Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Comentário de Colossenses 1.1-3
Por João Calvino

“1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo,
2 aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai.
3  Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós,”

“Paulo, apóstolo”. Já expliquei, em repetidas ocasiões, o propósito de tais dedicatórias. Como, contudo, os colossenses nunca tinham lhe visto, e por essa causa sua autoridade não estava ainda tão firmemente estabelecida entre eles a ponto de fazer seu nome por si mesmo suficiente, ele afirma que é um apóstolo de Cristo separado pela vontade de Deus. Disso seguia-se que ele não agia imprudentemente ao escrever a pessoas que não o conheciam, considerando que estava desempenhando a função de embaixador que Deus tinha lhe confiado. Pois ele não estava ligado a uma Igreja meramente, mas seu apostolado se estendia a todas. O termo santos que aplica a eles é muito honroso, mas ao chamá-los de irmãos fiéis, ele os encoraja ainda mais a ouvi-lo desejosamente. Quanto às outras coisas, explicações podem ser encontradas nas Epístolas precedentes.
3. “Damos graças a Deus”. Ele louva a fé e o amor dos colossenses, para que isso possa encorajá-los à maior diligência e constância da perseverança. E mais, ao demonstrar que tem uma persuasão desse tipo com respeito a eles, ele procura a consideração amigável deles, para que possam ser mais favoravelmente inclinados e ensináveis para receber a sua doutrina. Devemos sempre observar que ele faz uso de ação de graças no lugar de congratulação, pelo que nos ensina, que em todas as nossas alegrias devemos prontamente chamar à lembrança a bondade de Deus, visto que tudo o que é agradável e prazeroso para nós, é uma benignidade conferida por ele. Além disso, ele nos admoesta, por seu exemplo, a reconhecer com gratidão não meramente aquelas coisas que o Senhor nos confere, mas também as que ele confere aos outros.
Mas por quais coisas ele dá graças ao Senhor? Pela fé e amor dos colossenses. Ele reconhece, portanto, que ambas são conferidas por Deus: de outra forma a gratidão seria fingida. E o que temos que não seja por meio de sua liberalidade? Se, contudo, mesmo os menores favores chegam até nós dessa fonte, quanto mais esse mesmo reconhecimento deve ser feito com referência a esses dois dons, nos quais consiste a soma inteira da nossa excelência?
“Ao Deus e Pai”. Entenda a expressão assim – A Deus, que é o Pai de Cristo. Pois não é lícito para nós reconhecer qualquer outro Deus, que não aquele que se manifestou a nós em seu Filho. E essa é a única chave para abrir a porta para nós, se estivermos desejosos de ter acesso ao Deus verdadeiro. Por esse motivo, também, ele é um Pai para nós, pois nos aceitou em seu Filho unigênito, e nele também apresenta seu favor paternal para a nossa contemplação.
“Sempre por vós”. Alguns explicam isso assim – Nós damos graças a Deus sempre por vós, isto é, continuamente. Outros explicam que significa – Orando sempre por vós. A frase pode ser interpretada dessa forma também: “Sempre que oramos por vós, ao mesmo tempo damos graças a Deus”; e esse é o significado simples: “Damos graças a Deus, e ao mesmo tempo oramos”. Com isso ele indica que a condição dos crentes nunca é perfeita neste mundo, de forma a não ter, invariavelmente, algo em falta. Pois mesmo o homem que começou admiravelmente bem, pode ficar aquém em centenas de ocasiões todo o dia; e devemos estar sempre fazendo progresso, enquanto ainda estamos no caminho. Tenhamos, portanto, em mente que devemos nos regozijar nos favores que já recebemos, e dar graças a Deus por eles de tal maneira, que ao mesmo tempo buscamos dele perseverança e progresso.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 08/09/2014
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