onde está traduzido como “afastar-se” de Deus. A Palavra afirma em Pv 24.16 que “sete vezes cairá o justo, e se levantará,”. A experiência tem revelado esta verdade. Muitos são os que se desviam mas que se reconciliam posteriormente com o Senhor. Porque a bondade a misericórdia do Senhor vão em busca da ovelha desgarrada e perdida para trazê-la de volta ao aprisco. Quem é ovelha do Senhor está debaixo de tal cuidado.
Quando os ossos do crente são quebrados o Senhor os restaura novamente. O clamor da misericórdia do Pai clama “voltem para mim e eu voltarei para vós outros”.  
Vemos nas cartas dirigidas às sete igrejas uma constante exortação ao arrependimento para o reatamento da relações rompidas e para o retorno da prática das obras de justiça.
 Um crente pode cair, mas não numa queda definitiva que seja para a perda da vida eterna que recebeu pela graça. Se ele cair, Deus o levantará de novo, porque não pode justificá-lo uma segunda vez, por isto é impossível, pois, que se o justo cair, seja renovado outra vez para arrependimento, porque ele já foi feito nova criatura em Cristo, quando creu, de uma vez para sempre.
E quanto aos que apostatam depois de terem sido iluminados quanto à verdade e tendo sido feitos participantes dos dons sobrenaturais extraordinários do Espírito Santo, como foi o caso de Judas e tantos outros, e que por fim, se desviam por não terem sido convertidos pelo Espírito em seus corações com o novo nascimento (regeneração), estes, realmente não poderão ser renovados para arrependimento e serem salvos, pois calcaram sob seus pés o sangue precioso de Cristo que voluntariamente eles desprezaram.
Mas tal não é o caso dos que são participantes da graça comum salvadora de todos os que genuinamente têm seus corações convertidos a Deus e transformados por Ele.
O próprio Noé, campeão da justiça, depois que se embriagou, arrependeu-se certamente, e permaneceu salvo pela soberana graça. Noé caiu, mas não numa queda final para morte eterna, que ocorrerá somente com aqueles que  não têm a Cristo, no dia do grande juízo de Deus.
Um crente pode se desviar, e embora isto seja uma coisa ruim, uma coisa maligna o cair no pecado, contudo ele poderá reconciliar-se com Deus, porque a sua salvação é para a vida eterna e para ser guardado seguro pelo poder de Deus. Assim como um pai zeloso vela pela segurança de seus filhos, e tudo faz para mantê-los saudáveis e em vida.
Este não é renovada em arrependimento para a salvação, pois já está salvo de uma vez para sempre, mas em arrependimentos para a restauração da comunhão com Deus que é quebrada temporariamente em razão da prática eventual do pecado.
Por isso somos incentivados a nos arrependermos e confessarmos os nossos pecados porque temos um Advogado junto ao Pai intercedendo em nosso favor, a saber, nosso Senhor Jesus Cristo. 
Seria uma coisa muito dura certamente, se um crente caísse e não pudesse se reconciliar com Deus. Felizmente o texto de Heb 6 não diz que é uma coisa muito dura, mas que é impossível, e nós dizemos que seria totalmente impossível, se um caso como é suposto pudesse acontecer, impossível para o homem, e também impossível para Deus, porque Deus determinou que nunca estabelecerá uma segunda salvação (plano) para salvar aqueles que tivessem rejeitado a primeira, caso isto fosse possível, depois de tê-la experimentado.
O autor de Hebreus está portanto com a  apresentação do exemplo de impossibilidade,  reforçando o eterno, imenso e único valor da salvação em Jesus Cristo, que os destinatários de sua epístola estavam negligenciando, correndo o risco mesmo de virem a desprezá-la.
Por isso quase como que se retrata pela suposição forte que fizera ao dizer logo adiante o seguinte: “Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das cousas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira.”.
Assim, uma correta interpretação de toda a epístola aos Hebreus requer que mantenhamos diante de nós o pano de fundo que inspirou a sua escrita, pois não foi destinada a uma congregação que estava sendo fiel na sua caminhada com Deus, mas a uma congregação que estava recuando na fé, e esfriando no seu amor por Jesus Cristo.
As palavras de exortação da epístola tinham por alvo sacudi-los e despertá-los do estado de dormência em que se encontravam, e tais palavras são ainda muito oportunas para toda congregação que esteja nas mesmas condições da comunidade à qual foi destinada a epístola originalmente.
Cabe destacar finalmente que no mesmo texto de Hebreus 6 é afirmada a condição segura e eterna da salvação das crentes por estar baseada na promessa que Deus fizera jurando por si mesmo que faria da nossa esperança da salvação uma âncora firme e segura que não permitirá jamais que sejamos separados de Jesus Cristo, em quem temos colocado a nossa confiança relativa à nossa salvação.
Um outro texto que geralmente se costuma interpretar incorretamente, por ignorância do seu verdadeiro significado, é o de II Pe 2.21,22, onde se afirma:
 
