Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Sobre a Porta Estreita e o Caminho Estreito
 
Qual o significado de “entrar” na Porta estreita? Em primeiro lugar, a aceitação daqueles ensinamentos da verdade, do dever, da felicidade, que foram desvelados por Cristo; o honesto e real recebimento de Suas santas, minuciosas instruções mortificado-ras da carne. Tal aceitação como uma pessoa, com grande dificuldade, força o seu caminho através de uma entrada limitada. Digo “com grande dificuldade”, pois os preceitos e mandamentos de Cristo são, até o último grau, intragáveis para um coração não regenerado, e não podem ser recebidos de boa vontade e de bom grado sem uma negação rígida do eu e do abandono de prazeres, propósitos e interesses pecaminosos. Cristo nos advertiu claramente que é impossível para um homem servir a dois senhores. O eu, deve ser repudiado, e Cristo recebido como “o Senhor” (Colossenses 2:6), ou Ele não nos salvará.
O que se entende por “entrar” nesta Porta Estreita? Em segundo lugar, um deliberado abandono do Caminho Largo, ou do modo de vida de satisfação da carne. Até que isso seja feito, não há salvação possível para qualquer pecador. O próprio Cristo ensinou isso claramente em Lucas 15, o “filho pródigo” teve que deixar o “país distante” antes que ele pudesse peregrinar para a Casa do Pai! A mesma verdade sinalizada é ensinada novamente em Tiago 4:8-10: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará”.
 
Ah, meu amigo, real e efetivamente entrar nesta “porta estreita” não é uma questão fácil. Por essa razão, o Senhor ordenou ao povo: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará” (João 6:27). Essas palavras não retratam a salvação como uma coisa de realização simples e fácil. Pondere também na exortação enfática de Cristo em Lucas 13:24: “Porfiai por entrar pela porta estreita”. Para que Ele proferisse tal palavra, implica claramente a grande ociosidade e preguiça, que caracteriza os professos nominais, como também sugere que existem formidáveis dificuldades e obstáculos a serem superados. Permita ser cuidadosamente notado que a palavra grega para “porfiar” (ou seja, “agonizomai”) em Lucas 13:24 é a mesma que é usada em 1 Coríntios. 9:25: “E todo aquele que luta de tudo se abstém”, e também é traduzida como “combatendo” em Colossenses 4:12, e “milita” em 1 Timóteo 6:12!
E como devemos “lutar” para “entrar” na Porta Estreita? A resposta geral é “legitimamen-te” (2 Timóteo 2:5); mas para particularizar. Devemos nos esforçar por meio da oração e súplica, buscando diligentemente a libertação daquelas coisas que poderiam impedir a nossa entrada. Devemos clamar fervorosamente a Cristo por ajuda daqueles inimigos que estão buscando nos superar. Devemos vir constantemente ao Trono da Graça, para que possamos achar graça para nos ajudar a repudiar e nos afastar com ódio de tudo que é odiado por Deus, mesmo que envolva o nosso cortar de uma mão direita e o arrancar de um olho direito; e graça para nos ajudar a fazer as coisas que Ele ordenou. Devemos ser “moderados em todas as coisas”, especialmente naquelas coisas que a carne anseia e que o mundo ama.
 
Mas por que tal “esforço” é necessário? Primeiro, porque Satanás está esforçando-se para destruir a tua alma. “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pedro 5:8); portanto, ele deve ser resistido “firme na fé”. Em segundo lugar, porque os apetites naturais estão se esforçando para destruir-te: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma” (1 Pedro 2:11). Em terceiro lugar, porque o mundo inteiro está revestido contra ti, e se ele não pode te consumir, ele vai procurar desviar-te por meio de promessas sedutoras, à semelhança da malícia de Dalila, com seduções fatais. A menos que você vença o mundo, o mundo vai sobrepuja-lo para a destruição eterna da tua alma.
A partir do que esteve diante de nós, podemos claramente descobrir por que é que a grande maioria de nossos companheiros homens e mulheres, sim, e também dos cristãos professos, não conseguirão alcançar o Céu: é porque eles preferem o pecado à santida-de, entregar-se às concupiscências da carne a andar de acordo com as Escrituras, preferem o eu a Cristo, preferem o mundo a Deus. É como o Senhor Jesus declarou – “Os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (João 3:19); os homens se recusam a negar a si mesmos, abandonar os seus ídolos, e submeterem-se a Cristo como Senhor; e sem isso, ninguém pode dar o primeiro passo em direção ao Céu!
 
