Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de I Tessalonicenses 4.3-5
Por João Calvino
“3. Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição;
4. Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra;
5. Não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus.”
“Porque esta é a vontade de Deus”. Esta é uma doutrina de natureza geral, da qual, como que de uma fonte, Paulo imediatamente deduz admoestações específicas. Quando afirma que esta é a vontade de Deus, ele quer dizer que fomos chamados por Deus com este propósito. “Para esta finalidade sois cristãos – é isto que o evangelho tem em mira – que vos santifiqueis a Deus”. O sentido do termo santificação já temos explicado em outro lugar em repetidas ocorrências – que, renunciando ao mundo, e nos purificando das contaminações da carne, nos ofereçamos a Deus como que em sacrifício, pois nada pode ser oferecido com propriedade a Ele, senão o que é puro e santo.
“Que vos abstenhais.” Esta é uma injunção, a qual ele deriva da fonte de que fizera menção pouco antes; pois nada é mais contrário à santidade do que o aviltamento da fornicação, que contamina todo o homem. Por esta causa ele atribui a paixão da concupiscência aos gentios, que não conhecem a Deus. “Onde reina o conhecimento de Deus, as paixões devem ser subjugadas”.
“Não na paixão da concupiscência”. Ele se refere a todas as paixões vis da carne, mas, ao mesmo tempo, por este modo de expressão, estigmatiza com desonra todos os desejos que nos seduzem aos prazeres e deleites carnais, como em Rm 13:14 – onde nos manda não ter cuidado da carne em suas concupiscências. Pois, quando os homens dão indulto aos seus apetites, não há limites para a lascívia. Por isso, o único meio de manter a temperança é refreando todas as paixões.
Quanto à expressão: que cada um de vós saiba possuir o seu vaso, alguns a explicam como se referindo à esposa, como se fosse dito: “Que os maridos coabitem com suas esposas com toda a castidade”. Porém, como ele se dirige aos maridos e esposas indiscriminadamente, não pode haver dúvida de que emprega o termo vaso para se referir ao corpo. Pois cada um possui seu corpo como uma casa, por assim dizer, na qual habita. Portanto, ele queria que guardássemos o nosso corpo puro de toda a imundícia. “E honra”, ou seja, honrosamente, pois o homem que prostitui o seu corpo em fornicação cobre-o de infâmia e desgraça.
(Nota do Pr Silvio Dutra: Tomemos por assentado, que nesta dispensação da graça, que tem durado desde a morte e ressurreição de Jesus, que a nenhuma pessoa, e a nenhuma instituição tem sido dado por Deus, que em nome da religião, se faça acepção, ou injúria, maldição ou condenação de quem quer que seja, e muito menos que se use de violência seja ela moral ou física em nome de se defender a santidade e justiça de Deus. Ao contrário é ordenado aos que amam e conhecem a Deus em espírito, que amem a todos, inclusive a seus inimigos, e que perdoem e bendigam os que lhes amaldiçoam, injuriam ou perseguem.
Quando encontramos em comentários bíblicos o terrível destino que está reservado àqueles que se opuserem a Deus até o final de suas vidas, como vemos por exemplo não apenas nos comentários de Calvino, mas nos de todos aqueles que são fiéis à pregação e ensino da verdade revelada nas Escrituras, o que se tem em foco não é uma ameaça ou um aborrecimento declarado da parte de homens, senão um alerta misericordioso da parte do próprio Deus, que é quem o afirma, pela boca dos seus ministros o que há de suceder no dia do juízo final, de modo que pelo arrependimento, possam se converter e serem livrados da condenação.)
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 05/09/2014