Receber Honra por Causa
do Serviço a Cristo
Por João Calvino
“Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam;” (I Tessalonicenses 5: 12)
“E nós vos rogamos”.
Temos aqui uma advertência que é muito necessária. Porque, assim como o reino de Deus é desmerecido, ou pelo menos não é estimado adequadamente à altura de sua dignidade, segue-se também a partir disto, o desprezo pelos mestres piedosos.
Agora, a maioria deles, ofendida com essa ingratidão, nem tanto porque eles se vejam desprezados, mas porque eles inferem a partir disso, que a honra não sendo rendida ao seu Senhor, é rendida assim, mais indiferentemente, e Deus também, em bases justas, inflige vingança sobre o mundo, na medida em que priva de bons ministros, àqueles que são ingratos, por isso não é tanto para a vantagem de ministros como de toda a Igreja, que aqueles que presidem fielmente sobre ela devem ser tidos em estima.
É por esta razão que Paulo é tão cuidadoso em recomendá-los. “Reconhecer”, aqui significa ter consideração ou respeito, mas Paulo dá a entender, que a razão pela qual menos honra é mostrada aos mestres, é porque seu trabalho não é normalmente levado em consideração.
Devemos observar, no entanto, com que título de distinção ele honra os pastores. Em primeiro lugar diz que eles trabalham; disto se segue que todos os ventres ociosos são excluídos do número de pastores. Mais adiante, ele expressa o tipo de trabalho quando ele acrescenta, “aqueles que vos admoestam”, ou que vos instruem.
É para nenhum propósito, portanto, que qualquer que não cumpra o ofício de um instrutor, se gloria com o nome de pastor.
Paulo desejava que eles se dedicassem ao ensino, e presidissem com nenhum outro objetivo em vista do que o de servir à Igreja, sem qualquer sentimento oculto de busca de estima própria, pois ele diz literalmente – “acatai-os com apreço” ou sejam mais do que abundantemente honrados, não sem um bom fundamento, pois devemos observar a razão pela qual acrescenta logo em seguida – “por conta de seu trabalho”.
Agora, este trabalho é a edificação da Igreja, a salvação eterna das almas, a restauração do mundo, e, enfim, do reino de Deus e de Cristo.
A excelência e a dignidade deste trabalho é inestimável, daí aqueles que Deus faz ministros em conexão com tão grande assunto, deveriam ser tidos por nós em grande estima - no entanto podemos inferir das palavras de Paulo, que o julgamento está entregue à Igreja, para que possa distinguir os verdadeiros pastores, porque seria para nenhum propósito que esses critérios foram apontados, se ele não quisesse dizer que deles os crentes deveriam tomar conhecimento.
E, enquanto ele ordena que honra deve ser dada àqueles que trabalham, e àqueles que ensinando governam correta e fielmente, certamente ele não confere qualquer honra àqueles que são ociosos e ímpios, nem lhes indica como sendo merecedores da mesma.
“Presidem no Senhor”. Isto parece ser adicionado para denotar governo espiritual, porque embora reis e magistrados também presidam em nome de Deus, ainda assim o Senhor deseja que o governo da Igreja seja especialmente reconhecido como seu, e daqueles que governam a Igreja em nome e pelo mandamento de Cristo, é dito por esta razão em particular que presidem no Senhor.
Podemos, no entanto, inferir a partir disso, quão distante estão do posto de pastores e bispos aqueles que exercem uma tirania completamente contrária a Cristo.
Inquestionavelmente, a fim de que alguém possa ser classificado entre os pastores legítimos, é necessário que ele mostre que preside no Senhor, e que nada tem aparte dEle.
E, o que mais é isto, senão que pela pura doutrina ele coloca Cristo no Seu próprio assento, para que Ele possa ser o único Senhor e Mestre?
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.