Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
"Ai da Nação Pecadora"

 
Por D. M. Lloyd Jones 
 
"Ai da nação pecadora". Isaías está expressando seu sentimento de admiração e perplexidade, seu sentimento de ira e tristeza, seu sentimento de vergonha. Ele olha para a sua própria nação, relembrando quem e o que eram - Israel, o povo de Deus, povo que Deus havia feito para Si mesmo. Do mesmo modo pelo qual Deus fez o homem e a mulher no início, ele fez esta nação para Si mesmo. Ele havia feito o homem do nada, e fez esta nação como se fosse do nada. Ele tomou somente um homem, Abraão, e o transformou numa nação. Mas, aqui, Isaías olha para esta nação e nada pode fazer senão balançar a cabeça e dizer: "Ai!" Que tragédia! Que perversão! Que monstruosidade! Que cenário! 
 
Já vimos como Isaías chamou céus e terra para testemunhar disso. Vimos como ele até usou o boi e o jumento para expressar sua própria estupefação. Com efeito, ele está dizendo: "Será possível que o Israel de Deus tenha mudado tanto assim?" Posso traduzir isso em termos mais gerais para nossa própria época. Isaías está pedindo que consideremos se é possível que homens e mulheres, criados à imagem de Deus, sejam o que vemos diante de nós no mundo de hoje. No entanto, esse é o caso. Se começarmos a perceber estas coisas, e termos uma noção real do que Adão e Eva eram quando vieram das mãos de Deus, e então percebermos como seus descendentes estão agora no mais profundo de sua maldade e iniquidade, há apenas uma coisa a dizer, isto é, "Ai!" Que coisa terrível é o pecado! 
 
Agora, façamos uma ou duas perguntas ao pros seguirmos. Qual a sua reação ao ver o estado em que o mundo se encontra no dia de hoje? Está surpreso com ele? Qual a sua reação face ao que está acontecendo diante de seus olhos, e que é tão popular e tão aplaudido? Aqueles que possuem discernimento e compreensão, diz Isaías, são deixados quase atônitos. O que podem dizer? A única coisa que podem fazer é levantar as mãos em horror. Estaríamos fazendo isto? Todo o propósito da Bíblia, todo o esforço da pregação, é nos levar a entender que devemos ver as coisas como elas são, desmascaradas diante de nós. Nossos olhos precisam ser abertos, e então conheceremos a mesma perplexidade que possuiu o profeta antes de nós. 
 
Mas, com o que o profeta está perplexo? Em primeiro lugar, com o caráter terrível do pecado e as coisas terríveis que produz. Podemos resumir a lição do quarto versículo colocando-o sob três títulos - três princípios. 
 
Pecado, diz Isaías, é o que faz o homem e a mulher abandonar o Senhor e retroceder. Pecado é aquilo que os faz desprezar "o Santo de Israel" e O provocar à ira. Eu me pergunto se já conseguimos capturar algo do significado desta declaração extraordinária? O pecado faz as pessoas desprezarem o todo-poderoso e eterno Deus e tudo o que Lhe pertence. 
 
O mundo é exatamente como o filho pródigo. De acordo com a parábola de nosso Senhor, aqui estava um jovem., um dentre dois filhos. Havia sido educado por seu pai, que era, obviamente, um homem maravilhoso - bom, amoroso e atencioso. O filho tinha um lar maravilhoso, e nada lhe havia sido negado. Entretanto este filho mais novo começou a pensar consigo mesmo de que tudo isto não era tão maravilhoso quanto parecia, nem mesmo seu pai o era! Ele começou a ficar cansado com aquele tipo de vida e disse, "Vou sair daqui. Pensou que havia algo melhor em algum país distante; havia escutado histórias a respeito disso. 
 
"Se apenas pudesses chegar lá!, diziam-lhe. "Isto aqui não é nada, você continua sendo um bebê, debaixo da mão de seu pai. Aquilo é que é vida. 
 
E assim o filho decidiu ir embora. Abandonou seu pai, deixou seu lar, e saiu. 
 
Isso, disse Isaías, foi o que os filhos de Israel fizeram. Isso é o que a humanidade fez. Deus fez o homem e a mulher à Sua própria imagem e os colocou no Paraíso. Deus o Pai descia e os visitava e conversava com eles, e tinham tudo que precisavam. Aquilo era o seu lar. Eles só precisavam pegar do fruto do jardim. Não precisavam trabalhar para conseguir seu pão com o suor de seus rostos; não precisavam contender com os espinhos, cardos e arbustos. Mas o que os homens e as mulheres fizeram de acordo com a Bíblia, o que persistem em fazer, é deixar tudo isso de lado. Abandonam tudo o que é verdadeiro com respeito a seu Pai e seu lar; e os desprezam. 
 
Disso, naturalmente, as pessoas não se conscientizam; porém lhes é ensinado por toda a Bíblia. "A inclinação da carne, diz o apóstolo Paulo, "é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser (Romanos 8:7). O que é "a inclinação da carne"? E obstinação; é renunciar a Deus como pessoa, e a Sua lei, e a tudo o que Ele representa. Como é necessário que compreendamos isso! Como já vimos, estamos por demais apressados em nos determos em pecados particulares, mas pecado é muito mais importante do que pecados. Não haveria nenhum problema com pecados se não fosse o pecado. E o pecado básico é a atitude errada para com Deus. 
 
