Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de 1 Tessalonicenses 2.1,2
Por João Calvino
“1Ts 2:1 Porque vós, irmãos, sabeis, pessoalmente, que a nossa estada entre vós não se tornou infrutífera;
1Ts 2:2 mas, apesar de maltratados e ultrajados em Filipos, como é do vosso conhecimento, tivemos ousada confiança em nosso Deus, para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita luta.”
Paulo, agora, deixando de lado o testemunho de outras igrejas, ele lembra os tessalonicenses do que eles mesmos haviam experimentado, e explica com maiores detalhes de que modo ele, e do mesmo modo os dois outros companheiros seus, haviam se conduzido entre eles, porquanto isto era da maior importância para confirmar sua fé. Pois é com este intento que ele declara a sua integridade – para que os tessalonicenses pudessem perceber que haviam sido chamados à fé, não tanto por um homem mortal, quanto pelo próprio Deus. Portanto, ele diz que a sua entrada entre eles não havia sido vã, como a de pessoas ambiciosas que manifestam muita aparência, embora não tenham nada de sólido; pois ele emprega aqui a palavra vã em contraste com eficaz.
Ele prova isto por meio de dois argumentos. O primeiro, que ele tinha sofrido perseguição e ignomínia em Filipos; o segundo, que havia um grande conflito preparado em Tessalônica. Sabemos que as mentes dos homens são enfraquecidas – mais ainda, são totalmente abatidas – pela ignomínia e pelas perseguições. Portanto, era uma evidência da obra divina que Paulo, após ter se sujeitado a males de diversos tipos e à ignomínia, como que em um estado perfeitamente são, não mostrasse nenhuma hesitação em fazer uma investida sobre uma cidade grande e opulenta, com vista a submeter seus habitantes a Cristo. Nesta entrada, não se vê nada que caracterize uma vã ostentação. Na segunda seção, contempla-se o mesmo poder divino, pois ele não cumpre o seu dever com aplauso e favor, mas precisou manter pungente combate. Ao mesmo tempo, permaneceu firme e destemido, pelo que se mostra que ele foi sustentado pela mão de Deus; pois é isto que quer dizer quando afirma que tornou-se ousado. E, sem dúvida, se todas estas circunstâncias forem cuidadosamente consideradas, não se pode negar que Deus demonstrou ali magnificamente o seu poder. Quanto à história, ela se encontra nos capítulos dezesseis e dezessete dos Atos dos Apóstolos (Atos 16:12-17:15).
(Nota do Pr Silvio Dutra: Tomemos por assentado, que nesta dispensação da graça, que tem durado desde a morte e ressurreição de Jesus, que a nenhuma pessoa, e a nenhuma instituição tem sido dado por Deus, que em nome da religião, se faça acepção, ou injúria, maldição ou condenação de quem quer que seja, e muito menos que se use de violência seja ela moral ou física em nome de se defender a santidade e justiça de Deus. Ao contrário é ordenado aos que amam e conhecem a Deus em espírito, que amem a todos, inclusive a seus inimigos, e que perdoem e bendigam os que lhes amaldiçoam, injuriam ou perseguem.
Quando encontramos em comentários bíblicos o terrível destino que está reservado àqueles que se opuserem a Deus até o final de suas vidas, como vemos por exemplo não apenas nos comentários de Calvino, mas nos de todos aqueles que são fiéis à pregação e ensino da verdade revelada nas Escrituras, o que se tem em foco não é uma ameaça ou um aborrecimento declarado da parte de homens, senão um alerta misericordioso da parte do próprio Deus, que é quem o afirma, pela boca dos seus ministros o que há de suceder no dia do juízo final, de modo que pelo arrependimento, possam se converter e serem livrados da condenação.)
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 03/09/2014