Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Promessas de Bênçãos para os Justos e de Maldições para os Ímpios

 
Antes de tudo que se possa se referir sobre o que está no nosso título, deve ser considerado que não há um justo sequer na Terra, senão somente quando alguém se converte a Deus e vive debaixo do Seu temor e vontade.
Cristo morreu para salvar ímpios e não justos. É bom sempre lembrarmos disto.
Nós vemos no segundo capítulo de I Samuel, que Ana entoou um cântico de louvor e gratidão a Deus pelo menino que lhe nascera, e que havia pedido emprestado ao Senhor por um tempo, reconhecendo que de fato aquela criança pertencia a Ele e não a ela.
Na verdade, tudo o que somos e temos, com exceção do pecado e suas consequências, o temos recebido emprestado do Senhor, para ser usado como mordomos, que têm que prestar contas Àquele a quem de fato pertencem todas as coisas.
E o menino Samuel havia nascido tanto para bênção quanto para juízo de muitos em Israel, a começar pela casa do próprio Eli, pois que Deus estava se provendo de um sacerdote fiel na pessoa de Samuel, para trazer juízos sobre Eli e seus filhos.
É por isso que nós vemos no cântico profético que fora dado a Ana, por inspiração do Espírito Santo (versos 1 a 10), tanto palavras de bênçãos, quanto de juízos, pois seria exatamente isto que o nascimento daquela criança propiciaria.
Nós vemos isto também no cântico de Maria, mãe de Jesus (Lc 1.46-55), e nas palavras de Simeão a respeito dEle: “E Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição,” (Lc 2.34).
O mesmo teor de bênção e de juízos são encontrados no cântico de Isabel, mãe de João Batista, no ensejo do nascimento do menino.
Tal como Jesus, guardadas as devidas proporções, todos estes foram levantados por Deus tanto para bênção dos humildes quanto para juízo dos arrogantes.
O atributo da justiça divina requer tanto uma coisa quanto outra. A recompensa dos justos e o castigo dos ímpios.
Por isso se diz dos cristãos serem o bom perfume de Cristo, sendo aroma de vida para vida nos que se salvam, e cheiro de morte para morte nos que se perdem (II Cor 2.15,16).
Foi para o mesmo propósito que Samuel fora levantado em Israel, sendo assim, um tipo de Jesus, e é por este motivo que encontramos o teor das palavras, tanto de bênçãos quanto de juízos, no cântico que foi proferido pela sua mãe.
Nele se destaca especialmente, a soberania de Deus sobre tudo e todos na Sua criação, e que todas as ações dos homens são pesadas por Ele, de modo que o homem deve se cuidar da altivez e da arrogância (v. 3).
Porque os fortes são quebrados (Deus abate o soberbo) e os fracos são fortalecidos (Deus dá graça aos humildes) (v.4); o rico será arruinado com toda a sua prosperidade, e o faminto será farto (especialmente da justiça) (v. 5), pois na Sua soberania o Senhor tira a vida e a dá, conduz a quem quer ao Seol, da palavra Sheol, no original hebraico, que significa a sepultura e todos os acessórios que lhe seguem no caso da morte dos ímpios, como por exemplo o castigo eterno e as chamas do inferno; e também livra a quem quer dali (terá misericórdia de quem Lhe aprouver ter misericórdia) (v. 6), de modo que provê aos homens do modo que Lhe agrada, repartindo os Seus dons como quer e a quem quer, enriquecendo e empobrecendo, abatendo e exaltando (v. 7).
Ele pode, se o desejar, fazer com que o pobre e necessitado venha a se assentar entre os príncipes, e fazê-los herdar um trono de glória (nisto se incluem todos os verdadeiros cristãos, lavados e remidos no sangue de Jesus, conforme há de se revelar no porvir) (v.8).
Os pés dos santos serão guardados (Deus os fará perseverar em santidade, de modo a garantir a plena segurança da sua salvação); mas os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não prevalecerá pela força (v.9).
No mesmo verso 9 se diz que Deus guardará os pés dos seus santos, isto é, o caminhar deles na Sua presença será garantido pelo próprio Deus, com Sua graça, amor e poder, como podemos ler no Sl 37.23,24:
“Confirmados pelo Senhor são os passos do homem em cujo caminho ele se deleita; ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor lhe segura a mão.”.
Enquanto nós retivermos as ordenanças de Deus e guardá-las, Ele manterá firmes os nossos pés.
