Comentário de 2 Tessalonicenses 1.9,10
Por João Calvino
“9. Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder,
10. Quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)”
9. “Eterna perdição, ante a face”. Paulo explica, por aposição, qual é a natureza do castigo de que havia feito menção – destruição sem fim, e morte infinita. A perpetuidade da morte é provada a partir da circunstância de que tem a glória de Cristo como o seu contrário. Ora, esta é eterna, e não tem fim. Portanto, a influência dessa morte nunca cessará. A partir daqui também se pode inferir a terrível severidade do castigo, porquanto será grande em proporção à glória e majestade de Cristo.
10. “Quando vier para ser glorificado”. Como até aqui ele discursou a respeito do castigo dos ímpios, agora se volta para os piedosos, e diz que Cristo virá para ser glorificado neles – ou seja, a fim de iluminá-los com a sua glória, e para que eles sejam participantes dela. “Cristo não terá esta glória para si mesmo individualmente; mas ela será comum a todos os santos”. Este é o coroamento e a superior consolação dos que são piedosos – que, quando o Filho de Deus se manifestar na glória do seu reino, ele os reunirá na mesma comunhão consigo. Contudo, há um contraste implícito entre a condição presente na qual os crentes gemem e sofrem, e essa restauração final. Pois agora eles estão expostos aos opróbrios do mundo, e são vistos como vís e indignos; mas então eles serão preciosos, e cheios de dignidade, quando Cristo derramar a sua glória sobre eles. O objetivo disto é que os piedosos possam, por assim dizer, de olhos fechados, seguir a breve jornada desta vida terrena, tendo suas mentes sempre atentas à manifestação futura do reino de Cristo. Pois, com que propósito ele faz menção da Sua vinda em poder, senão para que eles possam com esperança saltar para a frente, em direção àquela bendita ressurreição que ainda está oculta?
Também se deve observar que, após ter feito uso do termo santos, ele acrescenta, como explicação, os que creem – sugerindo por meio disto que não há nenhuma santidade nos homens sem a fé, mas que todos são profanos. Por fim, ele repete novamente os termos: naquele dia, pois aquela expressão está relacionada com esta sentença. Ora, ele a repete com vistas a reprimir os desejos dos crentes, para que não se apressassem além dos devidos limites.
“Porquanto foi crido”. O que havia dito de um modo geral quanto aos santos, agora ele aplica aos tessalonicenses, para que não duvidassem de que pertencem a esse número. “Porquanto”, ele diz, “a minha pregação obteve crédito entre vós, Cristo já vos arrolou no número do seu povo, que ele fará participante da sua glória”.
Ele chama sua doutrina de testemunho, porque os apóstolos são testemunhas de Cristo (Atos 1.8). Aprendamos, portanto, que as promessas de Deus são ratificadas em nós, quando elas obtêm crédito conosco.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/09/2014