Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O pecado Afeta o Homem Inteiro


 
Por A. A. Hodge
 
Como se pode mostrar que o pecado original afeta o homem inteiro?
 
O pecado original tem sua sede na vontade, e consiste primariamente nesse pendor para disposições e afetos ilícitos que é o hábito inato da alma humana. Mas, as diversas faculdades da alma não são outros tantos agentes separados. É a alma em sua unidade que opera em cada função como o agente indivisível, qualificando-se mutuamente uma à outra suas diversas faculdades segundo a sua espécie. Quando a alma está ocupada em entender alguma coisa, e a matemática, em que seus afetos não se acham interessados, então não há na sua ação nenhum elemento moral. Entretanto, quando está ocupada em entender alguma coisa a respeito da qual seus afetos depravados se acham interessados de um modo perverso, sua ação imparcial será necessariamente prejudicada. As consequências, pois, da propensão pecaminosa da vontade na sua influência governadora sobre as operações da alma, em todas as suas faculdades, serão:
 
1o. O entendimento, tornado parcial pelos afetos pervertidos, operando concorrentemente com o sentido moral em formar juízos morais, dará como resultado juízos errados, uma consciência enganadora e uma geral "cegueira do entendimento" a respeito de coisas morais.
 
2o. As emoções e os sentimentos que acompanham os juízos da consciência em aprovar o bem e condenar o mal, sendo muitas vezes ultrajados e tratados com negligência, vão se tornando menos vivos, e isso redundará numa consciência endurecida e numa insensibilidade moral em geral.
 
3o. Num curso prolongado de ação pecaminosa, a memória ficará poluída pelos materiais amontoados das experiências corruptoras, e delas a imaginação também tirará material para o seu uso.
 
4o. O corpo também se tornará corrompido. (1) Seus apetites naturais, na falta de direção e governo apropriados, se tornarão desordenados. (2) Seus poderes ativos serão empregados como "instrumentos de iniquidade".
 
5o. As Escrituras ensinam - (1) Que o entendimento do "homem natural" é depravado, bem como os seus afetos - 1 Cor. 2:14; 2 Cor. 4:4; Ef. 4:18; Col. 1:21. (2) Que a regeneração envolve não somente a renovação do coração, mas também a sua iluminação - Atos 26:18; Ef. 1:18; 5:8; 1 Ped. 2:9. (3) Que a verdade dirigida ao entendimento é o meio principal de que se serve o Espírito Santo nas obras de regeneração e de santificação - João 17:17; Tia. 1:18.
 
Que se entende pela afirmação de que o homem é, por natureza, totalmente depravado?
 
Por essa frase ortodoxa NÃO SE DEVE ENTENDER
 
1o. Que o homem depravado não tem consciência. A bondade de um agente não consiste em ter consciência, e sim em estarem suas disposições e afetos em conformidade com a lei da qual a consciência é o órgão. Mesmo os demônios e as almas perdidas sabem o que é bom e mau, e sentem essas emoções vindicativas das quais a consciência está armada.
 
Nem, 2o. Que os homens não regenerados, possuindo uma consciência natural, não admirem muitas vezes o caráter virtuoso e as boas ações dos outros.
 
Nem, 3o. Que sejam incapazes de ações ou afetos interessados em suas diversas relações com os outros seres humanos.
 
Nem, 4o. Que qualquer homem seja tão depravado quanto é possível que se torne, nem que todos tenham uma disposição propensa para todas as formas de pecado.
 
Mas, ENTENDE-SE
 
1o. Que, desde que a virtude consiste na conformidade »    das dispores da vontade com a ,ei de Deus, e que a própria alma da virtude consiste em ser a alma leal a Deus, segue-se que todo homem, por natureza, está, em sua disposição geral, separado de Deus e que, por conseguinte, todos os seus atos, quer sejam moralmente indiferentes, quer sejam conformados a princípios subordinados do bem, são viciados pelo estado de rebelião contra Deus em que se acha o agente.
 
2o. Que esse estado da vontade dá como resultado um cisma na alma, e a perversão moral de todas as faculdades da alma e do corpo.
 
3o. Que esse estado tende a resultar em mais corrupção, em progressão sem fim, em todas as partes da nossa natureza, e que esta deterioração seria incalculavelmente mais rápida do que é, se Deus não a restringisse por meio do Seu Espírito.
 
4o. Não resta mais nenhum elemento recuperativo na alma. O homem só pode tornar-se cada vez mais e para sempre pior, se não experimentar uma recriação miraculosa.
 
Que prova da doutrina do pecado original se pode extrair da narrativa da Queda?
 
Deus criou o homem à Sua imagem e declarou que, como agente moral, era muito bom. Ameaçou-o com a morte no dia em que comesse do fruto proibido, e esta ameaça cumpriu-se literalmente só no sentido da morte espiritual. A vida espiritual do homem depende de estar ele em comunhão com Deus; mas Deus, em Sua ira, baniu-o da Sua presença. Em consequência disso, é declarado que o estado espiritual do homem agora é a "morte", a mesma pena que fora sentenciada - Ef 2:1; 1 João 3:14.
 
Que descrição as Escrituras fazem da natureza humana, e como se pode inferir daí a existência de uma depravação inata e hereditária?
 
Segundo as Escrituras, todos os homens estão total-mente separados de Deus, e depravados moralmente em seu entendimento, coração, vontade, consciência, corpo e ações - Rom. 3:10-23; 8:7; Jó 14:4; 15:14; Gên. 6:5; 8:21; Mat 15:19; Jer. 17:9; Is. 1:5,6. Diz-se que essa depravação diz respeito, 1o. aos atos; 2o. ao coração; 3o. que é desde o nascimento, e que é por natureza; 4o. que afeta a todos os homens, sem exceção- Sl 51:5; João 3:6; Ef. 2:3; Sal. 58:3.

 
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A. A. Hodge
Enviado por Silvio Dutra Alves em 25/08/2014
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