Quando os nossos pés estiverem a ponto de deslizarem (Sl 73.2), a misericórdia do Senhor nos segurará e nos manterá de pé (Sl 94.18) e Ele nos guardará de cair (Jd 24).
Não é pela própria capacidade, força, sabedoria, riqueza, poder que se alcança a salvação eterna, senão unicamente pela graça de Deus, que é concedida aos que se arrependem dos seus pecados.
De modo que todos os que contendem com Deus, e resistem à Sua vontade, serão abatidos, porque a justiça de Deus se manifestará desde os céus contra eles, e o fará por meio dos Seus juízos, dando força e poder ao seu rei e ungido, para que julgue com justiça (v. 10).
Esta última palavra profética do cântico de Ana aponta certamente para o reino de Cristo, mas nela pode ser incluído o reino de Davi, que ainda seria levantado para ser um tipo do reino de poder e justiça do Senhor Jesus, e Israel, nos dias de Davi seria fortalecido de modo que triunfaria sobre todos os seus inimigos ao redor, especialmente contra os jebuseus e os filisteus.                 
Segundo a Lei de Moisés, os levitas somente poderiam ser admitidos oficialmente no serviço do tabernáculo a partir dos trinta anos de idade, e assim, podemos concluir que a expressão que o menino Samuel ficou servindo ao Senhor perante o sacerdote Eli, quando seu pai e toda a sua família retornaram a Ramá, quer se referir à ajuda que ele prestava a Eli como sumo sacerdote, pois se diz que ele ficou servindo ao Senhor perante Eli.
Imediatamente, no verso seguinte (12) é dito que os filhos de Eli (Hofni e Fineias, que oficiavam como sacerdotes), eram homens ímpios (no original hebraico nós temos a expressão “filhos de Belial”, aqui traduzida por ímpios), e que eles não conheciam ao Senhor.
Com isto, se quer dizer que não eram convertidos, que não eram homens de Deus, e esta era razão de praticarem todas as impiedades e sacrilégios que são descritos nos versos 13 a 17 e no verso 22.
Em contraste com a impiedade deles é referido no verso 23 que Samuel ministrava perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de uma estola sacerdotal de linho.
Não que ele fosse um sacerdote em idade tão tenra, mas certamente Eli providenciou uma estola sacerdotal para ele por ter reconhecido que Deus era com o menino (v. 21 e 26), apesar da sua pouca idade, e da forma devotada como o pequeno Samuel servia ao Senhor, e isto talvez para se consolar e compensar dos maus atos de seus próprios filhos, que apesar de serem sacerdotes, por direito hereditário, não se comportavam à altura do que era exigido por tão elevado ofício, de modo que se diz no verso 17 que era grande o pecado de ambos, e que vieram a desprezar as ofertas do Senhor, que eram apresentadas no tabernáculo, pois  desrespeitavam tudo o que a Lei prescrevia em relação à parte das ofertas a que tinham direito os sacerdotes, e se apropriavam do que não lhes era devido, bem como não queimavam a carne destinada aos holocaustos para tê-la crua, possivelmente com a intenção de comercializá-la posteriormente.
Além de profanos se entregavam à prática de impurezas no próprio tabernáculo, porque se deitavam com mulheres naquele recinto tendo relações sexuais com elas (v. 22), e isto era do conhecimento de todo o povo ( v. 23).
Eli já era muito velho (v. 22) na ocasião que decidiu advertir os seus filhos, pelo que eles vinham fazendo (v. 23 a 25), mas não foi concedida graça a eles por Deus para que se arrependessem, pois o Senhor já havia determinado destruir a ambos (v. 25).
É possível que Eli tenha decidido repreender os abusos de seus filhos somente quando ficou sabendo da impureza sexual que  vinham praticando com as mulheres que vinham ao tabernáculo, como se estivesse esperando por tantos anos por esta gota de água, para que enfim pudesse partir para algum tipo de repreensão, pelo mau comportamento deles.
Na verdade ele deveria tê-lo feito desde o princípio, e com toda a firmeza que o caso requeria, até mesmo pela medida extrema de proibi-los de continuarem oficiando no tabernáculo.
É possível que o sentimento paternal falou mais ao seu coração do que o seu amor pelo Senhor, e assim deixou de amar verdadeiramente a Deus e a seus filhos, porque o amor não folga com a injustiça, senão com a verdade, e é portanto prova de amor e não o contrário, disciplinarmos nossos filhos, porque um bom pai disciplina os seus filhos para poupá-los, tanto como a si próprio, dos justos juízos de Deus.
