Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Sobre a Vida Cristã – Parte 20

 
Por João Calvino
 
CAPÍTULO III
 
Carregar a cruz – um ramo da autonegação.
 
10. Eu quis fazer essas observações para guardar as mentes piedosas do desespero, para que não suceda que, ao sentir que é impossível despojar-se do sentimento natural de tristeza, eles possam abandonar por completo o estudo da paciência. Isso deve ser necessariamente o resultado com aqueles que convertem a paciência em estupor, e um homem corajoso e firme em um bloco de pedra. A Escritura dá aos santos o louvor da perseverança quando, embora afligidos pelas dificuldades que enfrentam, eles não são esmagados; embora eles se sintam amargurados, são, ao mesmo tempo cheios de alegria espiritual; embora pressionados com ansiedade, respiram animados pela consolação de Deus. Ainda há um certo grau de repugnância em seus corações, porque o senso natural evita e teme o que é adverso a ele, enquanto a afeição piedosa, mesmo sob essas dificuldades, tenta obedecer a vontade divina. Esta repugnância o Senhor expressou quando ele se dirigiu assim a Pedro: "Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres." (João 21.18). Não é provável, aliás, que quando se tornou necessário glorificar a Deus pela morte, ele foi levado a isso não o querendo e resistindo; se tivesse sido assim, pequeno louvor teria sido devido ao seu martírio. Mas, embora ele tenha obedecido a ordenação divina com o maior entusiasmo de coração, no entanto, como ele não tinha sido despojado da humanidade, ele foi distraído por uma vontade dobre. Quando ele pensou na morte sangrenta pela qual deveria morrer, golpeado com horror, ele estaria disposto a tê-lo evitado; por outro lado, quando ele considerou que foi Deus que o chamava a ela, seu medo foi vencido e suprimido, e ele enfrentou a morte alegremente. Deve, portanto, ser nosso estudo, se quisermos ser discípulos de Cristo, impregnar nossas mentes com tanta reverência e obediência a Deus, para que sejam domadas e subjugadas todas as afeições contrárias ao seu desígnio. Desta forma, qualquer que seja o tipo de cruz a que estejamos sujeitos, devemos nos maiores apuros manter firme a nossa paciência. A adversidade terá sua amargura, e nos afligirá. Quando aflitos com doença, gemeremos e seremos molestados, e almejaremos à saúde; oprimidos com a pobreza, vamos sentir as picadas da ansiedade e da tristeza, sentiremos na dor da ignomínia, desprezo e injúria, e pagaremos as lágrimas devidas à natureza com a morte de nossos amigos, mas nossa conclusão sempre será: O Senhor assim o quis que, portanto vamos seguir a sua vontade. Não somente isto, em meio à pungência da dor, entre gemidos e lágrimas este pensamento sugerirá, necessariamente, por si mesmo e nos inclinará a suportar alegremente as coisas pelas quais somos afligidos.
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Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 15/08/2014
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