Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de Filipenses 3.13,14
Por João Calvino
Flp 3:13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
Flp 3:14 prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
“Eu não julgo havê-lo alcançado”. Ele não coloca em causa aqui a certeza da sua salvação, como se ele ainda estivesse em suspense, mas repete o que havia dito antes - que ele ainda visava a um progresso maior, porque ele ainda não tinha atingido o fim da sua vocação. Ele mostra isso imediatamente depois, dizendo que ele estava intentando apenas uma coisa, deixando de fora tudo o mais. Agora, ele compara a nossa vida a uma pista de corridas, e os limites que Deus traçou para nós, para percorrê-la. Porque, assim como nada aproveitaria ao corredor ter deixado o ponto de partida, a menos que ele fosse para a frente para o alvo, por isso devemos também prosseguir o curso da nossa vocação até a morte, e não devemos parar até que tenhamos obtido o que buscamos. Mais ainda, como o caminho está marcado para o corredor, para que ele não venha a se cansar sem qualquer propósito vagando nesta ou naquela direção, então há também um objetivo diante de nós, para o qual devemos dirigir o nosso curso sem desvios; e Deus não nos permite vagar descuidadamente. Em terceiro lugar, como se requer do corredor que esteja livre de impedimentos, e não parar o seu curso por conta de qualquer obstáculo, assim devemos tomar cuidado para que não apliquemos a nossa mente ou coração a tudo o que possa desviar a atenção, senão que devemos, pelo contrário, empenhar o nosso esforço, livres de qualquer distração, de modo que possamos aplicar toda a inclinação da nossa mente exclusivamente ao chamado de Deus. Estas três coisas Paulo apresenta, numa só similitude. Quando ele diz que ele faz uma coisa, e esquece todas as coisas que estão para trás, dá a entender a sua assiduidade, e exclui tudo que possa distrair. Quando ele diz que ele se apressa para o alvo, ele dá a entender que ele não está se desviando do caminho.
“Esquecendo-me das coisas que para trás ficam”. Ele alude aos corredores, que não voltam seus olhares para o lado em qualquer direção, para que não afrouxem a velocidade do seu curso, e, mais especialmente, não olham para trás para ver quanto terreno já avançaram, mas se apressam à frente incessantemente em direção à meta, Assim, Paulo nos ensina, que ele não pensava no que ele foi, ou no que ele fez, senão simplesmente corria para a frente em direção ao objetivo determinado, e que, também, com tal ardor, que ele corria para a frente, por assim dizer, com os braços estendidos. Porque uma metáfora dessa natureza está implícita no particípio que ele emprega.
Caso houvesse qualquer observação, por meio de oposição, que a lembrança de nossa vida passada é de uso para nos mover, tanto porque os favores que já nos foram conferidos nos dão o incentivo para entreter a esperança, e porque somos admoestados pelos nossos pecados a alterar o nosso curso de vida, eu respondo, que os pensamentos dessa natureza não desviam a nossa visão do que está diante de nós para o que está atrás, mas sim ajudam a nossa visão, para que possamos discernir mais claramente o objetivo. Paulo, no entanto, condena aqui como olhar para trás, aquilo quer destrói ou danifica o entusiasmo. Assim, por exemplo, qualquer um deveria persuadir a si mesmo que ele tem feito suficiente progresso, reconhecendo que tem feito o bastante, ele se tornará indolente, e se sentirá inclinado a entregar o bastão para os outros; ou, se alguém olhar para trás com um sentimento de pesar pela situação que ele tem abandonado, ele pode não se aplicar com toda a inclinação de sua mente àquilo em que está envolvido. Tal seria a natureza dos pensamentos da mente de Paulo para que ele voltasse atrás, se ele não seguisse com seriedade a vocação de Cristo. Como, no entanto, não foi feito menção aqui de esforço e perseverança, para que ninguém imagine que a salvação consiste nessas coisas, ou mesmo atribuída à industriosidade humana que vem de outra parte, com a visão de apontar a causa de todas essas coisas, ele acrescenta - em Cristo Jesus.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 21/08/2014