Eli teve de certa forma uma participação direta no juízo de morte que sobreviria aos seus filhos, porque os deixou entregues a si mesmos, e só veio a repreendê-los, quando já era muito velho.
Nós lemos em I Sm 3.13 as seguintes palavras do Senhor em relação a Eli e seus dois filhos: “porque já lhe fiz saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniquidade de que ele bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele não os repreendeu.”.  
Não estamos portanto amando os nossos filhos quando os deixamos entregues a si mesmos, praticando toda sorte de pecados, sem repreendê-los e sem dizer a eles o dever que têm de mortificarem os seus pecados.
A omissão de Eli prejudicou a muitos e não somente os seus próprios filhos.
Porque o sacerdote tinha a função de desviar as pessoas dos seus maus caminhos, e de conduzi-las ao Senhor.
Mas os filhos de Eli estavam fazendo exatamente o contrário, porque em vez de ajudarem Israel a se santificar, estavam expondo o povo a uma condição ainda pior do que a em que se encontravam.
Por isso, são exatas as palavras que Eli dirigiu a seus filhos: “Fazeis transgredir o povo do Senhor.” (v. 24).
Nós vemos nesta porção dos versos 13 a 26, que Elcana e sua família se dirigiam todos os anos ao tabernáculo para adorarem a Deus, mesmo depois que Samuel foi consagrado inteiramente ao Senhor, sendo deixado aos cuidados de Eli, e que nas ocasiões que para lá se dirigiam Eli sempre os abençoava e orava em favor de Ana, para que Deus lhe desse outros filhos no lugar de Samuel, que ela havia emprestado ao Senhor (v. 20).
O verbo emprestar, aqui, tem o sentido não de que Ana dera algo de si mesma a Deus, mas que ela havia dado por devolvido a Deus o filho que ela Lhe pedira emprestado, porque no hebraico, nós temos neste versículo a expressão  shelah (emprestado) esher (que) shaal (pediu), que significa “que pediu emprestado”, indicando assim o modo como ela havia pedido um filho a Deus, a saber, como um empréstimo para ser devolvido posteriormente.
Ela não pediu um filho para si para decidir sobre consagrá-lo depois ao Senhor. Não, ela já o havia pedido como quem pede algo emprestado por um tempo para ser devolvido em seguida ao seu legítimo dono.
Em seu coração ela sabia que aquele filho era alguém muito especial para Deus, e que de fato procedia inteiramente dEle e para Ele, para fazer a Sua vontade.
Nisto Ana e Samuel são respectivamente um tipo de Maria e de Jesus, pois Maria sabia desde o princípio que aquele menino que nasceu em Belém, não era propriamente dela mas de Deus e para viver inteiramente dedicado a Ele, quanto a fazer a Sua vontade.
E é bastante interessante notarmos que a expressão que é usada em relação ao desenvolvimento de Samuel, no verso 26, é a mesma que nós encontramos em relação a Jesus em Lc 2.52:
 “E o menino Samuel ia crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos homens.” (I Sm 2.26).
“E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.” (Lc 2.52).
Em ambos os casos nós não temos uma mera referência à condição pessoal de ambos, mas ao cumprimento do propósito de Deus de dar ao Seu povo quem poderia ser canal da Sua graça em favor deles, por viverem em santidade na Sua presença, e por terem sido o instrumento escolhido por Ele para tal propósito.
Evidentemente, no caso de Samuel, estamos falando de um mero homem, mas no caso de Jesus do perfeito homem e Deus.
Por isso, Samuel é apenas um pálido tipo dAquele que é dado por Deus, para converter a Si o verdadeiro Israel, e para conduzi-lo por toda a eternidade. 
Dos versos 27 a 36 nós lemos os juízos proferidos pelo Senhor contra Eli, seus dois filhos, e toda a descendência deles, por meio de um profeta.
Deus lembra a Eli, em primeiro lugar, a grande honra do ofício sacerdotal do qual ele estava encarregado e a sua descendência, por direito perpétuo desde os dias de Arão (v. 27).
Nisto estava mostrando que aqueles que são grandemente honrados por Ele têm o dever de Lhe tributar uma maior honra do que todos os demais.
Em suma, se alguém é honrado por Deus, tem o dever de honrá-lo também.
E a casa de Eli não estava fazendo isto, e por isso o Senhor repreendeu Eli com as palavras do verso 29: “Por que desprezais o meu sacrifício e a minha oferta, que ordenei se fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos mais do que a mim, de modo a vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo Israel?”.
