Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O Testemunho de Deus Sobre Cristo

 
Por João Calvino
 
"Se admitimos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; ora, este é o testemunho de Deus, que ele dá acerca do seu Filho.
Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho.
E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho.
Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida." (1 João 5: 9-12)
 
v.9 - "Pois este é o testemunho de Deus". A partícula grega τι não significa aqui a causa, mas deve ser tomada como explicativa; porque o Apóstolo, depois de ter-nos lembrado que Deus merece ser crido muito mais do que os homens, acrescenta agora, que não podemos ter fé em Deus, a não ser por crer em Cristo, porque Deus coloca somente ele diante de nós e nos faz permanecer ele. Ele, portanto, infere que nós acreditamos de forma segura e com a mente tranquila em Cristo, porque Deus por sua autoridade justifica a nossa fé. Ele não diz que Deus fala exteriormente, mas que cada um dos santos sente dentro de si que Deus é o autor de sua fé. Isto é portanto muito diferente da fé que é uma opinião desvanescente que depende de algo mais.
v. 10 - “Aquele que não crê”. Assim como os crentes possuem este benefício, que eles conhecem em si mesmos como sendo além do perigo de errar, porque eles têm Deus como seu fundamento; assim ele faz o ímpio ser culpado de extrema blasfêmia, porque eles provocam a Deus com falsidade. Sem dúvida, nada é mais valorizado por Deus do que a sua própria verdade, portanto, nada de mais errado e atroz pode ser feito contra ele, do que roubar-lhe essa honra. Então, a fim de induzir-nos a crer, ele apresenta um argumento do lado oposto; porque isto de fazer de Deus um mentiroso é uma impiedade horrível e execrável, porque, o que especialmente lhe pertence é tirado, porque quem não temeria recusar a fé do Evangelho, na qual Deus teria que ser contado singularmente verdadeiro e fiel? Isso deve ser cuidadosamente observado.
Alguns se perguntam por que Deus recomenda tanto a fé, e porque a incredulidade é tão severamente condenada. Mas a glória de Deus está implicado nisto; porque desde que ele projetou mostrar um exemplo especial de sua verdade no evangelho, todos aqueles que rejeitam a Cristo que é oferecido a eles, nada lhe entregam. Portanto, embora possamos admitir que um homem em outras partes de sua vida é como um anjo, mas sua santidade é diabólica, enquanto ele rejeita a Cristo. Assim, vemos alguns sob o papado muito satisfeitos com a mera máscara de santidade, enquanto eles ainda mais obstinadamente resistem ao evangelho. Vamos então, entender, que isto é o início da verdadeira religião, obedientemente abraçar essa doutrina, que ele tão fortemente confirma por seu testemunho.
v.11 – “Que Deus nos deu a vida eterna”. Tendo agora estabelecido o benefício, ele nos convida a crer. É, na verdade, uma reverência devida a Deus, receber imediatamente, sem controvérsia, o que ele diz para nós. Mas desde que ele oferece livremente a vida para nós, a nossa ingratidão será intolerável, exceto se com prontidão de fé recebemos uma doutrina que é tão doce e amável. E, sem dúvida, as palavras do Apóstolo destinam-se a mostrar, que devemos, não só com reverência  obedecer ao evangelho, para que não afrontemos a Deus; mas, que devemos amá-lo, porque ele traz a vida eterna. Portanto, também aprendemos o que é especialmente para ser buscado no evangelho, até mesmo o dom gratuito da salvação; porque aquilo a que Deus nos exorta ao arrependimento e temor, não deve ser separado da graça de Cristo.
Mas o apóstolo, para que pudesse manter-nos juntos em Cristo, mais uma vez repete que a vida é encontrada nele; como se ele tivesse dito, que nenhuma outra forma de vida foi nomeada por Deus Pai para ser obtida por nós. E o Apóstolo, de fato, brevemente inclui aqui três coisas: que todos nós somos entregues à morte, até que Deus por seu favor gratuito nos restaure à vida; pois ele declara claramente que a vida é um dom de Deus, e, portanto, também se segue que estamos destituídos da mesma, e que não pode ser adquirida por mérito; em segundo lugar, ele nos ensina que esta vida nos é conferida pelo evangelho, porque há a bondade e o amor paternal de Deus que é dado a conhecer a nós; por fim, ele diz que não podemos de outro modo tornar-nos participantes desta vida a não ser por crer em Cristo.
v. 12 – “Aquele que não tem o Filho”. Esta é uma confirmação da última sentença. Isto deveria, de fato, ter sido suficiente, que Deus não tem dado a vida em ninguém, senão somente em Cristo, para que possa ser procurada nele; e para que ninguém se voltasse para outro, ele exclui toda a esperança de vida para aqueles que não a procuram em Cristo. Nós sabemos o que é ter Cristo, pois ele é possuído pela fé. Ele então mostra que todos os que estão separados do corpo de Cristo estão sem vida.
Mas isso parece inconsistente com a razão; porque a história mostra que tem havido grandes homens, dotados de virtudes heróicas, que não estivavam totalmente familiarizados com Cristo; e não parece razoável que homens de tão grande eminência não tivessem nenhuma honra. A isso, respondo, que estamos muito enganados se pensamos que o que quer que seja eminente aos nossos olhos seja aprovado por Deus; pois, como se diz em Lucas, "O que é muito estimado pelos homens é abominação diante de Deus." (Lucas 16:15) porque, assim como a sujeira do coração está escondida de nós, ficamos satisfeitos com a aparência externa; mas Deus vê que isso é ocultado sob a sujeira mais imunda. É, por isso, que não admira que se virtudes ilusórias, que fluem de um coração impuro, e que tendem a um fim correto, tenham um mau odor para ele. Além disso, de onde vem a pureza, de onde vem um verdadeiro respeito pela religião, senão do Espírito de Cristo?  Nada há, então, digno de louvor exceto em Cristo.
Há, ainda, outra razão que remove todas as dúvidas; pois a justiça dos homens está na remissão dos pecados. Se você tirar isso, certamente a maldição de Deus e a morte eterna esperam por todos. Somente Cristo é aquele que reconcilia o Pai conosco, pois ele tem uma vez por todas lhe pacificado pelo sacrifício da cruz. Portanto, segue-se que Deus não é propício a ninguém, senão em Cristo, nem há justiça, senão nele.
A qualquer que se oponha e diga, que Cornélio, como mencionado por Lucas - Atos 10: 2, foi aceito por Deus, antes que ele tivesse sido  chamado à fé do evangelho; a isso, respondo brevemente, que Deus às vezes trata conosco assim, para que a semente da fé apareça imediatamente no primeiro dia. Cornélio não tinha conhecimento claro e distinto de Cristo; mas como ele tinha alguma percepção da misericórdia de Deus, ele deve, ao mesmo tempo, ter entendido alguma coisa de um Mediador. Mas como Deus age de forma oculta e maravilhosa, vamos desconsiderar essas especulações que para nada sevem, e apenas nos ater a essa forma simples de salvação, que ele nos deu a conhecer.
 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 19/08/2014
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