Provendo para Fazer o Bem a Todos
Por João Calvino
“Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens;” (Romanos 12.17)
“Retribuir a ninguém, etc”. Isso difere muito pouco do que logo após se segue, no verso 18, exceto que a vingança é mais do que o tipo de retaliação da qual ele fala aqui; porque às vezes nós retornamos mal por mal a outrem, mesmo quando não necessitamos retribuir uma injúria, assim como quando tratamos de forma não gentil aqueles que não nos fizeram qualquer bem. Estamos de fato habituados a formar uma estimativa dos desertos de cada um, ou do que eles merecem de nossas mãos, de modo que possamos conferir nossos benefícios àqueles, por quem já estamos penhorados, ou de quem esperamos alguma coisa; e ainda, quando alguém nos nega ajuda quando precisamos dele, nós, retribuindo igual por igual, como se costuma dizer, não o ajudamos na hora da necessidade, mais do que ele nos ajudou. Há também outras instâncias do mesmo tipo, em que o mal é pago com o mal, quando não há uma vingança aberta.
“Provendo coisas boas, etc”. O “esforçai-vos por fazer o bem”, de nosso texto vem de uma palavra grega que significa “Prover o bem que é necessário para outros”. Eu não desaprovo a interpretação de Erasmo: "Previdente preparando", mas eu prefiro uma tradução literal. Assim como cada um está mais do que certo em se dedicar à sua própria vantagem, e ser providente para evitar perdas, Paulo parece exigir um cuidado e uma atenção de outro tipo. O que se quer dizer é que devemos diligentemente trabalhar, para que todos sejam edificados por nossos negócios honestos. Porque, assim como é necessário pureza de consciência para estarmos diante de Deus, por isso a retidão de caráter diante dos homens não deve ser negligenciada, porque uma vez que é sabido que Deus deve ser glorificado por nossas boas ações, então, quando muito está faltando a sua glória, ou quando há uma deficiência do que é louvável em nós; não somente a glória de Deus é, portanto, obscurecida, mas ele é marcado com censura; porque por qualquer pecado que cometemos, o ignorante usa isto com o objetivo mesmo de caluniar o evangelho.
Mas quando somos convidados a preparar as coisas que são boas diante dos homens, devemos ao mesmo tempo reparar para qual finalidade: não que de fato os homens possam admirar-nos e elogiar-nos, porque este é um desejo do qual Cristo cuidadosamente nos proíbe de ter, uma vez que ele nos convida a admitir somente Deus como testemunha de nossas boas ações, com a exclusão de todos os homens; mas que suas mentes sendo elevadas a Deus, possam louvá-lo, para que por nosso exemplo, eles possam ser estimulados à prática da justiça, para que, em uma palavra, percebam o bem e o doce aroma da nossa vida, pelo qual eles podem ser seduzidos para o amor de Deus. Mas se formos mal falados por causa do nome de Cristo, não devemos de forma alguma deixar de prover coisas boas diante dos homens; porque será então, plenamente dito, que somos considerados como falsos, e sendo ainda verdadeiros (2 Coríntios 6.8).
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/09/2014