Homens e mulheres foram feitos para glorificar a Deus e gozá-lo. Mas, o que estão fazendo? Estão repetindo o que foi feito no início quando o primeiro homem e a primeira mulher começaram a questionar o que Deus havia dito e a escutar a sugestão do diabo: "E assim que Deus disse"? (Gênesis 3:1). Que direito tem Deus de falar? Aí se vê entrando a atitude errada para com Deus. Hoje homens e mulheres não mais glorificam a Deus. Não mais se deleitam em Deus. Eles O abandonaram. 
 
E, naturalmente, homens e mulheres contradizem a si mesmos. Em pecado, e como resultado da Queda, estão sempre muito ansiosos para chegar ao círculo mais elevado, para encontrar "as pessoas da classe mais alta", e chegar ao topo. Sempre estão clamando para conhecer pessoas importantes, e ainda assim têm voltado as costas para Deus, abandonaram o Santo de Israel. Eles têm desprezado a companhia do Senhor da glória; acham que conhecem alguém melhor! Começam assim, com essa atitude para com o próprio Deus. 
 
Além disso, também desprezam as leis de Deus, e Seu modo de vida. Deus que nos fez, e neste sentido é nosso Pai, planejou um certo modo de vida para nós, cuja intenção era para sermos muito felizes e santos. Adão e Eva foram criados honestos e inocentes. Não havia pecado neles, nem trevas, nem mal, nem dor, nem tristeza. Não havia nada desonroso. Foram feitos perfeitos. Possuíam uma retidão que era como uma parte da própria natureza de Deus neles. Eram destinados a viver uma vida pura: nada de trapaça, nada de sofisma, nada de maledicência, nada de ciúme nem inveja, nada obscuro, nada escondido, tudo aberto, tudo manifesto, tudo puro, tudo verdadeiro, tudo nobre, tudo edificante. Foram feitos para viverem esse tipo de vida e Deus os colocou na posição de vivê-la. 
 
Esse é o lar no qual o homem e a mulher nasceram, com o Pai no centro. Mas, primeiramente, desprezaram seu Pai, e então desprezaram seu lar e tudo o que ele representava. Em vez de viver como Deus havia planejado, começaram a desprezar estas coisas - e, homens e mulheres ainda o fazem. Um de seus gracejos mais comuns é sobre a vida religiosa -eles chamam esta vida de "piegas" e "estreita". O mundo de hoje tem dó das pessoas que vão à igreja. "Que confinamento"! dizem. "Olhem para eles. Imaginem-se fazendo aquilo!" O mundo despreza o cristianismo, zomba e se ri dele, como também ri de tudo o que pertence a Deus. As pessoas começam a colocar suas próprias ideias em lugar das ideias de Deus. "Porquanto a inclinação da carne (mente natural) é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Romanos 8:7). 
 
Deus nos deu os Dez Mandamentos para mostrar-nos como viver. "Comecem por honrar-me", Ele diz com efeito, "e tenham-me como seu Deus. Não tomem o meu nome em vão. Não usem meu dia em vão. Não matem. Não roubem. Não cometam adultério. Não deem falso testemunho. Quero que vocês vivam dessa maneira", diz o Senhor. 
 
E os homens e as mulheres dizem: "Que prazer há em viver uma vida assim! Estreita! Sem permissão para cometer adultério; sem permissão para matar pessoas com a boca; sem permissão para delatar pessoas e ceder à maledicência. Que vida! Não vale a pena ser vivida!" Eles desprezam a Deus e a Sua Lei e todos os Seus caminhos, tudo o que é característico do lar no qual a humanidade havia sido colocada por Deus desde o princípio. 
 
O homem desprezou a Deus no princípio e trouxe calamidade sobre todo o cosmos e sobre sua descendência. Assim, esta é a essência da desordem no mundo de hoje. O mundo está como se vê hoje porque pessoas ainda desprezam a Deus e tudo o que Ele representa. Elas desprezam os Seus caminhos, e o fazem deliberadamente, desviando-se dEle, recusando-se a escutar, rindo de Seu caminho, andando bem longe do mesmo. Não seria essa a situação ao nosso redor? Não estaria o mundo gloriando-se em sua atitude básica contra Deus? Não estaria o mundo pensando que é esperto ao cessar de ser religioso? Acaso não é verdade que todo adolescente passa por uma fase em que pensa ser admirável não acreditar em Deus, e que não guardar os Seus manda mentos é o caminho da liberdade e da emancipação? Não seria esse o instinto que se encontra em todos nós? Esse é o resultado do pecado. Sempre pensamos que somos mais espertos. Há sempre um país maravilhoso lá longe - "um país distante". Esse negócio de igreja, esse cristianismo, esse Deus, pertencem ao passado. Lá longe está a vida. Vamos lá! Assim Deus é desprezado, bem como todos os Seus caminhos e o Seu amor.  

 
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D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 09/08/2014
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