Comentário de I Tessalonicenses 5.8
Por João Calvino
“Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação;” (I Tessalonicenses 5.8)
“Vestindo-nos da couraça”. Paulo acrescenta isto a fim de mais eficazmente sacudir de nós a nossa estupidez, pois nos convoca como que às armas, para mostrar que não é tempo de dormir. É verdade que não faz uso do termo guerra; mas, quando nos arma com uma couraça e um capacete, ele nos admoesta a que devemos manter uma guerra. Portanto, todo aquele que receia ser surpreendido pelo inimigo deve ficar acordado, a fim de que esteja constantemente de guarda. Portanto, assim como ele exortou à vigilância, pela razão de que a doutrina do evangelho é como a luz do dia, assim também agora nos desperta por outro argumento – de que devemos fazer guerra ao nosso inimigo (Satanás e o pecado). A partir disto segue-se que o ócio é algo demasiadamente perigoso. Pois sabemos que os soldados, embora em outras situações possam ser imoderados, não obstante, quando o inimigo está próximo, por medo da destruição, eles se refreiam da glutonaria e de todos os deleites materiais, e ficam diligentemente em guarda a fim de estarem prevenidos. Portanto, como Satanás está em alerta contra nós, e intenta milhares de ardis, devemos ser não menos diligentes e vigilantes.
Porém, é em vão que alguns buscam uma exposição mais refinada dos nomes dos tipos de armadura, pois Paulo fala aqui de uma maneira diferente da que fala em Ef 6:14, pois ali ele faz da justiça a couraça. Portanto, isto bastará para compreender o seu significado, que ele pretende ensinar que a vida dos cristãos é como uma perpétua batalha, porquanto Satanás não cessa de importuná-los e molestá-los. Ele queria, portanto, que estivéssemos diligentemente preparados e estivéssemos de alerta para resistirmos; ademais, ele nos admoesta que precisamos de armas, porque, a menos que estejamos bem equipados, não podemos resistir a um inimigo tão poderoso. Contudo, ele não enumera todas as partes da armadura (panoplian), mas simplesmente faz menção de duas partes componentes, a couraça e o capacete. Ao mesmo tempo, não omite nada do que diz respeito à armadura espiritual, pois o homem que está equipado com fé, amor e esperança não estará desarmado em área alguma.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 05/09/2014