“Pois, melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal.”. 
 
Devemos destacar logo inicialmente que não se diz, a ovelha voltou a se sujar, mas a porca. Não se diz que a ovelha voltou ao seu vômito, mas o cão. Ainda que sejam expressões duras, elas estão de acordo com o alerta de Jesus ao eleitos para não darem coisas santas aos cães e aos porcos, isto é, àqueles que na verdade não tiveram suas vidas transformadas pelo recebimento de uma nova natureza, pelo Espírito, e que estão dispostos a desprezar, pisar e sujar as coisas santas concernentes ao Evangelho.
O que está em foco são os falsos mestres, aos quais o contexto de todo o capítulo 2 de I Pedro se refere, e que no início, ao se juntarem à igreja e ao aprenderem as coisas de Deus, repetem-nas de forma tão convincente, que são guindados pela igreja à posição de mestres, ou se fazem como tais, só que, não tendo havido uma mudança real em sua natureza, continuam sendo, conforme o dizer do apóstolo, porcos e cães, e isto acaba sendo manifestado com o tempo.
No contexto de todo o capítulo segundo de II Pedro, está claramente revelado que os tais não são justos, como foi Ló, mas injustos, que por suas obras iníquas estão destinados ao juízo de Deus (2.9).
São na verdade, não eleitos autênticos, mas falsos profetas, falsos mestres, que introduziam dissimuladamente heresias destruidoras entre os crentes, para fazê-los decaírem de sua firmeza em Cristo, isto é, para desviá-los da verdade, chegando tais falsos mestres a ponto de renegarem o próprio Jesus (2.1,2).
Eles não tinham o Espírito Santo, como se vê no paralelo ao texto de II Pe II, na epístola de Judas (Jd 19), e que não eram crentes, mas ímpios (Jd 4). 
Realmente eram homens que não tinham o Espírito Santo, e por conseguinte não pertenciam a Cristo, pois Pedro diz deles que eram fontes sem água (2.17).
Não ensinavam o verdadeiro evangelho, mas suas mistificações (2.13).
Eram atrevidos e não se submetiam a qualquer governo, porque julgavam, em sua ignorância, que estavam investidos da autoridade de Deus sobre todos os homens (2.10).
Ora, não padece dúvida que são os mesmos a que Pedro se refere como os ignorantes e instáveis que deturpavam as  Escrituras, especialmente os pontos difíceis dos escritos de Paulo, para a sua própria destruição (II Pe 3.15-17).          
O cuidado que se deve ter na interpretação da Bíblia, em sua exegese, é mais do que recomendado, ele é estritamente necessário, para que não apliquemos verdades bíblicas fora do contexto ou de situações ou mesmo pessoas aos quais não devem ser aplicadas.
Por exemplo, a apresentação de sacrifícios de animais no templo é uma verdade que teve o seu tempo e contexto de aplicação. Isto deveria ser feito pelos israelitas no período da dispensação da lei (de Moisés a João Batista), e também no local determinado por Deus, isto é, somente no tabernáculo e depois no templo de Jerusalém, na presença dos sacerdotes.
Assim, apesar de ser uma ordenança de Deus que  está contida na Bíblia, não deve ser cumprida na dispensação da graça, em que vigora uma Nova Aliança, que substituiu a Antiga. Porque tal exigência da Antiga foi revogada pelas disposições da Nova. Aqueles sacrifícios que eram figura do sacrifício de Cristo, deveriam vigorar até que Cristo viesse e se oferecesse a Si mesmo de uma vez para sempre pelos pecadores.
A mesma coisa se aplica às maldições da Antiga Aliança, previstas na lei. Elas representam em figura uma maior e definitiva maldição de quem transgride a lei de Deus, pois que por esta, o pecador está sujeito à morte eterna no inferno.
Entretanto, para os que estão em Cristo, são resgatados da maldição da lei. Para estes ela já não tem mais força de lei. A pena que ela prescreve foi cancelada e Jesus encravou o cancelamento da dívida destes que creem no Seu nome, na cruz, definitivamente, para que a pena não seja mais reescrita para estes que foram justificados nEle. Daí a Bíblia afirmar que o crente não está mais sob a lei, e sim sob a graça, sem que isto signifique que ele esteja sem lei perante Deus, pois está debaixo da lei de Cristo. 
É necessário portanto, quando estudamos sobre a segurança eterna da salvação, não utilizarmos textos isolados da Bíblia dando-lhes uma interpretação literal e fora do contexto de toda a revelação.
É necessário submeter cada afirmação que pareça inicialmente, contradizer doutrinas claramente reveladas, à luz destas doutrinas, para que possamos entender o que o escritor bíblico pretendia dizer com tal afirmação, porque não há contradições no ensino da Palavra, porque ela é a verdade.
Para ilustrar este ponto podemos usar as palavras do autor de Hebreus em 10.26-31, comparando-as com o versículo 39 do mesmo capítulo.
Em Hb 10.26-31 lemos:
 
