Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O Poder de Deus Opera Tudo
Por Jonathan Edwards
Recebemos tudo proveniente do poder de Deus. A redenção do homem é mencionada como obra do poder maravilhoso como também da graça. O grande poder de Deus se evidencia em trazer o pecador do seu estado vil, das profundezas do pecado e da miséria, para esse estado exaltado de santidade e felicidade: "Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo" (Ef 1.9).
Somos dependentes do poder de Deus em cada etapa de nossa redenção, e também para nos converter e transmitir a fé em Jesus Cristo e a nova natureza. Trata-se da obra da criação: "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é" (2 Co 5.17); "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus" (Ef 2.10). A criatura caída não pode obter a verdadeira santidade, senão sendo criada de novo: "E vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade" (Ef 4.24). E uma ressurreição dos mortos: "Nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos" (Cl 2.12). E uma obra de poder mais gloriosa que a mera criação, ou fazer ressurgir à vida um corpo morto, em que o efeito obtido é maior e mais excelente. Esta santa e feliz natureza, e a vida espiritual que é produzida na obra de conversão, é de um efeito muito maior e mais glorioso que a mera existência e a vida. O estado de onde a mudança é feita — uma morte no pecado, uma corrupção total da natureza e profundidade de miséria — é muito mais distante do estado obtido que a mera morte ou não-entidade.
Pelo poder de Deus, também somos preservados no estado de graça: "Que, mediante a fé, estais guardados na virtude de Deus, para a salvação" (1 Pe 1.5). Como a graça é, a princípio, proveniente de Deus, assim é continuamente proveniente dEle e mantida por Ele tanto quanto a luz do sol brilha na atmosfera o dia todo, desde o começo da alvorada. Os homens são dependentes do poder de Deus para todo o exercício da graça, para continuar essa obra no coração, subjugar o pecado e a corrupção, aumentando os princípios santos e permitindo a produção de frutos em boas obras. O homem é dependente do poder divino para levar a graça à perfeição, tornando a alma completamente amável na semelhança gloriosa de Cristo e enchendo-a com uma satisfatória alegria e bem-aventuranças; e também para a ressurreição do corpo à vida, a esse estado perfeito, que será adequado para habitação e meio para a alma tão perfeita e abençoada. Estes são os efeitos mais gloriosos do poder de Deus que são vistos em uma série de seus atos com respeito às criaturas.
O homem era dependente do poder de Deus em seu primeiro estado, mas hoje ele é mais dependente desse poder. Ele precisa do poder de Deus para fazer mais coisas e depende de um exercício mais maravilhoso do seu poder. Tratava-se de um propósito do poder de Deus tornar o homem santo no princípio, mas é mais notável hoje, porque há muita oposição e dificuldade no processo. Tratava-se de um propósito mais glorioso de poder tornar o homem santo, que era tão depravado e vivia sob o domínio do pecado, do que outorgar santidade onde antes não havia. Tratava-se de uma obra mais gloriosa de poder salvar a alma das mãos do Diabo e dos poderes das trevas e levá-la a um estado de salvação, do que outorgar santidade onde não havia posse anterior ou oposição: "Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem. Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele e vencendo-o, tira-lhe toda a armadura em que confiava e reparte os seus despojos" (Lc 11.21,22). Portanto, tratava-se de uma obra mais gloriosa de poder sustentar a alma num estado de graça e santidade e levá-la avante até ser glorificada, quando há tanto pecado permanecendo e reinando no coração resistente e Satanás com todo o seu poder opositor, do que deveria ter sido impedido ao homem cair no princípio, quando Satanás nada tinha no homem. Assim mostramos como os redimidos são dependentes de Deus para o seu próprio benefício, visto que tudo provém dEle.
Em segundo lugar, os homens também são dependentes de Deus para tudo, visto que têm tudo através dEle. Deus é o Meio, como também o Autor e a Fonte. Tudo que temos — sabedoria, perdão de pecado, livramento do inferno, aceitação no favor de Deus, graça e santidade, bem-estar e felicidade verdadeiros, vida eterna e glória — é proveniente de Deus por um Mediador. Este Media dor é Deus; através desse Mediador nós temos dependência absoluta, assim como através dEle recebemos tudo. De forma que esta é outra maneira na qual temos nossa dependência de Deus para todo o benefício. Deus não apenas nos dá o Mediador e aceita sua mediação e do seu poder e graça concede as coisas compradas pelo Mediador, mas também Ele, o Mediador, é Deus.
O que temos por compra são as nossas bênçãos. A compra foi feita por Deus, as bênçãos são compradas por Ele e Deus dá o comprador. Não apenas isso, mas Deus é o Comprador. Deus é o Comprador e o preço, pois Cristo, que é Deus, comprou estas bênçãos para nós, oferecendo-se como o preço de nossa salvação. Ele comprou a vida eterna pelo sacrifício de si mesmo: "Oferecendo-se a si mesmo..." (Hb 7.27); "Uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo" (Hb 9.26). Na realidade, foi a natureza humana que foi oferecida, mas era a mesma pessoa com o divino e, portanto, foi um preço infinito.
Como temos nosso benefício através de Deus, temos a dependência dEle num aspecto que o homem em seu primeiro estado não tinha. O homem devia ter vida eterna através de justiça própria, de forma que tinha dependência parcial do que estava nele. Te mos dependência daquilo que, através do qual, temos nosso benefício, como também daquilo proveniente do qual a temos. Embora a justiça do homem da qual ele dependia fosse realmente proveniente de Deus, não obstante era dele mesmo, estava inerente em si, de forma que sua dependência não era tão imediatamente de Deus. Mas hoje a justiça da qual somos dependentes não está em nós mesmos, mas em Deus. Somos salvos através da justiça de Cristo: Deus. Ele nos "foi feito por Deus [...] justiça". A respeito disso está profetizado em Jeremias 23.6 incluído neste nome: "O Senhor, Justiça Nossa". A justiça pela qual somos justificados é a justiça de Cristo, é a justiça de Deus: "Para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21). Assim, na redenção não só temos todas as coisas provenientes de Deus, mas por e através dEle: "Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele" (1 Co 8.6).
Em terceiro lugar, os redimidos têm todo o seu benefício em Deus. Não apenas temos todo o benefício proveniente dEle, mas consiste nEle todo o nosso bem. O bem dos redimidos é ou objetivo ou inerente. Por bem objetivo quero dizer o objeto extrínseco, na posse e prazer do qual os redimidos estão satisfeitos. O seu bem inerente é a excelência ou prazer que está na própria alma. Com respeito a ambos os aspectos, os redimidos tem todo o benefício em Deus, ou, que é a mesma coisa, o próprio Deus é todo o benefício deles.
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Jonathan Edwards
Enviado por Silvio Dutra Alves em 02/08/2014