Como toda desonra ao nosso Criador e Senhor não ficará sem o devido castigo, foi proferido contra Eli e toda a sua casa os juízos que encontramos nos versos 30 a 36.
Não sabemos quando foi que o sumo sacerdócio foi transferido por Deus da casa de Eleazar, filho de Arão, para a casa de Itamar, irmão de Eleazar.
Porém, nós vemos no verso 30 Deus afirmando que desfaria o arranjo que fizera, de modo que transferiria de novo o sacerdócio para a casa de Eleazar, e nós vemos que isto foi cumprido nos dias de Salomão, quando o sacerdote Abiatar, da casa de Eli, foi substituído por Zadoque, que era da casa de Eleazar (I Rs 2.26,27).
Nisto nós podemos aprender pelo menos duas coisas importantes, a primeira delas se refere à grande longanimidade de Deus, que cumpriu o juízo de afastar a casa de Eli do sacerdócio, mais de oitenta anos depois de ter proferido tal sentença, pois temos sem contar o período em que Samuel julgou Israel, oitenta anos relativos aos reinados de Saul e Davi, antes que Salomão começasse a reinar.
E a segunda coisa importante que podemos aprender é que a infidelidade de um ministro jamais poderá destruir o ministério determinado por Deus, como se pode ver no caso de Judas, que foi substituído por um outro em seu ofício, nos dias dos apóstolos, e nos descendentes de Eli.
Por isso, como veremos adiante, o juízo sobre a casa de Eli foi acompanhado pelo levantamento de um sacerdócio fiel, que seria iniciado com Zadoque, e cuja culminância seria realizada no ofício sumo sacerdotal de Cristo, que é totalmente fiel e para sempre.
Desta forma, a necessidade de um sacerdote fiel para o povo de Deus, não poderia jamais ser anulada pela infidelidade de alguns homens, que não honraram o seu ofício sagrado.
Esta longanimidade de Deus a que nos referimos anteriormente, e que é fartamente exemplificada na Bíblia, no longo tempo que Ele costuma levar para cumprir muitos dos seus juízos, atesta que de fato há um juízo final que há de ser cumprido a partir da volta de Jesus, e o motivo deste ser prolongado é exatamente o fato de Deus ser longânimo, como afirmado nas palavras do apóstolo Pedro:
“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.” (II Pe 3.9).
A casa de Eli não havia honrado ao Senhor por uma estrita obediência a tudo o que Ele tem ordenado na Sua Lei, e especialmente, no caso deles, as leis relativas ao exercício do sacerdócio, e por isso não seriam honrados, antes teriam o desgosto de provar o Seu desagrado, porque Lhe haviam desprezado (v. 30).
Não podemos negligenciar os mandamentos de Cristo, senão para a ruína de nossa própria alma, porque as grandes seções doutrinárias de todas as epístolas dos apóstolos, que falam de toda a graça, amor e perdão que alcançamos em Deus por meio de Cristo, são seguidas por seções finais introduzidas por um “portanto”, um “por conseguinte” indicando os deveres dos quais somos agora encarregados por Deus, quanto à estrita obediência que Lhe devemos, em razão do favor e da honra que Ele demonstrou a nós, por nos ter salvado por meio de Seu Filho.
Ele nos honrou com a manifestação da Sua graça a nós, e é portanto nosso dever honrá-lo com a nossa obediência especialmente no que tange a mortificar o pecado, a adorá-lo e a praticar o que é justo tanto em relação a Ele quanto ao nosso próximo.
Por isso bem vai a todo o cristão que se empenha em honrar ao Senhor, e mal vai a todo aquele que O despreza por viver numa desobediência voluntária.
Por isso o apóstolo Paulo diz o que lemos em Rom 2.9-11: ”9 tribulação e angústia sobre a alma de todo homem que pratica o mal, primeiramente do judeu, e também do grego; 10 glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego; 11 pois para com Deus não há acepção de pessoas.”.
Ele fala de honra e paz para quem pratica o bem (v. 10), e de tribulação e angústia para quem pratica o mal (v. 9).
Isto é uma lei espiritual que governa as almas dos homens bem como todos os seres morais criados por Deus.
A justiça é recompensada e  honrada por Ele, mas a iniquidade é castigada e os seus praticantes não podem ser honrados pelo Senhor.  
Ele revelou no cântico profético que dera a Ana, honrará somente àqueles que Lhe honrarem. Nisto, estava sendo passada uma repreensão à casa de Eli.   
