Deus Reprova a Vingança
Por João Calvino
“Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com todos.” (I Ts 5: 15)
“Vede que ninguém dê a outrem mal por mal”.
Como é difícil observar este preceito, em consequência da forte tendência da nossa natureza para a vingança; o apóstolo, em razão disso, nos alerta para tomarmos cuidado e estarmos em guarda.
A palavra usada e traduzida por “vede” ou “evitai” significa cuidado ardente. Agora, embora ele simplesmente nos proíba de lutar uns com os outros com o fim de infligir injúrias não podemos, no entanto, ter dúvida de que ele pretendia condenar ao mesmo tempo, toda a disposição para fazer injúrias; pois é ilícito retribuir mal por mal, e a disposição para injuriar.
Esta doutrina é peculiar aos cristão; não retaliar ofensas, mas suportá-las com paciência. E, para que os Tessalonicenses não pensassem que a vingança foi proibida apenas em relação aos seus irmãos, ele declara expressamente que eles não deveriam fazer mal a ninguém, porque desculpas particulares costumam ser antecipadas em alguns casos.
"O quê! Por que deveria ser ilícito eu me vingar de alguém que seja tão inútil, tão mau, e tão cruel?" Mas, como a vingança nos é proibida em todos os casos, sem exceção, embora por mais ímpio que possa ser o homem que nos injuriou, nós devemos nos abster de infligir injúrias.
“Mas sempre seguir a benignidade”.
Por esta última cláusula, ele ensina que não devemos simplesmente abster-nos de infligir vingança, quando alguém nos tiver injuriado, mas devemos cultivar a beneficência para com todos, pois embora ele diga que isto deveria, em primeira instância ser exercido entre os crentes mutuamente, ele depois o estende a todos, embora não o mereçam, para que possamos fazer com que seja o nosso objetivo, vencer o mal com o bem, como ele mesmo ensina em outro lugar (Romanos 12: 21). O primeiro passo, portanto no exercício da paciência, é não revidar injúrias; o segundo é conceder favores, mesmo aos inimigos.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra
(Nota do Pr Silvio Dutra: Apesar de ter sido omitido por Calvino, neste texto, que este poder de suportar com paciência injúrias, e a ninguém injuriar, é uma capacitação que é aprendida e recebida do Espírito Santo, à medida em que Ele nos torna cada vez mais longânimos; todavia, Calvino faz menção indireta a isto, ao afirmar logo no início do seu comentário que “é difícil observar este preceito, em consequência da forte tendência da nossa natureza para a vingança”, ou seja, esta virtude não se encontra em nossa natureza caída, em razão do pecado original, mas é algo que recebemos por nossa coparticipação da natureza de Deus, que diferentemente da nossa possui todas as virtudes cristãs que devem ser exibidas em nossas vidas.
Assim, pela obediência seremos exercitados por Deus, para crescermos nesta virtude da longanimidade.)