“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça ? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo.”.
 
Já comentamos anteriormente qual foi o propósito principal do autor de Hebreus em escrever esta epístola: alertar seus leitores sobre a apostasia, para não ficarem inativos na fé, para buscarem a maturidade espiritual, para perseverarem.
Agora, lendo estas palavras de advertência sem levar em conta o contexto da própria epístola, poderíamos ser levados a interpretá-las como que se referindo a uma real perda de salvação, perdendo o apóstata a condição de filho de Deus para ser sujeitado ao juízo de Deus para a condenação eterna no inferno.
Mas, submetendo a passagem ao próprio contexto imediato, lemos no verso 39:
 
“Nós porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.”.
 
Ora, aqui se declara abertamente que o que ele está dizendo anteriormente desde o versículo 26 até o 38, não é uma afirmação de que os verdadeiros crentes, os que são da fé, perdem a sua salvação, porque estes não retrocedem e perseveram, o que não se dá com os que não são da fé. 
Deus lhes faz perseverar, e eles perseverarão, e isto para a conservação da alma, porque esta não será mais condenada em juízo.
E logo um verso adiante, em 11.1, define a fé como a certeza de cousas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.
E está se referindo principalmente à certeza da esperança da glória vindoura, à recepção da herança que está guardada para o crente no céu.
Aquele que é da fé, e que portanto persevera, ou pelo menos deve perseverar, porque não há outro modo para um autêntico filho de Deus viver, pode ter a certeza de que receberá o que espera, e a convicção dos fatos relacionados à sua salvação que ele ainda não vê.
Foi por esta mesma fé que salva, que os antigos receberam bom testemunho de terem agradado a Deus.
Mas devemos submeter a referida passagem a outras passagens da mesma epístola e a outras de todas as Escrituras.
Podemos citar outros textos como os seguintes:
 
“Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados.” (Heb 10.14).
 
Veja, aperfeiçoou para sempre, não apenas por um período para se perderem depois novamente.
 
“de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre.” (Heb 10.17).
 
