Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de 1 Tessalonicenses 2.6-8
Por João Calvino
6. E não buscamos glória dos homens, nem de vós, nem de outros, ainda que podíamos, como apóstolos de Cristo, ser-vos pesados;
7. Antes fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos.
8. Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos éreis muito queridos.
“Quando podíamos ter exercido autoridade”. Alguns interpretam isto - quando podíamos ter sido pesados, ou seja, poderíamos ter lhes sobrecarregado com despesas, mas o contexto exige que “tó barú” seja entendido no sentido de autoridade. Pois Paulo afirma que estava tão longe de esplendores vãos, do orgulho, da arrogância, que até abriu mão do seu justo direito, até onde dizia respeito à manutenção da autoridade. Pois, como era um apóstolo de Cristo, ele merecia ser recebido com um grau mais elevado de respeito, mas havia se abstido de toda demonstração de dignidade, como se fosse um ministro de nível comum. A partir disto se mostra quão longe estava ele da altivez.
O que traduzimos como “brandos”, o tradutor antigo verte como: Fuimus parvuli (fomos pequenos), mas a leitura que segui é geralmente mais recebida entre os gregos; mas, independentemente de qual vocês possam adotar, não pode haver dúvida de que ele faz menção do seu rebaixamento voluntário.
“Como a ama”. Nesta comparação, ele toca em dois pontos que já havia tratado – que não havia buscado nem glória nem ganho entre os tessalonicenses. Porque a mãe, ao criar seu filho, não demonstra nenhum poder ou dignidade. Paulo diz que fora assim, porquanto voluntariamente se absteve de reivindicar a honra que lhe era devida, e com mansidão e modéstia se sujeitara a todo o tipo de ofício. Em segundo lugar, a mãe, ao criar seu filho, manifesta certa afeição rara e maravilhosa, porquanto não poupa nenhum esforço e incômodo, não evita nenhuma ansiedade, não se esgota com nenhuma assiduidade, e até dá, com alegria de espírito, seu próprio sangue para ser sugado. De modo semelhante, Paulo declara que estivera tão disposto para com os tessalonicenses, que estava preparado para dar a sua vida em benefício deles. Certamente, esta não era a conduta de um homem sórdido ou avarento, mas de alguém que exercera uma afeição desinteressada, e ele expressa isto no final – porquanto nos éreis muito queridos. Ao mesmo tempo, devemos ter em mente que todos aqueles que desejam ser classificados entre os verdadeiros pastores devem exercitar esta disposição de Paulo – ter mais consideração pelo bem-estar da Igreja do que pela sua própria vida; e não ser impelidos ao dever em consideração pelo seu proveito próprio, e sim por um amor sincero por aqueles a quem sabem que estão unidos, e colocados sob obrigação.
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 03/09/2014