Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Sobre a Vida Cristã – Parte 21

 
Por João Calvino
 
CAPÍTULO III
 
Carregar a cruz – um ramo da autonegação.
 
11. Mas desde que a razão principal para suportar a cruz tem sido derivada de uma consideração da vontade divina, devemos em poucas palavras explicar em que consiste a diferença entre a paciência filosófica e a cristã. Na verdade,  pouquíssimos entre os filósofos avançaram ao ponto de perceber que a mão de Deus nos prova por meio de aflição, e que devemos nesse assunto obedecer a Deus. A única razão que eles aduzem é que, assim que isto deve ser. Mas não é dito que devemos nos submeter a Deus, porque é em vão lutar contra ele? Porque se obedecermos a Deus só porque é necessário, desde que possamos escapar, vamos deixar de obedecê-lo. Mas o que a Bíblia nos chama a considerar quanto à vontade de Deus é muito diferente, ou seja, primeiro a justiça e a equidade, e então o que se refere à nossa própria salvação. Daí as exortações cristãs à paciência são desta natureza, quer na pobreza, ou exílio, ou prisão, ou injúria ou doença, ou perda, ou qualquer mal que nos afete, devemos pensar que nenhum deles acontece, exceto pela vontade e providência de Deus; além disso, que cada coisa que ele faz está na mais perfeita ordem. O quê! não merecem nossas inúmeras faltas diárias serem castigados, mais severamente, e com uma vara mais pesada do que a sua misericórdia nos impõe? Não é mais certo que a nossa carne deve ser subjugada, e ser, por assim dizer, acostumada ao jugo, de modo a não se irar com isto? Não são a justiça e a verdade de Deus dignas de nosso sofrimento, por causa delas? Mas, se a equidade de Deus é, sem dúvida, exibida na aflição, não podemos murmurar ou lutar contra ela sem injustiça. Não estamos longe de ouvir a ordem frígida: RENDA-SE, porque isto é necessário; mas o vivo e enérgico preceito: OBEDEÇA, porque é ilegal resistir; suporte com paciência, porque a impaciência é rebelião contra a justiça de Deus. Então, assim como somente nos parece atraente aquilo que percebemos ser para a nossa própria segurança e proveito, aqui também o nosso Pai celestial nos consola, pela certeza de que, na cruz com a qual ele nos aflige ele faz provisão para a nossa salvação. Mas, se é claro que as tribulações são salutares para nós, por que não as recebemos com a mente calma e agradecidos? Em suportá-las com paciência não estamos nos submetendo à necessidade, mas descansando satisfeitos com o nosso próprio bem. O efeito desses pensamentos é que, em qualquer medida que as nossas mentes sejam conformadas à amargura que naturalmente se sente sob a cruz, na mesma medida elas serão  expandidas com alegria espiritual. Daí surge a ação de graças, que não pode existir a menos que a alegria seja sentida. Mas se o louvor do Senhor e a gratidão somente podem emanar em seios alegres e jubilosos e nada há que deveria interromper esses sentimentos em nós, está claro o quanto é necessário temperar a amargura da cruz com a alegria espiritual.
 
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 15/08/2014
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