Veja, perdão para sempre. Não apenas dos pecados antes da conversão, mas de todos os pecados, quer do passado, do presente ou  do futuro da vida de qualquer crente.
Ao falarmos deste modo, não se deve pensar que o pecado não deve ser levado muito a sério pelo crente. É por isso que as passagens admoestadoras são colocadas em termos muito fortes na Bíblia, porque o pecado é o que desperta a ira de Deus.
Qualquer pecado ofende a justiça de Deus, e o crente não deve se gabar no fato de estar debaixo de uma graça superabundante para viver praticando o pecado, e não se entristecendo pelo pecado.
Ele nunca deve esquecer que a ira de Deus pelo pecado é tanta, que isto levou o Seu próprio Filho à cruz.
Daí se dizer com toda a veemência: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.”.
Em momento nenhum se diz que o tal será lançado no inferno. Mas diz que desperta a expectação de um horrível juízo de fogo vingador prestes a consumir os adversários. Não foi o que ocorreu com os crentes rebeldes que estavam morrendo em Corinto?  Não é o que ocorre com os que são salvos como que pelo fogo? Esta atitude de viver deliberadamente no pecado não é coberta pelo sacrifício de Jesus porque não há confissão do pecado. Não há arrependimento da condição de estar pecando. Isto desperta a ira de Deus, mesmo contra Seus filhos. E Ele os corrige e disciplina duramente, para que todos temam e busquem a santidade de vida que convém aos filhos de Deus.
Agora, se Jesus pagou o preço por todos os nossos pecados, porque estes crentes que foram entregues a Satanás para destruição da carne, foram submetidos ao juízo de Deus, ainda que não para a sua perdição eterna?
Veja, o autor de Hebreus responde a isto quando diz que já não resta sacrifício pelos pecados que são praticados pelos que vivem deliberadamente em pecado depois de terem recebido o pleno conhecimento da verdade, e de terem sido santificados pelo sangue de Jesus, e recebido a regeneração do Espírito Santo.
Isto significa que o perdão obtido pelo sacrifício de Jesus para a vida eterna e livramento da condenação futura, não livrará o crente da justiça de Deus, que julga a sua vida aqui neste mundo, quando decide não perseverar na fé, vivendo na graça, para viver na carne praticando o pecado. Neste caso, ainda que não seja condenado eternamente, terá sua conduta julgada pelo Seu Pai celestial e será sujeito à disciplina da Aliança selada no sangue de Jesus.
Ele está profanando o sangue da aliança com o qual foi lavado. É como que pisasse em Jesus com o seu procedimento, e isto não ficará sem a devida retribuição de Deus.
Deus vingará a Sua justiça trazendo sobre o crente os juízos em forma de castigo, não para que este consiga a sua salvação, ou o perdão dos seus pecados, porque isto já foi feito de uma vez para sempre por Jesus na cruz, mas para que ele não vá para o céu, julgando que o Deus que o chamou não o chamou efetivamente para ser santo, por uma eventual desconsideração com o seu modo descuidado de vida e intencionalmente dirigido para transgredir a vontade dAquele que lhe salvou.
O que está em foco não são pecados praticados eventualmente e isoladamente, pelo crente em sua caminhada, estando direcionado em sua vontade a não viver na prática do pecado, mas um crente que tenha efetivamente apostatado da fé, isto é, que esteja desviado. Ainda que mesmo neste caso, não se exclua a ação da misericórdia divina sobre suas vidas, porque são eleitos, e foram justificados, tanto que muitos deles se arrependem, entretanto, de modo nenhum Deus deixará de lhes corrigir, porque corrige a todo filho que ama.  
Quando lemos portanto, as passagens admoestadoras e de advertências da Bíblia quanto ao pecado, devemos lembrar imediatamente que o Deus que nos salvou odeia o pecado, e destruirá o pecado onde quer que ele se encontre. Isto deve gerar em nós um santo temor e o desejo de jamais conceber o fato de que podemos viver como crentes praticando determinados pecados seja em pensamentos, palavras, ações ou omissões. Deus nos alerta em todo o tempo na Palavra que fomos salvos exatamente para entrarmos juntamente com Ele numa verdadeira guerra contra o pecado. Quer na nossa vida, quer na dos nossos irmãos em Cristo. Não devemos cruzar os braços em relação a isto como estavam fazendo muitos aos quais o autor de Hebreus dirigiu sua epístola. Ao contrário, devemos nos revestir da armadura de Deus e nos empenharmos diariamente neste bom combate da fé. Estamos seguramente salvos nas mãos de Deus, mas importa viver de modo que lhe seja inteiramente agradável. 

 
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Veja tudo sobre as Escrituras do Velho Testamento no seguinte link:
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A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
http://poesiasdoevangelho.blogspot.com.br/

A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/ 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 12/07/2014
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