Todo cristão esclarecido quanto à justiça do Senhor sabe que apesar de estar coberto com o manto da justiça de Cristo, que obteve em sua justificação e que o livra da condenação eterna, pode no entanto, por causa da carne, viver de modo que não honre ao Senhor que o salvou, e enquanto permanecer nesta condição, não será honrado por Deus, enquanto viver neste mundo, ao contrário será sujeitado à Sua disciplina exatamente em razão do fato de que não será mais condenado eternamente juntamente com o ímpio, por causa de estar aliançado com Cristo e ter sido tornado um filho de Deus por meio da fé nEle, que lhe trouxe justificação e regeneração e o começo do processo da santificação, que ele paralisou por causa da sua prática deliberada do pecado, e por não estar vivendo de modo que honre ao Senhor que o salvou da condenação eterna.
Eli, pelo que tudo indica, conhecia ao Senhor, e era um verdadeiro crente, e no entanto recebeu a sentença de um duro juízo, que lhe sobreveio da parte de Deus, por não tê-lo honrado da maneira devida.
Que isto sirva de alerta para todos aqueles que estão aliançados com Deus por meio da fé em Cristo Jesus.
Que sejam instruídos sobre esta verdade de que se não viverem para honrar ao Senhor,  serão desonrados por Ele, e trarão a si mesmos muitas dores, por conta do seu caminhar desordenado.
Quanto maior for a honra recebida de Deus maior será o Seu juízo, caso não O honremos.
Por isso Jesus disse o que lemos em Lc 12.47,48: “47 O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; 48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”.
E a vida de Eli ilustra de modo bastante vivo esta verdade.
Ele havia recebido muito de Deus pela honra do exercício do sacerdócio, e por isso também mais foi pedido a ele do que a qualquer outro em Israel, porque ele era o sumo-sacerdote.
Por ter sido achado em falta no ajuste de contas que o Senhor fizera com ele, este foi o motivo do duro juízo que foi proferido sobre ele e toda a sua descendência, conforme podemos ver nos versos 31 a 36, que fecham este segundo capítulo de I Samuel, e que se resumia no seguinte:
Não haveria entre os descendentes de Eli quem chegasse a ser ancião, e provavelmente este juízo se cumpriria por Deus não permitir que nenhum descendente de Eli chegasse à velhice, em face da desonra que eles haviam trazido àquele sagrado ofício (v. 31, 32).     
Todos os descendentes de Eli morreriam de morte violenta (pela espada dos homens), para servir de sinal que havia um juízo de Deus sobre a casa do sacerdote que havia desonrado o seu cargo.
Com isto Israel estaria sendo ensinado a ter o devido temor pelas coisas sagradas relativas ao serviço do tabernáculo, que os filhos de Eli haviam desprezado de modo tão profundo, e que foi o motivo da ruína deles (v. 33).
Para que se soubesse que a morte de Hofni e Fineias não foi obra do acaso mas de um juízo de Deus determinado sobre eles, foi profetizado que ambos morreriam no mesmo dia (v. 34).   
E juntamente com o juízo proferido sobre Eli e sua casa, Deus prometeu levantar um sacerdote fiel, que atuaria segundo aquilo que está na Sua mente e no Seu coração, e por causa desta fidelidade o próprio Deus edificaria para ele uma casa duradoura, de modo que não sendo removido do seu ministério sacerdotal, poderia andar sempre diante do Seu ungido (v. 35).
Aqueles que sobrassem da casa de Eli, por não terem sido ainda alcançados pelo juízo de morte determinado sobre eles, viriam a implorar a este sacerdote fiel, humilhando-se diante dele para serem admitidos em algum serviço relativo ao sacerdócio para que pudessem ter o direito que Deus concedeu aos sacerdotes de viverem das ofertas que fossem trazidas ao tabernáculo (v. 36).
Eles haviam desprezado o sacerdócio do qual a sobrevivência deles dependia, e o valor do ofício e a necessidade dele para os descendentes de Arão, seria agora reconhecida por estes descendentes de Eli.
Eli não repreendeu seus filhos com o rigor devido e assim ele ajudou a fortalecer as mãos deles na prática da maldade, em razão da sua negligência.
Quando os homens de Deus são desleixados no cumprimento do seu dever, acabam contribuindo para o aumento do pecado dos pecadores, por entenderem erroneamente, no que observam na omissão dos justos, que eles são aprovados por Deus, apesar de todo o mal que possam praticar; isto é, o silêncio diante do mal é interpretado como consentimento, e daí o ditado de que aquele que cala, consente.    
 

 
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Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/08/2014
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