Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de 1 Tessalonicenses 2.5
Por João Calvino
“A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha.”
“Porque nunca usamos”. Não é sem um bom motivo que Paulo repete tantas vezes que os tessalonicenses sabiam que o que ele diz é verdadeiro. Pois não há uma atestação mais segura do que a experiência daqueles com quem falamos. E isto era da maior importância para eles, porque Paulo relata com que integridade ele havia se conduzido, sem outra intenção, senão para que sua doutrina tivesse o maior respeito, para a edificação da fé deles. Contudo, esta é uma confirmação da declaração anterior, do verso 4, pois aquele que deseja agradar aos homens deve, por necessidade, curvar-se vergonhosamente à lisonja, enquanto aquele que está atento ao dever com uma disposição honesta e sincera guardará distância de toda a aparência de lisonja.
Quando ele acrescenta: nem houve uma ocasião de avareza, ele quer dizer que, ao ensinar entre eles, não esteve em busca de coisa alguma para ganho pessoal.
A palavra prophasis é usada pelos gregos para significar tanto ocasião como pretexto, mas o primeiro significado se encaixa melhor com a passagem, sendo como que uma armadilha. “Não abusei do evangelho para fazer dele uma ocasião de obter um ganho”. Como, porém, a malícia dos homens possui tantas escapadelas tortuosas, que a avareza e ambição frequentemente permanecem ocultas, por esta causa ele invoca a Deus como testemunha. Ora, ele faz menção aqui de dois vícios, dos quais se declara isento, e, ao fazer isto, ensina que os servos de Cristo devem permanecer afastados deles. Assim, se quisermos distinguir os verdadeiros servos de Cristo daqueles que são pretensos e espúrios, eles devem ser provados de acordo com esta regra, e todo aquele que deseja servir a Cristo corretamente também deve conformar seus objetivos e suas ações à mesma regra. Pois, onde a avareza e ambição reinam, seguem-se inúmeras corrupções, e o homem todo se consome na vaidade, pois estas são as duas fontes das quais a corrupção de todo o ministério tem a sua origem.
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 03/09/2014