O Caminho Estreito
 
Assim como entrar na “Porta Estreita” significa a aceitação do coração ao santo ensinamento de Cristo, semelhantemente, o caminhar ao longo do “Caminho Estreito” significa ter o coração e a vida constantemente regulados desta forma. Caminhar ao longo do Caminho Estreito indica uma constante perseverança na fé e obediência ao Senhor Jesus; a superação de toda a oposição, rejeitando qualquer tentação de abandonar o caminho da fidelidade a Ele. É chamado “Caminho Estreito”, porque toda a autossatis-fação e interesse próprio são excluídos. Em Gênesis 18:19 é chamado de “o Caminho do Senhor”; em Êxodo 13:21, 32:8 de “o Caminho”; em 1 Samuel 12:23 de “o bom e direito Caminho” em Salmos 25:9 “o seu caminho”, em Provérbios 4:11 de “o caminho da sabedoria”, em no Provérbios 8:20 de “o caminho da justiça”, em Provérbios 10:17 de “o caminho da vida”, em Isaías 35:8 “o caminho santo”, em Jeremias 6:16 “o bom caminho”, em 2 Pedro 2:2 de “o caminho da verdade”, em 2 Pedro 2:15 de “o caminho direito”.
O Caminho Estreito deve ser seguido, não importa o quanto ele possa militar contra os meus interesses mundanos. É aqui que o ponto de teste é atingido: é muito mais fácil (ao homem natural) e muito mais agradável saciar a carne e seguir as nossas propensões mundanas. O Caminho Largo, onde à carne é permitida a “liberdade” – sob o pretexto do Cristão não é “estar sob a lei” – é fácil, suave e atraente; mas termina em “destruição!” Embora o “Caminho Estreito” conduza à vida, apenas POUCOS o trilham. Multidões fazem uma profissão e afirmam serem salvos, mas suas vidas não dão nenhuma evidência de que eles são “estrangeiros e peregrinos” aqui, com o seu “tesouro” em outro lugar. Eles estão com medo de serem considerados estreitos e peculiares, rigorosos e puritanos. Satanás os enganou; eles imaginam que podem ir para o Céu por um caminho mais fácil do que por negar a si mesmo, tomar a sua cruz diariamente e seguir a Cristo!
Há multidões de religiosos que estão tentando combinar os dois “caminhos”, fazendo o melhor dos dois mundos e servindo a dois senhores. Eles desejam satisfazer o eu no momento e desfrutar a felicidade do Céu na eternidade. Multidões de cristãos nominais estão se iludindo em acreditar que eles podem fazê-lo; mas eles estão terrivelmente enganados. Uma profissão que não é verificada por mortificar as obras do corpo no poder do Espírito (Romanos 8:13), é vã. Uma fé que não é evidenciada pela completa submis-são a Cristo, é somente a fé dos demônios. Um amor que não guarda os mandamentos de Cristo, é uma imposição (João 14:23). A pretensão de ser um cristão, onde não existe uma verdadeira submissão à vontade de Deus, é ousada presunção. A razão por que tão poucos entrarão na Vida é porque as multidões não estão buscando-a no caminho indicado por Deus; ninguém a busca corretamente salvo aqueles que passam pela Porta Estreita, e que, apesar de muitos desânimos e quedas, continuam a seguir adiante ao longo de o Caminho Estreito.
 
Agora observe, cuidadosamente, a próxima coisa que se segue imediatamente a referência de nosso Senhor aos dois caminhos em Mateus 7: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mateus 7:15). Por que isso vem em seguida? Quem são os “falsos profetas” contra os quais uma alma sincera precisa estar em sua guarda? Eles são aqueles que ensinam que o céu pode ser atingido sem trilhar o Caminho Estreito! Eles são aqueles que insistem em alta voz que a vida eterna pode ser obtida em condições muito mais fáceis. Eles vêm em “pele de cordeiro”, eles aparecem (às almas sem discernimento) para exaltar a Cristo, para enfatizar Seu precioso sangue, para magnificar a Graça de Deus. MAS eles não insistem no arrependimento; eles falham em dizer aos seus ouvintes que nada, senão um coração quebrantado que odeia o pecado pode verdadeiramente crer em Cristo; eles não declaram que a fé salvadora é uma fé viva que purifica o coração (Atos 15:9) e vence o mundo (1 João 5:4).
Estes “falsos profetas” são conhecidos por seus “frutos”, a referência principal é para os seus “convertidos” – os frutos de seus labores carnais. Os seus “convertidos” estão no Caminho Largo, que não é o caminho da impiedade e vício abertos, mas de uma religião que agrada a carne: é este “o caminho que parece direito ao homem, mas o fim dele são os caminhos da morte” (Provérbios 14:12). Aqueles que estão neste Caminho Largo (este caminho que “parece direito” para muitos), têm uma cabeça conhecedora da Verdade, mas não andam nela. O “Caminho Estreito” é delimitado pelos mandamentos e preceitos da Escritura; o Caminho Largo é esse caminho que ultrapassou além dos limites da Escritura. Tito 2:11-12 oferece o teste de qual “caminho” nos encontramos: “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”.
Antes de concluirmos, vamos antecipar e procurar remover uma objeção. Provavelmente muitos de vocês estão dizendo: “Eu pensei que Cristo era o Caminho para o Pai” (João 14:6). Sim, Ele é, mas como? Em primeiro lugar, nEle foram removidos todos os obstácu-los legais, e, por meio dele, abriu-se o caminho para o céu para o Seu povo. Em segundo lugar, Ele “deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas” [1 Pedro 2:21]. A simples abertura de uma porta não me dá entrada em uma casa: devo trilhar o caminho que conduz a ela, e subir os degraus. Cristo, por Sua vida de obediência incondicional a Deus, mostrou-nos o Caminho que conduz ao Céu: “E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem” (João 10:4). Em terceiro lugar, em que Ele está disposto e pronto para conceder Graça e compelir a andar por ele.
 
Cristo não veio aqui e morreu, a fim de tornar desnecessário que eu agrade e obedeça a Deus. Não, na verdade: “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Coríntios 5:15). “O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau” (Gálatas 1:4). “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tito 2:14). Cristo veio aqui para “salvar o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1:21); e se você não está agora liberto do poder do pecado, dos enganos de Satanás, do amor do mundo, e da satisfação de si mesmo, então VOCÊ NÃO ESTÁ SALVO. Que agrade ao Deus de toda Graça adicionar-lhe a Sua bênção.
 
A. W. Pink
 
A. W. Pink
Enviado por Silvio Dutra Alves em 13/07/2014
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