Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Sobre a Vida Cristã – Parte 19

 
Por João Calvino
 
CAPÍTULO III
 
Carregar a cruz – um ramo da autonegação.
 
9. Este conflito que os crentes mantêm contra o sentimento natural de dor, enquanto estudam moderação e paciência, Paulo descreve elegantemente com estas palavras: "Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos;" (2 Cor 4.8,9). Você vê que carregar a cruz com paciência não é ter seus sentimentos completamente anulados, e ser absolutamente insensível à dor, de acordo com a descrição absurda que os estóicos antigos deram do seu herói como sendo aquele que, desprovido de humanidade, foi afetado da mesma maneira pela adversidade e pela prosperidade, tristeza e alegria; ou melhor, como uma pedra, não foi afetada por qualquer coisa. E o que eles ganham com esta sabedoria sublime? Eles exibiram uma sombra de paciência, a qual nunca tiveram, e que nunca pode, existir entre os homens. Não, antes, por almejarem a uma paciência muito exata e rígida, eles a baniram totalmente da vida humana. Agora nós temos também entre os cristãos um novo tipo de estóicos, que consideram vergonhoso não somente gemer e chorar, e até mesmo ficar triste e ansioso. Esses paradoxos são geralmente iniciados por homens indolentes que, empenhando-se mais na especulação do que na ação, nada podem fazer por nós senão gerar tais paradoxos. Mas não temos nada a ver com esta filosofia férrea que nosso Senhor e Mestre condenou, não só em palavras, mas também com o seu exemplo. Porque ele tanto ficou triste e derramou lágrimas por conta própria e pelas angústias dos outros. Nem ele ensinou seus discípulos de forma diferente: "chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará" (Jo 16.20). E para que ninguém devesse encarar isso como vergonhoso, ele declara expressamente: "Bem-aventurados os que choram" (Mt 5.4). E não admira; se todas as lágrimas são condenadas, o que devemos pensar de nosso próprio Senhor, cujo "suor se tornou em grandes gotas de sangue que corriam até o chão?" (Lc 22.44; Mt 26.38). Se cada tipo de medo é um sinal de incredulidade, que lugar devemos atribuir ao temor que, é dito, que em nenhum leve grau dele se apoderou, se toda tristeza é condenada, como podemos justificá-lo quando ele confessa: "A minha alma está cheia de tristeza até a morte?"
 
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 15/08/2014
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