Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de 1 Tessalonicenses 1.7,8
Por João Calvino
“1Ts 1:7 de sorte que vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia.
1Ts 1:8 Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor não só na Macedônia e Acaia, mas também por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não termos necessidade de acrescentar coisa alguma;”
7. “De maneira que fostes”. Aqui temos outra ênfase – que eles haviam encorajado até mesmo crentes pelo seu exemplo; pois é algo grandioso tomar tão decididamente a dianteira daqueles que encetaram a jornada antes de nós, provendo-lhes assistência para prosseguirem a sua caminhada. Typus (a palavra usada por Paulo) é empregado pelos gregos no mesmo sentido de exemplar entre os latinos, e patron entre os franceses. Nesse caso, ele diz que a coragem dos tessalonicenses havia sido tão ilustre que outros crentes haviam tomado emprestado deles uma regra de perseverança. Contudo, preferi traduzi-lo por padrões, a fim de não fazer desnecessariamente qualquer mudança na frase grega utilizada por Paulo; e ainda porque o plural expressa, em minha opinião, algo mais do que se ele tivesse dito que aquela igreja, como um corpo, havia sido proposta para imitação, pois o sentido é de que havia tantos padrões como indivíduos.
8. “Porque por vós soou”. Aqui temos uma metáfora elegante, pela qual ele sugere que a fé deles era tão viva que, por assim dizer, pelo seu som, despertara outras nações. Pois ele diz que a palavra de Deus soou por eles, porquanto sua fé era sonora para obter crédito para o evangelho. Ele afirma que isto havia não apenas ocorrido em lugares circunvizinhos, mas este som havia também se espalhado por toda a parte, e havia sido distintamente ouvido, de modo que o assunto não precisava ser publicado por ele.
Ele afirma que a notícia do comportamento deles havia alcançado grande fama em toda a parte. O que ele menciona quanto à sua entrada entre eles refere-se ao poder do Espírito pelo qual Deus havia assinalado o seu evangelho. Contudo, ele afirma que ambas as coisas são livremente relatadas entre as outras nações, como coisas dignas de serem mencionadas. Nos detalhes que se seguem, ele revela, primeiro, qual é a condição dos homens, antes de o Senhor iluminá-los pela doutrina do seu evangelho; e ainda, com que finalidade ele quer que sejamos instruídos, e qual é o fruto do evangelho. Pois, embora nem todos adorem ídolos, todos estão devotados à idolatria, e imersos em cegueira e loucura. Por isso, é graças à bondade de Deus que somos libertados dos embustes do diabo, e de todo o tipo de superstição. Alguns, de fato, ele converte antes, outros depois, mas como a alienação é comum a todos, é necessário que sejamos convertidos a Deus antes de podermos servi-lo. A partir daqui inferimos também a essência e a natureza da verdadeira fé, porquanto ninguém dá o devido crédito a Deus senão o homem que, renunciando à vaidade do seu entendimento, abraça e recebe o puro culto a Deus.
(Nota do Pr Silvio Dutra: Tomemos por assentado, que nesta dispensação da graça, que tem durado desde a morte e ressurreição de Jesus, que a nenhuma pessoa, e a nenhuma instituição tem sido dado por Deus, que em nome da religião, se faça acepção, ou injúria, maldição ou condenação de quem quer que seja, e muito menos que se use de violência seja ela moral ou física em nome de se defender a santidade e justiça de Deus. Ao contrário é ordenado aos que amam e conhecem a Deus em espírito, que amem a todos, inclusive a seus inimigos, e que perdoem e bendigam os que lhes amaldiçoam, injuriam ou perseguem.
Quando encontramos em comentários bíblicos o terrível destino que está reservado àqueles que se opuserem a Deus até o final de suas vidas, como vemos por exemplo não apenas nos comentários de Calvino, mas nos de todos aqueles que são fiéis à pregação e ensino da verdade revelada nas Escrituras, o que se tem em foco não é uma ameaça ou um aborrecimento declarado da parte de homens, senão um alerta misericordioso da parte do próprio Deus, que é quem o afirma, pela boca dos seus ministros o que há de suceder no dia do juízo final, de modo que pelo arrependimento, possam se converter e serem livrados da condenação.) ----------------------------------------------------------------------
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 03/09/2014