Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de Filipenses 3.15
Por João Calvino
“Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.” (Filipenses 3.15)
“Todos, pois, que somos perfeitos”. Para que ninguém viesse a entender isso como se referindo à humanidade em geral, como se estivesse explicando os elementos simples para aqueles que são meras crianças em Cristo, ele declara que isto é uma regra que todos os que são perfeitos deveriam seguir. Agora, a regra é esta - que devemos renunciar à confiança em todas as coisas, para que possamos nos gloriar somente na justiça de Cristo, e preferindo-a a tudo o mais, aspirar por uma participação em seus sofrimentos, que pode ser o meio de conduzir-nos a uma abençoada ressurreição.
“E, se, porventura, pensais doutro modo”. Pelos mesmos meios ele tanto os humilha, e os inspira com boa esperança, porque os adverte para não se exaltarem em sua ignorância e, ao mesmo tempo, ele lhes ordena que tenham bom ânimo, quando diz que devemos aguardar a revelação de Deus. Porque sabemos quão grande obstáculo à verdade é a obstinação. Este, “porventura”, é a melhor preparação para a docilidade - quando não temos prazer no erro. Paulo, portanto, ensina indiretamente, que devemos abrir caminho para a revelação de Deus, se nós ainda não alcançamos aquilo que buscamos. Mais adiante, quando ele ensina que devemos avançar por graus, ele lhes incentiva para não recuarem no meio da jornada. Ao mesmo tempo, ele mantém para além de toda controvérsia o que já havia ensinado previamente, quando ele ensina que outros que discordam dele terão uma revelação dada a eles do que ainda não sabem. Porque isto é como se tivesse dito: "O Senhor, um dia, vos dirá que a própria palavra que tenho afirmado é uma regra perfeita de conhecimento verdadeiro e do viver justo." Ninguém poderia falar desta maneira, se não estivesse totalmente assegurado da razoabilidade e precisão de sua doutrina. Vamos nesse meio tempo aprender também a partir desta passagem, que devemos topar por um tempo com a ignorância em nossos irmãos fracos, e perdoá-los, se não lhes é dado imediatamente serem de uma mente conosco. Paulo se sentia seguro da sua doutrina, e ele ainda acolhe àqueles que ainda não puderam chegar à hora de fazer progressos, e não deixa por conta disso de considerá-los como irmãos; somente os adverte contra ficarem inchados em si mesmos, em sua ignorância.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 21/08/2014