Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de 1 Tessalonicenses 1.6
Por João Calvino
“Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo,” (I Tessalonicenses 1.6)
“E vós fostes feitos imitadores”. Na esperança de aumentar a diligência deles, ele declara que havia um acordo mútuo, e uma harmonia, por assim dizer, entre a sua pregação e a fé deles. Pois, a menos que os homens, de sua parte, correspondam a Deus, nenhum proveito decorrerá da graça que lhes é oferecida – não como se pudessem fazer isto de si mesmos, mas porque, assim como Deus dá início à nossa salvação chamando-nos, ele também a aperfeiçoa moldando nossos corações à obediência. Portanto, a suma é que uma evidência da eleição divina se revelara, não apenas no ministério de Paulo, na medida em que estava provido do poder do Espírito Santo, mas também na fé dos tessalonicenses, de modo que esta conformidade é uma atestação poderosa dela. Porém, ele afirma: “Fostes feitos imitadores de Deus e de nós”, no mesmo sentido em que é dito que o povo creu em Deus e no seu servo Moisés (Ex 14:13),21 não que Paulo e Moisés tivessem algo de diferente da parte de Deus, e sim porque ele operou poderosamente por meio deles, como seus ministros e instrumentos.
“Recebendo”. A prontidão deles em receber o evangelho é chamada de imitar a Deus por esta razão – assim como Deus havia se apresentado aos tessalonicenses em um espírito liberal, assim também eles, de sua parte, haviam vindo ao seu encontro voluntariamente.
Ele diz: com alegria do Espírito Santo, para que saibamos que não é pela instigação da carne, ou pelas sugestões da sua própria natureza, que os homens estarão prontos e zelosos para obedecerem a Deus, mas que isto é obra do Espírito de Deus. A circunstância, que, em muita tribulação, eles haviam abraçado o evangelho, serve como ênfase. Pois vemos muitíssimos que, não indispostos ao evangelho por outros motivos, contudo o evitam por se intimidarem pelo medo da cruz. Portanto, aqueles que não hesitam em abraçar, com intrepidez, juntamente com o evangelho, as aflições que os ameaçam, fornecem assim um exemplo admirável de magnanimidade. E, com isto, torna-se tanto mais claramente notório quão necessário é que o Espírito nos auxilie nisto. Pois o evangelho não pode ser apropriado ou sinceramente recebido, a não ser com um coração jubiloso. Nada, porém, está em maior desacordo com a nossa disposição natural, do que nos regozijarmos nas aflições.
(Nota do Pr Silvio Dutra: Tomemos por assentado, que nesta dispensação da graça, que tem durado desde a morte e ressurreição de Jesus, que a nenhuma pessoa, e a nenhuma instituição tem sido dado por Deus, que em nome da religião, se faça acepção, ou injúria, maldição ou condenação de quem quer que seja, e muito menos que se use de violência seja ela moral ou física em nome de se defender a santidade e justiça de Deus. Ao contrário é ordenado aos que amam e conhecem a Deus em espírito, que amem a todos, inclusive a seus inimigos, e que perdoem e bendigam os que lhes amaldiçoam, injuriam ou perseguem.
Quando encontramos em comentários bíblicos o terrível destino que está reservado àqueles que se opuserem a Deus até o final de suas vidas, como vemos por exemplo não apenas nos comentários de Calvino, mas nos de todos aqueles que são fiéis à pregação e ensino da verdade revelada nas Escrituras, o que se tem em foco não é uma ameaça ou um aborrecimento declarado da parte de homens, senão um alerta misericordioso da parte do próprio Deus, que é quem o afirma, pela boca dos seus ministros o que há de suceder no dia do juízo final, de modo que pelo arrependimento, possam se converter e serem livrados da condenação.)
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 03/09/2014